...Qual? escrita por Arisusagi


Capítulo 4
Tensão.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo, ah, esse capítulo.
Até aquele momento, eu só escrevia minhas fanfics em arquivos do libreoffice e as deixava no meu pendrive, para conseguir abrir no tablet e no notebook. Mas aí, naquele maravilhoso dia, o pendrive e o aplicativo bugaram ao mesmo tempo, e esse capítulo foi pro espaço :))) Sorte minha que coloquei os capítulos dessa fanfic em arquivos separados. Então é, tive que reescrever tudo do zero. Até mudei algumas (muitas) coisas. E agora só uso o google docs :'D
Ah, e uma notícia boa: fiz minha (provavelmente) última prova ontem, ou seja, terei muito tempo livre daqui pra frente. Dependendo do quanto eu escrever nessas férias, posso postar os capítulos mais rápido :3
É isso, se acharem algum erro me avisem. Boa leitura!



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Quando abriu os olhos de novo, Kaito se sentou imediatamente. Uma dor tomou conta de sua cabeça junto com uma tontura forte,e ele se arrependeu de ter levantado assim tão rápido.

Como esperado, ele estava um lugar diferente.

Kaito estava sentado sobre um futon, dentro de uma sala não muito grande, com um cobertor verde cobrindo suas pernas. À sua direita ficava uma mesinha baixa de madeira, e uma estante cheia de livros encosta na parede. As persianas da janela que ficava ao lado da estante estavam fechadas, mas dava para ver que o sol já estava alto no céu.

De repente, uma música alta começou a tocar, junto com o som de vibrações. Era o despertador do celular que estava sobre a mesinha.

Kaito pegou o aparelho e o abriu, vendo que já era onze da manhã. Ele se perguntou que tipo de vida ele teria para programar um despertador para aquele horário.

Talvez essa fosse uma evidência de que aquela não era a vida real.

De qualquer forma, era melhor agir naturalmente.

Ao sair da sala, Kaito se deparou com um corredor estreito que levava até uma porta de vidro, que dava para o lado de fora. Julgando pela paisagem, ele estava no andar de cima de um sobrado.

Havia duas portas naquele corredor. A que ficava a sua direita estava aberta, e pertencia a um banheiro. A outra, que ficava um pouco mais à frente, estava fechada e, pelo que ele se lembrava, pertencia a um quartinho onde ficavam suas roupas e outros objetos.

O banheiro era pequeno, tinha uma pia, uma privada e um chuveiro, além de um armarinho cuja porta servia de espelho.

Ele abriu a portinha e pegou uma escova de dentes e um tubo de pasta. Ao fechá-la, Kaito percebeu que havia alguma coisa em seu pescoço, quase atrás da orelha.

Era uma tatuagem. Kaito tinha o símbolo do número pi tatuado no pescoço.

E aí, ele se lembrou de várias coisas.

Tinha uma prova, e ele não devia ter mais que doze anos, e tinha muitos números, e ele se divertia tanto fazendo todas aquelas contas e resolvendo todos aqueles problemas. Depois, Kaito estava em cima de um palco, e uma mulher anunciava que ele ficara em primeiro lugar na olímpiada de matemática, e ele sorria tanto que suas bochechas doíam, e a medalha de ouro era tão pesada e gelada em sua mão.

E sua vida mudou depois daquele dia. Kaito descobriu uma nova paixão: a matemática.

O que muitos odiavam era o passatempo preferido dele. Resolver contas e estudar os temas mais difíceis era o que ele gostava de fazer. Por isso, ele cursava matemática na universidade.

Era engraçado como todas aquelas memórias faziam muito sentido, mesmo que parecessem um sonho.

Seu estômago roncou. Mesmo que aquele mundo (talvez) não fosse real, ele precisava comer. (Como ele sentia fome em todas as vidas pelas quais ele passou até agora, mesmo nas que não eram reais? Essa era uma pergunta que ele ainda faria à Criatura.)

Havia uma lanchonete do outro lado da rua, pelo que ele se lembrava.

Kaito nem se preocupou em trocar de roupa, ele só passou desodorante, pegou o celular e a carteira, e calçou seus tênis que estavam largados perto da porta de vidro.

Ao passar pela porta, Kaito se deparou com uma escada em espiral um pouco intimidadora, sua pintura preta estava desgastada em alguns pontos, revelando manchas de ferrugem. Ele se lembrava de tê-la descido várias vezes, e de morrer de medo de cair em todas elas.

Ele a desceu com cuidado, segurando o corrimão com mais força que o necessário.

O suspiro que escapou de seus lábios quando ele chegou ao último degrau o fez perceber que sua respiração ficara presa durante toda a descida.

Não havia muita coisa ali, só um vaso que ficava ao lado da escada com uma planta cujo nome Kaito desconhecia.

Ele deslizou o portão branco que separava aquele pequeno pátio da calçada e saiu.

A rua era mais estreita do que ele se lembrava, e era cheia de lojas e prédios comerciais com as paredes pichadas.

O andar térreo do sobrado onde sua sala ficava era uma floricultura. A dona do estabelecimento, uma senhorinha que devia ter quase oitenta anos, estava parada na porta, e o cumprimentou. Ele a respondeu com um bom dia arrastado, e se apressou para atravessar a rua.

A lanchonete cheirava a fritura, e o rapaz de cabelos rosas que estava do outro lado do balcão fez Kaito se lembrar de algo (muito) importante.

Ele já havia feito coisas com aquele moço.

— Bom dia, Kaito!— Yuma (esse era o nome dele?) disse, sorrindo como se aquele fosse o melhor momento de sua vida.

—Bom dia.— Kaito respondeu timidamente, sentando-se em uma das banquetas que ficavam próximas ao balcão.

—Vai querer o de sempre?— Ele perguntou, debruçando-se sobre a superfície de granito;

—Sim.— Para falar a verdade, Kaito não fazia ideia do que era “o de sempre”, mas ele estava morrendo de fome e queria comer logo.

Yuma colocou um prato com quatro onigiris, uma garrafa de chá verde e um pacote de pão de melão em sua frente.

—Prontinho! O de sempre.

Kaito agradeceu e pegou um dos onigiris.

O arroz era grudento, e se despedaçava muito fácil, e o atum com maionese do recheio parecia estar um pouco passado, mas aquele gosto lhe era muito familiar.

—E a faculdade, como tá?— Yuma perguntou, voltando a se debruçar sobre o balcão.

—Tá lá.— Kaito resmungou entre uma mordida e outra.

—Eu sei!— Ele deu uma risada alta, talvez alta demais para uma piada tão sem graça quanto aquela.— Como você está indo?

—Bem, eu acho.

Quando terminou de comer o último onigiri, Kaito lambeu os dedos e pegou a garrafa de chá.

—Faz tempo que a gente não sai, né?

Kaito teve sorte de não engasgar quando Yuma fez essa pergunta.

—Hm… É que… Bem... — Kaito balbuciou, tentando encontrar uma boa resposta.

Ele e Yuma tiveram alguns momentos íntimos, e nenhum deles teve um significado assim tão forte para Kaito, mas aparentemente Yuma não pensava da mesma forma.

Pelo que ele se lembrava, eles já haviam conversado sobre isso antes, e Kaito deixara bem claro que os sentimentos de Yuma não eram correspondidos.

—Eu estou brincando, calma!— Yuma riu, virando-se para tirar alguns pratos da máquina de lavar louça.— Você anda muito ocupado, né?

—É, eu ando muito ocupado... — Kaito concordou em voz baixa.

Ele comeu seu pão de melão em silêncio, tentando não reparar na forma como Yuma o observava.

Parecia que ele estava o comendo com os olhos.

—Aqui… — Kaito tirou uma nota da carteira e entregou a ele.

Yuma contou o troco e o entregou um punhado de moedas.

—Até mais, Kaito.— Ele se despediu com um sorriso.

—Até…

Kaito saiu dali o mais rápido que pode.

A tensão entre eles estava tão forte que parecia que dava para pegá-la com as mãos. Se ele ficasse ali por mais alguns minutos, era provável que Yuma pulasse o balcão para agarrá-lo.

Kaito suspirou, e passou a mão pelo rosto. Aquilo seria bem cansativo.

Ele voltou para sua sala, e se sentou sobre o futon, pensando no que poderia fazer agora.

Um caderninho que estava sobre a mesa chamou sua atenção. Era uma agenda comum, tinha a capa preta e a espiral prateada. O elástico que era preso à capa de trás estava enfiado entre as folhas, marcando uma página, e foi ali que ele abriu.

Era o dia de hoje, aparentemente, e o único compromisso marcado ali era uma aula particular às quatro da tarde.

Ah, claro, ele dava aulas particulares para alunos do fundamental e do colegial para ganhar algum dinheiro.

O nome do aluno ( ou melhor, alunos) o fez franzir o cenho.

Os gêmeos Kagamine eram, de longe, seus piores alunos. Eles eram mimados e irritantes, além de terem o nível de concentração de um filhote de chihuahua. Eles não davam a mínima para os estudos e, para falar a verdade, Kaito tinha certeza de que suas aulas particulares não tinham efeito algum no desempenho escolar dos gêmeos. Ele se lembrava de conversar sobre o assunto com o pai deles, mas o senhor Kagamine fazia questão de que os dois continuassem com as aulas. E Kaito não reclamou, afinal, ele estava sendo pago para isso.

—Está se divertindo?— A pergunta veio junto com um vulto preto que correu para o canto da sala.

Ele respirou fundo e olhou para aquele lugar, sentindo um arrepio ao ver a Criatura parada ali ao lado da estante, seu chifre quase encostando no teto e seu manto negro espalhado pelo chão.

Kaito se perguntou se algum dia ele se acostumaria com aquela imagem assustadora.

—Não.— Ele respondeu passando a mão pelo rosto.

—Mas eu estou.— A Criatura deu aquela gargalhada alta e aguda que o fez revirar os olhos.

A risada cessou e o Ser ficou em silêncio. Se sua expressão facial não fosse estática como uma máscara, Kaito diria que ele estava sério.

— E então?— O Ser sussurrou com sua voz áspera, muito parecida com o sibilar de uma cobra.— Esse aqui é real?

Antes que ele pudesse responder, a Criatura desapareceu em um piscar de olhos.

Kaito suspirou. Sinceramente, não fazia diferença se aquele mundo era real ou não, já que, aparentemente, a única ameaça que existia ali era toda aquela tensão sexual com Yuma.

Ele decidiu que o melhor a se fazer naquele momento era arrumar aquela sala. Então, dobrou o cobertor e o futon e os levou para o quarto.

O quartinho era minúsculo e não tinha janelas. Lá dentro havia um guarda-roupa velho e duas estantes cheias de livros. A luz amarelada da única lâmpada que havia ali só servia para aumentar a sensação claustrofóbica que aquele quarto tinha.

Ele mal guardara o futon e o cobertor quando ouviu o estrondo de passos subindo a escada de metal.

— Sensei!— Ele revirou os olhos ao ouvir aquela voz estridente.

Os Kagamine passaram pela porta de vidro como se estivessem em sua própria casa, largando seus sapatos pelo corredor.

Não tinha como duvidar de que os dois eram gêmeos. Ambos eram loiros, e tinham os cabelos do mesmo comprimento, entretanto, o menino os mantinha presos em um pequeno rabo de cavalo. Eles tinham a mesma altura e os mesmo olhos azuis claros.

—O que vocês estão fazendo aqui?!— Kaito perguntou, erguendo os braços por impulso quando Rin, a menina, abraçou sua cintura.

—Viemos para a aula, ué.— Len, o garoto, respondeu.

—Mas e a escola?—Kaito segurou os braços de Rin e tentou fazer com que ela o soltasse.— Vocês não têm aula até às três da tarde?

—É, mas a aula é chata.— Rin bufou, finalmente soltando o professor.— A sua aula é muito melhor, Kaito-sensei!

“Se a minha aula fosse mesmo melhor que a da escola, as suas notas também seriam melhores, não é mesmo?” Foi o que Kaito pensou em dizer, mas achou melhor ficar quieto.

Por incrível que pareça, aquela não era a primeira vez que os gêmeos matavam aula para passar mais tempo com seu amado Kaito-sensei.

E, sim, não adiantava nada falar com o pai deles sobre isso.

Rin e Len pegaram suas mochilas e foram para a sala maior. Eles se sentaram um ao lado do outro em frente à mesa, e tiraram seus materiais da mochila.

—Quais aulas vocês teriam nessa tarde?— Kaito perguntou, apertando a ponte de seu nariz.

—Sei lá.— Rin respondeu, e olhou para seu irmão, esperando que ele desse uma resposta mais apropriada.

—História...— Ele parou e pensou um pouco.— Hoje é terça, né?

—Sim.— Kaito suspirou, foi até a estante e pegou um livro de matemática, um pacote de papel sulfite e um estojo.

—História e matemática então.

—E vocês lembram do que tiveram na última aula?—Ele se sentou de frente para os dois e abriu o livro.

—Não faço ideia.— Rin se espreguiçou e bocejou.

—Acho que foi geometria espacial.— Len abriu seu caderno e o folheou até chegar na última página que tinha anotações.— É, a última aula foi sobre cilindros.

—Então, se o professor está seguindo o livro, vocês estariam vendo cones hoje, certo?

—Certo.— Len concordou.

—Ok, vamos começar. — Ele desenhou um cone em uma folha em branco.— Essa é a base do cone, e esse é o raio da base.

Kaito parou e olhou para os dois. Len parecia estar prestando atenção no desenho, ao contrário que sua irmã, que digitando alguma coisa em seu celular.

—Vocês não vão copiar?

—Quê? Ah, copia aí, Len.— Ela respondeu sem tirar os olhos da tela do aparelho, e Len a obedeceu.— Depois eu pego com ele.

—Não, você vai copiar isso agora.—Kaito disse em tom autoritário.

—Sensei! Você é tão chato!— Ela resmungou, mas tirou um caderno de sua mochila mesmo assim.

—Vocês estão perdendo uma aula importante. O que vão fazer se o professor pedir isso na prova?— Ele suspirou.— Enfim. Essa é a geratriz e essa é a altura. Quando a geratriz e a altura são iguais, o cone é reto. Esse ângulo aqui tem 90 graus, então-

—Kaito-sensei, eu estou com fome.— Rin o interrompeu.— Posso descer pra comprar alguma coisa?

—Se você prometer que vai prestar atenção na aula...

—Tá bom, eu prometo.— Ela resmungou revirando os olhos.

Rin pegou sua carteira e saiu, deixando-o a sós com Len.

Kaito resolveu ler o livro para se lembrar do resto da teoria. Ele olhou para o garoto sentado em sua frente, que tamborilava os dedos sobre a mesa distraidamente.

Len era um pouco mais dedicado que sua irmã, talvez suas notas fossem um pouco melhores se ela não o influenciasse tanto assim. Talvez ele devesse alertá-lo, afinal, ajudar os alunos com esse tipo de problema fazia parte do seu papel como professor.

Entretanto, antes que ele dissesse qualquer coisa, um vulto preto correu bem ao seu lado, e Kaito congelou.

—Sensei...?—A voz de Len soou distante.—O que foi?

A visão de Kaito ficou turva de repente, e ele piscou freneticamente, tentando fazer com que ela voltasse ao normal.

—Sensei!—Seu braço formigou quando Len o tocou, como se sua circulação estivesse interrompida por muito tempo.—Eu vou procurar ajuda!

A última coisa que Kaito viu antes de sua visão escurecer foi Len correndo para fora da sala, e a Criatura parada bem ao lado da porta.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades sobre esse capítulo:
—Não era pro Yuma estar aí na minha ideia original. Era pra ter só o Kaito sendo infernizado pelos Kagamine, mas aí fiquei com pena dele e coloquei o Yuma (acho que, na verdade, eu só causei mais sofrimento pro coitado).
—Era pros Kagamines serem ainda mais insuportáveis, darem em cima do Kaito, e pro pai deles ser um mafioso intimidador. Mas parece que é fisicamente impossível pra mim escrever qualquer coisa entre um aluno e um professor (mesmo que seja unilateral), e achei que a parte da máfia seria muito forçada, aí deixei os dois como simples alunos bosta mesmo.
—O lugar em que o Kaito mora/dá aulas é parecido com um lugar onde fiz aulas particulares no segundo colegial. (Tive que ter aulinhas de exatas pra passar de ano, risos).
Até o próximo capítulo!



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