Alice no País Florido escrita por Bruna


Capítulo 4
A Maldição de Pinclyn


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, finalmente veremos o que está acontecendo com o Pinclyn! E vocês também vão entender porque a fuinha da capa (que deveria ser o Pinclyn) não é multicolorida...
E por último, este capítulo é dedicado a Ana Everllark, minha fiel leitora.



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País Florido - Caverna do Rei Sombrio

Pinclyn estava encolhido em um canto da cela úmida e nojenta em que foi jogado, nas profundezas da caverna do Rei Sombrio, que estava situada no lugar menos florido do País Florido. Desde que chegou lá, estava se sentindo cada vez mais fraco, como se algo sugasse sua energia. Ele tinha a impressão de que o seu pêlo multicolorido estava ficando desbotado, mas decidiu não ligar, pois sabia que se pensasse demais, conclusões tenebrosas poderiam vir a aflorar. Já tinha tentado de tudo achar um jeito de fujir, mas a prisão era fortificada com feitiços e barreiras.
A fuinha tinha muita raiva. Do Rei Sombrio, por ser tão estupidamente vingativo e de si mesmo, por não ter previsto que algo assim aconteceria. Ele pensou que se o Rei Sombrio ficasse no País Florido, sua magia negra não poderia ser desenvolvida, mas esqueceu de levar em consideração que as trevas sempre estiveram nele, e obviamente caíram junto no buraco portal que baniu ele do País Perdido. Mas Pinclyn ainda não conseguia entender de onde o Carlito estava tirando forças. O pólen mágico das flores roxas deveria prejudicá-lo, entretanto, não era isso que estava acontecendo.
Ah, tudo estava tão inocentemente bem naquela manhã comum no País Perdido. Ele estava tranquilo com alguns de seus amigos, apenas batendo papo quando um vórtice se abriu do nada no ar e uma grande mão o agarrou bruscamente e o puxou para o portal. Como foi tudo muito rápido, nem deu tempo de reagir. Tudo que lhe restava agora era se questionar se alguém viria resgatá-lo. Como seus amigos do País Perdido viriam para o País Florido? Como combateriam o Rei Sombrio? E como voltariam para casa depois de tudo isso? Eram muitas lacunas em branco, e a fuinha não sabia mais de nada.
Pinclyn se assustou e saiu de seu torpor quando uma sequência de barulhos ecoou pelos túneis da caverna. O Rei Sombrio entrou ruidosamente, e o prisioneiro pôde perceber que ele estava carregando um saco escuro, onde definitivamente havia uma coisa viva dentro. Algum ser foi colocado contra a vontade ali e agora tentava sair, se debatendo sem resultado nenhum.
- Ahahaha, agora sim! - Exclamou o homem, dando uma risada maléfica típica de um vilão. Ele se aproximou das grades da cela de Pinclyn. - Meu trabalho está quase completo! As duas criaturinhas que mais odeio finalmente estão aos meus pés! Ninguém pode me deter agora, nem mesmo seus amiginhos perdidianos, fuinha bastarda! Aquela meninota metida está muito longe daqui e nunca mais vai me derrotar, minhas forças estão renovadas! Você nunca mais vai ver nenhuma daquelas pessoas que tanto ama! Nunca vai sair daqui!
A fuinha não mais tão multicolorida assim decidiu não responder nada, para não instigar o sujeito ainda mais. O Rei Sombrio abriu a porta da cela ao lado da de Pinclyn e jogou sem nenhuma delicadeza o saco que carregava. Ele chutou o embrulho, e Pinclyn pôde ouvir um pequeno gemido de dor.
- Agora eu vou indo, escravos, não tenho tempo a perder com vocês, afinal, ainda tenho um exército para criar!
O pequeno animal paralisou e se perguntou, amedrontado, do que se tratava o tal de exército. Onde aquele doido varrido iria encontrar soldados no País Florido? Ou será que ele iria literalmente criar um exército malvado, usando sua magia negra? Era melhor nem pensar nisso, porque de um jeito ou de outro, Pinclyn não ia poder fazer nada. Preso ali, ele era impotente.
Depois que a voz e os passos do Rei Sombrio não podiam mais serem ouvidos, uma pequena cabeça colorida saiu de dentro do saco ali no canto e olhou ao redor. Ao constatar que o inimigo já tinha se retirado daquele ambiente, a criatura desconhecida saiu completamente do tecido grosso que a cobria. Pinclyn ficou maravilhado com o que viu.
Ela era uma fuinha. Seu pêlo longo era um degradê harmonioso entre belíssimos tons de rosa, e com alguns toques de roxo. Em sua pequena cabeça, repousava uma coroa dourada com uma pedra ametista roxa no meio. Seu rabo era comprido e bem felpudo.
- Quem é você? - A fêmea perguntou a Pinclyn, que estava tão encantado com a beleza dela que não conseguiu responder de imediato.
- Aah... Eu? O quê? Pinclyn. Sim! Esse é o meu nome.
- Prazer em conhecê-lo, Pinclyn. Gostei do seu nome, é bem diferente. Eu me chamo Charlotte. - Ela deu uma risadinha tímida pela fala embananada e a cara boba do outro. Em seguida, se aproximou mais das grades que separavam eles.
- O prazer é todo meu. – Pinclyn se recuperou do choque e agora já tinha voltado a falar formal e coerentemente. - Mas como é que uma dama refinada como você veio parar aqui? O que o Rei Sombrio quer com você?
- Ele está tentando tomar conta do País Florido, e para isso, assassinou toda a família real. - Seu semblante adquiriu um aspecto triste e deprimido. - Restou apenas eu, a princesa. Nem sei porquê fui poupada.
- Princesa? Perdoe a minha falta de tato, eu não sabia que estava em frente a um membro da realeza. - Ele fez uma reverência, mas Charlotte o interrompeu.
- Não precisa disso! Assim você me deixa envergonhada!
- Tudo bem, Princesa. E sinto muito mesmo pela sua família. Receio que a culpa seja toda minha.
- Como assim? - Ela questionou, confusa.
- Eu venho do País Perdido. - Pinclyn começou a explicar. - O Rei Sombrio, que não passa de um tirano dominador de mundos, era um problema completamente nosso, mas nós, perdidianos, banimos ele para cá, por meio de um portal. Pensamos que ele não poderia causar nenhum mal aqui, por causa das flores roxas, mas parece que erramos. Agora sua família está morta e seu País está prestes a ser dominado por minha culpa. Eu lamento.
- Está tudo bem, não é culpa sua. Você não tinha como saber. Nós também achamos que as flores mágicas iam dar conta dele, por isso não demos a ele a devida atenção. Não fazemos idéia de onde ou de quem ele está tirando forças. Com toda essa atividade das trevas ao redor dele, ele já deveria estar acabado. E aliás, como você mesmo disse, o Rei Sombrio é um dominador de mundos, então o problema não é só do País Perdido, e sim de todos os mundos. Você não deveria se sentir culpado, não vai ser responsabilizado por nada do que aconteceu ou está acontecendo. Não carregue esta maldição sozinho.
Ambas as fuinhas estavam passando por um momento difícil, estavam separados das pessoas que amavam e ainda estavam aprisionados naquele covil da maldade, onde provavelmente seriam submetidos a sessões de tortura. Pinclyn e Charlotte confortaram um ao outro, sendo cegamente compreensivos.
Abandonando o tema de conversa pesado que era a atual situação deles, eles se sentaram lado a lado e começaram a falar sobre coisas simples que fuinhas normalmente falam.
- Seu pêlo é muito bonito. - Pinclyn elogiou.
- Obrigada. O seu também é. - Era como se eles estivessem comentando sobre o cabelo um do outro.
- Ah, não precisa mentir. - Ele deu uma risada. - Meu pêlo está longe de estar bonito. Ele costumava ser multicolorido, mas desde que cheguei aqui, ele vem desbotando cada vez mais.
- Como assim "desbotando"?
- Perdendo a cor, literalmente. Veja, em algumas partes já está totalmente marrom. - Era verdade mesmo. De longe, ninguém adivinharia que aquela criatura tão apagada e sem brilho era a vivaz e colorida fuinha Pinclyn.
- Mas isso está acontecendo apenas com o seu pêlo ou você anda se sentindo meio cansado e sem energia ultimamente? - A Princesa não conseguiu disfarçar um pouco de preocupação e temor. Era quase possível ver as engrenagens girando loucamente dentro da cabeça dela, processando e remoendo informações.
- Sim, eu estou meio cansado, mas acho que é por causa da falta de alimento e talvez por uma leve depressão.
- Ah, não, não, não, não, não! - Charlotte exclamou repentinamente, se levantando e começando a andar em círculos. - Isso não pode estar acontecendo! Deveria ser impossível!
- O quê, o quê? - Pinclyn perguntou, com medo. - O que houve?
Ela parou de andar, respirou fundo e olhou nos olhos verde escuros que a encaravam, exigindo uma resposta. A Princesa parecia sentir pena dele.
- Eu percebi o que está acontecendo. Eu sei porque seu pêlo está desbotando, e sei porque as flores não afetam o Rei Sombrio.
- Por quê? Conte-me! - A fuinha incentivou.
- Ah, Pinclyn, a verdade é terrível e dolorosa, mas eu devo fazer o que é certo e lhe contar. Devo partilhar meu conhecimento para que possamos decidir o que fazer. - Ela suspirou tristemente mais uma vez, desejando que seus pressentimentos estivessem errados. - Como sou uma princesa, tive o privilégio de ter uma educação melhor do que a maior parte dos habitantes daqui do País Florido têm. Durante meus estudos, eu aprendi sobre diversas maldições das trevas, e uma delas era a Maldição da Força Trocada. É uma magia terrível, e quando é usada para o mal, é imperdoável. Funciona da seguinte maneira: o indivíduo que executa o feitiço faz um encantamento em uma outra pessoa e as forças físicas, mentais e místicas da vítima vão ser transferidas para o bruxo em questão. Por isso se chama "Maldição da Força Trocada". E eu tenho quase certeza de que foi isso que o Rei Sombrio lhe fez. Ele é afetado pelas flores roxas, mas ele rouba a sua energia para se recuperar. Assim, ele tem poder e resistência para continuar a praticar as magias das trevas. E infelizmente, na maior parte dos casos, é fatal para a vítima. Eu lamento, Pinclyn.


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Notas finais do capítulo

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