A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO LEITORES! QUE 2016 SEJA MARAVILHOSO PARA TODO MUNDO ♥
Alright vamos aos avisos prévios para antes de começarem a ler, são pouquinhos, mas mesmo assim...
1- Ok, todo mundo estranhou o capítulo passado, foi tipo "O que você está arrumando dona Weirdo? Demônios?" Pois bem, sim, demônios, mas fiquem tranquilos porque tudo isso estava planejado desde o começo da história, eu não estou escrevendo só o que me vem na cabeça, ok?
2- Quis postar já 1/1/2016 pra começarmos o ano com ritmo, o que acham?
3- Esse é mais nada a ver, mas mesmo assim: eu sou bem fã da cantora Taylor Swift, e ela lançou ontem a noite (no meu fuso) o vídeo de Out Of The Woods, e eu realmente amei, é cheio de significados e mensagens lindas (se ninguém entender pode vir falar comigo por MP que eu explico :3) e se vocês pudessem assistir ia ser bem legal :D
4- Gente, alguns leitores deram uma sumida, e como eu sou atrevida sim senhor, vou procurar vocês por MP e interrogar, ouviram? Já tenho fantasmas demais ;-;
Boa leitura!



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A besta se aproximou no meio do estrondo de um trovão, e eu não podia dizer se o mais fantasmagórico daquele momento eram os próprios demônios que se abatiam contra os marujos ou se eram os relâmpagos que iluminavam os céus em rajadas de brilho mortais. Eu ofegava, a tempestade molhando todas as minhas roupas, os cachos desfeitos que caíam pesados sobre os olhos e a dificuldade em respirar no meio daquela bagunça. Pela primeira vez, os Sailors encontravam dificuldade em combater um inimigo.

A lâmina de minha espada atingiu a figura animalesca que se aproximava sobre quatro patas, provavelmente do tamanho de um leopardo, e com certeza com a velocidade de um. Negra como a noite e escura como meu pior pesadelo, sua simples presença tornava tanto o ambiente quanto meu corpo gelados, e eu tive a impressão de já estar fadado a ser um defunto. Era assim que eles se sentiam.

Ah, eles não sentiam. Estavam mortos, assim como eu ficaria se não reagisse com rapidez.

Uma de suas patas virou fumaça, e a criatura não se reintegrou, o que era um ponto positivo. O negativo foi justamente ela ter virado uma figura alternativa que não precisava de quatro membros mais rápido do que meus olhos podiam calcular um novo plano, e logo mais já havia partido para cima de mim novamente, mais alto do que antes.

Gritos de todos os lados persistiam em me distrair, ou quase. Meus olhos estavam focados na besta, mas meus pensamentos estavam longe, pensando em como os Sailors estavam se saindo, quantos monstros infestavam nosso navio como parasitas, se Fox estava segura… Ela não estava em condições de lutar, se algum daqueles bichos invadisse seu quarto, ela não teria chance.

Balancei a cabeça, nervoso, e rodopiei para tentar atingir o ser. Lembrei-me de como Garra e Fox mantinham-se em constante movimento, se tornando alvos difíceis, e o movimento lhes conferia agilidade, que naquele momento era o que eu precisava. Cortei o bicho pela metade, e dessa vez ele evaporou por completo.

Infelizmente minha atividade não acabava por ali. Mesmo com a chuva caindo forte, ainda havia névoa cobrindo nossos pés e circulando nossas cabeças, e achar o próximo demônio que eu iria atacar nem foi difícil, pois este veio até mim rapidamente.

Sua forma me assustou. Era esguio, curvado e duas cabeças mais alto que eu. Atrás de si, uma cauda que podia ser equiparada a de um crocodilo, que balançava de um lado para o outro derrubando barris e os fazendo rolar pelo chão em todas as direções. Engoli seco quando este partiu para cima de mim, a boca comprida e dentes afiados a mostra, fazendo um ruído agudo parecido ao de unhas raspando em uma parede.

Depois disso, tudo pareceu desacelerar. Ao meu redor, as coisas aconteciam lentamente, e de certa maneira um pouco borradas. Os sons ecoavam em minha mente, mas não pareciam estar ocorrendo bem ao meu lado, e sim a vários metros de distância. A espada inclusive parecia mais leve, assim como meu corpo.

Eu tentava acertar golpes na criatura, mas por algum motivo minha espada nunca chegava a alcança-la, e aquilo estava me aborrecendo. Durante mais um giro, meus olhos se focaram em tudo o que estava acontecendo, passando rapidamente de marujo a marujo. Magma rapidamente já brincava com fogo, ameaçando queimar seus inimigos. Sequela ainda abusava de sua insanidade e ria enquanto lutava com algo semelhante a um urso com grandes braços. Mohra dava conta de dois ao mesmo tempo, e Fox aparecia no meio de todos, golpeando qualquer coisa que pudesse ver.

Espera. O quê?

Ela estava chorando descontroladamente até segundos atrás, não devia estar ali no meio de todos lutando. Aquilo não estava certo, eu precisava tira-la dali.

Como se para me ensinar uma lição de como lutar, a vida resolveu lembrar-me de um dos conselhos de Tubarão “se você não prestar atenção no que está acontecendo no campo de batalha, vai acabar se matando”. Enquanto eu estava completamente desprotegido e preocupado com Fox, a criatura me golpeou e eu caí no chão. Ela me olhou por alguns segundos, e logo abriu sua boca e aproximou-se de meu rosto violentamente.

— Acorde, inferno! - Jaguar gritou extasiado enquanto me chacoalhava. Eu abri os olhos e procurei por ar, com a impressão de que havia esquecido como respirar. Minha testa pingava com o suor, assim como meu pescoço, e meu coração saltava com a intensidade da batida de cem tambores de guerra.

— Graças aos deuses, achei que você poderia ter morrido - Batata soltou o ar de seus pulmões, ajoelhado ao meu lado.

— O que aconteceu? - eu perguntei, ainda deitado, levantando meu braço para poder esfregar meus olhos.

Os dois se entreolharam e ficaram em silêncio, e logo em seguida me fitaram. Não sabia bem o que aquilo quis dizer, e poderia até pensar que todos os eventos da noite anterior não haviam passado de um sonho maluco, se eu não me encontrasse deitado no convés naquele exato momento. O frio já havia passado, e naquele momento eu sentia nada menos que calor, talvez pela adrenalina do pesadelo ou pelo simples fato de que o que causara frio no dia anterior havia sido a presença fantasmagórica que estava por vir. Questionei-me se Proi não estava nos observando desde cedo, e a simples ideia deu-me arrepios na espinha.

Batata e Jaguar me ajudaram a sentar, apoiado na pequena mureta de madeira que nos impedia de rolar para fora do Metal Curse. Senti náusea, e por algum tempo tive de fechar os olhos e esperar por alguma brisa para garantir que não vomitaria, excluindo a dor de cabeça excruciante.

— Pelo visto você já está bem - Jaguar disse, e eu controlei meu ímpeto de deitar e ficar por ali mesmo para sempre ou algo do gênero - eu tenho de checar os outros. Caso qualquer coisa é só gritar por mim, e se não der conta… - ele ponderou por alguns instantes, colocando a mão no queixo - eu não sei, se debata no chão ou algo do tipo. De qualquer maneira, vou ficar de olho.

E com isso saiu andando pelo navio, indo atrás de outros marujos. Jogados no chão tinham mais dois que eu não pude discernir. Minha visão estava embaçada e minha cabeça latejava. O deque estava tão bagunçado quanto eu, com os barris todos espalhados, coisas quebradas, poças de água da chuva anterior e gente para todos os lados. Apesar de estar ensolarado, nuvens ainda cobriam o céu, mesmo não sendo espessas como as do dia anterior.

Encarei Batata, que estava sentado ao meu lado de braços cruzados, fitando a bagunça em decepção.

— O que aconteceu ontem? - perguntei novamente, minha voz fraca, provavelmente apenas mais alta que um sussurro.

— Muita coisa - respondeu, e eu tive de insistir no assunto.

— Você sabe quando eu apaguei?

Ele ficou calado por uns instantes, depois respirou fundo e deu de ombros.

— Eu não estava prestando atenção em você, estava ocupado demais lutando, e você sabe que perdemos a noção do tempo enquanto seguramos uma espada e enfrentamos um inimigo. Mesmo assim eu vi quando um daqueles bichos que mais parecia um elefante se chocou contra você enquanto você se preocupava com o da sua frente. Tom, você voou para o outro lado do convés, eu achei que pudesse estar morto numa hora dessas. Nem sei como sobreviveu.

— Foi o Destino - eu reafirmei, convencido. O fato de ele ter me chamado de Tom foi tão repentino, igual meu pai fazia, e eu não pude deixar de me surpreender. Meu pai e Destino são duas ideias claras para mim, apesar de mesmo assim tão nebulosas.

— O que foi que aconteceu ontem? - Batata perguntou depois de alguns segundos, o cenho franzido, ainda incapaz de acreditar nas situações que tinham ocorrido bem na frente de seus olhos. Eu não o culpava. Fui induzido a acreditar em tudo isso desde cedo, meus pais…

Antes que eu pudesse terminar meu pensamento, ele prosseguiu dizendo:

— O mais estranho foi quando Fox apareceu - ele balançou a cabeça, como se negando o fato para si mesmo.

— O que? - eu perguntei, surpreso. Aquele pesadelo não estava inteiramente errado então.

— Eu tinha relances de imagem apenas - ele falou, com as duas mãos na frente de seu rosto, gesticulando formas não específicas - eu vi aquele tal de Proi em sua sacada. Alguns segundos mais tarde, ela apareceu também, e eles se encararam por muito tempo em silêncio.

— Ela estava louca? - eu questionei, completamente perplexo. Onde Fox estava com a cabeça? Aquele espírito podia cuspir demônios, e ela simplesmente ficou cara a cara com ele.

— Foi o que eu pensei! - ele exclamou - até que de repente todos os bichos que nos atacavam ficaram estáticos. Enquanto a capitã e a criança se olhavam, ninguém se mexeu. O navio ficou em seu momento mais silencioso desde que entrei aqui pela primeira vez, e de repente todos simplesmente evaporaram.

— Evaporaram? - eu estava perplexo, a boca levemente aberta.

— Puff - fez ele com os dedos.

Levantei o braço para coçar a cabeça, bagunçando meus cabelos, mas o simples toque já me fez gritar em agonia. Tirei a mão para ver meus dedos cobertos de sangue.

Ao ver a mancha vermelha, Batata gritou por Jaguar, e este veio correndo. Ele se agachou ao meu lado, e eu murmurei algumas palavras aleatórias enquanto ele segurava minha cabeça e procurava pelo corte.

Parecia que Magma tinha implantado um de seus explosivos dentro de mim, e que eles estavam a ponto de explodir. Doía, a cada toque, a cada movimento, eu tinha certeza de que ela seria partida em duas. Quando ele me soltou e eu pensei que estaria aliviado, latejava como nunca, vendo-me enxergar tudo de uma maneira borrada.

Ele mostrou as mãos cobertas de sangue para mim, e seu rosto estava perplexo.

— Não tem nada na sua cabeça - ele murmurou, encarando-me como se eu fosse um desafio para sua prévia carreira de curandeiro.

— Como não? - eu indaguei, nervoso - olhe este sangue! Só de encostar sua mão parece que ateei tudo em chamas!

— Simplesmente… Nada. É como se tivessem banhado sua cabeça em sangue, sem machucado algum - ele parou, confuso, e nos deixou em silêncio.

Eu precisava me lavar, e Batata ajudou-me a alcançar os barris no fundo do navio. Eu estava completamente zonzo, e para que eu não rolasse escada abaixo, o marujo me ofereceu apoio. Peguei um pouco da água armazenada com um cálice e joguei em onde deveria estar machucado, e eu pude afirmar que a dor era como uma passagem para o inferno.

— Pare de resmungar, Tom - Batata murmurou, talvez até um pouco preocupado - não tem nada na sua cabeça.

Mas mesmo assim, ficou lá comigo, me suportando enquanto eu gemia de dor, limpando meu cabelo calmamente para tirar o sangue.

Depois de tudo, eu me arrastei para cima, e o convés estava em um estranho silêncio. Todos os marujos se encontravam parados do lado de fora da porta da cozinha. Todos menos Ello, Jaguar, Cabeça e Fox.

— O que está acontecendo? - sussurrei para Batata, e ele apenas deu de ombros, o cenho franzido.

O clima ali estava bem pesado, e eu imediatamente passei a me sentir mal. Comecei a suar frio enquanto todos encaravam a porta, nenhum som audível, e meu coração palpitava em meu peito em uma velocidade insana. Algo estava bem errado, e a ansiedade abateu meu ser. Vasculhei rapidamente alguém que não me daria um soco se eu perguntasse o que estava acontecendo, e logo corri para Tobias.

— Os olhos do Ello - ele murmurou, ainda absorto em sua imaginação pesarosa, fitando a estrutura de madeira que nos impedia de ver o real problema - não sei de mais.

Então era aquilo. “Seus olhos”, o que diabos poderia ter acontecido com os olhos de Ello?

E mais ou menos aí os gritos começaram. Pura agonia, vindo de dentro da cozinha. O som era daqueles que ficavam ecoando em minha mente. Dor, era o que ele estava sentindo, e eu nem sabia o que estava acontecendo.

Eu cerrei os olhos, como se o escuro pudesse selar os sons de penetrarem minha cabeça e assombrarem meus pensamentos, me relembrando da tortura que o pobre homem estava sofrendo, mesmo sem eu saber direito o quê.

Alguém cutucou suavemente meu braço, e me virei apenas para encontrar Fox com um sorriso fraco no rosto. Ela gesticulou com a cabeça para a escada que levava ao corredor do seu quarto, e eu tentei entender o que ela pretendia.

A segui, e agradeci mentalmente por nenhum dos homens ter dado a mínima atenção. Eles apenas olhavam para a porta, se preocupando com seu amigo machucado. Eu era uma situação a parte.

Segui ela escada acima, e ao deixar-me entrar em seu quarto, eu pude vê-lo com um olhar totalmente novo. Da outra vez em que tinha estado lá, fora durante uma tempestade, pouca iluminação, e de qualquer maneira eu não procurava ver os detalhes, e sim confortar a ruiva que tanto detestava trovões. Naquele momento, a luz do dia inundava o cômodo com a claridade, mostrando os diversos livros espalhados para todos os lados, o tapete vermelho do chão que tinha exatamente o mesmo tom do cobertor da cama espaçosa encostada na parede, com uma cabeceira de aros dourados que formavam um desenho de forma indescritível. Pesadas cortinas douradas com franjas trançadas da mesma cor cobriam a sacada com vista para o convés, e eu me deparei com mais uma passagem, e ao olhar melhor, percebi que era uma sacada traseira com vista somente para o mar. No canto oposto à cama, uma mesa de madeira escura redonda com três cadeiras.

— O que tanto olha? - ela perguntou, parecendo ignorar os gritos que vinham do andar debaixo, fazendo-me sofrer.

Seu quarto, suas coisas, como minha vida está uma bagunça, pelo amor dos deuses, tem um homem gritando no andar debaixo, esse barulho está me matando, e principalmente você.

Espera, o que?

— Por que me chamou aqui? - questionei, ainda surpreso com minhas recentes ideias, e torcendo para que o calor em meu rosto não fosse vermelhidão.

Ela deu de ombros.

— Você sempre me ajuda quando eu não estou bem - falou, fitando o chão - você parece péssimo.

— E então resolveu me ajudar? - perguntei, surpreso.

— Ah, eu não sei como exatamente, só pareceu ser o certo.

Expirei fortemente, sem saber por onde começar. Fox também não sabia o que fazer, e o simples fato de olhar para ela já me recordava de seu nome.

— Belena - eu murmurei, e sua feição ficou sombria por alguns segundos - é um lindo nome. Um tanto quanto familiar.

— Não sou Belena - a capitã me cortou rispidamente, mas depois consertou - não mais.

Então ela arqueou as sobrancelhas, preocupada, ao notar algo, e se aproximou de mim em segundos.

— Tomeh, você machucou sua cabeça - ela falou, analisando, e depois me puxou até a cadeira no canto do quarto.

— Jaguar disse que não tinha nada aí - eu falei, confuso, enquanto Fox olhava cautelosamente.

Então, mais rápido do que eu pude prever, ela colocou suas mãos no local que tanto doía, e para minha surpresa eu não senti nada. Era como se ela nem estivesse com as mãos ali.

— Erro meu - murmurou - realmente não tem nada aqui.

Passei a mão logo em seguida, e não senti dor alguma. Só não fiz nenhum comentário sobre a estranheza da situação pois mais gritos de Ello ecoaram no quarto como se o próprio estivesse ao nosso lado, certificando-se de que Fox estava segura de minhas garras, fazendo isso por meio de tortura psicológica.

A ruiva pegou em meu pulso e me puxou gentilmente até a sacada traseira, a que tinha vista para o mar. Nós dois coubemos ali com perfeição. A base que nos impedia de cair era de madeira, batia aproximadamente um palmo antes de minha cintura e era ornamentado de várias colunas entalhadas. A vista… A vista era incrível. A linha do horizonte era bem definida por causa do dia pálido, o mar deixara de ser azul turquesa, mas tomei-o por um verde acinzentado que de maneira alguma deixava de ter sua beleza. Nada impedia nossa visão, e se eu me apoiasse e olhasse bem para a frente, era quase como se estivesse voando em direção ao infinito, e Fox tinha aquele infinito na palma de suas mãos.

— Durante a batalha, Ello acabou se machucando. Uma das bestas arranhou seu rosto… Bem na linha dos olhos - ela falou, olhando para o mar sem um pingo de emoção, mas ao prosseguir sua voz vacilou - ele ficou cego, Tomeh.

Aquilo me atingiu. Coloquei ambas as mãos no rosto em perplexidade, e não entendi porque aquilo havia me deixado tão mal. Eu tinha um pé atrás com Ello, mas mesmo assim, ficar cego era demais.

— Nós guardamos peças aqui - ela me avisou - Jaguar e Cabeça fazem os implantes quando algo dá errado durante alguma luta. Estão tentando colocar nele os mesmos olhos de Bat, com sensores e essas outras habilidades.

Tentando. Reconfortante.

Acho que por estarmos do lado de fora do navio, a água chocando-se com o casco acabou por me acalmar, maquiando os gritos de dor de Ello, e dessa vez eu entendi o que estava acontecendo. Calafrios percorreram meu corpo, e tive de balançar a cabeça para esquecer-me.

— Acho que é a primeira vez que sinto você com medo de algo que não condiz a si próprio - ela murmurou, olhando de relance para mim.

Fiquei em silêncio, sem saber como responder àquilo. Não era medo o que eu estava sentindo, era apenas… Bem, eu não sabia.

— Ello gosta de você - falei, mesmo sem entender o porquê.

Ela assentiu tristemente com a cabeça.

— Eu sei - soltou o ar de seus pulmões - Mohra uma vez me contou, mas eu sou capaz de descobrir coisas óbvias sozinha. De qualquer jeito, é uma pena.

Olhei para ela, arqueando as sobrancelhas, pedindo um motivo. Fox apenas sorriu sem graça em resposta.

— Eu sou uma péssima pessoa para se gostar - deu de ombros - perdi a capacidade de sentir qualquer coisa por outra pessoa há anos.

Torci o nariz com sua resposta, até com um pouco de pena. Mais uma vez a curiosidade era tudo o que restava entre nós, pois a cada conversa que tínhamos ela dava um jeito de implantar uma nova dúvida em minha mente.

— Eu queria entender o que aconteceu noite passada - falei, provavelmente mais pensando alto do que tentando conta-la.

— Eu também - deu de ombros.

— Me disseram que você enfrentou aquele tal de Proi - falei. O nome pareceu atingi-la como uma bala, e seus olhos mostravam mais dor do que eu jamais poderia querer - que vocês se encararam até que ele evaporasse ou algo assim.

— Ele não era Proi - respondeu de maneira seca.

— E quem é Proi? - perguntei, realmente curioso. Algo me dizia que aquela figura era importante, e que não seria simplesmente esquecida no meio daquele caos.

— Uma sombra do passado - ela respondeu, um tanto de pesar em sua voz, e ambos calamo-nos. Por sorte, o clima não era desconfortável ali, apenas… Triste.

Foi então que a ideia veio a minha mente. “Sombra do passado” ela havia dito. Eu também tinha uma sombra em meu passado, e ironicamente ela seria a luz da nossa escuridão.

— Fox, eu sei quem pode nos dizer o que foi o ataque de ontem.

— Sinceramente, eu estou tão confusa que me comprometo a aceitar até mesmo videntes - deu de ombros, como que se redimindo.

— Que bom, pois eu vou te levar para conhecer uma - falei, e ao ver sua feição desacreditada, completei a frase - já é hora de eu rever minha mãe.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Espero que tenham gostado!