A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a dois seres maravilhosos que me tiraram da maratona de Narcos/Gravity Falls esse final de semana para sair pela casa gritando: Srta Brave, Pertemiis, esse é pra vocês =D
E DEPOIS DE LUDIBRIAR VOCÊS, AÍ ESTÁ, A LUTA!!!
Não me batam, não sei escrever cenas de ação muito bem ;-;
E quanto as dúvidas em como pronunciar "Mohra", eu digo Morã, mas sintam-se livres!
~Boa leitura~



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Dei um pulo assustado quando um jato de água fria me atingiu. Engasguei com o líquido, e fiquei tossindo sentado e encharcado.

— Acorde, otário - era um dos marujos que eu não fazia ideia de quem era. Sua aparência era assustadora, com parte de seu rosto e pescoço deformados por queimaduras, e ambas suas mãos metálicas.

— Magma, não acredito que você jogou a água que bebemos para não morrermos de sede nesse desperdício, não faça isso - gritou outro, subindo os dois degraus para aquele pequeno convés onde estávamos.

— É água do mar, seu lixo - ele se virou - e não me diga o que devo ou não fazer, as únicas pessoas que podem fazer isso são a capitã desse navio e minha mãe, Sombra. Você não é nem ruiva e nem limpava minha bunda na infância.

— Eu ainda posso bater em você, sua mãe te dava belas pancadas, eu aposto, por isso sua cara é horrorosa assim - soltou um riso irônico, e eles saíram se empurrando. Sombra, seja lá o motivo de seu nome, tinha a pele clara e o cabelo castanho cortado rente, com uma prótese no lugar do braço esquerdo. O sol já estava alto, eu não sentia o calor pois estava completamente molhado, porém aposto que estava bem quente.

Me levantei cambaleante, e passei a mão pelo rosto para tirar a água dos olhos. O convés estava cheio de gente, então aparentemente todos os marujos estavam esperando por duas pessoas que faltavam: eu e Fox.

Andei até eles, tentando ironicamente evita-los, e vi Cabeça levando os restos do café da manhã para a cozinha.

Me aproximei para pegar algo, qualquer coisa para comer, e assim que estiquei minha mão para uma maçã fui interrompido:

— Não pode fazer isso - era Cabeça. Percebi que o que reluzia em sua cabeça era um capacete dourado, o que tinha brilhado na noite anterior - se não acordou pro café, não come. É assim que funciona aqui.

Fitei ele como se fosse uma brincadeira. Era mesmo, certo? Como ele queria que eu lutasse de barriga vazia? E ninguém tinha me acordado, sequer pensado em me chamar, e esperavam que eu fosse levantar por conta própria?

Cabeça então murmurou “Você é burro ou o quê? Já disse que não pode comer”, e eu dei as costas e parti. Bem, pelo menos até ouvir seus passos ecoando para dentro da cozinha, quando eu me virei rapidamente e estiquei meus dedos para alcançar a tal maçã.

— Pelos deuses garoto, sai daqui! - ele bradou, surgindo de repente e enfiando uma faca ao lado de minha mão na mesa. O grito que soltei não foi nem por quase ter perdido minha mão, e sim por notar que aquele facão era a mão de Cabeça.

Puxei o braço, assustado, e as risadas de quem observava foram cortadas pela voz de Fox, que descia a escada, dizendo:

— Deixe-o. Tomeh ainda tem de enfrentar um de vocês, e faze-lo de estômago vazio pode ser mais tortuoso que o habitual.

Ela tinha uma calça preta justa, uma bata branca larga e um cinto que apertava bem sua cintura fina. Suas botas batiam na madeira, e o som parecia que ecoava pelo oceano. Um grande chapéu negro cobria sua cabeça, e uma pena branca saía dele. Cabeça me jogou a maçã, e eu a apanhei desajeitadamente.

— Bem, como todos vocês sabem, pois todos já passaram por isso, hoje Tomeh enfrenta um teste para ver se tem a oportunidade de se tornar um de nós, marujos destemidos, habilidosos, e embriagados grande parte das vezes - risos ecoaram, e ela sorriu. Andava de um lado para o outro com passos lentos, mirando os olhos de todos. A autoridade que essa menina tinha sobre eles era impressionante, e ao mesmo tempo completamente sem sentido. Por que eles a obedeciam? - vamos te dar uma espada, garoto. E um desses doze homens será escolhido para lutar com você, e infelizmente - ela então olhou de relance sobre seu ombro para mim - apenas no seu caso, porque para mim isso é ótimo, qualquer um deles pode fazer um estrago. Em você, novamente - balançou a cabeça, assentindo para si mesma.

Fox então fez movimentos circulares com as mãos, e todos os homens ali fizeram uma fila. Eu pude observar tudo o que já tinha concluído anteriormente: eles eram mais altos, mais fortes, mais mecanicamente modificados e com certeza mais habilidosos que eu. Eu estava ferrado.

Ela olhou para todos eles atentamente. O único barulho do momento - tirando o meu coração, que estava quase pulando para fora de meu peito - era o das ondas do mar chocando-se contra o casco do navio. O silêncio daquele lugar era perturbador, e estava quase me enlouquecendo.

Fox tirou seu chapéu calmamente e o pousou sobre um barril. Desamarrou uma faixa negra de seu pulso e a pôs sobre os olhos, dando um nó apertado atrás.

— Para não questionarem a honra da capitã do metal - falou, provocando-me.

Moveu sua mão novamente, e os marujos andaram ao seu redor, mantendo uma distância de prováveis quatro passos dela cada um. Eles misturaram-se, e eu estava tentando entender o que estava acontecendo, enquanto minha maçã permanecia intocada em minha mão. Seria impossível come-la, ansioso como eu estava. Quando eles pararam, estavam em um círculo, e ela no centro.

Fox começou a andar no espaço que lhe havia sido designado, vagarosamente, com a cabeça pendendo suavemente para os lados. Foi quando eu entendi o que estava acontecendo. Era assim que ela escolheria quem seria meu carrasco.

A partir do momento em que percebi tal coisa, cada movimento que ela fazia tornava-se crucial. Eu olhava para o rosto de todos eles rapidamente, tentando imaginar qual deles seria o menos letal, apesar de ter certeza de que a ruiva não havia mentido ao afirmar que qualquer um deles poderia fazer um estrago. Cada passo, cada parada, eu não sabia o que esperar. Estava quase vomitando, e eu não sabia se me alegrava ou não por ela estar levando tanto tempo lá no meio.

Foi quando ela parou definitivamente, sem olhar para alguém específico. Deu um passo para trás e virou-se subitamente para quem estava à sua frente. Removeu a venda, e ao ver sua escolha, deu um sorriso cínico.

— Faça seu trabalho - falou a ele, e virou-se para ir embora, mas antes virou a cabeça suavemente, e olhou por cima de seu ombro para o marujo - Sequela.

Sequela? O nome dele era Sequela?

O homem era simplesmente o mais alto de todos. Podia até ser magro, mas ainda assim alcançava seus dois metros e tanto. Pele escura, ele ria enquanto erguia os braços pedindo barulho. Os marujos correram parar poderem se sentar nos barris, ou até se apoiarem na borda do navio. Eles gritavam “Sequela” em um coro completamente alto e desorganizado, e uma espada foi jogada para ele. Não havia mais o que fazer com aquela maçã, e por medo de joga-la no convés e acabar tropeçando nela - o que seria humilhante, e devida minha sorte, completamente provável de ocorrer - a guardei no bolso espaçoso da calça. Uma espada foi jogada a mim também.

Por sorte ela não era tão pesada, pois muitas vezes eu não dava conta de segura-las por conta do peso, mas essa era adequada. Minha mão ajustou-se na base perfeitamente, e sorri internamente. “Pelo menos uma coisa não está dando errado”.

Eu estava esperando por algum tipo de sinal de Fox para começarmos, já que basicamente tudo que ocorria tinha que ter sua autorização prévia, mas aparentemente Sequela havia adiantado-se, e partiu para cima de mim. Eu desviei, e logo tentei ataca-lo, mas o marujo defendeu o golpe.

Todos os outros vibravam, torcendo obviamente por minha morte, o que não era nem um pouco animador.

Desviei novamente, mas Sequela não estava pensando em me ajudar, e já me atacou pelo outro lado. A espada deixou um corte em meu braço esquerdo, não era grande e nem profundo, mas eu também não estava com tempo para analisar. A lâmina já estava voltando.

Ignorei a dor e rodopiei, fazendo as espadas chocarem-se pela primeira vez, com um barulho agudo. Assim que nos livramos daquele impedimento, consegui evitar mais um de seus golpes, mas ele era mais rápido e mais preparado que eu.

Dei passos instintivos para trás, e me escondi atrás do pilar enquanto ele me atacava e os outros expectadores riam. Eu já estava ofegando, pois meu forte nunca havia sido luta corpo a corpo. Sequela me seguiu, e eu corri para a frente de novo, e logo investi em mais um ataque.

O que veio em seguida foi uma sequência de investidas dele, e cada vez mais eu tinha que recuar e por pouco não me feria com seus ataques. Eu mal conseguia me defender, tamanha a habilidade do meu oponente.

Eu estava perdendo, sim. Eu estava cansado, sim novamente. Eu estava morrendo de medo de morrer, sim pela terceira vez. Eu pelo menos não pensava em desistir.

A lâmina dele passou por meu rosto, e apesar de não ter sentido dor, passei a mão instintivamente pelo lugar e percebi estar sangrando.

Foi quando eu tive um olhar de relance de Fox. Aquela maldita estava sorrindo, se divertindo com meus ferimentos, com o medo que eu estava sentindo, com a incerteza do momento. Eu não ligava para o riso dos outros, mas o dela…

Um fogo inexistente queimou dentro de mim. Eu investi mais uma vez contra Sequela. “Eu vou mostrar para ela”, e me defendi. “Eu não vou morrer aqui”, desviei de sua lâmina, que passou raspando em meu rosto. “Eu não vou morrer na frente dela” e tentei tirar a espada de sua mão.

Infelizmente as coisas só iam bem em minha cabeça, pois o que aconteceu foi que Sequela agiu mais rapidamente que eu, jogando minha espada a um metro de distancia de minha mão. Os Sailors socavam os caixotes em que se encontravam e pisoteavam o convés com força. O marujo à minha frente chutou meu peito, e eu caí no chão.

Foi quando eu percebi em baixo de onde nós nos encontrávamos.

Sequela olhou para mim com desdém, enquanto tinha a espada sobre o ombro, como se ponderasse que maneira seria mais divertida de me matar. Corri minha mão para meu bolso, e de dentro puxei a maçã. Ao vê-la, meu oponente fez uma feição confusa, como se procurasse entender o que eu faria com ela. Atirei-a em seu rosto, e atingi meu alvo com perfeição.

Enquanto ele tentava entender o que acontecia, eu me estiquei e alcancei a espada.

— Pretende me nocautear com uma fruta? - ele debochou.

— Não - respondi, ofegando - pretendi te distrair com a fruta.

Levantei a espada e cortei a corda que estava ao meu lado, que levava às redes no topo do navio. Rolei para o lado, enquanto a rede cedia e três caixas caíram do alto e atingiram Sequela na cabeça. Apenas uma o acertou, e estava pesada o suficiente para faze-lo cair de joelhos.

Eu me ergui rapidamente, e quando o marujo tentou levantar sua espada, ainda atordoado com o ocorrido, eu a chutei para longe. Apontei minha lâmina para sua garganta, enquanto tentava procurar por ar.

Sequela desviou os olhos de mim para mirar sua Capitã. Eu pude sentir o peso do olhar de todos, e o silêncio que antes me incomodava agora me fortalecia. Virei para Fox, cuspi o sangue que se acumulava em minha boca e deixei a espada cair no convés com um baque.

— Acho que isso me coloca em seu navio.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Eu gostaria de perguntar a querida IngridN, QUE MACUMBA VOCÊ FEZ PRA ADIVINHAR O CAPÍTULO?
Você disse: "Ele parece ser daqueles que conseguem pensar em algo apenas em último caso. Na base do improviso. Pega aquilo que for encontrando pelo caminho e faz algo útil." TIPO, CARAMBA, ACERTOU! Leu o Tomeh nas entrelinhas, garota *palmas*
Espero que tenham gostado :3 Vejo vocês nos comentários, e quinta tem mais!



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