Legami Di Amore escrita por Tahii


Capítulo 24
Cielo nuvoloso


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, MINHAS QUERIDAS FRAMBOESAS! Tudo bem com vocês?

Espero que esse início de 2019 já esteja sendo maravilhoso e cheio de luz para vocês, e desejo um feliz ano novo atrasado ♥ Vocês me enchem de alegria faz um tempinho, e eu não poderia deixar de amar vocês ♥ ♥ ♥

Quero agradecer à todos que comentaram e que estão acompanhando a história. Se você, leitor, às vezes se sente perdido, dê uma olhada nos comentários porque eu S E M P R E deixo alguma dica por lá para acalmar os cores de vocês. Belezinha? :D

Vocês gostaram da capa nova? Porque eu adorei, realmente ♥ Deu um tcharam bem na vibe da história, eu achei. ENFIM!

Espero que gostem do cap! Boa leitura e M-U-I-T-A força no core ♥

► PLAYLIST
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*Cielo nuvoloso = Céu nublado



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Rose andava de um lado para o outro, inquieta. Levava constantemente os dedos aos lábios, encarava o chão sem piscar e soltava suspiros profundos. Scorpius estava em uma poltrona, com uma perna dobrada sobre a outra e a mão alisando seu rosto áspero pela barba enquanto acompanhava a garota com o olhar.

Não haviam se falado muito desde o dia da Ala Hospitalar, ela apenas havia lhe contado que estava tudo bem com o bebê e que seu pai havia sido muito gentil. Manteve-se distante depois disso, até mesmo após as aulas ela dizia não se sentir disposta nem para conversar. Com ele, é claro, pois com Roxanne, Dominique e companhia ilimitada ela estava perfeitamente bem. Scorpius entendia que era uma fase difícil, e se colocava como responsável por tudo, culpava-se por tudo o que ela poderia estar sentindo e também pelo o que aconteceria.

Faltavam alguns dias para o fim de março e para o início do quarto mês de gestação de Rose quando a diretora McGonagall lhes comunicou que Hermione e Ronald Weasley compareceriam no castelo para que pudessem conversar sobre o assunto. Scorpius tentava não demonstrar nervosismo — afinal, Rose já estava fazendo isso pelos três —, mas sabia que nem a sua rasa relação construída com Ronald durante o final de ano o salvaria de ter algum osso quebrado, ou de alguma maldição imperdoável. Isso o assustava consideravelmente, mas nada que poções não resolvessem. Ele tinha certeza que, por mais drásticas que fossem as medidas, nada o impediria de sobreviver, até mesmo porque teria um filho para criar. Ou filha. Às vezes ele sorria consigo mesmo pensando em como seria ter uma bebê ruivinha, de olhos verdes e brilhantes e sardas tremendamente fofas em seus braços, ou até mesmo em como seria convencer Rose Weasley a deixá-lo ensiná-la jogar quadribol. Pensando nisso ele aliviou a tensão interior que sentia, repousou a cabeça sobre a mão fechada em punho e continuou olhando Rose fazer um buraco no chão.

Pelo o que ele conseguia ver, Rose estava com o rosto um pouco mais redondo, mas tudo parecia normal de resto. O uniforme disfarçava bem a barriguinha que se formava. Bom, ele não tinha muito o que constatar sobre isso. Das vezes maravilhosas em que a viu sem roupa, sua barriga era normal, reta, então deduzia que estava formando uma saliência, que ele imploraria para ver mais tarde — se ele sobrevivesse, é claro.

Três batidas na porta tiraram ambos de seus devaneios.

— Vai dar tudo certo — ele sussurrou ao vê-la sentar-se na poltrona ao lado, e estendeu sua mão para tocar a dela. Focada na abertura da porta, rapidamente ela levou a mão ao colo, e posteriormente à boca para roer um pouco mais suas unhas.

A diretora McGonagall, Ronald e Hermione entraram sorrindo dentro da sala, e eles abraçaram Rose demoradamente quando a viram. Scorpius se levantou para cumprimentar Hermione com um breve abraço e apertou com força a mão de Ronald, sendo puxado para um abraço também. Ele pigarreou, feliz, mas voltando ao seu lugar. Foi o suficiente para a diretora pedir licença e fechar a porta da sala em que estavam, ornada em madeira com um sofá de três lugares e duas poltronas. Deveria ser alguma sala anexa da grifinória, devido às cores de péssimo mal gosto, segundo o sonserino.

O casal sentou-se no sofá, aparentemente leigos sobre o assunto, e um silêncio absurdo emudeceu o ambiente.

— Já até imagino o teor da conversa — Ronald abriu um sorriso de canto, de repente, quebrando todo o gelo. Scorpius apenas arqueou uma sobrancelha, desconfiado. — Não precisavam ter feito a McGonagall nos chamar aqui só para dizerem que estão namorando — Rose olhou para Scorpius, que fitava seu pai, e não soube bem o que dizer, abrindo a boca às vezes na tentativa de que saísse algo.

— Hm, podemos até estar juntos, senhor Weasley-

— Me chame de Ronald, Scorpius — disse tranquilamente, encostando-se no sofá —, já passamos dessa fase.

— Mas não é exatamente sobre isso que queremos conversar.

— Somos todo ouvidos — Hermione olhou para a filha, com uma expressão serena, mas ela apenas fechou os olhos e pôs uma mão sobre a boca, apoiando o cotovelo no braço da poltrona. Novamente, o silêncio tornou mais nítido os batimentos acelerados dos corações.

— Rose está — Scorpius respirou fundo, olhando bem no fundo dos olhos azuis do homem em sua frente. Ao soltar o ar, o inevitável também saiu. — grávida.

— Grávida? — Hermione repetiu, adquirindo uma expressão mais séria. — Como?

— Ora, Hermione! — exclamou Ronald endireitando-se no sofá. — Você sabe muito bem como que se engravida. A minha Rose está grávida? — perguntou em um tom que Scorpius achou ameaçador. Sem palavras, o rapaz assentiu. — De você? — novamente, assentiu, causando uma risada involuntária no Weasley. — Não é possível! Pelas barbas douradas de Merlin, não.

— Ronald — Hermione censurou sua graça espontânea, levando uma mão à coxa do marido. — Expliquem isso direito — pediu pacientemente, embora Rose ainda estivesse com os olhos fechados, praticamente deixando tudo nas mãos de Scorpius.

— Acredito que vocês se lembrem de uma festa que fomos perto do Natal, na casa dos Scamander — relembrou Scorpius, sendo incentivado a continuar por Hermione. — Então, hm, foi nessa noite.

— Mas você não estava com o Brian, querida?

— Você traiu o seu namorado? — Ronald arregalou os olhos para a filha, que assentiu lentamente. — Só pode ser uma brincadeira de mau gosto — ele levantou-se, imitando o que Rose fazia antes de chegarem. Começou a andar de um lado para o outro, com os dedos entre os lábios. — Não, definitivamente não. O que aconteceu com o coração indômito e a nobreza que te destaca dos demais, Rose Weasley? O que aconteceu com você?

— Ronald — Hermione o censurou, apontando para o lugar vago ao seu lado. — Deixe-a falar — só que ela apenas negava com a cabeça, provavelmente esperando o momento de abrir os olhos sem que lágrimas escorressem dele.

— Senhora Weasley, ela e o Wo-

— Cale a boca, Malfoy, você já foi muito prestativo até agora — ralhou voltando ao lado da esposa. Scorpius engoliu as palavras, e esperou que Rose falasse por si só. Alguns instantes depois, ela passou a mão por debaixo dos olhos antes de abrí-los, vermelhos e cheios de lágrimas.

— Eu não aguentava mais o Brian, mamãe, e havíamos discutido naquele dia. Ele não… Gostava de mim de verdade, eu conseguia sentir e…

— E por isso pensou que a melhor coisa a se fazer era-

— Ronald — ele rolou os olhos. — Continue.

— Não era a minha intenção ir naquela festa para trair ele ou sei lá o que. Eu só fui para distrair a minha cabeça das asneiras que ele havia me dito. Vocês acham que ele nunca ficou com outra garota enquanto estava comigo? Claro que sim  — respirou fundo. — Ele criticava o meu jeito de ser, de falar, de agir, não gostava de nada e vivia reclamando das coisas. E eu terminei com ele no dia seguinte, algo que eu já deveria ter feito, mas… Como eu iria adivinhar que tudo isso aconteceria?

— A vida é feita de escolhas, caso não saiba — Ronald resmungou. — Brigou com o Brian, foi na festa, transou com esse daí, o que mais? Fez uma tatuagem também?

— Foi apenas isso.

Apenas isso — frisou o ruivo. — Desde quando sabe da gravidez?

— Há não muito tempo.

— Isso não foi nada específico.

— Descobrimos em fevereiro, senhor — arriscou Scorpius a dizer. — E além disso, aconteceu outra coisa, o que justifica em partes a nossa demora em contar. Vocês se lembram, ahn, de quando foram informados sobre uma alergia que a Rose teve em uma aula do professor Longbottom?

— Sim — a senhora Weasley assentiu, com a atenção fixada nas palavras do rapaz. — Pensei que tudo havia sido solucionado com algumas poções, foi o que o professor e a diretora nos disseram.

— A verdade é que Rose havia tomado uma poção que eu e Alvo fizemos para confirmar a gravidez, e durante a tarde ela teve essa suposta crise alérgica. Ela teve uma hemorragia e no meio de tudo isso eu e Alvo fomos checar a poção e descobrimos que ela foi alterada.

— Ah, descobriram? — perguntou Ronald com desdém. — Afinal, não seria nem um pouco suspeito você dar a ela uma poção de aborto, imagino.

— Eu nunca faria isso, senhor Weasley.

— Hum, até onde eu sei é isso o que os Malfoy fazem. Fogem dos problemas e agem de má fé.

— Ronald, chega, deixe o garoto falar  — Ronald bufou, levantando-se novamente. Scorpius olhou para o chão antes de tomar fôlego para continuar.

— A poção tinha casca de wiggentree, muco de verme gosmento, ditamno, pétalas de narciso e vagem soporífera, e quando Alvo reverteu ele achou asfódelo e presas de cobra em pó com o veneno.

— Então a intenção era matar o bebê.

— Sim, senhora Weasley.

— E quem é o responsável?

— Quem você acha, Hermione? — a mulher o ignorou.

— Não sabemos. A diretora McGonagall nos aconselhou a deixar isso encoberto por enquanto, porque pode ser perigoso toda a atenção em torno do bebê. E nós… Concordamos com isso — Hermione assentiu, inclinando-se sobre os joelhos.

— Como você está, querida?

— Estou tomando algumas poções ainda, e o senhor Malfoy está vindo todas as semanas para acompanhar a gestação.

Ele já sabe? — o olhar de Ronald foi equivalente a um chute no estômago. Rose assentiu. — Pelo jeito todo mundo já está sabendo, menos nós.

— Pedi para que ele viesse vê-la quando passou mal, para não ter que ir ao St. Mungus. — explicou o rapaz, batendo os dedos nos braços da poltrona — E ele ficou de acompanhar, de fato.

— Quanto tempo-

— Entrando no quarto mês — Rose descansou a cabeça na poltrona. — A diretora McGonagall disse que fez uma reunião com os outros diretores sobre a situação e decidiram não nos expulsar porque… Não-

— Não aconteceu aqui no castelo e o ano letivo já está acabando — completou Scorpius. — Depois disso temos que ver o que vamos fazer, mas, como eu já disse para Rose, vamos fazer isso juntos.

A partir disso, todos ficaram quietos.

Scorpius olhava para os próprios pés, Ronald estava mais vermelho do que a gravata de Rose, Hermione tinha uma expressão de preocupação e a filha, bom, engolia o choro silencioso. Scorpius sentiu vontade de abraçá-la, mas preferiu deixar que os nervos de seus pais acalmassem primeiro.

Hermione se levantou de onde estava, ajoelhou-se ao lado de Rose e tomou suas mãos, segurando-as firmemente, beijando uma de cada vez.

— Vamos dar um jeito nisso, meu amor. Embora não tenha acontecido em um momento ideal, não é algo ruim. Juntos, cuidaremos dessa criança e seremos muito felizes  — Rose inclinou-se para abraçar a mãe, e com a cabeça encostada ao seu pescoço, chorou como das vezes em que era pequena. — Vocês dois estão sendo muito nobres em não tentarem dar outro jeito, e dou a minha palavra de que esse bebê será muito amado por toda a família. Você já contou para o seu irmão?

— Não — Rose se desencostou da mãe, ajeitando o cabelo para trás da orelha. — Queria contar para vocês primeiro.

— Tem de fazer isso logo — Hermione se levantou, voltando para o sofá. — Vocês estão mesmo juntos?

— Algo parecido com isso — disse Rose abaixando o olhar. Ronald bufou.

— É um ótimo estado civil. Você vai registrar a criança, Malfoy, ou o quê?

— Claro que sim, senhor Weasley, e posso te garantir que não vou ficar longe da sua filha um instante sequer.

— Não gaste suas palavras sem valor à toa, Malfoy, elas não me convencem nem um pouco. Embora essa seja a sua mínima obrigação.

Os quatro ficaram na sala por mais alguns instantes repassando a história. Ronald não perdeu uma oportunidade de fazer qualquer comentário ácido, mas Hermione conseguiu contê-lo, levando a zero a possibilidade de Scorpius ter o nariz ou qualquer osso deslocado. Ao fim da conversa, despediram-se. Exceto por Ronald, que saiu pela porta sem fazer questão de olhar para a filha e para o imbecil ao seu lado.

Rose e Scorpius permaneceram sentados onde estavam, impactados. Não souberam o que dizer um para o outro de imediato, o que apenas aumentou o sentimento de impotência de Scorpius perante a situação. Ele virou o rosto para ela, com todo o corpo agitado querendo começar a tremer de, talvez, medo, e Rose continuou olhando para o chão, até o momento em que despertou para colocar uma bala azul na boca.

Scorpius engoliu a seco.

— Eu tinha imaginado que seria pior — ele comentou, displicente. Rose negou com a cabeça, sorrindo irônica.

— Mas foi péssimo do mesmo jeito. Para mim, é claro, porque nada muda na sua vidinha.

— Não entendi o que quer dizer com isso, e para ser sincero nem quero.

Rose apoiou o queixo sobre a mão em punho e seus olhos cansados repousaram sobre o céu nublado e melancólico de Scorpius. Ela o sentia distante, muito provavelmente devido aos próprios méritos. Rose estava tentando deixá-lo dentro de uma caixa, a fim de diminuir áreas de risco, sem perceber que mantê-lo longe era por si só um perigo.

— O que somos? — ela perguntou, fazendo-o arquear as sobrancelhas.

— Apaixonados um pelo outro e, atualmente, pais de uma criança que vai nascer daqui a alguns meses — respondeu em um suspiro. — Não me diga que está com isso na cabeça?

— Não deveria? — levando a mão ao rosto, Scorpius negou. — Como vai ser a nossa vida depois de Hogwarts? Como vamos criar esse bebê?

— Rose, preste atenção — pediu ajeitando-se na poltrona, para encará-la melhor. —, eu estou com você para tudo o que vier. Entendeu? Nós vamos criar esse bebê juntos, como pais de verdade fazem, nós vamos ser pais de verdade.

— E o que nós vamos ser além disso?

Era uma excelente pergunta, que era capaz inclusive de arrepiar o corpo inteiro de Rose. Embora não soubesse qual resposta queria escutar, temia profundamente pensar em um futuro sem Scorpius.

Eles se encararam por alguns instantes, ambos atentos a todos os sinais que transmitiam tentando achar, um no outro, uma constante válida para a vida toda. Scorpius passou o polegar pela bochecha de Rose, pôs alguns fios do seu cabelo atrás da orelha e procurou seus dedos para que pudesse entrelaçar a sua mão, onde repousou dois beijos.

Antes que pudesse abrir a boca para dar para Rose as palavras que provavelmente serviriam de suporte para sua angústia infundada, a imagem da diretora McGonagall apareceu na entrada da sala.

— Estão dispensados — Rose, mais uma vez, soltou a mão de Scorpius para prestar atenção no que lhe era dito. — Posteriormente conversaremos. Podem voltar para a aula.

Se fosse seguir a vontade de Scorpius, ele faria como prometido e mataria o período para levar Rose até a cozinha ou até os jardins. O problema era que Rose estava com muitas responsabilidades nos ombros para agir tão displicentemente assim, por isso que despediram-se e ficaram de conversar em uma outra oportunidade. Scorpius foi para a aula de Feitiços e Rose para a de Runas Antigas.

[...]

— Feitiços não-verbais não são tão difíceis assim… — Ryan McLaggen murmurou enquanto escrevia em um pergaminho. Rose rolou os olhos, com um sorrisinho incrédulo.  — É sério. Depois que você pega o jeito, as coisas ficam mais fáceis.

— Fale por você.

— Vai me dizer que ainda precisa falar Alohomora todas as vezes? — cerrou os olhos, dando uma risada abafada em seguida. — A grande Rose Weasley ainda fala Alohomora. Impressionante.

— Meus dotes são outros — deu ombros.

— Imagino quais sejam.

Por alguns instantes, Rose não soube o que responder, ou sequer se deveria responder algo. Abaixou os olhos ao sentir as bochechas arderem, principalmente pelo fato de estar sob o olhar incisivo e brilhante de Ryan. Não que fosse incômodo, porque não era; mas algo — ou alguém — dentro de si fez com que o sangue faltasse nas pontas do dedo. Ela pigarreou, despertando o rapaz de qualquer fantasia que, naquele momento, tinha.

— Runas antigas, história da magia, feitiços verbais — ele insistiu, suavizando o clima que havia se instalado. Rose sorriu, tentando voltar para as linhas do livro. — O que você acha de nos encontrarmos no Três Vassouras na próxima ida à Hogsmead?

— Pode ser — respondeu quase que imediatamente, e sem perceber. A troca de sorrisos foi densa, mas Rose apenas enfiou a mão na bolsa para pegar uma das balinhas que ele havia lhe dado. Eram realmente ótimas.

Rose não sabia explicar qual era a sua relação com Ryan, ou em quais sentimentos eram embasados. O porquê de sentir-se tão bem perto dele, mais leve, e ao mesmo tempo um pouco incômoda, como se estivesse fazendo algo de errado também era um pouco nublado em sua mente, embora tal situação se relacionasse com o fato do desentendimento entre ele e Scorpius.

Às vezes Scorpius tinha a maturidade de uma criança de oito anos, e havia se consagrado como rei do drama muito antes de se envolverem. Sendo assim, por que ele se colocava na posição de inocente sendo que… Rose sabia que ele poderia não ser. Por mais que Scorpius quisesse manter a postura de herói — fosse por qual razão fosse —, ele não passava de um frágil mortal. Foi o que Rose concluiu enquanto lia as palavras acerca de feitiços não-verbais.

Quando estava saindo da biblioteca, deu de cara com seu irmão andando decididamente ao lado de seus colegas, Perks e Malone, em direção a algo que provavelmente lhes renderia uma grande detenção. Ele não a viu, não parou para conversar, tampouco lhe fez um aceno para a cabeça. Talvez havia sido apenas a confirmação do destino de que aquela não era a hora certa para abrir o jogo.

Rose não entendia muito bem como funcionava o lance com o destino. Ele fazia o que bem queria? Ignorava o livre arbítrio? Seriam os seres humanos que escreveriam o próprio destino ou o destino escreveria o ser humano? Ela não sabia responder nenhuma dessas questões, e preferia não pensar. Como que o destino sabia o que era melhor para seu coração? Por que ele havia juntado ela e Scorpius para… Separá-los?

Rose foi para o dormitório a fim de deixar alguns livros em sua bolsa e comentar com Roxanne e Dominique, caso elas estivessem lá, que na próxima ida à Hogsmead precisaria ver um novo vestido e iria ao Três Vassouras com Ryan. Antes que chegasse perto da porta, conseguiu ouvir a voz de Roxanne.

— Não estou entendendo nada! — quando entrou e foi em direção a sua cama, notou que Dominique estava sentada em seu baú com o rosto todo vermelho, olhos encharcados e uma expressão que faria qualquer um chorar também. Roxanne parecia incrédula, e segurava o que parecia ser uma carta.

— O que houve?

— James Potter houve — Roxanne lhe estendeu a carta. Entre tentar decifrar o comportamento das duas e ler, Rose passou os olhos pela caligrafia bonita de James e arqueou uma sobrancelha. — Ele é muito sem noção, quer dizer, até ontem ele estava enchendo o saco com essas baboseiras de amor. Ele não pode simplesmente dizer que não é “o certo a se fazer”. Quem ele acha que é para ficar brincando com corações alheios?

Rose sentiu o corpo inteiro latejar.

Lembrava-se de quando James mandara uma carta dizendo que amava Dominique, e de como seu coração bateu mais forte ao ver a prima chorar de amor. A diferença, na presente situação, era que ela chorava por amor. Seu olhar era opaco, assim como o de Scorpius nos últimos tempos, e ela parecia perdida entre a realidade a maldita fantasia que seu coração havia criado exclusivamente para fazê-la sofrer.

— Ele disse que me ama — curvou-se, segurando a cabeça entre as mãos —, mas que não é o suficiente para ficarmos juntos porque… Somos… Complicados e não é o certo a se fazer — grunhiu, desabando em um choro ardido.

Dominique ajoelhou-se no chão e pôs a mão no rosto para conter sua respiração ofegante e suas lágrimas que caiam cada vez mais. Chorou como se fosse uma criança que havia ganhado o brinquedo que queria e que o perdeu, ou como simplesmente uma garota de um coração que poderia transbordar a qualquer momento de indignação, tristeza e dor. Não sabia qual era a sensação de perder alguém que amava, não sabia qual era o ônus de se apaixonar por alguém que… Que diziam que não era a pessoa certa.

Roxanne e Rose estavam estáticas, cada uma com seus próprios pensamentos. Roxanne quase voou para a própria cama a fim de jogar suas cartas de baralho para ver se havia alguma coisa no ar piorando a situação — além do emocional de pedra de seu primo. Quando deram-se por conta, as três renderam-se aos sentimentos mais profundos que guardavam, sem sequer conhecê-los. E lágrimas se instalaram nos olhares das duas outras.

Rose limpou o canto dos olhos com o seu dedo indicador e quando olhou para o teto a fim de acalmar-se, sentiu que tudo poderia desmoronar em cima dos seus ombros. A sua vontade, fosse influenciada ou não por Dominique, era sair daquele dormitório e procurar Scorpius em todos os lugares até achá-lo para que pudesse abraçá-lo, beijá-lo e dizer que ela faria de tudo para que eles dessem certo. E o seu corpo formigava de vontade de correr até os braços dele, mas sua cabeça latejava em discordância, fazendo-a ver que a pessoa errada é muito mais fácil de ser encontrada do que a certa.

Ela odiava a situação em que se encontrava. Certo ou errado, bom ou ruim, sentimento ou razão. Rose havia tentado, e conseguido por um tempo, livrar-se dos seus próprios julgamentos para enfrentar o acaso. E, naquele momento, ele havia se transformado em algo que gritava bem em sua frente, na forma da sua prima, que o amor era incapaz de mudar as coisas inatas. Ela não havia sido feita para Scorpius, tampouco ele para ela. Se não usasse a razão, não demoraria muito tempo para acabar como Dominique, ou ainda pior.

Respirou fundo para voltar à realidade, e sentou-se em sua cama quando uma tontura lhe deixou zonza. Enfiou a mão na bolsa para pegar mais uma bala. Foi como se uma nuvem clareasse sua mente.

Dominique e Scorpius estavam com os mesmos olhos opacos. Se Dominique estava daquela maneira por James, Scorpius poderia estar por causa de outra pessoa. Talvez ele não amasse Rose como dizia, talvez o que lhe martirizava era assumir a responsabilidade de um filho. Por que haviam ficado juntos? Por que haviam insistido em algo que não daria certo? Seus pais sabiam que ia dar errado, Roxanne deveria saber também, afinal, as cartas não mentiam. Por que ela sempre escolhia o errado? Por que ela acreditava que o amor guiaria até o seu norte sendo que… Talvez não houvesse mais amor.

[...]

— Muito bem, muito bem, silêncio! — o velho Slughorn parecia levemente aborrecido no primeiro dia de Abril, o que fez com que os ombros do jovem Potter ficassem completamente tensos. Ele havia lutado, aula após aula, para deixar aquela poção mais do que perfeita. E Scorpius havia lhe dado bastante apoio moral nesse trajeto. — Examinarei poção por poção, embora eu tenha quase certeza de que poucos conseguiram fazer da maneira ideal.

Aquele estava sendo o dia da mentira mais tenebroso que Scorpius já havia vivido. O castelo parecia bem animado de modo geral, com pegadinhas para todo o lado e primeiranistas dando risada à torto e à direita. Nada contra, afinal, ele gostava bastante de colocar caramelos incha-línguas no café da manhã de Alvo e Adam; mas o trio não andava tão bem devido aos nervos de ambos. Scorpius permanecia indiferente, o que apenas aumentava a tensão da má convivência.

A verdade era que Adam se sentia ligeiramente traído devido ao fato do Malfoy sempre contar as coisas à Alvo, e Alvo retrucava dizendo que a única preocupação do Zabini era dar em cima de sua irmã mais nova e por isso ficava alheio à coisas que realmente importava, porque o mundo girava em torno do seu umbigo e ele era incapaz de considerar os problemas dos outros como equivalentes ou piores do que os seus — além de ser um bagunceiro com as coisas que não lhe pertencem. Scorpius dizia que os dois estavam agindo como crianças e tudo continuava da mesma forma.

O objetivo de Alvo, durante todo o mês de março, foi trabalhar arduamente na poção Veritasserum para que o professor Slughorn ficasse tão impressionado a ponto de lhe conceder pelo menos vinte mililitros. Scorpius não estava tão convicto que ele iria conseguir, e não apoiava seu uso cem por cento, mas devido à tempestade que deixava seu chão cada vez mais lamacento, aos poucos a poção parecia ser uma boa ideia.

Quando Slughorn analisou a poção de Alvo, é claro que um sorriso inundou sua feição carrancuda. Alvo Severo Potter era o orgulho da sonserina.

— A única poção que ficou mais próxima do que eu esperava foi a do senhor Potter — ele aplaudiu o rapaz, junto com a maioria dos alunos da sonserina. Adam e Ryan McLaggen preferiram apenas revirar os olhos em comemoração. — E como prêmio, senhor Potter, gostaria de lhe oferecer um estágio em Poções nas Ilhas Remotas de Hermetray. Conversaremos sobre isso após a aula, por enquanto quero que todos coloquem as poções em vidros e deixem na minha mesa para que possamos começar a estudar o nosso próximo tópico.

O sorriso estampado no lindo rosto de Alvo era tão impactante quanto a sonserina conseguir a Taça das Casas por três anos seguidos.

Scorpius lhe deu um tapinha nos ombros, e cochichou em seu ouvido que a hora certa de pedir a poção seria realmente após a aula. Ele ficou esperando do lado de fora da sala enquanto o velho Slugh conversava com Alvo, e pensando em Rose. Eles não haviam tido uma oportunidade de concluir o que começou a ser debatido após a conversa com os seus pais, então deveriam no mínimo tirar um tempo para colocar as coisas em ordem. Algo em Scorpius congelava ao pensar que a relação deles estava tão frágil ao ponto de que qualquer palavra mal colocada seria capaz de causar um grande estrago.

Ele abriu sua bolsa para pegar um pergaminho e escreveu um bilhete, enfeitiçando-o para que aparecesse no bolso da capa de Rose.

Precisamos conversar.

Às seis horas nos jardins.

Com amor,

Scorpius.

Fora o tempo certo do bilhete desaparecer para que Alvo saísse da sala sorrindo.

Distanciaram-se um pouco do lugar antes que ele começasse a despejar em Scorpius toda a conversa que tivera com o professor.

— Você sabe o que significa um estágio nas Ilhas Remotas de Hermetray? — perguntou sem conseguir se conter de animação. — Foi lá que Zygmunt Budge passou a vida fazendo experimentos e escrevendo o livro de Poções. Dizem que às vezes os caldeirões começam a ferver sozinhos por causa da sua… Presença fantasmagórica.

— Incrível — Scorpius disse. Ele também gostava muito de Poções, mas não chegava aos pés do quase fanatismo de Alvo, que se martirizava para se dar bem também em Herbologia e Runas Antigas. — Parabéns.

— Obrigado, Scorp — soltou todo o ar dos pulmões, apalpando os bolsos. — E adivinha quem conseguiu trinta mililitros da Veritaserum? — ele chacoalhou dois vidros idênticos na frente dos olhos cinzas reluzentes de Scorpius. — Pedi para que ficasse em dois vidros porque… Se alguém tentasse roubar de mim, não teria todo o conteúdo — Alvo estendeu um recipiente para Scorpius. — Guarde para uma ocasião especial, e não faça nada que o Ministério possa usar para te jogar em Azkaban.

— Digo o mesmo — Scorpius guardou o frasco —, e incluo a advertência de não usar enquanto seu afilhado não nascer.

Sorrisos cúmplices estamparam as feições de ambos, que continuaram conversando sobre o estágio enquanto desviavam de algumas armadilhas de Pirraça durante o trajeto.

Quando deu a hora combinada por Scorpius, ele foi até os jardins a fim de esperar Rose. Óbvio que ele estava nervoso, suas pernas bambeavam de um jeito que quase tornava impossível a missão de parar em pé. Ele estava com medo de falar algo de errado e acabar estragando algo que deveria ser consolidado antes de mais nada. Rose se atrasou um pouco, deixando-o mais nervoso ainda.

Ela estava pálida, com um aspecto de cansada e olhos inchados de, talvez, sono. Seu olhar era cético, o que já dava uma ideia da tensão que o diálogo não iniciado já conseguia gerar.

— Precisamos conversar sobre o quê? — perguntou ríspida, cruzando os braços, sem se importar em ao menos lhe dar um abraço cordial. Scorpius pigarreou e enfiou as mãos nos bolsos.

— Aquele dia com os seus pais, você perguntou o que éramos.

— O silêncio de semanas me mostrou que, talvez, não sejamos realmente nada.

— Não seja radical, Rose, estou tentando-

— Consertar o que não tem conserto?

— Por Merlin — ele suspirou respirando fundo. Parecia que um bicho raivoso a havia mordido. Ele não se lembrava de ter feito nada de errado durante o mês anterior, exceto não ter continuado a conversa. — Rose, vamos com calma.

— Eu estou calma.

— Sim, está — preferiu concordar. — Eu sei que você está com os nervos à flor da pele por causa de tudo que vem acontecendo — ele lhe estendeu a mão, que depois de muita relutância ela aceitou —, mas eu achei que seria certo conversarmos para que nada estrague esse período.

— Período? — grunhiu como se fosse um dragão. Scorpius entrelaçou seus dedos aos dela, e começou a guiá-la até às margens do lago negro.

— Você está com o nosso bebê aí dentro e sem dúvidas ele tem um pai muito lento que não consegue administrar várias coisas ao mesmo tempo.

— Eu sabia — ela disse, perplexa. Ele arqueou a sobrancelha. — Você está se encontrando com alguém, não é?

— Não — sentenciou, firme, embora o olhar de Rose fosse de quem não se convenceria tão cedo. — Se essa sua irritação é por causa de fantasias infundadas dessa sua imaginação fértil — ele cerrou os olhos, medindo o nervoso que começava a fazer suas têmporas latejarem — se acalme.

— Dominique recebeu uma carta do James, dele dizendo que eles não dariam certo e não sei o quê — Rose desconversou, soltando da mão de Scorpius. — E sabe o que eu vi nos olhos dela?

— Não faço ideia — respondeu azedo.

— O mesmo que eu tenho visto no seu desde o incidente na aula de Herbologia.

— Que seria?

— Um olhar sem brilho, com tristeza, sem graça.

— Se você acha o meu olhar sem graça a culpa não é minha — retrucou mais azedo ainda. — Eu não estou triste, Rose, por causa do bebê ou qualquer outra coisa. Apenas quero ficar bem com você e sentir que você está bem também.

— Você realmente gosta de mim? — perguntou entrando na frente do Malfoy, procurando em seus olhos algum resquício de confirmação.

— Eu amo você — confessou, mas não do jeito que gostaria. Havia idealizado coisas mais românticas do que confissões em meio à conversas ácidas.

— É mentira.

— Como você pode dizer isso? — ralhou negando com a cabeça. — Se eu estou dizendo que te amo, é porque eu te amo.

— Os seus olhos te entregam quando você mente, Malfoy — chiou. — Eu não sei o que você está pensando com toda essa farsa que está armando, mas nem eu e nem o meu bebê precisamos de migalhas do seu peso de consciência estúpido.

— Eu não sei do que você está falando.

— É claro que sabe! — Rose passou os dedos por debaixo dos olhos. — Não é porque uma criança vai nascer que você tem que fingir que gosta de nós.

— Eu não estou fingindo, Rose, por Merlin!

— Então por que os seus olhos não estão brilhando? Por que eles parecem um céu nublado estúpido e opaco?

— Eu não faço ideia — suspirou ao sentir os olhos arderem. — Me escuta, por favor. Você não precisa falar nada, apenas escute — pediu respirando fundo. — Eu pedi para que nos encontrássemos apenas para eu responder as coisas que você me perguntou. A nossa vida depois de Hogwarts vai ser preparar as coisas para a chegada do nosso bebê, eu vou conseguir uma casa para nós e iremos ficar juntos. Eu vou arrumar um emprego, você vai arrumar um emprego e vamos ser uma família. É isso o que vamos ser, uma família.

— Não gaste sua saliva à toa, Malfoy. Eu cansei disso — ela tentou respirar fundo e acalmar-se, mas não obteve muito sucesso.

Rose deixou Scorpius à beira do lago negro, enquanto corria aos prantos para o seu dormitório.

Uma parte de si estava quebrada, a outra queria se auto quebrar e a outra queria dar meia volta e perguntar o que estava acontecendo com ela, e por que o seu norte estava ligado aos olhos de Scorpius, que definitivamente não estavam como deveriam. Ela olhou para o céu, que estava nublado, e chorou ao pensar que precisava urgentemente achar seu norte de novo.


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Notas finais do capítulo

gRITO com esses dois, pelo amor, foi tão difícil fazer eles discutirem assim sem um beijinho no final kkkkkkkkkk. Sem risadas, é sério. Tem muitas perguntas para vocês responderem:

— Esse comportamento da Rose tem a ver com a gravidez, com as balas ou com o quê?
— Estaria o Scorpius sem os olhos, assim como no sonho da Rose no capítulo Occhi di Horus?
— Qual a relação entre o envenenamento e toda essa mudança entre ela e o Scorpius?

Pois é, c'est la vie. Espero que tenham gostado do capítulo, vou tentar atualizar mais uma vez agora em janeiro. Aguardo ansiosamente as teorias de vocêsssss! Pensem alto, pensem grande :D

Um grande beijo a todos!
Tahii ♥

Ps. Percebi que tem alguns comentários que eu não respondi ao longo da história. Peço mil perdões! Irei responder a todos ♥