Atrasados para o ENEM escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Cara, eu escrevi essa one-shot em janeiro, e deixei guardada para postar perto do ENEM. Vocês não têm noção de como eu estou esperando por esse dia, euaheueahaeu.
Antes de tudo: Boa sorte para quem for fazer essa prova maravilhosa, espero que vocês consigam tirar uma nota ótima. E não façam a burrada que nosso amigo Kageyama fez.



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Tobio Kageyama nunca se atrasava. Nunca mesmo, nem uma vez sequer em todos os seus quinze anos de vida. Mas tudo tem a sua primeira vez.

Foi em um sábado, dia vinte e quatro de outubro, um dia muito especial para os alunos do ensino médio de todo o país.

O senhor e a senhora Kageyama estavam em um churrasco na casa de amigos, e deixaram seu filhote sozinho em casa para se preparar psicologicamente para fazer a tão temida prova.

Ninguém em sã consciência tiraria um cochilo depois do almoço no dia do ENEM, principalmente quando se estava sozinho em casa. Mas Tobio estava morrendo de sono, e não queria fazer uma prova daquelas em um estado de semi-coma.

Ele foi cuidadoso e deixou o despertador do celular programado, mas se esqueceu de ver se era AM ou PM do lado do horário.

Resultado: ele acordou às quinze para uma e quase enfartou quando olhou para o relógio. Sorte que sua mochila já estava arrumada com seu RG, água, lanchinhos, papel da inscrição e canetas esferográficas de tinta preta fabricadas em material transparente.

O lugar da prova não era muito longe dali, indo a pé não demorava mais que quinze minutos (risos) e ele era alto, então seus passos eram largos― não era assim que funcionava?

Tobio nem trocou de roupa, ficou com a camiseta amassada e o bermudão ridículo que ele só usava para ficar em casa. Ainda bem que ele não conseguia dormir sem meias, foi só enfiar os tênis e correr para fora do apartamento.

Esse foi um dos momentos em que Kageyama odiou morar no décimo quinto andar. Seria mais rápido pular pela janela do que pegar o elevador ou descer pelas escadas, mas aí a mísera chance que ele tinha de chegar a tempo seria destruída junto com alguns ossos de seu corpo.

Era melhor ir pelas escadas mesmo.

Ele desceu de dois em dois degraus, quase rolando escada abaixo pelo menos três vezes e dando um susto tremendo em uma senhorinha que saía de seu apartamento.

O portão já estava aberto quando ele chegou ao térreo, então foi só correr para a rua e ignorar o “boa tarde “que o porteiro o deu. Ele estava atrasado pro ENEM, não dava tempo de ser educado.

Tobio correu pela sua rua até a esquina que ela fazia com uma avenida movimentada. O sinal para pedestres ficou vermelho e ele aproveitou para olhar as horas. Meio dia e cinquenta e cinco, puta merda. Se ele se jogasse na frente daqueles carros, pelo menos teria uma desculpa decente para perder a prova.

Tobio disparou assim que pôde. Era só correr mais uns três quarteirões que ele chegava. A mochila batia nas suas costas, e dava pra ouvir a garrafa d’água e o pacote de batatinhas se sacudindo lá dentro.

Pelo menos ele não encontrou nenhum daqueles velhinhos que andam super devagar e ocupam a calçada inteira, porque aí ele seria obrigado a cometer um homicídio.

A rua da escola estava lotada de carros, e na calçada só se via gente correndo e vendedores de água e canetas pretas. Sua boca estava seca, e suas pernas coçavam demais, mas ele estava quase conseguindo, não dava pra desistir.

Um maluco passou correndo por ele com uma coca de dois litros em um braço e um pacotão de Baconzitos no outro. Quando esse cara abrisse aquela coca, seria um desastre.

Dava pra ver o portão fechando, ah meu Deus. Ele começou a correr mais rápido ainda e parecia que seu coração ia explodir.

Tobio chegou a tempo de ver o maluco da coca e Baconzitos rolando por debaixo do portão, que nem acontecia naqueles filmes de ação.

Ele reduziu a velocidade até parar, e sofreu calado enquanto via aquela mísera distância entre o portão e o chão diminuir até desaparecer junto com suas esperanças de fazer a prova.

Pronto, ele perdeu o primeiro dia do ENEM.

Toda a preparação psicológica e, principalmente, o dinheiro da taxa de inscrição não serviram para nada.

Tobio se sentou na calçada e encostou na grade, tentando recuperar o fôlego. Naquele instante, toda a sua vida se passou na frente de seus olhos e ele tentou encontrar um bom motivo pra ser tão burro assim.

E o pior é que não tinha motivo nenhum.

Um borrão laranja passou por ele e de repente o portão tremeu.

―Deixa eu entrar! Por favor!― Um moleque ruivo berrava pendurado na grade. ― Eu preciso entrar!

Tobio encarou o garoto, lembrando-se de todos aqueles vídeos de “Atrasados para o ENEM” que circulavam pela internet. Aquela era uma cena boa de ser filmada. Ele até tentaria pegar o seu celular para filmar o que poderia ser um novo vídeo viral se não estivesse muito ocupado pensando em como ele era um bosta por perder o primeiro dia do ENEM.

Um funcionário saiu de dentro da escola e mandou todo mundo que estava pendurado no portão descer. Tobio olhou para os lados e percebeu que, de fato, o ruivinho não era o único tentando escalar a grade. Havia, inclusive, uma menina nas costas de um homem mais velho, provavelmente seu pai.

O menino desceu, soltando um palavrão ou dois enquanto limpava as mãos na bermuda.

Mesmo que fosse um pouco difícil de comparar já que ele estava sentado, Kageyama percebeu que aquele garoto era baixinho, muito baixinho. Alunos do fundamental podiam fazer o ENEM? Não era Exame Nacional do Ensino Médio?

Tobio até começou a revisar mentalmente as regras do ENEM, mas aí ele percebeu que uma equipe de filmagem da emissora local estava ali. Ótimo, agora toda a região ia saber que ele chegou atrasado no ENEM. Até a sua mãe. Ah não, ela não pode saber disso.

Tobio tentou não pensar no quão fodido ele estaria quando sua mãe descobrisse, era melhor prestar atenção na gravação que estava acontecendo em sua frente.

Eles estavam entrevistando uma menina que, aos prantos, contava seu que sonho era fazer medicina e que ela estava no terceiro ano de cursinho. Era melhor eles mostrarem a história dela, porque ele não passava de um vagal do primeiro colegial que faria a prova por livre e espontânea pressão familiar.

―Minha mãe vai me matar. ― O ruivinho resmungou, encostando no portão e deslizando até se sentar no chão.

―A minha também. ― Tobio resmungou. Ele não gostava muito de socializar, mas parecia que suas pernas estavam prestes a cair, e ele também estava muito interessado em descobrir a idade daquele moleque.

―Eu perdi meu RG no caminho pra cá, e só fui achar agora. ― Ele tirou o documento do bolso e o mostrou. ― E você?

―Tirei um cochilo e acordei atrasado.― O menino começou a gargalhar. Tá bom, era um motivo ridículo, mas ele não precisava rir assim. ― Para com isso.

―Desculpa. ― Ele esfregou os olhos e se acalmou. ― Aliás, meu nome é Shouyou. Você é...?

―Tobio.

―Tá no terceiro ano?

―Não, sou do primeiro.

―Eu também. ― Shouyou cruzou as pernas. ― Pelo menos a gente não precisa passar pra faculdade agora, né?

―É.

E aí surgiu um silêncio desconfortável. Tobio começou a revirar sua mochila na tentativa de diminuir seu desconforto. Sua garrafa estava vazando, então ele aproveitou para beber toda a água e jogá-la no lixo.

―Acho que vou para o shopping. ― Shouyou ficou de pé e guardou o RG no bolso. ― Se eu aparecer em casa, meus pais vão me matar. Quer ir?

Tobio queria ir pra casa, mas ele não sabia que horas seus pais estariam de volta, e não seria nem um pouco agradável encontrá-los agora. E a presença daquele menino até que não era tão incômoda assim.

―Pode ser.


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Notas finais do capítulo

Um minuto de silêncio para a menina fictícia que fez três anos de cursinho e chegou atrasada no primeiro dia.