Elizabete se ajeitou no assento do transporte coletivo em que estava, remexendo inquieta seus dedos no colo ela olhou para a noite iluminada pela janela. Já passava das 19:30, e ela sabia disso porque olhava para a tela do celular a cada 2 minutos.
Por habito ela fez isso mais uma vez, confirmando ser 19:32, enquanto tentava sem muito sucesso se distrair das voltas que sentia em seu estômago e da dor aguda em seu ventre que anunciava uma incômoda dor de barriga.
Se ela descrevesse aqueles sintomas a alguém essa pessoa provavelmente ficaria preocupada, diria para ela procurar um médico ou tomar algum remédio para indigestão. Para a moça aquilo seria totalmente inútil, conhecia aqueles sintomas como a palma de sua mão, sabia exatamente o porquê de eles estarem presentes ali e sabia que se livrar deles não seria tão fácil.
Ela suspirou recostando a cabeça na janela sacolejante, pensando inevitavelmente no que viria nos próximos minutos. Ela desceria do ônibus, andaria por alguns quarteirões até sua casa passando pelas ruas desertas de seu bairro não muito seguro. Suspirou outra vez, a essa altura todos, inclusive ela, já esperavam que a mulher estivesse acostumada com essa rotina, havia repetido esses mesmos passos pelos últimos dois anos. Mas não era isso que havia acontecido, por todos os dias que ela podia se lembrar o medo ainda estava ali presente, sufocante, causando todos aqueles variados sintomas, mandando seu coração voar em seu peito e suas pernas tremerem.
Observou a esquina em que o ônibus virava, faltavam duas ruas agora, e ela estaria sozinha com um longo caminho a ser feito. Por várias vezes ela pensou em ligar para alguém, pedir para uma pessoa de confiança a buscar no ponto, no começo havia sido assim, mas com seus 27 anos ela sentia vergonha de buscar isso. Oras, ela era uma adulta e como tal, deveria se virar.
Sem ânimo algum ela se levantou apertando o botão para chamar a atenção do motorista, alguns segundos depois ela desembarcou em frente ao velho supermercado que se aproximava do horário de fechamento. Sem que ela percebesse seus olhos passaram pelos painéis de vidro do estabelecimento, procurando por alguém que por sorte fosse seu vizinho e que por coincidência estivesse indo para casa nesse exato momento. Sua busca impensada foi em vão.
Resignada ela se encaminhou para a esquina, sentindo seu coração acelerar a cada passo. Sabia que depois daquela curva não haveria nenhum supermercado aberto, apenas casas com portões bem trancados e alguns lotes vagos que ficavam sinistros na escuridão da noite.
Sua perna bambeou levemente quando ela alcançou o local, olhou para o fim da rua a uns bons duzentos metros e sua visão pareceu escurecer levemente. A adrenalina em suas veias fez suas pernas, agora dormentes, começarem a se mover rapidamente, se esforçando para leva-la o mais depressa possível para o seu destino.
Seus olhos se moviam rápidos passando por cada sombra suspeita que as luzes dos postes não conseguiam cobrir, sua cabeça se virava para trás involuntariamente a cada cinco passos, seus ouvidos tentavam estar atentos, mas as batidas fortes do coração da moça atrapalhavam sua audição.