Alice no País Florido escrita por Bruna


Capítulo 6
O Gato Saltitante


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo já tinha sido postado anteriormente, mas eu exclui para reescevê-lo. E devo dizer, ficou mil vezes melhor.



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A Hiena Risonha e Kitty voltavam para o acampamento, onde esperavam encontrar os amigos e encerrar a busca, já que eles tinham a semente violeta em mãos (ou seriam patas?).
— Confesso que estou surpreso com a rapidez com que achamos este abre-portal. - Heitor comentou. - Poderíamos ter que ficar por aqui dias, talvez até semanas procurando.
Se não tivessem sido tão céleres na busca, poderia ser tarde demais. Pinclyn estava em perigo, tempo não podia ser desperdiçado.
— Realmente muita sorte, acho. - Kitty falou despreocupadamente enquanto pulava e corria de um lado para o outro, parando para sentir o cheiro de alguma flor exótica de vez em quando.
— Sorte? Não, não. Foi graças a você. Se você não tivesse saltitado em cima daquela flor rosa, nunca teríamos encontrado a roxa.
— Bem, fico feliz em ter ajudado. Normalmente não faço nada importante. O lugar em que Alice e eu moramos não tem muitas aventuras nem animais legais como você.
Heitor olhou para o filhote, com certa admiração. Todos no País Perdido o viam como uma hiena traiçoeira e perniciosa, indigna de confiança. Mas antes Alice, e agora aquele gato, não tinham preconceitos. Eles vinham de um lugar completamente diferente, e tudo o que viam fora dele se tornava maravilhosamente intrigante e interessante. Eles estavam dispostos a conhecer Heitor pelo que ele era, e não pelo que os boatos diziam. A hiena era muito grata por isso.
Claro, as Rainhas dos Chocolates, Pinclyn e os Irmãos Perdidos tinham mantido contato com ele após a primeira batalha contra o Rei Sombrio, porém Heitor não chegava a ter uma amizade sólida com nenhum deles.
Naquele momento, a Hiena Risonha viu uma oportunidade em Kitty. A possibilidade de uma grande amizade florescer no futuro.
— Pode ficar tranquilo, Kitty. Você está no País Perdido agora, e tenho certeza que você vai se divertir bastante, mesmo que a nossa missão atual seja mais urgente e perigosa.
Com a semente violeta, já estavam mais perto de resgatar Pinclyn, mas ainda havia um longo caminho a ser percorrido.
Por alguns minutos, ambos os animais andaram em silêncio na penumbra do chão da floresta. Existiam tantas folhas e flores que apenas uma pequena parcela de luz do sol chegava até a parte mais baixa.
— Tive uma idéia. - Falou a hiena.
— É mesmo? O que é, o que é?
— Você sabe que alguns de nós, aqui no País Perdido, temos títulos.
— Como assim? - Indagou Kitty, um pouco confuso.
— Por exemplo, eu: Sou Heitor, a Hiena Risonha. O Antônio é o Pasteleiro Maluco, Roberta e Bianca são as Rainhas dos Chocolates Amargo e Branco, e assim vai.
— Mas eu não entendi. Qual é a sua idéia?
— O que acha de ter um título para você?
— Para mim? Mas eu não sou nada especial para ter um título.
— Nem eu. Não sou rei, rainha e muito menos pasteleiro.
— Se é assim, seria fantástico! Você tem alguma idéia?
Heitor perscrutou o felino, buscando algo que o definisse, acima de todas as outras coisas.
— O que acha de "Kitty, o Gato Saltitante"? - Falou, depois de uma breve análise.
— Acho uma ótima idéia! - O pequeno animal recomeçou a pular de um lado para o outro. - Valeu, Heitor! Mal posso esperar para contar para a Alice. Ela vai gostar de saber que tem um animal de estimação tão descolado como eu!
Ele subiu em uma pedra na beira do caminho que era encoberta por flores, como o restante da Floresta Colorida. Fez uma pose e declarou:
— Eu sou Kitty, o Gato Saltitante! E se esse tal de Rei Sombrio fez algum mal ao amigo da Alice, ele vai ter que se ver comigo! - Kitty pulou da pedra no mesmo instante em que uma folha seca caia de uma árvore mais alta. Com suas unhas finas de filhote, ele agarrou a folha e aterrissou acima de mais flores. - Grrr! Esse Rei Sombrio vai sair correndo que nem um covarde quando encarar toda a minha fúria!
Heitor não pôde deixar de soltar uma risada, que foi seguida por outra vinda do gato. Esta soava como uma estranha mistura de um miado e uma gargalhada.
A inocência do jovem fazia parecer que tudo seria fácil. A hiena decidiu não falar nada para corrigir as impressões de Kitty, pois não sabia se ele estaria tão empolgado para a missão se soubesse o que realmente os esperava. Não que Heitor pensasse que o gato era covarde. Ele era apenas um filhote sem um pingo de experiência na vida. Se ele desistisse de ir, Alice poderia ficar chateada. Além disso, a garota estava extremamente preocupada com Pinclyn, e se Kitty compartilhasse um pouco de sua esperança e alegria, ela poderia ficar mais otimista.
Alice era a chave para aquela missão. Os perdidianos achavam que somente ela seria capaz de derrotar o Rei Sombrio definitivamente. Sendo assim, se Kitty era importante para a menina, também era impotente para os outros.
Observando o felino saltitar a caminho do acampamento, a Hiena Risonha pensou que não poderia ter escolhido título melhor para ele.

#

Roberta estava sentada em uma grande pedra no meio ao acampamento, ocupada demais analisando as próprias unhas. O trabalho de sentar e esperar caso alguém retornasse com a semente violeta tinha sido designado a ela. A Rainha adorou isso, porque poderia ficar ali sem fazer esforço algum, enquanto o resto do grupo procurava arduamente pelo abre-portal.
Uma movimentação estranha entre umas árvores fez a mulher desviar os olhos de suas mãos e encarar a vegetação, em busca da fonte da distração. Ela ouviu murmúrios de uma voz levemente familiar e outra nem tanto. Logo surgiram na clareira a Hiena Risonha e o gato da Alice, cujo nome Roberta nem se deu o trabalho de memorizar.
— Achamos! - Heitor falou em alto e bom som, com um enorme e assustador sorriso no rosto, que deixava exposto suas presas afiados.
— Acharam? Sério mesmo? - O pequeno felino assentiu alegremente para a Rainha. - Posso ver?
A hiena mostrou a semente para a Rainha do Chocolate Amargo, que sorriu e depois deu as costas. Ela foi até onde estavam largadas umas trouxas e pegou uma bolsa branca com o emblema do Reino do Chocolate Branco. Os dois animais se entreolharam e depois fixaram sua atenção nas ações apressadas e aparentemente sem sentido da Rainha.
— Sabe, às vezes eu me impressiono com o quão precavida a minha irmã é. - Falou Roberta, mais para si mesma do que para os outros ali presentes. - Ela deve ter contratado uma fada pra fazer tudo isso por ela, só pode. Todas as coisas dela estão enfeitiçadas para ficarem menores, do tamanho de moedas. Todas! Daqui a pouco ela vai encolher o Antônio.
A mulher tirou da bolsa da Bianca uma coisa parecida com uma vuvuzela, ou talvez uma corneta. Não parecia possível que uma coisa quase do tamanho de um braço coubesse na pequena bolsinha, mas naquele lugar, tudo é possível. Roberta soprou o instrumento com força, mas em vez de sair algum som, um pó rosado e brilhoso foi liberado. Este foi flutuando cada vez mais alto e se multiplicando, para depois se separar em pequenas nuvens. Cada amontoado flutuante de glitter foi para um lado.
— O que diabos foi isso? - Perguntou Heitor, virando a cabeça para a Rainha, pedindo uma explicação.
— "Isso" foi mais uma das idéias mirabolantes da Bianca. O pó mágico vai encontrar todo o pessoal e guiá-los de volta até aqui. Minha irmã falou que era para soprar esse negócio no caso de alguém aparecer com a semente violeta, e assim poderíamos nos reencontrar. Logo eles estarão aqui. Por enquanto, só nos resta esperar.
A Hiena Risonha assentiu e sentou no chão. Ele olhou para o céu e se perguntou novamente como a Rainha do Chocolate Branco chamaria aquelas aves demoníacas (mais conhecidas como flamingos aviadores gigantes) que os levariam de volta para o Castelo Branco.

#

Depois de mais ou menos meia hora de espera por parte de Kitty, Heitor e Roberta, os outros integrantes do grupo retornaram à clareira do acampamento. Seus trajes estavam um pouco brilhosos, como se eles tivessem pego uma garoa de purpurina.
— Vocês encontraram a semente? - Antônio, o Pasteleiro Maluco perguntou ansioso.
— Sim! - Exclamou o Gato Saltitante. - Estava dentro de uma flor! E foi muito legal ficar procurando, porque o Heitor estava comigo!
Alice estava perplexa. "Oi? O quê? Como assim? O que diabos está acontecendo aqui?"
Ela pensou, em sequência. "Devo estar tendo alucinações." A garota concluiu. "Gatos não falam. Kitty não fala."
Por um instante, Alice pareceu a si mesma segura de que estava certa, mas então ela se questionou: Se, hipoteticamente, houvesse a real possibilidade de Kitty ser um ser falante, ele teria se comunicado com ela antes, não teria? E mais, por que ele estava falando de Heitor como se esses fossem amigos?
A cabeça da pobre menina estava uma confusão, e parecia prestes a explodir. A incredulidade de ver seu bichinho de estimação que ela acreditava ser normal falando normalmente, como se tivesse feito isso a vida inteira; o ciúmes de descobrir que Kitty e Heitor estavam amigos e ela não era mais a única amiga de ambos; e o mais importante de tudo: a emoção de descobrir que agora eles tinham acesso a semente violeta, ou seja, estavam um passo mais perto de achar Pinclyn, de salvá-lo!
Aquilo tudo era demais para Alice, e ela acabou desfalecendo no chão, desacordada.


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