Alice no País Florido escrita por Bruna


Capítulo 7
Pesadelo




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Alice podia sentir o sol batendo em suas pálpebras fechadas. Elas se abriram lentamente e a garota se viu deitada na grama, onde haviam muitas, mas muitas flores. Todas eram bem coloridas, como na Floresta Colorida. A temperatura era agradável, nem muito frio nem muito quente. E o céu estava lindo, quase sem nuvens. Aquele lugar parecia o paraíso. Seria o País Florido, talvez? Todos os seus amigos estavam ali, a alguns metros de distância, comemorando alguma coisa, por isso a menina se levantou e se aproximou.
— Alice! - Exclamou Antônio ao vê-la, com uma voz ainda mais abilolada do que o normal. - Você não vai acreditar! Nós descobrimos onde está o Pinclyn!
— É mesmo? - Ela sorriu, instantaneamente feliz e surpresa. - Como vocês fizeram isso?
— Não importa. - Falou Antônio, repentinamente grosso. Alice achou estranho, mas não comentou nada. Estava confusa e queria mais informações, mas algo a impedia de perguntar, como se não fosse ela que estivesse no controle dentro de sua cabeça.
— Vamos, o Pinclyn está naquela caverna! - Gritou Perdidee. Ou seria Perdidum?
O grupo correu por entre as flores, descendo um barranco. Alice continuava confusa. Como ela chegou ali? Teria ela ficado inconsciente por tanto tempo? E como acharam o Pinclyn tão rápido?
Eles entraram na caverna e após alguns minutos que pareceram séculos de caminhada, encontraram algo. Era pequeno e se localizava no meio do caminho. Estava esparramado, parecia morto ou desanimado. Roberta aproximou uma tocha (de onde ela tirou essa tocha?) para que pudesse ser possível identificar o que era aquilo.
Quando viu, Alice parou de respirar. Uma sensação de frio tomou conta dela, e ela teve ânsia de vômito, juntamente com a impressão de estar sendo observada. Ela se virou e viu que lá fora da caverna, uma grande tempestade tinha começado do nada e o céu que antes estava tão azul, agora era preto e vermelho. Escuridão e sangue. Trevas e morte. As flores balançavam, murchas e afogadas na água suja que não parava de cair. No meio daquilo, Alice viu um vulto ainda mais negro que o cenário de destruição. Era o Rei Sombrio. Um sorriso perverso ia de orelha a orelha e revelava seus dentes manchados de sangue. Seus olhos amarelos não demonstravam nenhum sentimento sadio, e nem mesmo um pingo de racionalidade. Ele não era um homem. Era um monstro. O pior que Alice já tinha visto.
A garota virou a cabeça novamente para olhar o corpo morto. Estava todo mutilado, despedaçado. Sangue manchava o pêlo que outrora havia sido tão colorido. Mas a pequena cabeça estava intacta. Ainda era possível ver a expressão de horror e o olhar de medo.
Pinclyn, seu melhor amigo, estava morto. Tinha sido assassinado.

*

Em um dos luxuosos quartos de hóspedes do Castelo de Chocolate Branco, encontravam-se Alice e Bianca. A mais jovem estava dormindo pesadamente, enquanto a outra a vigiava, esperando com paciência que ela acordasse.
Depois da menina ter desmaiado, o grupo logo voltou para o castelo. Lá, eles esperariam que ela despertasse para então conversarem com o Mamute Fumante e partissem para o País Florido.
Perdidum sugeriu que eles fizessem um lanchinho também. Todos apoiaram a idéia e Antônio fez uns pastéis comemorativos roxos em homenagem a semente violeta. O Pasteleiro insistiu para que Bianca comesse com eles, mas a Rainha, irredutível, quis ir com Alice e esperá-la acordar.
A garota estava adormecida e aparentemente calma, quando de repente ela começou a resmungar e se revirar com violência sob as cobertas. Essa mudança em seu estado atraiu a atenção de Bianca.
— Alice? - Chamou. Ela se levantou da poltrona em que estava sentada e tentou acordar a garota que provavelmente estava tendo um pesadelo dos ruins.
Os olhos marejados de Alice se abriram e ela começou a chorar e soluçar.
— Shhhh. Calma, já passou. Está tudo bem, foi só um pesadelo. - A Rainha do Chocolate Branco a abraçou, tentando acalmá-la. - Quer falar sobre o que sonhou?
A garota negou com a cabeça, pois não estava pronta para reviver aquilo com palavras, o que tornaria tudo mais real.
— Já está bem para levantar?
Alice assentiu, já se descobrindo. Sua cabeça doía.
— Então venha comer uns pasteizinhos que o Tony fez. Aposto que estão deliciosos. Você está fraca, precisa se alimentar.
Por um instante, Alice esqueceu do recente acontecimento e se perguntou quem diabos era Tony, e então se tocou de que era um apelido carinhoso para Antônio. Ela reparou que os dois estavam bem próximos.
A menina concordou, pastéis eram uma boa idéia. As duas saíram do quarto e tomaram rumo até a sala de jantar, no primeiro andar.

*

— Muito bons. - Elogiou o Mamute Fumante, que enfiava na boca pelo menos dez pastéis por vez.
— Mas como foi que você fez tantos pastéis tão rápido? - Indagou a Hiena Risonha, que por um milagre não estava brigando com o Pasteleiro. Os dois nunca foram muito amigáveis um com o outro.
— É mesmo! - Exclamou Perdidee, encarando o gigantesco monte de pastel que ocupava toda a mesa de jantar e tinha mais de dez centímetros de altura. Depois, olhou para o Pasteleiro Maluco. - Como você fez isso, Antônio?
— O quêêê? - O cozinheiro disse, escandalizado. - Vocês realmente esperam que eu revele os segredos da Pastelogia? Não tão cedo, queridos! E além disso, não fiquem filosofando enquanto mastigam, dá indigestão. Apenas comam e pronto.
Eles se calaram e continuaram a comer, enquanto Antônio sorria. Ele adorava manter os mistérios da Pastelogia ocultos, pois isso sempre deixava as pessoas terrivelmente curiosas. Não contou nada nem para a Bianca.
O Pasteleiro Maluco ainda esperava que o aprendiz perfeito aparecesse em sua vida e ele pudesse finalmente lecionar a arte da Pastelogia, afinal, não seria prudente não passar seus conhecimentos adiante, tampouco revelar os segredos pra qualquer um. Ele sempre fantasiou o momento em que o Oráculo proclamaria A Profecia Do Pastel, e que ele viveria aventuras pastelísticas ao lado de seu aprendiz.
A Rainha Bianca e Alice entraram na sala de jantar e encontraram seus amigos devorando os pastéis, que pareciam não acabar nunca.
— Está melhor, Alice? - Perguntou Heitor, ainda mastigando.
— Estou sim. - Ela não estava bem, mas também não estava mentindo, afinal, realmente estava melhor que antes, quando estava sendo um sonho (ou seria o vislumbre de uma visão?) da morte de Pinclyn. A garota afastou esse pensamento e se concentrou na comida.
Os pastéis roxos eram muito criativos e malucos, exatamente como quem os fez. Quando começou a comer, a menina se deu conta do quanto estava faminta. O dia já estava quase acabando, e sua última refeição decente tinha sido o almoço do dia anterior, na sua casa, em um mundo muito diferente. Não era surpresa que ela tivesse desmaiado.
Depois de pouco mais de uma hora, Alice, Bianca, Roberta, Kitty, Perdidum, Perdidee, Heitor, o Mamute Fumante e Antônio estavam do lado de fora do Castelo de Chocolate Branco. Eles todos estavam preparados para sua arriscada e indesejada aventura no País Florido. A Bianca era a melhor equipada, porque dentro de sua discreta bolsinha, havia qualquer coisa que pudessem precisar. Tudo encolhido por meio da magia, claro.
— Então, pessoal... - O Oráculo iniciou a explicação. - Eu já estou com a semente violeta, e vou abrir o portal também. É melhor assim, já que eu tenho mais experiência. Vou garantir que cheguemos em um lugar suficientemente distante do covil do Rei Sombrio, para que ele não saiba que estamos lá e que não nos ataque quando estivermos desprotegidos. Quando eu abrir o portal, vou pular primeiro. É essencial que vocês pulem logo depois de mim, sem se enrolarem, pois depois de alguns instantes, o portal se fechará. Se vocês não conseguirem pular, vão ficar de fora, porque não há outro jeito de chegar no País Florido.
— Mas como nós vamos voltar para casa? - Perguntou Roberta. - Nós vamos simplesmente nos teletransportar para lá sem ter um plano de fuga ou algo parecido?
— No País Florido, existem outros portais, e um deles certamente é para cá, tudo que precisaremos fazer é saber onde procurar. Mas se tudo der certo, só vamos precisar de um portal para voltar quando já tivermos resgatado Pinclyn e derrotado o Rei Sombrio. E depois que isso acontecer, tudo vai estar mais calmo e vamos poder procurar tranquilamente. É fato que vamos conseguir voltar, porque é extremamente raro um mundo não ter portais para outros. - Disse o elefante (não, mamute). - Mais alguma dúvida? - Todos negaram com a cabeça. - Então vamos lá, todos prontos!
Eles se ajeitaram atrás do Mamute Fumante, que segurava a semente violeta com a tromba. O abre-portal era tão minúsculo comparado ao animal que parecia que podia ser aspirado acidentalmente a qualquer momento.
O Oráculo se concentrou e então jogou a semente no chão a sua frente. Um buraco grande se formou no chão. O meio era uma mistura de vários tons de rosa e roxo, e parecia que a abertura exalava um aroma adocicado, como o de flores. O mamute se jogou dentro do buraco e foi engolido pelo mesmo, seguido por Alice, Heitor e os outros.


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Notas finais do capítulo

E permanece um mistério: como a Bianca chamou os flamingos aviadores gigantes?



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