A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

EU OUVI UM ALELUIA?
ALEULUIA IRMÃOS ♥
Então, são 22:50, to com sono, não vão ter notas grandes. Vocês podem ler o capítulo agora, ok?
Beijos e boa leitura :3



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Eu tentei resistir, mas a maneira como os guardas seguraram minha cabeça os impediam de tirar-me a vida por uma questão de escolha. Eu precisava me manter calado, ou os Sailors estariam em apuros.

Milhares de pensamentos percorreram minha mente naqueles momentos cruciais, onde fui empurrado pelos corredores. As amas soltavam gemidos de desespero, mas com um aceno de cabeça dos guardas, corriam para poderem se esconder nas sombras.

Descemos as escadas de um dos corredores, o que me fez tropeçar algumas vezes. De qualquer maneira, eu imaginei que cada vez mais adentrávamos o subterrâneo, e comecei a sentir falta de ar. O fogo das tochas tremulava na parede, dando uma luz sombria ao chão de pedra, e os pesados passos dos guardas ecoavam acidamente, parecendo um fruto das sombras disformes.

Abriram uma porteira de madeira escura, e os rangidos pareceram acordar todos que se encontravam ali. Eu estava, mais uma vez, em um calabouço, e a sensação de nada me agradava. Era frio, escuro, e os homens cativos tinham uma mania irritante de gritarem toda vez que os guardas apareciam. Eu esperava não me tornar um deles.

— Você fica ao fundo — os homens fardados sibilaram, e eu revirei os olhos, com vontade de lhes acertar um belo cuspe no rosto. Eles foram me empurrando pelo corredor das celas, e diversas ofensas foram proferidas, tanto a eles quanto a suas mães. Era de se imaginar, aquelas pessoas estavam presas sem qualquer acesso a luz do sol, provavelmente comida escassa e pouca água, sem contar que deveria ser um tédio infinito. Ah, sim, deixe-me apenas retomar o fato de que aquilo era um calabouço. Quem não adoraria uma estadia ali?

Um deles abriu as barras com uma chave grande e presa em uma argola, o que deu liberdade ao outro para me arremessar como se eu não passasse de um graveto. Perdi o equilíbrio, me descontrolando, e acabei por cair sobre alguém.

Perdão — sussurrei, tratando logo de me levantar. Eu podia estar confinado com qualquer tipo de criminoso, criar uma inimizade com alguém que ficaria preso comigo por tempo indeterminado não era concebível — foram aqueles idiotas.

Depois de alguns segundos de silêncio, o homem afirmou:

— Mas que porcaria, eu não entendo nada que dizem, estes estrangeiros.

Eu baqueei, deixando o queixo cair em um sinal de pura surpresa. Era Magma.

— Meu Destino, você não está morto! — gritei, dessa vez em Ocqui, não contendo minha alegria e choque. Caí de joelhos perto do Sailor, ainda sem poder enxergar muita coisa.

— Tomeh? — Batata murmurou, logo rastejando para perto de mim, me dando um forte abraço.

— Estamos bem vivos, como pode perceber — a voz estressada de Garra, ao meu lado, não parecia tão sarcástica dessa vez. Eu quase podia sentir uma pontada de alívio em seu tom.

— O que estão fazendo aqui? — perguntei, mas logo refleti por um instante — Grier os trouxe para cá também?

— Este é o nome do bastardo, então? — Sequela sibilou - -se eu tivesse uma espada no momento em que fui jogado aqui…

Eu não podia assimilar exatamente o que estava acontecendo. Os quatro marujos que todos achamos que tivessem morrido na luta contra os demônios estavam vivos, bem e ligeiramente revoltados. Meu coração realizava saltos acrobáticos com a euforia de tê-los perto num momento como aquele. Não era possível.

— Então ele não estava mentindo — Magma afirmou, com normalidade — o regente nos disse que vocês pensavam que estávamos mortos. A real questão, Tom, é o que você está fazendo aqui.

— Eu? — questionei, ficando calado durante um momento. Eu tinha muita coisa para lhes contar. 

Tentei resumir da maneira mais fácil possível sobre como quase fomos mortos, Fox ser amiga do regente, ele a ter proposto um casamento, o baile que aconteceria e o drama de alguns minutos atrás sobre eu estar, supostamente, roubando Fox, o que eu omiti. Os quatro não precisavam saber daquilo.

— Eu estava desconfiado desde o começo, é por isso que fui mandado para cá — contei.

— “Mandado” não seria a melhor palavra para descrever — Sequela riu ironicamente.

— Está bem, eu concordo — assenti — porém eu quero saber como vieram parar aqui. Vocês são fortes, como cederam aos guardas?

— Nós não cedemos aos guardas — Garra disse, ainda do canto - simplesmente não tínhamos chance.

— Eu e Garra acordamos algemados e sendo carregados até aqui, com seis guardas para cada Sailor, como se fôssemos uma arma, algo prestes a explodir - Batata explicou.

— E eles estavam certos! — Sequela se exaltou - eu derrubaria qualquer um que tentasse me prender…

— Se você estivesse acordado — completou Magma.

— Se eu estivesse acordado — o homem falou, concordando.

— Vocês estão perdendo o foco, fiquem quietos — Garra interrompeu, assumindo o posto de informante — o que aconteceu foi que, mesmo que eu e Batata lutássemos, nunca poderíamos dar conta de todos. Fomos jogados até aqui, e assim que os outros dois inúteis acordaram, o regente começou um discurso. Disse que não tinha certeza se podia confiar em nós, e nos deixaria em cativeiro para conseguir informações sobre os sequestradores da Fox. Tentamos lhe dizer que não tínhamos culpa de nada, mas isso não bastou.

— Ele é louco — Batata pôs um fim na conversa.

— Não louco, é cruel — contei, mas logo parei para pensar - deve ser questão de tempo até que os outros Sailors ou mesmo Fox percebam que desapareci. Eles virão atrás de mim e também acharão vocês.

— Não que eu queira estragar seus sonhos adolescentes, Tom — Magma me interrompeu — mas o cara sabe o que está fazendo. Num momento desses, um teatro para justificar seu sumiço já deve estar sendo armado.

— Mas oras, o que será que ele dirá aos outros em relação ao meu desaparecimento? Não penso em nada — articulei, mas minha resposta foi apenas o silêncio. Infelizmente, eu sabia que eles estavam certos.

Recostei na parede da cela, cruzando os braços. Seria necessário um pouco de tempo para absorver tudo o que eu tinha acabado de ver. Apesar de meus esforços para pegar no sono e fazer o tempo passar mais rápido, percebi que ficaria acordado por um tempo ainda. A raiva que eu estava sentindo de Grier era mais forte que qualquer outra coisa, fervendo meu sangue, sentindo-o borbulhar. O idiota se achava no direito de me prender e ainda mentir aos outros. Ele estava enganando meus amigos, seus amigos, e também enganando Fox.

Será que ela sabia que os marujos estavam vivos?

Não, não podia ser verdade. No dia em que descobriu, eu mesmo havia visto seus olhos vermelhos e inchados que resultavam das lágrimas. Ela estava triste por saber que havia perdido quatro amigos para sempre.

Se bem que, com a suposta morte de quatro marujos, os outros Sailors poderiam ficar transtornados e evitar a terra firme, indo logo embora e a deixando sozinha com o regente, pronta para governar. Se aquele fosse o plano, ele parecia estar funcionando muito bem.

Um turbilhão de pensamentos me atingia, oscilando entre a vontade de jogar o regente de um penhasco e apenas fitar os Sailors em confusão, me permitindo aquele momento de surpresa. Quase como um formigamento, eu não me conformava em vê-los ali. Todo o luto, toda a dor, tinha sido em vão, pois os quatro estavam bem vivos. Eles, apesar de não demonstrarem, estavam contentes com a minha presença também, provavelmente com um mínimo de esperança de que os outros dessem falta e começassem uma busca, ou pelo menos que ficassem desconfiados. O importante era que eles estavam bem, e tudo aquilo havia servido para que, quando a hora chegasse, nós nos uniríamos para acabar com Grier.

Depois de um segundo, alguns burburinhos foram ouvidos entre os Sailors, e eu tentei me acalmar. A euforia chegava  a me incomodar, como se eu não pudesse decidir quais meus pensamentos. Caso eu não conseguisse me controlar, a raiva faria mal apenas para mim, o homem engomado permaneceria o mesmo.

— Tomeh, pare de bater o dedo na parede. O som está me estressando - Garra grunhiu. Percebi que a tensão era visível, e logo segurei minhas mãos.

Batata arrastou-se para perto de mim.

— Você está nervoso? — ele questionou, cruzando os braços.

— Bem… — fiquei sem silêncio. Eu poderia mentir, para quem sabe acalma-lo, mas não levei mais que alguns segundos para notar que o único que precisava se acalmar ali era eu — tenho medo que não nos encontrem.

— Para falar a verdade, este também era um receio meu.

— Era? Por que não é mais? — tentei olha-lo, mas estava escuro demais para ver seus olhos.

— Porque — ele começou, mas logo se aproximou de meu ouvido e sussurrou — não repita isso, e lhe sussurro pois quando Garra me ouviu dizer a primeira vez, quase me bateu, alegando serem bobagens.

— Mas o que você quer dizer? Ande, fale! — insisti.

— Está bem! — ele concordou — não há desculpa que Grier possa inventar em relação ao seu sumiço.

— E por que isso é uma bobagem?

— A bobagem, segundo ele, é que eu acho que o regente não conseguirá inventar uma desculpa sua para a Fox. Ela nunca acreditará que você a deixou.

Engasguei naquele momento. Por que todos insistiam em dizer aquilo?

— Eu e Fox somos amigos, assim como você e ela — afirmei, tentando deixar clara a situação.

— Você está enganado, Tom. Ela não é assim com mais ninguém. Fora Garra e Mohra, que são seus ajudantes mais fieis, você é o único que já entrou em seu quarto.

— Grande coisa… — eu estava começando a rebater seu argumento, quando de repente um som oco veio do outro lado da porta de madeira, e minha primeira reação foi pensar que era tudo fruto da minha imaginação. Quando todos se calaram, confirmei que era real. Nenhum marujo, prisioneiro, nem mesmo as goteiras que nunca cessavam ousaram fazer um barulho sequer naquele momento. Parecia uma briga, e logo depois houve a quietude. 

— O que será que está… — Sequela tentou, mas devido aos gemidos que saíram de sua boca em seguida, minhas apostas eram que Magma havia colocado sua mão no local, o mandando calar a boca sutilmente.

Um rangido foi o barulho seguinte, como se alguém houvesse dado um pequeno empurrão na porta e ela se arrastasse lentamente.

Quando os passos ecoaram suavemente pelo corredor, todos se intrigavam tanto ao ponto de continuarem silenciosos. Eu estava morrendo de ansiedade, pois, como raras vezes, eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Constatei, curiosamente, que não eram os passos de uma pessoa, e sim o de duas.

Uma luz tremulante acompanhava os andares, aos poucos trazendo uma maneira de enxergar naquele buraco. Era quase mágico vê-la se aproximar.

Quando vi quem era, não pude acreditar.

— Olá, piratas! — Evanna segurou nas barras com as duas mãos e nos lançou um lindo sorriso. Sua pulseira chocou-se contra o metal, fazendo um som agudo, e não pude deixar de notar que o acessório era igual ao da amiga, feito de contas de cobre.

E, ao seu lado, estava Jia, segurando a tocha próxima ao rosto. Tanto as suas feições quanto as de Evanna tornavam-se rústicas, pois as sombras realçavam nuances que costumeiramente passavam despercebidas.

Aquele dia não parava de me surpreender.

— Eve, quieta, temos pouco tempo — sibilou.

— O que está acontecendo? — Magma questionou, atrás de mim.

— Lady Jia, Lady Evanna, o que fazem aqui? Como nos encontraram?

— Tomeh, você realmente não entende nada sobre as mulheres — Jia revirou os olhos, enquanto a amiga abria a sela com a chave.

— O que isso significa? — arqueei as sobrancelhas — você tem uma bússola para homens acoplada em seu pulso?

— Bem que eu gostaria — ela riu — mas eles acabam vindo até mim sozinhos, de qualquer maneira. Não seria necessário.

— Ela quis dizer que você nos subestima — Evanna argumentou, com certo desdém.

Eu e os Sailors passamos pela porta e caminhamos novamente até a entrada do calabouço. Nas escadas haviam dois sentinelas desmaiados… Pelo menos eu esperava que estivessem.

— Vocês que fizeram isso? — Sequela questionou, gesticulando com a cabeça.

— Há mais alguém por perto? — Jia disse, como se fosse óbvio. Senti que meu queixo caindo com a surpresa.

— Mas o que é isso? Vocês por acaso participam de algum grupo onde mulheres se juntam para bater em homens? — eu ri, fazendo piada. As duas garotas trocaram um olhar cheio de significado, e permaneceram caladas — pelos deuses, não me digam que vocês têm um grupo de mulheres que se juntam para bater em homens.

— Eu não estou entendendo nada, porém gosto mesmo assim - Batata sussurrou para Garra, que o mandou calar a boca com um chiado.

— Eu nem sabia que mulheres que não fossem a Fox podiam lutar — Sequela pensou alto, fazendo Evanna bufar.

— Aposto que posso ganhar de você a qualquer momento.

— E eu duvido que você saiba segurar uma espada — ele retrucou.

— Quer tentar? - ela começou a puxar a faca da bainha.

— Parem - cortou Jia, sem paciência, mas ela também freou. Já estávamos no corredor convencional, e a menina olhou para ambos os lados, garantindo que não havia guarda algum em seu caminho.

Ela gesticulou para que a seguíssemos, e lá fomos nós. Era quase impossível ouvir seus passos no corredor, parecendo uma gata que cruza as ruas na calada da noite. Evanna seguia com seus passos saltitantes ao lado de Jia, mas também era silenciosa como a brisa. As duas faziam uma combinação estranha, mas depois de ver aqueles guardas caídos no chão, comecei a ter uma visão diferente de ambas.

Elas nos guiaram pelos corredores, e fazíamos caminhos que eu não conseguia reconhecer. Cada vez mais virávamos à esquerda e à direita, e depois à direita, e à esquerda mais uma vez. Parecia um labirinto, com várias estátuas, quadros e portas. Eu me perguntei como seria possível aquele tanto de pessoas em um único lugar, mas acabei por não me perder nesse assunto.

Paramos, depois de mais tempo andando, em uma porta como todas as outras. Evanna bateu três vezes, e depois de dois segundos bateu mais duas. Dois toques curtos vieram como resposta, e uma garota loira com roupas de criada surgiu. Elas trocaram sussurros rápidos e alguns sorrisos, e então a menina deu passagem para os Sailors, puxando Batata pelo ombro, que insistia em ficar parado. Assim que o fez, percebi que ela também tinha uma pulseira de contas de cobre.

Me aproximei de Jia, assim que todos tinham entrado no quarto, e ficamos eu e ela para fora:

— É a pulseira, não? — eu perguntei, em Gher.

Ela assentiu suavemente.

— Mas eu não entendo… Por qual motivo vocês atacam homens?

— Nós não atacamos homens, Tomeh - ela disse, rindo — atacamos ameaças. Quando Bel foi capturada, percebemos que nunca estaríamos a salvo. Eu comecei a treinar sozinha, usando facas que eu roubava da cozinha, mas eu nunca soube exatamente o que estava fazendo. Um dia Eve descobriu, e quis participar… E a Sociedade de Cobre acabou se espalhando para qualquer mulher que pretendesse se defender ou ajudar as outras.

— Sociedade de Cobre… Vocês são mercenárias? - -arregalei os olhos, surpreso com o que eu estava escutando.

— Mulheres não servem apenas para sorrir - ela piscou, mas logo tratou de completar — e é uma sociedade secreta, estúpido, não vou lhe contar mais nada — arqueou as sobrancelhas, irônica — principalmente agora, onde há uma onda de ataques ocorrendo nas cidades de Tiga, e precisamos agir rapidamente. A informação não pode correr jamais.

— Uma onda de ataques? Como assim? - eu me preocupei.

— Ataques a mulheres. Mas isso fica para outra vez, não se preocupe.

— Não sei se haverá outra vez quando Fox descobrir as maldades que Grier esteve armando - falei, rancoroso.

Jia respirou fundo, cruzando os braços.

— Conheço meu amigo há anos, ele não é dessa maneira. Belena sempre foi um assunto complicado para ele, já que sempre a amou. Quando tenho algum problema, é com ele que busco conselhos. Algo está errado, deixe isso comigo.

— De qualquer maneira, o que faremos agora? — questionei.

— Como assim o que faremos agora? — ela parecia incrédula - temos um baile para ir hoje a noite, seus amigos mortos para ressuscitar e um exército para combater. Francamente, você não apenas é leigo com mulheres, também não entende nada sobre a vida. 

Quando tentei contestar, ela colocou o indicador sobre os lábios, pedindo silêncio.

— Acho bom usar sua melhor roupa hoje a noite, porque se morrer, ninguém se preocupará em te arrumar para o caixão que você nunca terá.


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Notas finais do capítulo

Lembram que eu tinha dito que planejava fazer uma história (que inclusive já tinha até capa e sinopse prontas)? E se eu disser que essa história nova chama "Sociedade de Cobre"?
Fica no ar, descubram aí o que significa :p



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