A floresta me parecia grande demais naquele momento, as arvores estavam três vezes mais altas e largas. Tudo parecia diferente. E eu continuava me sentindo fraca e impotente. Respirei fundo tentando acalmar minhas mãos e pernas que tremiam compulsivamente. Tinha de seguir com o plano, não podia falhar. Corri em direção ao local que havia marcado com Sam, tentando não fazer barulho e deixar rastros, se estivessem por perto me ouviriam.

Tive de parar na metade do caminho, me encostando em uma arvore qualquer. Minhas pernas e mãos voltaram a tremer e eu soltei um rosnado alto, socando a arvore que se partiu no meio. Mantenha a calma, você precisa se concentrar. Um passo em falso e teríamos um belo banho de sangue.

Pensei em tudo o que aconteceu desde que me mudei para La Push, desde que me tornei uma assassina, e depois loba. Pensei em minha família, nos meus amigos, na matilha. E aos poucos os tremores deixaram o meu corpo, dando sinais de que eu poderia voltar a correr sem ter perigo de dar com a cara na grama suja da floresta.

— Nenhum ataque durante o dia?

Ouvi a voz de meu pai perguntar, então soube que era hora de parar de correr e finalmente me esconder, e depois... eu tinha apenas de atacar. Surpreende-los, Sam disse. Cravei minhas mãos na arvore mais alta que encontrei, escalando a mesma. Para um vampiro normal aquilo era algo simples de fazer, como levantar da cama pela manhã. Não que para mim fosse difícil, mas acabava me cansando, ainda mais pelo tamanho da arvore.

— Nenhum – Seth respondeu.

Todo o bando estava reunido em uma roda, mas sabia que estavam atentos a cada movimento atrás de si. Como o meu cheiro era conhecido para eles, não se preocuparam com isso, ou se quer tinham percebido. Todos eles estavam devidamente concentrados, menos Sam, que procurava algo – ou alguém – disperso, pela floresta. Sabia que estava procurando à mim, mas não podia fazer nenhum sinal indicando que estava ali.

Houve um toque de celular, despertando todos de seus afazeres e eu logo reconheci ser o de meu pai.

— Alô. – ele disse, para a pessoa do outro lado da linha. Esforcei minha audição para que pudesse saber do que se tratava, todos ali também estavam ouvindo.

— Jake?— Era a minha mãe, com uma voz de choro. – Katherine está com você, não está?

Escondi o rosto entre as mãos. Aquilo não poderia acabar bem.

— O que aconteceu? – ele perguntou, paralisando.

— Eu não sei— disse, deixando um soluço escapar. – Ela meio que se despediu e foi embora. Quando me dei conta e fui atrás dela já estava longe o suficiente. Me diga que ela está com você!

Sam assentiu para o chão, sabendo que eu estava vendo-o. Os outros apenas encaravam Jacob estático. Em quanto Paul começou a andar em círculos mexendo em seu cabelo já bagunçado. Eu sentia tanta falta dele, e era inegável que ele estava ainda mais bonito desde a ultima vez que nos vimos, apesar de não ser tanto tempo assim. Respirei fundo, perdendo totalmente o equilíbrio, e em questão de segundos eu estava deitada na grama suja da floresta. Fechei os olhos rezando para desaparecer naquele momento. Por que você tinha de parar para olha-lo? Virei a cabeça para o lado, na direção do meu pai que apertava o celular com força, com os olhos semicerrados. Sem duvidas eu estava encrencada.

— Ela está sim – ele disse com sua voz cortante, em quanto eu permaneci no chão. – Te ligo depois.

Ele cruzou os braços na altura do peito e inclinou a cabeça de lado, ficando ainda mais ameaçador.

— Oi pai – sorri. – Camisa bonita, hein?

Toda a matilha se concentrou em segurar o riso em quanto Paul espremia os lábios, tentando também não rir. Sam veio na minha direção ajudando-me a levantar, ele não estava furioso, mas não sabia como prosseguir com o plano agora, assim como eu. Senti minha mão direita latejar, e então que percebi ter caído em cima da mesma. Sam seguiu o meu olhar para o pulso que estava começando a inchar e bastante torto. Jacob e Paul também se aproximaram, deixando a matilha para trás.

— Quebrou? – perguntei a Sam, que segurava a minha mão.

Ele assentiu.

— Vamos ter que concertar. – disse.

— Não!!! — os outros dois lobos presentes disseram ao mesmo tempo, e imaginei que já tivessem passado por isso, e deve ter sido doloroso o bastante.

— Temos de fazer isso, Jacob – Sam disse, sem olhar para ele. – E vocês sabem disso.

— Vou me curar rápido? – perguntei, afinal também era uma loba.

— Em cinco minutos.

Respirei fundo fechando os olhos.

— Faz!

Ouvi passos de alguém se afastando antes do barulho insuportável de meus ossos sendo colocados novamente no lugar. O barulho era muito pior do que a dor, eu podia confirmar isso com toda certeza. Meus joelhos fraquejaram mas lutei para continuar de pé, até as mãos do alfa mais velho soltarem o meu pulso, indicando que eu já poderia abrir os olhos. Massageei os mesmos em quanto olhava para o meu pai, que tinha os olhos presos no chão.

— O que você pensa que está fazendo? – perguntou. – Se quiser se matar é só falar.

— Você não deixaria – falei e ele olhou para mim com os olhos arregalados. – Não, eu não estou tentando me matar!

— Não parece – disse. – Que diabos você está fazendo aqui?

Levei as mãos até a cintura, empinado o nariz. Assumindo uma postura forte, que certamente não era a minha.

— Vocês precisavam de um elemento surpresa.

— Elemento surpresa? – Paul perguntou. – Tá dizendo que vai lutar?

— Estou – falei e eles bufaram juntos. – É sério, tá legal? Ou querem morrer?

— Ninguém aqui vai morrer, Katherine. – meu pai disse.

— Eu sei de tudo pai, sei quem são e como são – falei. – Eles não sabem de mim. Teremos lucro se forem espertos o bastante.

— Te deixar lutar como elemento surpresa não é uma opção.

— Tem razão – Sam interrompeu. – É necessidade! Eu que pedi que ela fizesse isso.

— Enlouqueceu, Sam? – meu pai perguntou, avançando um passo em sua direção.

— Eu imagino que seja difícil para vocês – ele disse. – Mas ela faz parte do bando, tanto quanto outros presentes. Não podemos ignorar isso.

— Você não pode, eu posso!

— Pai, eu vou fazer isso – falei. – Sam me treinou, e acredita que eu esteja pronta pra isso, então eu realmente estou. Mas nada vai poder ser feito sem o apoio de vocês.

***

Em um determinado momento da noite eles acabaram cedendo, ainda contrariados, mas sabiam que no fundo tínhamos mais chances seguindo o nosso plano. Então eu estava de volta a arvore, com alguns olhos sobre mim durante algum tempo. Estava completamente nervosa, mas não demonstrava, agora eu era a Katherine forte que faria de tudo para ajudar o a matilha.

— Sei algo sobre os filhos da lua— Sam disse, atraindo a atenção de todos, inclusive a minha. – Eles também tem uma conexão com o líder, se o atacarmos todos os outros automaticamente ficarão fragilizados, ou mortos, isso eu não sei dizer.

Suspirei.

— Como saberemos quem é o líder? – Seth perguntou.

— Eu não sei. – ele disse.

Ouvimos passos se aproximando e todos eles se colocaram em posição de ataque, ainda em forma humana, esperando pelo comando para que pudessem se transformar. Parei de respirar arregalando os olhos. Eles estavam em linhas retas com meu pai e Sam na frente.

— Transformem-se! – meu pai disse e todos eles explodiram em lobos gigantescos, menos eu.

Não saia, até dizermos que deve — meu pai disse sem me olhar.

Eles não podiam se quer pensar que eu estava ali.

Os filhos da lua se aproximaram com apenas uma pessoa à sua frente. Tudo começou a girar dentro de mim quando vi os fios cor cobre que eu reconhecia. Pude ouvir um rosnado alto, sabendo de que vinha de Paul. Meu pai, em sua forma de lobo estava com os olhos extremamente arregalados.

Katherine se concentra — a voz de Sam ecoou em minha cabeça.

Kath você precisa responder – Seth disse.

De algum sinal, qualquer sinal – Leah disse a ultima frase e isso me surpreendeu.

— Por quê não se junta à nós Katherine? – o líder perguntou.

Dean era o líder.

Ele estava por trás de tudo aquilo.

Como poderia ser?

Eu simplesmente não conseguia acreditar.

Ouvi alguns rosnados quando saltei da arvore ficando de frente para ele. Não era teoria, ele tinha certeza de que eu enlouqueceria, porque o mesmo aconteceu com ele. Dean era um hibrido assim como eu, mas forte e sem duvidas mais inteligente. Ele me ligou a si sabendo que um dia isso aconteceria, não podiam machuca-lo, sem machucar à mim.

— Eu odeio você! – cuspi as palavras, segurando o soluço que queria escapar dos meus lábios.

— Não, você não odeia – sua voz era fraca. – Eu sinto, tudo o que você sentir eu sinto! Tudo o que eu sentir você sentirá.

Pude ver meu pai dando um passo para trás como se estivesse prestes a desistir, mas sabia que todos já havíamos desistido. Ele foi mais esperto e muito mais rápido do que toda a matilha junta. Ele jogou as cartas na mesa e agora teríamos que viver lidando com elas.

— O que você quer aqui? – perguntei, com os punhos cerrados.

— Território – seus olhos brilharam. – Você.

Soquei o seu rosto sem pensar duas vezes com uma força que fez seus lábios sangrarem. Ele não desviou, mas podia. Levantou a cabeça olhando diretamente para os meus lábios. Toquei exatamente no lugar onde ele estava olhando, encontrando o liquido vermelho escorrendo pelo mesmo. Exatamente no lugar que eu o acertei.

— Não achou que eu estivesse brincando, achou? – perguntou.

— Vai embora, Dean!

— E por quê eu iria? – franziu o cenho.

— Não vão poupar a sua vida. – disse, me referindo aos lobos.

— Mas vão poupar a sua! – trinquei os dentes.

— Se não o matarem por minha causa, eu mesma faço isso.

Não estava blefando, eu realmente faria isso.

— Eu vou, anjo – falou. – Mas, eles não.

Dean estralou os dedos e os outros avançaram na direção da matilha, passando diretamente por mim. Podia ouvir uma batalha até que outros rosnados se estabeleceram no lugar. Olhei para trás encontrando os Cullen lutando ao lado da matilha. Vários filhos da lua já estavam com seus corpos jogados no chão, sem o coração dentro de si.

— Não sou tão mal assim, Katherine – Dean sussurrou. – E você sabe disso.

— Vai embora! – grunhi.

— Isso não acaba aqui. – avisou.

Realmente não acabava ali, tudo estava apenas começando. Eu iria atrás daquele garoto até o inferno, não importava o que acontecesse.