Submersa em ilusão escrita por Cardisplicente


Capítulo 1
O encontro


Notas iniciais do capítulo

Olá, colegas! Nesse primeiro capítulo, optei por investir mais no psicológico da personagem Merlin. Posso contar um segredo? Ela é inspirada na cantora Lorde! ♥ Espero que gostem!



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Ainda faltava uma hora para Nicolas chegar. Abri o guarda-roupa e procurei pelo vestido mais bonito. Eu tinha alguns. A maioria amarrotado. Todos antigos, que nunca usei. Alguns tão antigos que poderia até chamá-los de vintages. Encontrei o vermelho da formatura do no 9° ano. Eu não fui a formatura, portanto nunca o vesti. Ele parecia tão novo quanto a ideia de ter um “encontro”.

Pensei uma vez e talvez ele fosse elegante demais para esse encontro. Pensei outra vez e percebi que seria perfeito. Ele não era longo, nem tão curto. Ficava uns cinco centímetros acima dos joelhos. Tinha a alça com rendas em forma de rosas e um sutil decote no busto. Era um lindo vestido. Tão lindo que me causava uma certa insegurança, como se eu não fosse boa o suficiente para usá-lo naquela noite. Eu nunca vesti algo parecido antes.

Quanto aos sapatos, é melhor deixar os saltos altos para um outro momento oportuno. Não levo jeito. Uma sapatilha dourada já estava ótima, por mais que não combinasse tanto com o vestido.

Separei-os em cima da cama. Engavetei minhas neuras e sentei em frente a minha penteadeira vermelha de encontro ao espelho. Quase nua. Apoiei o queixo em cima das mãos e respirei fundo. O meu reflexo não mentia. Eu não sabia disfarçar nada bem. Eu estava insegura, nervosa, apaixonada... Eu sentia-me obrigada a fazer daquele encontro o nosso ponto de partida.

Fiz um coque. Era a primeira vez que meu rosto aparecia tanto. Apesar de insegura, eu precisava dar esse passo. Precisava deixar de esconder-me tanto nos meus cachos tão rebeldes. Eu precisava ser notada mais do que como a velha amiga de infância dele. Eu estava disposta a fazer isso naquela noite. Levantei-me para vestir-me de imediato antes de sua chegada.

O vestido ficou um pouco justo, causava-me um certo desconforto. Todavia, eu estava mais confiante do que com meus moletons largos e desbotados. Provavelmente, eu estivesse enterrando ali, naquele exato momento, o meu luto com a vida. Eu certamente fiquei delirando enquanto dançava uma valsa sozinha imaginando o corpo dele colado no meu. Eu poderia jurar sentir o cheiro do seu perfume o timbre da sua voz durante aquela dança. Eu só poderia estar com a cabeça nas nuvens, sonhando, eu tampouco sabia dançar.

Logo a valsa acabou e ao retomar à realidade de ainda estar presa no meu quarto, fui procurar na minha caixinha de joias alguma coisa para usar. Eu não tinha muitas opções. Encontrei uma pulseira antiga de ouro branco. Ganhei-a nos meus quinze anos, de presente do meu pai. Era outra preciosidade que eu nunca havia usado.

Agora, restava a parte mais perigosa de todas as partes na hora de se arrumar para um encontro: a maquiagem. Eu precisava encarar aquelas “ferramentas” de beleza como minhas aliadas. Assisti alguns vídeos de tutoriais no YouTube para tentar aprender alguma coisa. É um pouco hipócrita afirmar que estava gostando mais do meu rosto ao passo que prefiro cobri-lo com maquiagem. Eu, porém, queria dar-me a chance de fazer algo direito. Pelo menos dessa vez, fazer o serviço completo.

Vamos lá. Em cima da penteadeira, estava a mala com a maquiagem da minha mãe. Ela tem a pele um pouco morena. Melhor não cobrir a pele. Vou fazer um gatinho com... Alguma coisa que ainda não sei o que é. Vou testar o que tiver por aqui. Um gatinho nos olhos e um batom vinho seriam perfeitos.

Subitamente, ouço umas batidas na porta.

– Pode entrar! – Avisei.

– Vai se maquiar, Merlin? – Perguntou minha mãe olhando atravessado ao que eu tinha em mãos.

– Sim...

– Eu posso ajudar?! – Se ofereceu preocupada. Ela tinha a completa noção do quão perdida eu estava ali.

– Tudo bem. Eu só quero algo nos olhos e esse batom. – Expliquei mostrando o batom que gostei.

Sentada ali, fechei os olhos deixei apreensivamente nas mãos dela o serviço pesado. Logo, comecei a contar os segundos para a tão esperada chegada dele, só para distrair-me da agonia que era minha mãe respirando em cima de mim enquanto cantarolava as músicas da Whitney Houston, com uma fluência no inglês devidamente precária e afinação nos falsetes idem.

Meu celular começou a tocar “You are the only exception...” e para o meu azar, minha mãe começou a disputar a voz com a Hayley. Estressada, ela passou a cantar mais alto ainda, no entanto, com menos ritmo.

– Pronto! Você ficou linda! – Virou meu rosto ao espelho.

– Oh, céus! O que você fez comigo? – Indaguei surpresa – A maquiagem ficou exatamente como eu queria.

– Finalmente você gostou de alguma coisa, não é mesmo? – Reclama em tom de brincadeira.

– Você sempre me levando a mal... – Revirei os olhos.

O celular dela toca em seguida. Era Nicolas. Logo, ao desligar, ela avisa:

– O Nicolas chegou! Você está nervosa? – Pergunta aguçando os olhos depois de notar meu péssimo sorriso constrangido.

– Não é a primeira vez que saímos, mãe... – Desvio o olhar como reprovação – Eu estou sã, juro.

– Mas e o pedido? – Curiosamente, ela insiste em me lembrar do porquê eu deveria estar nervosa. E sim, eu estava. E não, eu não precisava lembrar disso a todo instante!

– Eu não tenho certeza se ele fará isso. E, além do mais, essa suposição é de sua autoria. Eu não confio muito nela.

– Tenho certeza que será isso. Eu conheço os rapazes! – sem querer, sorri de seu argumento nada convincente. Afinal, ela está casada há mais de 20 anos. O que ainda poderia lembrar dos rapazes? E que tipo de pessoa ainda fala “rapazes” em pleno século 21? Sim, minha mãe. Uma professora de letras – Merlin Camargo Oliveira, não sei qual a graça! Seu pai está de prova. Eu realmente conheço os rapazes e suas paqueras! – “Ou não” pensei.

– Mãe, de qualquer forma, você não está ajudando. Eu preciso ir agora – dei-lhe um beijo na bochecha e desci as escadas correndo.

Abrindo o portão, ouço meu pai gritar:

– Merlin! Espera! – Rapidamente, virei-me para atendê-lo – Eu ficarei acordado, lhe esperando. Qualquer coisa, você pode ligar. Qualquer coisa mesmo. Qualquer coisa, eu posso lhe bus...

– Pai, – interrompi – qualquer coisa, eu aviso. Vou ficar bem.

– Você sempre fica, não é mesmo? – Sorriu forçado como se estivesse orgulhoso de algo.

– Sim... Então, estou indo – Dei de ombros antes que ele mudasse de ideia e pedisse para eu ficar em casa naquela noite.

– Ah! Você esqueceu sua bolsa. – Entregou-me.

– Obrigada, pai! – Agradeci aliviada.

– Divirta-se – acenou despedindo-se.

Apesar de fazer um pouco mais de dois anos que eu já convivo com o meu pai desde que ele voltou da suposta longa viagem, que durou praticamente a minha adolescência inteira, eu ainda não estava acostumada com tamanha proteção de alguém que ainda parecia-me um estranho.Ele era complemente desajeitado como pai. Ele não sabia muito bem como lidar comigo e isso era recíproco. Algumas vezes, ele queria tomar uma postura autoritária e dar-me ordens muitas vezes desnecessárias, inclusive. Em outras, ele queria ser o pai descolado que entrega um cartão de crédito nas mãos da filha e a aconselha a sair para as festas noturnas do centro da cidade.

Minha mãe, por sua vez, consente tudo isso. É como se ela tivesse pena dele, por mais que reprove as suas atitudes, nunca confessa isso de um jeito rude. Então, desde que ele voltou como meu “presente” de quinze anos, ela suplica para que eu faça o mesmo e dê algumas chances a ele. E era o que eu tentava fazer o tempo todo. Todavia, saía-me mal.

Abri o portão e corri para encontrar com Nicolas. Ele estava escorado na frente da porta do passageiro do carro mexendo no celular. Logo que me viu, o guardou no bolso e abriu a porta à minha espera. Ele estava admirável com um terno cor grafite e um par de sapatos social. Aliás, ele estava tão arrumado e perfumado que parecia que partiria dali para um concerto. Era estranho acreditar que ele estava assim para mim. Só para mim. Eu sorri logo que o vi e, dessa vez, nem tentei disfarçar. E, apesar de tudo, ele estava sério.

– Você está bem? – Perguntei empolgada.

– Sim – Respondeu automaticamente.

– Fico feliz... – Disse desapontada. Esperava que ele respondesse algo que soasse melhor que um “sim” ou que ao menos perguntasse de volta.

Eu entrei no carro e, em seguida, ele entrou também.

– Tem uma coisa para você no banco de trás. Consegue pegar? – Sorriu.

– Sério? – Ele confirmou com a cabeça e logo fui contra as regras de etiquetas. Virei-me de joelhos para procurar a tal coisa. Eram rosas... Rosas naturais. Vermelhas da cor do meu vestido. Aquilo poderia ser um sinal, um bom sinal. – São lindas...

– Como você. – Piscou com um lado dos olhos, deixando-me completamente sem graça. Eu devo ter ficado da cor daquelas flores naquela hora.

– Você é incrível! Obrigada por elas... – Eu poderia dizer “obrigada por elas, por esse encontro, por estar comigo” mas eu pareceria desesperada demais.

Não havia nada tocando no som de Nicolas. Isso era complemente estranho. Lembrei do CD guardado na minha bolsa que tinha gravado para ele que, na verdade, o daria apenas durante o jantar, mas resolvi dar antes para retribuir a gentileza.

– Trouxe o CD que você me pediu!

– Sério? – Perguntou levemente entusiasmado.

– Sim. Quer que eu o coloque para tocar?

– Agora não. – Retomou à postura seriamente rígida.

– Por que? – Indaguei imediatamente preocupada e percebi ligeiramente que ele revirou os olhos reprovando minha insistência.

– Eu quero ouvir isso quando estiver sozinho – Explicou impacientemente.

– Tudo bem – Conformei-me.

Agora, ele não somente parecia sério como também parecia estar bravo com algo. Ou talvez, um talvez muito improvável, minha mãe estivesse certa e ele estava muito nervoso com o “pedido” que pretendia fazer a mim. Ninguém mais falou durante todo o caminho.

Eu usufruí do silêncio para tentar descobrir o que havia acontecido. Tentava decifrar suas quase imperceptíveis expressões aborrecidas. Nem estávamos atrasados. Eu realmente não era capaz de decifrar seus enigmas sozinha. Nicolas era complexo demais para mim. De qualquer modo, se não fosse algo especial, ele não me levaria para jantar num lugar tão elegante.

O mais estranho, porém, é que ele sequer olhava nos meus olhos. Ele mantinha os olhos fixos na direção. Não dando a mínima para o meu vestido nem meu sorriso e sequer minha presença. É como se ele nem estive lá. Ele estava longe, em outra dimensão e não no “mundo da lua” de sempre. Ele parecia estar planejando alguma coisa, certamente.

Eu quis abraçar suas mãos com as minhas. Estava frio. Mas isso era um pretexto. Porque afinal, fazia mais que frio em minha pele, fazia uma inexplicável saudade que balançava meu estômago. Como se estivéssemos passado da hora. Era como se, mais que nunca, eu necessitasse dizer tantas coisas que tenho tentado disfarçar nos últimos meses. Ou será anos? Tanto faz. Eu precisava dizer todas as coisas naquela noite, mas aquela hora não era apropriada. Eu não poderia fazer aquilo de qualquer jeito. Estava disposta a esperar por uma melhor hora. Todavia, feito boba, eu não pude relevar minha insegurança. Fui direto ao assunto.

– Isso vai ser só um jantar mesmo, Nicolas?

– Por que você suspeita que seja algo a mais? – sorriu maliciosamente.

– Você não é o tipo de pessoa que faz as coisas por acaso – justifiquei com a certeza de que ele tinha segundas intenções e ele consentiu.

– Você merece saber. Mas... Não agora. Estamos quase chegando.


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Notas finais do capítulo

PELO AMOR DE DEUS! Não deixem de contar o que estão achando dos persongens. Sobretudo da Merlin! Huahsuahs. Pretendo deixá-los com o coração na mão no segundo capítulo muahahaha -q. Eu vou ler e responder todos os comentários. Beijinhos de luz e até a destruição ^0^



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