Jimmy Novak não estava no seu estado normal. Simplesmente andava aéreo, esquecendo-se de tudo e de todos, e algumas vezes ele até nem entendia o que as pessoas diziam, como se aquela não fosse a sua língua natal. Na verdade estava vendo o mundo sob uma nova perspectiva. Nada era realmente tão importante quanto as pessoas pensavam. Roupas de grife, carros último tipo, notas altas na grade estudantil, amigos influentes e importantes, garotas bonitas, dinheiro, posses, poder... Nada disso era importante.

"E no princípio criou Deus o céu e a terra." Existiria algo tão simples e tão profundo e eterno quanto isso? Jimmy olhou para o céu e contemplou a imensidão celeste, a seguir admirou a terra até o horizonte. Tudo era perfeito e pacífico. Ele mal sentiu quando seus joelhos se renderam e arriou seu corpo. Começou a orar, dando graças a Deus por tudo que era belo e benevolente. Juntou as mãos em uma prece e fechou os olhos, enquanto uma umidade excepcional lhe banhou a face.

Então sentiu um toque no ombro. Virou-se para ver quem era.

"Oi, Jimmy! Você é Jimmy Novak, não é? Está se sentindo mal?" Um belo rapaz de cabelos loiros e imensos olhos verdes o encarava.

"Eu ... Eu estou bem. Só estava ..." Jimmy olhou em volta e só viu carros estacionados e alunos apontando pra ele ao longe, como se ele fosse uma aberração. Uma sensação de incerteza e insegurança o deixou tonto, e ele instintivamente procurou apoio na mão do rapaz em seu ombro.

"Que tal se a gente sentasse ali naquele banco, Jimmy?"

"Ok!"

O belo rapaz o conduziu a um banco de pedra. Ele ainda segurava seu ombro e o sacudiu de leve.

"Você quer que eu chame sua família, Jimmy?"

"Não, eu ... eu estou bem. Minha família não me entende. Eles pensam que estou louco."

"E você está?"

"Louco? Não! Apenas descobri algo maior do que eu mesmo, maior do que tudo isso. Eu encontrei a Deus, e estou em paz. Você acha que isso é loucura?"

"Uau! Não! Acho que não, mas isso é tão raro hoje em dia, que ... chega a dar medo. Quero dizer, ninguém mais liga para religião, ao menos não com essa intensidade e essa transformação que você está sentindo. Acho que ... todos os religiosos, hoje em dia, encaram isso mais como um emprego. Todo mundo é frio e cínico, atualmente. Você não acha?"

"Talvez ... Quem é você?"

"Meu nome é Dean Winchester. Sou seu colega de turma."

"O Dean Winchester? Você é muito popular. Já ouvi a seu respeito. As garotas te adoram." Jimmy sorriu genuinamente, sem uma ponta de malícia.

"Tá, eu sabia que a fama me precedia. E todos também te conhecem, Jimmy Novak, o filho do pastor."

"Logo ficarei conhecido como Jimmy, o doido, não é?" Jimmy falou tristemente, ensombrando o rosto.

"Não fale assim. Você é realmente um cara religioso, e que em breve vai entrar para um seminário e será tão bom quanto seu pai." Dean tentou consolá-lo.

"Se as pessoas são realmente cínicas e frias como você diz, então não quero ser como eles." Jimmy falou seriamente.

"Eu te entendo, cara, mas você é apenas um. Que diferença poderia fazer?" Dean perguntou com um sorriso complacente.

Jimmy apenas o encarou sério, e então para o céu, novamente, como se entrasse em comunhão com os anjos. Dean ficou impressionado.

Algum tempo mais tarde, Jimmy Novak foi levado por seus pais a uma consulta com o psiquiatra. Após uma conversa de trinta minutos, o médico foi falar com os pais.

"E então, doutor, o que é que ele tem?"

"Ainda é cedo para definir que doença ele tem, mas está tendo delírios religiosos, e acha que foi chamado por Deus. Há ainda uma dissociação com a realidade e alterações de personalidade, como se houvesse assumido a identidade de uma outra pessoa. Em suas próprias palavras, ele não se sente o mesmo de antes, como se fosse um rapaz inteiramente novo, com outras prioridades e outros sentimentos."

"Mas, doutor, e se ele realmente tiver sido tocado por Deus?" O pai de Jimmy perguntou.

"O senhor é um homem religioso, Pastor Novak, diga-me se isso é possível." O médico perguntou incrédulo.

O pai de Jimmy se limitou a baixar os olhos envergonhado.

"Enfim, não quero assustá-los, mas seu filho tem fortes indícios de um surto esquizofrênico."

"Não!" Pai e mãe disseram em uníssono. O médico tentou acalmá-los.

Enquanto isso, Jimmy estava no corredor do consultório médico, admirando a paisagem lá fora. Ele inconscientemente começou a orar, dando graças a Deus pela vida em equilíbrio e harmonia no universo.