A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

OIÊSSSS
Como vão vocês, que vi teoricamente pela última vez segunda-feira?
Eu tive bastante dúvida em relação a esse capítulo, então seria bem legal ter o feedback de vocês - ouviram, fantasminhas? Só nesse capítulo, por favor.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/656554/chapter/5

Depois de derrotar Sequela, minha auto-estima aumentar completamente e eu comer aquela maçã, eu podia sentir como todos me olhavam de uma maneira diferente. Não apenas olhavam, eles também estavam me tratando de maneira diferente. Eu não era mais o “desperdício”, como Sombra havia dito, eu era apenas o Tomeh. E, por incrível que pareça, Tomeh era respeitado.

Bem, “respeitado” nos limites possíveis por um marujo daquele navio. Todos se xingavam, espancavam e trocavam ameaças de morte, e deuses me livrem de ser a mãe de um daqueles, o assédio era impressionante.

Depois da luta, Tobias veio dizer que eu tinha entendido perfeitamente a parte de usar a inteligência a meu favor, e que eu realmente era uma porcaria na corpo a corpo. Dei de ombros, pois eu sabia que era a mais pura verdade.

Fox descia pouco de seu quarto. A ruiva dava o ar de sua graça apenas para as refeições, de vez em quando para dar algumas ordens ou chamar Mohra para ajuda-la com as rotas marítmas. Garra devia ser o único que me olhava com cara de quem gostaria de ver minha família inteira andando pela prancha, e eu já havia ouvido ele dizer algumas vezes que minha vitória foi injusta, sendo que eu não o venci lutando.

Descobri que havia mais gente interessante naquele navio, pelo pouco tempo que eu convivia com os Sailors, ouvi algumas histórias impressionantes de como eles tinham chegado ali. Afinal, quando se larga sua vida para ganhar braços de metal e assassinar pessoas, você deve ter um bom motivo. Por exemplo, Bat, o morcego, que veio da parte mais pobre de Epícia, ficou cego quando assaltantes o atacaram, e venceu Ello numa luta sem o sonar, um presente do antigo capitão do navio. Ello era o pianista de um bar, mas quase foi morto ao se engraçar com o filho do dono do local - e isso quem me contou foi Jaguar, um homem de olhos puxados, e todos afirmavam que por isso sua visão era melhor que as demais -Era muita gente diferente e com muitas coisas pra dizer ao mesmo tempo, e eu finalmente entendi qual a urgência em ver quem falava mais alto. Eles tinham uma espécie de competição para ver quem tinha sofrido mais na vida. Bem, esse era apenas um detalhe.

Tentei algumas vezes questionar como Fox havia chegado ao navio, mas todos desconversavam. Era uma espécie de assunto proibido, e eu teria de controlar meus instintos investigativos, já que todos ali eram cegamente fieis a ela.

Foi então em uma tarde após o almoço, quando Cabeça já havia sumido com os restos para dentro da cozinha havia certo tempo, o sol quente já não incomodava tanto a pele e o cansaço pós refeição era menos notável, que Tubarão, um indivíduo com dentes de metal - seja lá como colocaram aquilo nele - começou a gritar do leme que tínhamos companhia. Tentei entender exatamente o que aquilo significava, pois no meu antigo navio não gritávamos por qualquer coisa - apenas o capitão o fazia, aquele homem tinha cordas vocais potentes.

Os marujos ao meu lado se mobilizaram, começaram a correr por todos os lados executando tarefas. Batata veio até meu lado e me jogou uma espada e uma máscara negra:

— O que eu tenho que fazer? - olhei confuso para a arma em minhas mãos.

— Fox vai dizer. Tem um navio por perto, e esperamos que não seja da guarda. Eu odeio matar guardas - ele balançou a cabeça, e logo sumiu no meio da bagunça.

Um estrondo do corredor que levava ao quarto de Fox: a ruiva irrompeu pelas portas de madeira, agora escancaradas, e todos os Sailors se calaram. Ela andou até nosso meio segurando uma espada e fixou os olhos em nós.

— Temos um navio a bombordo, Sailors, e não sabemos se são da guarda real, que se nos alcançar vai querer ver os “documentos” que possuímos, ou apenas mais uma vítima nossa - revirou os olhos com um sorriso sarcástico - então nós esperamos. A última coisa que precisamos é que um navio inteiro cheio de agentes da rainha exploda no oceano, o que é bem diferente de um navio aleatório que está transportando frutas. Jaguar pode checar para nós que tipo de embarcação é, isso nos ganhará tempo - e lá se foi ele, correndo até a borda do navio, olhando ao longe, tentando decifrar o que nos era obscuro. Enquanto isso, ela e Mohra sussurravam, provavelmente um plano. Então era aquilo, ou iríamos queimar filhos do reino ou iríamos queimar pessoas comuns que só estavam transportando comida de um continente para o outro. No fim do dia, eu ainda teria que matar inocentes - ou nem tanto.

— São mercadores! - ele gritou, ainda da ponta - posso ver a bandeira vermelha pendendo do mastro, e são do Oeste!

Fox riu, feliz:

— Armem-se, homens, hoje teremos um banquete!

Todos aplaudiram, pisotearam, fizeram aquele barulho típico de bárbaros que eles tanto adoravam.

— Faremos como sempre - ela gritou, fazendo todos se calarem mais uma vez - Jaguar, Ello, Tubarão e Sequela vão na frente, rendam o convés - estes se movimentaram, indo para o pequeno desnível de onde instalavam a ponte para descerem no outro navio — Magma e Cabeça, devem tomar o leme — estes assentiram de maneira bruta — Batata, Tobias, Sombra e Bat, o convés inferior é de vocês. Eu, Mohra e Garra vamos para a cabine do capitão. Coloquem suas máscaras.

Quando vi que ela não planejava citar meu nome, perguntei onde me encaixava naquela loucura toda.

— Você, Tomeh, me segue, e por favor tente não morrer.

Todos começaram a ir para suas devidas posições. Era um tempo de aproximadamente dois minutos até alcançarmos o outro navio.

Quando nossos navios passaram perto, os homens inimigos estavam todos armados, nos encarando. Fox gritou, e os quatro que iriam tomar o navio o invadiram. Foi uma gritaria, as espadas se chocando, e eu fiquei surpreso em como era bom estar do lado vencedor da cena. Assim que todos entraram e estavam ocupados lutando, Fox abriu passagem para Garra e Mohra, dizendo um casual “princesas”. Eles riram e pularam para o convés. Ela olhou para mim, e seu recado não foi tão sutil:

— Você protege minhas costas, e se eu voltar para meu navio apunhalada, volto da morte para te jogar no mar, ouviu bem?

E com isso começou a andar. Era praticamente como se desfilasse pelo caos absoluto, onde sangue corria pelo chão como água e suas botas ecoavam em harmonia com os gritos de desespero. O cabelo ruivo parcialmente coberto pelo chapéu, a máscara negra nos olhos e o típico sorriso sarcástico de quem se divertia com a dor alheia. “Não há honra no mar” ela havia dito, e eu pude comprovar aquilo no meio daquela bagunça. Quem iria até lá para prende-los?

Mohra e Garra eram dois demônios lutando. Nem espadas usavam, desferiam golpes com suas mãos, já que o primeiro tinha os famosos punhos de ferro, e o segundo garras ao invés de unhas. Eles pareciam dois armários que andavam e empurravam brutalmente qualquer um que se atrevesse a cruzar seu caminho. Isso facilitava muito para mim, já que todos os inimigos estavam desnorteados ou caídos. Os poucos que se chegavam perto de mim eram nocauteado também.

Subimos a escada para um pequeno convés inferior, de onde surgia uma estrutura de madeira parecida com um cubo, ou seja, a cabine do capitão. Garra deu um chute na porta, a arrombando, enquanto Mohra irrompeu em fúria para dentro, e não pude ouvir nada além dos gritos.

— E agora? - perguntei, desajeitado.

— Mas será possível, Tomeh? - ela olhou, irritada - Seu “destino” te trouxe para meu navio por um motivo e um motivo apenas: você é o único de nós que consegue falar Gher. Vai traduzir tudo o que eu disser, e se mudar uma vírgula… - ela ponderou por uns instantes, mas logo deu de ombros e proferiu as seguintes palavras de maneira ameaçadora - oh, já entendeu o suficiente de mim para tirar suas próprias conclusões.

Entrou na sala quando percebeu que a cadeira já tinha sido posta e os homens ali presentes já estavam amarrados e jogados ao chão. Os dois marujos fizeram a garra nos olhos, e Fox foi até a cadeira, onde sentou-se. Ela cruzou a perna e os braços, do mesmo jeito que havia feito comigo da última vez.

— Olá, meus queridos, olá - ela sorriu sarcasticamente para o capitão e seus três ajudantes amarrados - sabem quem sou?

Eu traduzi o que ela pediu, e os quatro olharam para mim em confusão. Eu expliquei que se não se apressassem, ela os mataria, portanto era para adivinharem quem ela era de uma vez, e a parte de que Fox era uma assassina descontrolada os fez entender rapidinho.

Começaram a dizer coisas aleatórias em Gher, e a capitã me fitou, com uma mistura de confusão e impaciência nos olhos.

— Mas pelos infernos, o que estão dizendo? - ela perguntou.

— Eles não tem certeza de quem você é - falei a verdade.

— Não sabem quem sou? Mas não é possível - rolou seus olhos - será que terei de explicar tudo? Muito bem, acho que podemos mata-los antes - ela olhou para Garra, como se pedisse uma opinião.

Olhei em desespero para os quatro homens atados, e percebi que eles não teriam chance. Por mais que eu soubesse que o que eu pretendia era errado, falei mesmo assim:

Larguem de ignorância. Ela é ruiva e comanda homens meio metal, quem mais ela seria?

No silêncio que se estabeleceu, pude ouvir um sussurro, como se um dos marujos perguntasse ao outro por uma confirmação: “é ela a Sea Fox?”.

O olhar da ruiva saltou do tédio e se direcionou a quem tinha dito. O homem… Não, não podia ser chamado assim. Devia ter uns dezesseis anos no máximo, e ainda assim tinha uns vinte centímetros a menos que eu. Bem, o garoto encolheu-se com o peso do olhar dela.

Fox, que adorava mexer com o emocional e os limites de uma pessoa, sussurrou para Garra aproximar o menino dela. Ele puxou o pobre com violência e jogou-o a seus pés.

— Que bom que você me conhece — sussurrou, e eu traduzi. Seu olhar era penetrante, e ela parecia querer perfurar a alma do menino com seus olhos - você poderia, por favor, dizer aos outros três o que eu costumo fazer?

Transmiti a mensagem a ele, e depois ouvi o que foi dito ao capitão daquele navio e a seus dois auxiliares presentes. “Rouba suprimentos e dinheiro”, “tortura” e “mata” foram suas palavras. Assenti para Fox saber que estava tudo certo e que poderia continuar.

— Muito bem, acho que já deu pra imaginar o que vai acontecer aqui? - ela abriu um sorriso cínico.

Me senti mal por dizer aquilo, entregar a notícia a eles. Assim que o fiz, eles me olharam em pânico.

Nós estamos apenas levando móveis para Abaur - o capitão falou, com um olhar triste - que motivo ela tem para nos matar?

Fox me fitou, esperando pelo que eu ia dizer.

— Eles estão transportando mobília para vender em Abaur - disse, a olhando, tentando pedir piedade de uma maneira desajeitada, não era justo mata-los por nada. Pegar os suprimentos e voltarmos para nosso navio era algo tão ruim assim? - não podemos apenas ir embora?

Mohra começou a rir, mas era um riso seco, como se o único motivo para ter pena naquele momento era a minha estupidez.

— Ir embora? - ele falou, de maneira sarcástica, e eu pude me sentir encolhendo - acho que você não entendeu qual é o nosso esquema.

— Você viu o que fizemos com seu antigo navio - Garra sibilou, sem paciência - por que faríamos de maneira diferente com este?

Tentei os ignorar, e fitei Fox, que olhava para os três amarrados no chão, em silêncio, a mão apoiando o queixo. E mais uma vez, enquanto a vida seguia, uma guerra ocorria em sua cabeça, e como sempre eu não tinha a mínima ideia do que se passava ali.

— Quantos anos tem esse garoto? Dezesseis? Dezessete? - murmurei, direcionando-me a ela, esperando conseguir liberar aqueles pobres homens - qual o sentido disso, capitã?

Ela permaneceu em silêncio.

— O que você está pensando, garoto? Está entre os Sailors a menos de uma semana e já acha que pode mudar um esquema de anos - Mohra sibilou, revirando os olhos, tomando uma postura mais robusta.

— Que autoridade você pensa que tem? - Garra cuspiu as palavras - era melhor te-lo deixado explodir junto com a tripulação do outro navio.

— Fox, ouça o que lhe digo. Disse-me para não questionar a honra da capitã do metal, mas isso? Não há um pingo de honra nisso. O destino deles é outro.

— Mas Tomeh - ela falou após uma pausa, e esperou alguns segundos para concluir, sem tirar os olhos dos inimigos amarrados - por que é sempre tão convicto ao falar sobre o destino?

— Ah, capitã - balancei a cabeça - todos temos nossos segredos.

Os três homens, amarrados, olhavam confusos para nós. O que discutíamos? Que conflitos se passavam na cabeça de Fox naquele segundo? Por que ela não tomava nenhuma decisão?

— Eu acho que… - ela começou, e eu me enchi de esperança. Bem, até que Tubarão entrou na sala, interrompendo tanto meus pensamentos quanto a fala da ruiva.

— Com licença, capitã - ele disse - mas encontramos o corpo de uma garota nos porões.

Suas sobrancelhas arquearam-se. Ela virou-se, e seu olhar pedia mais detalhes.

— Por volta dos quinze anos… Sem vida - ele sussurrou.

— Gostaria de nos explicar quem é essa menina, capitão? - ela questionou-o, os olhos com um brilho especial que fez-me estremecer.

Inferno.

Disse a ele que encontraram uma menina morta no porão do navio, e a única coisa que ele fez foi sorrir.

Ela? Não passava de um brinquedo - riu sarcasticamente – não me importo com o que aconteceu a ela, deve ter morrido durante a tarde. Os homens se divertiram com ela o suficiente, mas era chata demais - revirou os olhos– pedia o tempo todo para voltar para casa.

Seu sorriso era assustador, sombrio, como se realmente a vida da menina não significasse nada. Quando olhei para a ruiva, ela já esperava uma resposta.

— Ande, conte-me - levantou o rosto.

— Fox, eu… Não sei se deveria - falei.

— Você pode não saber, mas eu tenho certeza de que deve. Isto é uma ordem, marujo - sibilou, os olhos ardendo em chamas, a voz ameaçadora, e um arrepio percorreu meu corpo - você não quer desacatar uma ordem minha.

— A garota… - engoli em seco - ela provavelmente morreu durante a tarde.

— Desembuche de uma vez tudo que o homem disse, imprestável - Garra falou novamente.

— Falou que os homens já tiveram sua diversão com ela - tentei evitar olhar para Fox, para Mohra, Garra, ou qualquer outro ser vivo naquela sala - e que pedia para… voltar para casa.

O silêncio ali estava me enlouquecendo. Eu queria mais que tudo fugir dali, e a tensão era visível.

Então esta garota sente pena da otária que morreu mais cedo? - o capitão questionou, e logo começou a rir– duas idiotas, mulheres no mar, que besteira - revirou os olhos– não passa de uma prostituta, e deveria morrer…

Fox levantou-se subitamente e atravessou um tapa no rosto do homem. O som ecoou pela sala, e eu tentei entender como ela tinha compreendido o que ele havia falado.

— Tem coisas - ela disse, tirando o cabelo que lhe caía sobre o rosto - que aprendemos com a vida - e então agachou-se, ficando cara a cara com o perplexo inimigo - prostituta é a sua mãe.

Levantou-se, deixou a sala, seguida por todos, e eu fui o último a sair. Antes de deixa-los, virei-me:

Acabou de assinar a sentença de morte de todo seu navio - e balancei a cabeça, me distanciando.

Os homens no convés de baixo fizeram a garra nos olhos, mas ela parecia tão irritada que nem notou. Desceu as escadas, passou pelos homens rendidos e esperou que todos os Sailors voltassem para o navio com o que tinham roubado.

Quando a última pessoa passou por ela - eu, igual da última vez - falei:

— Tem certeza de que quer fazer isso? - olhei fundo em seus olhos, mas estes não me davam atenção, fitavam vidrados o horizonte - eles podem ter uma família - eu murmurei.

— Aquela menina também poderia ter uma família - disse, mas depois olhou seus pés e sibilou - eu tinha uma família.

Pendi a cabeça para o lado:

— Fox, o que aconteceu?

Ela então abriu um sorriso de canto de boca, mas seus olhos tinham uma intensidade completamente contrária:

— Ah, marujo… Todos temos nossos segredos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?
A partir de agora vai tudo tomar um rumo meio diferente na história, mas não vou dar spoilers, ok? Pensei em estabelecer datas de postagem duas vezes na semana, segundas e quintas. O que acham?
Ate o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Raposa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.