Corpo cansado, coração acelerado, adrenalina nas veias. Os resquícios da noite anterior continuavam no corpo de Rose Weasley.

Não era necessário muita consciência para saber que havia errado, ou que não tivera uma das atitudes mais maduras. Porém, Rose estava cansada, extremamente cansada daquela rotina estranha que lhe sugava os restos de sua vitalidade. Ela precisava espairecer, sentir-se livre de toda raiva e da incômoda dor do seu coração partido para que pudesse seguir em frente. E, por Merlin, isso não deveria parecer um crime.

Depois de uma tarde de discussões com o seu, então, ex-namorado, a festa dos Scamander à noite pareceu uma boa ideia. Infelizmente — ou não —, Scorpius Malfoy cruzou o seu caminho e mudou o trajeto de uma história que deveria acabar com Rose na cozinha de sua casa tomando um pote de sorvete enquanto choramingava no ombro de sua mãe.

Scorpius ajudou Rose a se acostumar com o gosto forte de firewhisky conforme ela contava tudo o que havia acontecido entre ela e Brian Wood; e, não, eles não eram próximos o suficiente para tal, mas isso não foi lá um grande empecilho. Scorpius também tinha muito a dizer.

Naquelas horas ela afogou todas as mágoas dos dias que passou junto com uma pessoa que não confiava verdadeiramente nela, que não a amava, e apenas via sua versão ruim, independente se real ou fantasiada. E ele, por sua vez, despejou o turbilhão que carregava nos dois ombros sem medo de ser incompreendido, como sempre. 

Eles estavam, simplesmente, cansados. A pequena diferença era que o coração partido de Rose ainda gritava alto, reclamando por algo que pudesse lhe trazer um pouco de vida. 

Scorpius ouviu seu apelo. 

Scorpius a consolou.

Scorpius a tratou muito bem.

Scorpius a distraiu muito, muito bem.

Seria estranho, ela pensou, explicar para si mesma como, de repente, pareceu uma boa ideia se deixar levar, e como ela desejou ir, e como ela foi. 

Um tempo depois de esgotarem tudo o que poderia ainda ser dito, Scorpius apareceu na lareira da casa dos Weasley com a ruiva enlaçada em seu pescoço. Tiraram os sapatos e, com as pernas de Rose enroscadas em sua cintura, Scorpius subiu as escadas, tendo a camisa aberta pelas mãos trêmulas de ansiedade da garota. Eles trancaram a porta do quarto, fizeram um feitiço para não serem ouvidos, e deitaram na cama, tirando o mais rápido possível todas as peças de roupas. Rose avisou que nunca havia feito aquilo com ninguém e, por uma fração de segundos, o Malfoy questionou se era o certo a ser feito — eles não estavam tão sóbrios, tanto em questão de álcool quanto de sentimentos.

Scorpius era cético em muitas coisas, mas sentiu que talvez aquela fosse a oportunidade de começar algo novo dentro de si mesmo e, de uma vez, livrar-se do constante sentimento de vazio que lhe assolava. E Rose, por outro lado, sentiu a oportunidade de finalizar o que já deveria ter acabado há algum tempo. 

Quando ela abriu os olhos, na manhã seguinte, percebeu que seu corpo não estava aparentando toda aquela adrenalina que estava sentindo. Pelo contrário, parecia ter sido tomada por uma intensa moleza. Não tinha ideia de que horas eram, a única coisa que sabia era que o Natal estava chegando; a neve fina lá fora era um indício, assim como o vento que balançava as árvores sem muita piedade.

Preguiçosamente, Rose se virou para o outro lado e seu corpo despertou de vez ao mirar quem estava ali.

Scorpius Malfoy dormia — e babava — tranquilamente.

— Meu Merlin… — ela murmurou para si mesma. Não poderia sequer fingir que não se recordava do que aconteceu. Até mesmo porque não seria possível. — Brian.

Lembrou-se do idiota do seu namorado. Sim, namorado. Eles não haviam terminado oficialmente, mas foi uma boa oportunidade que Rose viu para experimentar outras coisas e, mediante os recentes acontecimentos, não dava para dizer que ele se importava muito com tudo que envolvia a palavra "compromisso". Apalpou o seu criado-mudo para ver se o celular estava lá, mas não. Imaginou que deveria estar na poltrona no canto do quarto, ainda dentro de sua bolsa, e lamentou-se ao levantar bem devagar para pegá-lo. Praguejou baixinho ao só poder puxar uma ponta do lençol para cobrir o seu corpo, visto que o rapaz babão estava com a maior parte dele. 

“ 18 mensagens de amor ”

— Muitas mensagens? — perguntou uma voz sonolenta.

Rose não sabia como agir, quer dizer… Scorpius Malfoy não era bem seu amigo, era apenas um arquirrival em setores acadêmicos com quem ela teve a sua primeira vez e uma conversa exageradamente pessoal. Nada demais.

A garota apenas ignorou o comentário e clicou para visualizar as mensagens do Wood.

—----

Amor

Precisamos nos encontrar para conversar melhor sobre isso (18:58)

Você é muito especial para mim, Rose (19:13)

não posso te deixar sair da minha vida desse jeito (19:13)

O que vai fazer agora à noite? (19:45)

Não está recebendo as mensagens? (19:51)

R (20:03)

O (20:03)

S (20:03)

E (20:03)

E (20:03)

Eu sei que você deve estar chateada comigo, mas (20:30)

tente entender o meu lado (20:30)

Não consigo viver sem você, meu amor (20:45)

Onde você está? (21:15)

Por que não responde? (21:27)

Rose, eu já pedi desculpas, ok? (22:00)

Amanhã nós vamos nos encontrar a tarde para conversar! (23:13)

17:00 no Café, ok? (23:14)

Rose Weasley

Ok. (07:14)

—----

Rose não sabia se fez certo em respondê-lo, apenas não queria encarar Scorpius, que estava de braços cruzados fitando-a atentamente enquanto parecia tentar acordar. Percebendo, ela o olhou, observando-o arquear as sobrancelhas.

— Você está bem? — ele perguntou. Rose assentiu prontamente. — As mensagens são do Wood? — ela repetiu o gesto. — Está se sentindo... Como está se sentindo?

Nem gestos, nem resposta. Apenas um silêncio.

Scorpius não era experiente em manhãs pós-sexo, até mesmo porque não era comum dormir fora de casa no verão e em Hogwarts as coisas eram mais objetivas. No entanto, ele admitia estar um pouco apreensivo por ter sido a primeira vez dela. O Malfoy nunca havia participado da primeira vez de alguma garota e era uma situação deveras estranha aquela em que haviam se metido. 

Ao invés de insistir, Scorpius se calou e a Weasley deixou o seu celular onde o encontrou para voltar para cama. Encolheu-se em seu canto, sem pronunciar nada.

Ambos encaravam a parede da porta, tentando assimilar a ideia do que tinham feito.

Dez, quinze ou vinte minutos se passaram em profundo momento de silêncio.

— Rose? Já acordou, querida? — Hermione bateu levemente em sua porta, como fazia em todas as manhãs. Rose permaneceu calada e Scorpius encarou isso como uma deixa para ir embora.

Ele se levantou, vestiu a calça e ficou se olhando na frente do espelho enquanto fechava os botões da camisa, distraindo-se um pouco com o tempo lá fora. Fitou o reflexo da ruiva, sentindo algo acidificar seu estômago e deixá-lo, por alguns instantes, sem ar.

— Então... — pigarreou. — Essa noite foi-

— Estranha — completou Rose cruzando os braços. — E não vai se repetir, se é o que está pensando. 

— Não estou pensando em nada. Apenas ia dizer que foi boa, mas não posso negar que foi um pouco inusitado — sorriu tentando descontrair o clima. — Normalmente não sou bom adivinhando coisas, mas... — virou-se para ela, passando as mãos pelo cabelo. — Acho que está com essa cara porque... Quer fingir que nada aconteceu? É isso?

— Seria ótimo, se você concordar — ele assentiu, calçando seus sapatos. 

Quando finalmente estava pronto para ir embora, ele olhou bem no fundo de seus olhos azuis brilhantes. Ela não estava feliz, era óbvio; não precisava conhecê-la tão bem para deduzir seus pensamentos naquele instante, nem ser melhor em clarividência. Talvez aquele brilho estranho fosse, simplesmente, os resquícios, até mesmo porque ele também os estava sentindo. 

— Então… — disse Scorpius ajeitando o seu casaco. Ele deu meia volta para ir até a cama, inclinou-se para beijar a bochecha de Rose antes de aparatar — Até mais, Weasley.