Lágrimas de Cobre e Prata. escrita por Cya Oak


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Fiction criada para o Desafio das Sakuras, o tema escolhido foi: Batalha lado a lado ♡

Sally e Giulliet já apareceram em outra fic minha (Estrelas e Diamantes), mas não é preciso ler a outra para entender essa, pois, apesar de concectadas, não seguem uma linha temporal. Na verdade, é como se essa fosse a primeira... Enfim, boa leitura ♡



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“Ela chora.

Toda noite antes de dormir, ao fumar o seu cigarro, o gosto salgado de suas lágrimas se mistura com o sabor do tabaco. Giulliet chora sempre que se lembra do acidente; isso a está corroendo. Minha Giu já não é a garota alegre de quando a conheci, já não sorri verdadeiramente quando me vê. Ela já não se sente inteira. Seus olhos se perderam na escuridão de seu coração, sangue escorre junto com a água, seu corpo está cada vez mais frágil. Ela se culpa. Eu me culpo.

Na noite de seu aniversário de dezoito anos, ela contou a verdade para seus pais. Contou sobre sua sexualidade. Eu estava junto. Eramos nós duas, Sally e Giulliet, contra o mundo. Estávamos de mãos dadas quando entramos na sala. Eu sempre fui apresentada como a amiga dela, mas naquele dia seria diferente. Todos sorriam até nos ver. Maria, irmã mais nova de minha namorada, era a única que parecia feliz com a cena; mas seus pais, por outro lado... Me senti um monstro com olhar que me lançavam.

— Aconteceu algo? — perguntou a Sra. Patrícia.

— Mãe, eu... — Minha morena retorceu os lábios a procura da palavra certa. — Eu sou homossexual e Sal, além de amiga, é minha... namorada. — confessou por fim; o rosto pálido de da mulher se incendiou e nas profundezas de seu olhar chamas clamavam um ódio sem igual.

— Sua... sua vadia! Nós te acolhemos aqui, como uma família e pra quê? Para você corromper a minha filha! Quem você pensa que é, sua prostituta? — vociferou pra mim. — Eu não posso acreditar nisso, é de mais para o meu coração de mãe.

Minha voz sumiu, senti as lágrimas se formarem, mas não permitiria que elas escorressem. Eu estava ali pela Giu e aquelas palavras não me fariam recuar. Entretanto, não era o mesmo que se passava pela mente do meu diamante... ela tremia ao me olhar. Apertei levemente sua mão.

— Não se preocupe com isso, amor. — sussurrei, eu já estava acostumada de ser chamada desse tipo de coisa, afinal tinha 28 anos naquele dia, e assumi ser o que sou pelo menos 13 anos antes... — Estou aqui com você, por você.

— E você, Giulliet... que desgosto, que desgosto. — Patrícia cobriu o rosto tentando conter o choro, seus cabelos vermelhos como o vinho se desfizeram do coque simples e a ajudaram nessa tarefa.

Robert se concentrava na bebida em sua mão, ignorando o que se passava, como se tudo fosse apenas um sonho ruim e que quando acordasse sua princesinha ainda teria seus sete anos e estaria dormindo agarrada ao ursinho já encardido pelo tempo de uso.

— Mãe, por que está brigando com ela? — Maria perguntou inocentemente. — Quero dizer... isso é normal, mãe.

— Normal? — espantou-se a senhora — Você também fez isso com a minha garotinha? Sua vadia, Satanás irá se regozijar ao arrastar a sua alma pro inferno!

— Mãe, eu tenho quinze anos, por favor... —Mexeu em seus cabelos castanhos incomodada com a situação — Não é como se eu não conhecesse o mundo, há algumas garotas no meu colégio que também são homossexuais, não é como se isso fosse um erro. — Sorriu para nós.

— Mãe, olha o que você está falando... não vou deixar de ser eu por gostar de uma mulher, eu não sou o monstro que você está pensando, ainda sou a sua menina, aquela que você colocava pra dormir toda noite, que puxava a orelha quando ia mal na escola, ainda sou eu, sua filha!

— Minha menininha... Não. É muita decepção pra uma noite só... Fora! Vocês duas, agora! — Sra. Gaia ordenou secando as lágrimas com as costas da mão. — E Giulliet, você não é mais minha filha.

Quando deixamos a casa, Giu desabou nos meus braços, suas lágrimas se misturaram ao cobre do meu cabelo e ao branco de minha roupa e assim foi até que eu conseguisse levá-la ao meu carro. Tudo o que ela temia aconteceu, e de alguma forma eu me culpo por isso... Teria sido diferente se ela não tivesse me conhecido?

Assim que a coloquei no banco do passageiro e me dirigi até o do motorista pude ouvir vozes alteradas vindas daquele lugar horrível... Patrícia e Roberto discutiam como loucos, ela o cobrava por não ter tomado atitude nenhuma em relação a filha, ele dizia que ela estava maluca, Giulliet voltaria para casa arrependida, sã. E só de imaginar Maria naquele meio... uma garota tão doce...

Mal entrei no carro e a porta da casa se abriu. Mari vinha correndo até nós e sua mãe gritando atrás. A jovem menina estava vermelha e parecia que iria explodir a qualquer instante, seu jeans surrado roçava sua canela, a camisa esverdeada estava justa pela leve chuva que caíra.

— Sally, por favor, por favor me leva junto! - implorou, já dentro do carro.

— Gatinha? — Giu secou o rosto com as costas da mão direita tentando parecer bem. — Não é tão simples assim, é melhor você voltar e...

— Maria Meg Gaia, sai desse carro, agora! — vociferou a mulher — Sai de perto dessas... dessas estranhas! — Aquilo feriu minha namorada de uma forma devastadora, como se já não bastasse a dor de ser expulsa de casa, de ter ouvido tudo aquilo...

— Sal, vamos. — Giulliet tomou a decisão por impulso.

— Tem certeza? — Ela nem sequer olhou para mim, apenas colocou seu cinto de segurança e sua irmã a imitou. Eu já sabia que seria assim, eu sabia, devia ter impedido, mas fiz o mesmo.

Dei partida no carro, e assim que ele terminou de sair da entrada da casa, os gritos de ódio daquela que nos colocou para fora se tornaram de horror. Um caminhão em alta velocidade nos atingiu. A dor do impacto só não foi maior do que a preocupação com as minhas duas garotinhas, minha namorada e sua irmã, aquela a quem adotei como minha, minha flor.

Meu diamante passou uma semana no hospital, eu fui a primeira a sair. Já Maria... nossa doce garotinha nunca mais sentiria a grama tocando seus pés, nunca mais andaria pelo jardim de sua casa, nunca mais correria até mim e pularia no meu pescoço como uma criança. Maria estava paraplégica.

Aquela notícia terminou de abalar toda a família. Os pais dela nos culpavam, culpavam a mim principalmente. Mesmo depois da nossa menina, hoje com vinte anos, ter nos afirmado que não houve culpados além do motorista que, ainda por cima, fugiu do local, mesmo depois dela ter seguido sua vida e aberto uma floricultura, mesmo que ela sorrisse todos os dias, ainda sentimos muito por tudo o que aconteceu e Giulliet sente mais do que eu.”

— Sally, o que você está fazendo? Vem dormir.

— Estou terminando de escrever, amor, já vou te fazer companhia.

“Hoje completou cinco anos do ocorrido e amanhã iremos encontrar os pais delas novamente a pedido da Mari. E, mais uma vez, lutaremos, lado a lado, contra o preconceito, contra a culpa. E, claro, seremos nós duas, Sally e Giulliet, contra o mundo.”

Sally fechou o pequeno caderno e colocou a caneta em cima do mesmo. Sentiu-se por fim leve, era como se a tinta tivesse levado tudo de ruim que seu coração guardara durante tanto tempo e ela faria o mesmo pela sua amada. Levantou-se e se dirigiu sorridente para o quarto encontrando Giu foleando um livro qualquer da faculdade impacientemente.

— Você demorou... — choramingou a morena batendo levemente a mão na cama.

— Mas eu nunca mais sairei do seu lado, meu pequeno diamante — afirmou a mais velha sentando ao lado de sua mulher e a envolvendo em seus braços.

— Nunca?

— Nunca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado *^*



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