A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Hey bitch, I bet you thought you'd seen the last of me
I'M BACK!
Hoje eu escrevi das 14 hrs ate agr (23:59 exatamente)
(Agora já é 00:00) (saco)
Bem, eu não tenho muito o que falar, só que eu tenho certeza de que vocês pensaram que eu ia abandonar a história. AINDA não, gente. Ainda não.
Não tenho nada a desejar além de uma boa leitura. Espero que vocês gostem desse capítulo do mesmo tanto que eu gostei :3



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Arrumei a gola da minha blusa, procurando por ar.

— Tenho mesmo que usar isso? — questionei, irritado.

— Oh, sim, tem. A menos que queria ser barrado nas portas do salão — Sarah murmurou. A menina era a criada que havia nos recebido algumas horas antes, uma amiga próxima de Evanna. Seus cabelos loiros estavam presos em uma trança, e a roupa azul continha rasgos que podiam facilmente se passarem por trabalho em excesso, mas eu bem reconhecia como vindos de uma lâmina.

— Sarah, como que se arruma isto aqui? — Batata parecia confuso com suas vestes. Ela revirou os olhos, nos chamou de “bárbaros” e correu em seu socorro.

Me deixei cair em uma cadeira, passando a mão por meu cabelo. Soltei o ar de meus pulmões. A tensão percorria todo o meu corpo, desde os pés até a ponta dos dedos, os quais eu batucava insistentemente. Em aproximadamente uma hora, eu e os outros quatro partiríamos para o salão de festas lutar contra soldados reais, raptar Fox e fugir do palácio, o que aparentemente não era algo do nosso cotidiano.

Mas o que mais me deixava ansioso era a própria Fox. E se ela não quisesse ser salva? A menina podia simplesmente se voltar contra nós, fincar seus pés no chão e dizer que gostaria de permanecer como a rainha regente de Tiga.

Por mais que eu odiasse essa ideia, eu não a culparia caso essa fosse sua decisão.

Tirando o fato de que eu morreria logo em seguida, já que Grier me odiava profundamente.

— Vai ser divertido, não se preocupem — Sequela saltava de um canto para o outro do quarto, mexendo sua espada. Acabou acertando um dos enfeites, que estilhaçou-se no chão, mas aquele fato não parecia tê-lo abalado.

— Vindo de você, qualquer coisa que represente dor ou sacrifício é diversão — Garra suspirou — então me perdoe se não concordar.

— Gente, eu estou falando sério. Imaginem só, em poucos minutos vamos todos matar uns guardas…

— Se conseguirmos matar os guardas — Magma o interrompeu.

— Roubar Fox — ele continuou.

— Se ela quiser ser roubada — levantei meu dedo, concordando.

— Dar um bom chute nas bolas de Grier — Sequela fez careta, colocando-se no lugar do regente.

— Dessa parte eu gostei — Garra riu, do canto.

— E fugir do castelo magnificamente até o Metal Curse, onde, com sorte, ainda teremos nossos braços e pernas — o homem sorriu satisfeito, colocando as mãos na cintura.

— Considerando que no trajeto do palácio até o navio nenhum de nós morra — Magma revirou seus olhos.

— Ou perca algum braço… Ai! Cuidado com os alfinetes, Sarah! — Batata parecia incomodado.

— Se você não fosse tão bruto, talvez eu não tivesse furado suas costelas. Pelos Deuses garoto, fique parado! — ela parecia estressada, e pelo fato de ver a pulseira de cobre balançando em seu pulso, eu tive medo pelo meu amigo.

E ficamos ali, esperando em silêncio - mais ou menos - até que ouvimos as batidas na porta, três, mais duas. Sarah correu e respondeu com duas.

— Eve, não aguento passar mais nem um segundo com estes homens — ela parecia desesperada.

— São engraçados, admita — a garota estava sorridente — de qualquer maneira, eu vim para leva-los até o salão de baile. Jia teve que correr com Hyn para receber os convidados, porém Fred ainda precisa de tempo para se arrumar.

— Você não tem nenhum acompanhante? — Batata questionou.

— Eu vou com meu irmão — ela assumiu, inocentemente.

— Mas como uma dama bela como você não está comprometida?  — ele insistiu. A menina suspirou, olhou para Sarah, e apenas deu de ombros.

— Não sei se interesso os homens.

Com isso, espiou pela porta, checando se alguém estava vindo. Sinalizou com a cabeça para que saíssemos do cômodo, e eu senti o coração palpitar loucamente em meu peito.

— Fique longe da bagunça, quando essa começar — Sarah pediu.

— Se eu tiver que lutar, vou lutar. Você me conhece  — Evanna respondeu.

— Mesmo assim… Cuidado — a loira colocou a mão no ombro da mais alta, que apenas respondeu com um sorriso e se desvencilhou do toque, fechando a porta do quarto atrás de si.

De repente, algo em relação a elas me veio à cabeça. Eu sorri.

— Por acaso seu irmão sabe que Magma, Sequela, Garra e Batata estão vivos? — questionei.

— Não, Tom, infelizmente Grier esconde segredos até de Fred — ela parecia decepcionada.

— Jia me disse algo…  Que Grier é muito centrado.

— Sim, ele é — Evanna assentiu.

— E que suas atitudes não estão fazendo sentido para ela— prossegui.

— Realmente, ele anda estranho. Mas é de se imaginar, esse é um assunto delicado.

— Todos me dizem isso, mas eu nunca entendi o motivo — murmurei.

— Bem, quando Belena sumiu, Grier entrou em choque. Seus pais partiram em um navio na semana seguinte, para algum tipo de cerimônia em Epícia em homenagem a família dela, e o deixaram no palácio, junto de sua irmã mais nova. Não, virem aqui — alertou aos outros quatro, que pegavam o caminho errado.

— Não vejo como isso pode influenciar em sua loucura — eu falei, cruzando os braços.

— Acontece que o navio naufragou — ela completou, e eu fiquei mudo — você nunca se questionou o motivo de um menino de 22 anos ser o regente do país? — Eve arqueou as sobrancelhas.

— Na verdade, não — falei, sem graça.

— Muito bem, mas é a verdade. Sua irmã desapareceu dois meses depois, ninguém sabe de seu paradeiro. Grier, mesmo depois de tudo isso, tornou-se o novo governante, mas nunca teve muito tato para o cargo. As coisas começaram a desandar, as pessoas não tinham comida, revoltas tornaram-se comuns… Tiga virou um completo caos. Você sinceramente não ficou sabendo? — ela parecia incrédula.

— Para ser franco, cheguei a ouvir coisa ou outra. Não sabia que a crise era tão profunda. Pelo que sei, Fox tornou-se capitã na mesma época que eu deixei o país para viajar pelo mundo, que seria exatamente quando os problemas começaram — respondi, incomodado.

— Eu julgo que, no subconsciente do meu amigo, perder Bel desencadeou uma sequência de tragédias. Apesar de Grier ter conseguido se reestruturar e superar os anos ruins, ter sua ex-noiva de volta significaria um recomeço, como se pudesse apagar aquela parte do passado.

— E você acha que ele a deixará partir? — questionei.

— Devagar! — Eve chiou, puxando Sequela pela blusa. Ela se apressou e esticou a cabeça, checando se o caminho estava livre — Aqui é um corredor de grande movimento. Já imaginou se algum dos guardas pessoais de Grier estivesse passando? — ela balançou a cabeça, considerando a hipótese.

— Bem, o que quer que façamos então? — Garra ficou irritado. Como sempre.

— Já está na hora de eu buscar meu irmão — a menina tirou o cabelo dos olhos — se eu não apressa-lo, ficará pronto apenas amanhã. Vocês devem seguir à esquerda, e depois virar à direita. Cuidado com quem os vê, eu imploro. Os guardas pessoais do regente possuem ombreiras amarelas em seus uniformes.

— O que acontecerá caso algum dos guardas normais nos aviste? — Batata cruzou os braços.

— Nada. Para eles, vocês são apenas mais quatro no meio dos outros, nem perceberão a diferença.

— E onde fica o salão do baile?

— Sigam o caminho que lhes indiquei e encontrarão facilmente. Boa sorte — ela sorriu, nos olhando intensamente. Logo em seguida, entregou as máscaras em nossas mãos, virou e foi embora, silenciosa como um gato. Ao desaparecer pelo corredor, ninguém poderia dizer que estava em nossa companhia.

Percebi que ela não havia respondido minha pergunta.

— Vamos, não temos muito tempo — Magma afirmou, cobrindo o rosto com a máscara. Todos as colocamos.

— É como mais um saque a um navio — Batata comentou, e eu assenti. 

Andamos pelo corredor, seguindo as direções dadas por Evanna. Minha respiração estava acelerada devido à ansiedade, mas não era hora de dar atenção aos pequenos sinais do medo. Naquela noite, nós voltaríamos para casa.

— Entendi o que ela quis dizer com “encontrarão facilmente” — Sequela falou. Eu concordei. As portas do salão eram enormes e douradas, encontravam-se escancaradas e continham dois guardas na frente.

— Eles tem ombreiras? — Batata se esticou.

— Não, ainda bem, se não o primeiro passo do plano daria errado — Sequela suspirou.

— Agora temos um plano? — Garra o encarou, confuso.

— Eu já disse qual o plano: Batemos nos guardas, pegamos Fox, fugimos para o navio e chutamos Grier. Não necessariamente nessa ordem.

— Silêncio, chegamos — sibilei. Me aproximei dos guardas, que nos analisaram rapidamente, mas apenas nos deixaram passar. 

Foi fácil, pensei, aliviado.

Com licença, senhores — um homem bem arrumado avisou, e eu cerrei os olhos, tenso.

Sim?

— O que ele está dizendo? — Magma perguntou.

Estrangeiros? — o homem pigarreou — perdão. Devo anunciar seus nomes para o salão.

— Oh, não é necessário — respondi, aliviado.

— Regras impostas pela Corte, senhor — ele afirmou, esperando.

— Eu sou… Lorde Hemo — falei, me assustando por ter pronunciado o nome de meu pai. Imediatamente me senti mal.

O arauto logo gritou meu nome para as pessoas, mas nenhuma delas se deu o trabalho de olhar para nós, o que eu imaginei ser resultado do cansaço de ouvir tantos nomes sendo anunciados para todos.

— Conde Viktor — Garra se pronunciou, e o homem gritou seu nome.

— Sir Shepard — Sequela avisou, e seu nome foi anunciado.

— Eu sou… Hm… — Batata se atrapalhou, olhando para nós pedindo por ajuda.

— Você é…? — o arauto parecia confuso.

— Dom Aspargos — ele soltou, e depois fez uma careta.

Dom Aspargos?

Eu estava pronto para jogar batata na mesa do ponche quando o arauto simplesmente deu de ombros e gritou para todos do salão que Dom Aspargos estava presente.

Dei devida atenção ao lugar em que eu estava. O arauto se encontrava, assim como nós, no topo de uma larga escada de degraus de mármore, assim como o chão do resto do salão que se diferenciava do chão de pedra do palácio. Um lustre pendia do teto, iluminando os rostos das pessoas presentes, todas trajadas em suas mais belas roupas. No canto oposto da entrada, havia uma estrutura com dois tronos, um para o rei regente e outro para a rainha. À minha direita, músicos tocavam as mais belas canções com seus instrumentos, mas as pessoas ainda não dançavam. Do lado esquerdo, uma mesa extensa, onde diversos pratos com as comidas mais cheirosas do reino esperavam para serem comidas, e garçons faziam seu caminho no meio dos convidados mascarados, servindo taças com bebidas.

— Acho que nunca vi um lugar tão bonito — Magma afirmou, descendo a escada vagarosamente, olhando para todas as pinturas que preenchiam a parede.

— Olhe bem para elas agora, se você se distrair mais tarde, vai acabar sem cabeça — comentei.

— Ou sem mais um braço, o que é muito pior! — Sequela se arrepiou.

— Foco! — Garra frisou, e ficamos em silêncio. Assim que alcançamos o chão, sussurrou — encontrem os Sailors, contem do nosso plano. Se conseguirmos sair despercebidos, melhor, menos sangue derramado.

Assentimos, e logo nos dispersamos. Fui para perto dos instrumentos, onde os músicos tocavam animadamente, e olhei para os lados à procura de algum homem anormalmente alto e deslocado, mas parecia impossível achar qualquer um. 

Grier estava sentado em seu trono, e eu tive que controlar meu impulso de adiantar a parte do plano que consistia em chutá-lo. O garoto estava sorridente, bem arrumado e insuportavelmente bonito. Como eu o odiava.

Vasculhei também por sinais de Fox, mas ela era mais uma que parecia desaparecida. Aquilo estava me deixando frustrado.

Não demorou muito e Evanna e Fredrik foram anunciados. Os irmãos usavam roupas combinando, azuis e brancas, e estavam de braços entrelaçados. Desciam a escada timidamente, mas apenas de saber que Eve já estava presente, me senti mais calmo.

Um guarda de ombreira brilhante passou do meu lado, como se checando o salão. Virei rapidamente e saí dali, percebendo que tinham mais como ele percorrendo o local. Xinguei mentalmente.

— Aqui está você — Jia me cutucou. A garota tinha um vestido amarelo, que realçava sua pele morena. Estava desacompanhada — você bem que poderia me apresentar ao seu amigo, o Dom Aspargos, o que acha?

— Muito engraçado — ri ironicamente, mas perguntei — Onde está Hyn? Pensei que nessas festas chiques os maridos deveriam acompanhar as esposas.

Ela fez uma careta:

— Meu marido é um homem irritantemente correto, menos quando o assunto sou eu. Não sei se faria diferença ter minha companhia ou não.

Pigarreei sem graça:

— Viu algum marujo por aqui? Estou tendo dificuldade em encontra-los.

— Oh sim, vi. Eles estão espalhados pelo salão. Inclusive, parece difícil de acreditar que você não tenha trombado com nenhum.

— De qualquer maneira, alguma novidade? — eu perguntei — Grier desconfia de algo?

— Pelo que sei, ele não tem conhecimento de nada. Não se preocupe — ela falou, sorrindo gentilmente — tem coisas piores para se ocupar no momento. 

— Eu sei, são tantos os sabores de bebida que eu nem sei por onde começar.

— Não! — ela riu — deve pensar no fato de que o regente não vai tirar os olhos de Bel por um segundo sequer. Como pretende fugir com ela?

Na minha cabeça, nós iríamos nocautear Grier e fugir. Eu não tinha pensado em outras alternativas.

— Uma boa distração seria bem vinda — eu sugeri.

— Ah, posso pensar em algo — ela assentiu, e ficou analisando as diversas alternativas.

— Hm, Jia, posso lhe perguntar o motivo de você e Eve quererem tanto nos ajudar?

Ela levantou o rosto:

— Por mais que eu ame minha amiga, este não é o lugar dela. Pelos poucos dias que passei em sua companhia, percebi que mudou completamente, e ao mesmo tempo permanece a mesma. Seu coração é selvagem. Ela foi feita para o mar, com vocês. Com você.

Eu estava prestes a contestá-la, quando algumas trombetas soaram, e o arauto empertigou-se, anunciando mais um nome:

— Lady Belena de Lysem, filha do Sol do palácio de Epícia!

Virei rapidamente, olhando para o topo da escada. Naquele momento, foi como se todos os barulhos tivessem cessado e as luzes apontassem para ela. Não pude discernir se era realidade ou apenas meu pensamento. A menina estava linda, usando um grande vestido vermelho sangue, o cabelo ruivo preso no alto da cabeça em um coque e uma máscara negra sobre o rosto. As mãos seguravam o vestido para que não atrapalhassem o caminho escada abaixo, o que me permitiu ver que usava saltos. Sua cintura parecia mais fina que o normal, e a parte de baixo a fazia parecer algum tipo de princesa.

Mas era o que ela era, afinal de contas.

Grier se ergueu do trono e correu para perto da ruiva, beijando sua bochecha. Sussurrou algumas coisas para a menina, mas ela apenas ficou séria, parecendo completamente infeliz.

O regente começou a bater palmas para atrair a atenção de todos, mas não era necessário. Os olhos já estavam vidrados na capitã do Metal Curse.

— Gostaria de pedir uma música para esse momento! — o regente anunciou — A canção do corcel!

Todos pareceram animados e correram para seus parceiros.

— Perfeito. É aqui que nós entramos — Jia disse, me puxando pelo pulso — não estrague essa chance.

Antes de eu entender o que estava acontecendo, fomos para o meio da pista de dança. A morena olhava para os lados, como se procurando o local certo para ficar, e então começou a falar:

— Duvido que já tenha participado dessa dança antes. Eu vou te guiar, mas finja que sabe o que está fazendo — afirmou, e eu assenti.

De primeira, pensei que ela distrairia Grier para que eu pudesse sair dali com Fox, mas me enganei. Antes de questiona-la, prestei atenção em seu olhar determinado, e resolvi apenas seguir o que ela pretendia.

Logo que todos os nobres ficaram parados e a música começou, Jia passou a me dar ordens como um pequeno general. “Esquerda”, “Dois passos para a direita”, “Eu disse direita!”, “Agora me levante”. Tentei não pisar em seus pés pequenos, e fiquei tenso por um segundo de seu marido nos ver juntos. Infelizmente, pelo que eu tinha ouvido dela, aquilo não seria um problema. Hyn não lhe dava atenção, e todo aquele show de ter entrado em meu quarto pareceu fazer sentido.

— Muito bem, agora você vai me rodar e me soltar para o homem de azul.

— Eu vou o que? — questionei, assustado por ter que deixa-la sair dali. O que eu faria em seguida?

Era tarde demais, ela já estava rodando para outro, e antes que eu pudesse me assustar com esse fato, alguém trombou em mim.

Meu rosto se abriu em um sorriso quando tomei a menina de vermelho em meus braços. O plano de Jia passou a fazer sentido.

— Encontrei — eu disse, tentando me lembrar de como a dança se iniciava.

Ela olhou para cima, e ao ver quem era, tomou um susto.

— Tom? O que você… Mas como… — ela atrapalhou-se — o que está acontecendo?

— Como assim? — eu perguntei.

— Grier me disse que você havia partido em um navio essa manhã — ela franziu o cenho — suas coisas todas sumiram do quarto, os criados disseram que haviam visto você partir…

— E você achou mesmo que eu ia embora sem você? — a interrompi.

— Você tinha que ter dado dois passos para a direita, não esquerda — ela me corrigiu, com um sorriso no rosto.

— Jia disse a mesma coisa — anunciei, o que deixou a ruiva séria.

— Jia? — perguntou.

Antes que eu pudesse responder, lembrei o real motivo de estar ali. Grier estava ocupado demais dançando com uma outra garota, o que me deu tempo.

— Fox, precisamos ir embora. Agora — eu disse.

— Vamos amanhã — ela me olhou curiosamente — você nem me falou onde estava esse tempo todo. 

— Justamente, é por isso que precisamos partir — avisei — Grier não é quem você pensa.

— Como assim? — a menina parecia confusa — do que você está falando?

— Magma, Sequela, Batata e Garra estão vivos — falei.

— O quê? — ela parou de dançar — Não tem graça, Tom.

— É verdade. Eu nem sei por onde começar, mas você precisa acreditar em mim — eu implorei.

E então a música parou. Os nobres começaram a se dispersar, e eu sabia que Grier logo estaria ali. Segurei o pulso de Fox e tentei sair do meio das pessoas.

— Belena, quem é este… — a voz do regente começou, e ao me ver, paralisou. Se recompôs rapidamente — Tomeh? Que estranho te ver aqui, te vi partindo essa manhã em um barco.

O nervosismo era quase imperceptível em sua voz, mas era possível ver que ele tomava todo o cuidado, tentando entender se eu já havia contado para Fox as coisas que havia feito.

— Você se enganou, Grier — eu disse — eu nunca deixei esse palácio. 

— Que surpresa, não é mesmo? — o regente abriu um sorriso falso — fico feliz que tenha se juntado a nós mais uma vez e…

— Para falar a verdade, eu também estou feliz. O calabouço é bem frio, se você me entende.

— Espere, o quê? — Fox arregalou os olhos.

— Calabouço? — ele fingiu um susto — O que você estava fazendo lá?

— Por que você não responde, visto que foram suas ordens que me jogaram naquele buraco? — eu cuspi as palavras.

— Tom, o que está acontecendo? — Fox apertou meu braço.

— Você está acusando seu regente? — Grier sibilou.

— Acusando? Não, não me entenda errado — eu levantei os braços, me desculpando — eu estou afirmando.

— Traição! — gritou ele, apontando — Guardas!

Logo, diversos homens fardados se aproximaram, suas espadas em punho.

Quando olhei para Fox, ela parecia confusa demais para ter qualquer reação. Sua mão estava apertada em meu braço, mas o regente a puxou para perto.

Tentei olhar em seus olhos, mas eu já havia entendido: ela não sabia em quem confiar.

— Tomeh, nós mandamos você não fazer besteira! — Garra gritou de algum lugar do salão.

— Garra? — sussurrou Fox, maravilhada.

O chiado de mais espadas sendo desembainhadas foi ouvido. Eu sabia que os marujos estavam prontos para me ajudar.

Depois disso, tudo virou uma confusão.

Os Sailors começaram a lutar contra os soldados, e os nobres que nada tinham a ver com o assunto gritaram e correram para todos os lados, desesperados. Puxei minha própria espada e ataquei qualquer um que ameaçava se aproximar de mim.

Dois homens me cercaram ao mesmo tempo, e eu parti para o da direita. Nossas lâminas se chocaram, e eu desviei seus braços para longe, dando um chute em seu peito, virando rapidamente para o da esquerda, impedindo que sua espada acertasse meu rosto. Desviei bem no momento em que um deles me atacava, e aproveitei para fazê-lo perder o equilíbrio com um golpe. O outro, de repente, deu um grito e caiu no chão. Era Mohra, que tinha aparecido do meio da bagunça e golpeado o inimigo.

— Fico feliz que você não tenha fugido — anunciou.

— Isso me surpreende — falei, enquanto dava um soco no rosto de um dos guardas que vinha do meu lado.

— Pois é, a mim também — se despediu com um aceno de cabeça logo antes de soltar um grito gutural e juntar a cabeça de dois homens com tamanha força que os fez cair no chão.

Rodei a espada de um dos homens, fazendo com que ela viesse parar na minha. O empurrei para longe, e passei a lutar com ambas as lâminas.

Era impossível detectar os marujos no meio daquilo tudo, quem dirá nossa capitã. Não era hora de pensar nos outros, eu tinha que permanecer vivo.

Mas, infelizmente, o Destino resolveu me provar errado. Mais uma vez. Fui puxado para trás por um dos soldados, que colocou seu braço sobre meu pescoço e sua espada em minha barriga.

Grier gritou, fazendo com que os outros parassem:

— Se vocês não se entregarem, ele morre! — e apontou para mim.

— Mate-me então! — cuspi.

Eu sabia que os marujos não se importariam com aquilo. Todos eles, no meu lugar, tomariam a mesma decisão. Mas algo me surpreendeu:

— Não, Grier. Se você não se entregar, quem irá morrer sou eu!

Todos olhamos para Fox. No meio da confusão, seu cabelo havia se soltado, a deixando com uma aparência selvagem. Ela tinha sua faca em seu próprio pescoço, o que fez meu coração realizar saltos acrobáticos em meu peito. Eu estava suado, sangrando e arfando como um louco. Aquilo não estava acontecendo. Não podia estar acontecendo.

— Belena — ele gaguejou — não acho que isso seja necessário.

— Não é necessário, Grier? — ela lhe fez a pergunta, e logo ironizou — Realmente, não é necessário. Por que seria, afinal? Não é como se você tivesse fingido a morte de quatro marujos, sequestrado mais um e o jogado nas masmorras, mandado seus guardas atacarem não apenas meus soldados, mas meus amigos, minha família. E, como se não bastasse, um de seus guardas não está segurando um Sailor nesse segundo, prensando uma espada em sua barriga. Ah, isso seria horrível.

— Eu fiz tudo isso porque te amo! — ele chorou, os braços pedindo que ela tomasse cuidado com a faca em seu pescoço.

— Amor? Isso é doença! — a menina vociferou — Se você acha que eu posso te amar depois de tudo o que eu acabei de descobrir sobre você, Grier, está louco.

Os marujos observavam a cena boquiabertos. Ninguém se atrevieu mover um músculo, fosse Sailor, soldado, garçom, músico ou o que restava dos convidados, que haviam fugido em sua maioria. 

— Por favor, Bel, largue a faca — ele implorou, e eu tinha de concordar.

— Largue meu amigo — ela gesticulou, apontando para mim com a cabeça.

— Eu não posso — ele falou — ele desrespeitou o reino. Que tipo de governante seria eu se não seguisse minhas próprias regras?

A ruiva apertou a faca em seu pescoço, e fez uma careta de dor quando um filete de sangue escorreu até seu vestido:

— Sabe que eu não tenho medo de morrer. Grier, você me conhece, sabe que eu posso fazer isso facilmente.

— Pare, por favor! — ele gritou.

— Eu já fui sequestrada, vendida, torturada, e agora mesmo estou vivendo mais um pesadelo. O que me impede de acabar com tudo isso agora? — ela perguntou. Naquele segundo, eu me perguntei se era verdade ou blefe. 

Grier ficou sem palavras.

— Eu mandei soltá-lo! — ela sibilou.

E, naquele momento, um trovão estourou no cômodo. Fox derrubou a faca e despencou no chão. As velas se apagaram em um sopro e tudo ficou frio. Assim que eu entendi o que estava acontecendo, comecei a xingar.

Você precisa me soltar — eu disse para o guarda.

Estou seguindo ordens do regente, você continua aqui.

— De verdade, você não está entendendo. O que vai acontecer agora…

E minha fala foi interrompida por um grito de Tubarão:

— Não é possível!

Todos olhavam para a escada da porta do salão. Lá, uma garota estava parada, de pé, vestida nos trajes mais belos. Porém, quando ela começou a andar, eu tive a impressão de suas roupas terem mudado para trapos. Eu já havia visto aquilo antes, quando os pais de Fox apareceram sobre o mar.

Evanna cobriu sua boca, assustada, aparecendo de repente ao lado do regente. Este tinha os olhos arregalados e aterrorizados.

— O que não é possível? — sussurrou Mohra.

— Essa é a garota que encontramos morta nos porões daquele navio de Hiah — Tubarão explicou, vidrado.

Ao dizer isso, a menina, que caminhava lentamente, chegou até o lado contrário da sala: os tronos. Ela passou a mão pelo trono menor, o da rainha, e nele se sentou. Em seguida, começou a gritar.

O guarda, que não pretendia me soltar, acabou me irritando. Dei um chute em suas partes baixas, e assim que o homem caiu no chão, peguei sua espada.

Me desculpe, mas foi necessário — anunciei, e logo corri para Fox.

Guardas, atrás dela! — Grier apontou para a garota completamente branca. Todos eles nos esqueceram e partiram para cima da menina.

A ruiva agarrou meu braço:

— Tom, temos de ir agora.

Quem é a menina? — perguntei, enquanto a ajudava a levantar.

— Essa é a hora de fugir — falou, sem me responder — poderemos não ter outra chance.

Sinalizei com a cabeça para os outros, que nos seguiram. Corremos escada acima, e esperei enquanto todos passavam. Lá, do topo, meu olhar cruzou o de Jia, que estava incrédula. Eu assenti, lhe dando adeus. Ela assentiu de volta.

Com isso, corri para fora dos salões, partindo com os Sailors para o Metal Curse.


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Notas finais do capítulo

E aí? Qual a sensação de terminar um capítulo de A Raposa depois de quase dois meses? No mínimo te deu fome de uma boa torrada, certo? Certo.
Até o próximo!



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