E lá estava eu mais uma vez observando Gregório, sua beleza era tamanha que beirava a perfeição. Eu já passei um bom tempo tentando encontrar um defeito nele e não achei nada. Seu nariz levemente aquilino, sua boca carnuda, seu cabelo cacheado...

Ai meu deus! Só de olhar eu já me arrepio todo.

Esse é o nosso último ano, estamos no 3º ano do ensino médio e logo todos nós seguiremos caminhos diferentes. Passei minha vida inteira postergando tudo que pudesse atrasar os meus estudos, mas agora, o jogo vai virar.

Eu me chamo Otávio, sou apaixonado pelo Gregório e não vou desistir de forma alguma de construir uma relação com ele, mesmo ele sendo hétero, mesmo ele sendo almejado por todas as meninas da sala, mesmo que tudo esteja conspirando contra mim.

Gregório é o típico menino introvertido, é inteligente (mas de vez em quando tira notas ruins), não é amigo da sala inteira e passa boa parte do tempo jogando jogos online. Já eu, sou extrovertido, sou amigo da sala toda e vergonha não é uma palavra do meu vocabulário.

Um fato ruim de ser amigo da sala toda é que infelizmente terei que passar por cima de algumas amizades para conseguir o que eu quero, mas como é meu último ano, me darei ao luxo. A festa Junina da escola está chegando, sempre tem uma discoteca e o terceirão sempre fica encarregado da quadrilha, esse ano decidimos fazer algo diferente. Espero conseguir seduzir Gregório.

Certo dia Gregório me perguntou:

-Porque você me observa tanto, Otávio?

- Eu só estava pensando... – respondi, torcendo para que eu não esteja corando – Você tá preparado para a quadrilha? Sei que você não gosta de dançar mas vai ser divertido!

- Terei que estar preparado, até porque somos obrigados a dançar...

Poucas pessoas sabiam da mudança de plano sobre a quadrilha, e Gregório não era uma dessas poucas pessoas. A ideia que deram foi genial, aposto que todos ficarão de boca aberta.

Antes que eu pudesse terminar de imaginar qual seria a reação de Gregório, a professora Elinor – uma senhora de meia idade cujo único hobby era ferrar a vida dos alunos - começou a entregar nossa última prova.

- Estou muito decepcionada com vocês, pensei que vocês se sairiam bem nessa prova, porém o azar é de vocês! Vocês já sabiam que essa nota iria equivaler a média deste trimestre! Ah, e dessa vez não vou correr atrás de aluno, cansei de ser boba! – Esbravejou Elinor.

Ao buscar minha prova, me surpreendi. Achei que tinha tirado uma nota ruim, mas pelo visto fui um dos melhores da sala, tirei oito, e tirar oito com Elinor equivale no mínimo a dez.

-Que nota você tirou, Gregório? –perguntei torcendo para que fosse uma nota ruim, não que eu quisesse o mal dele, mas se ele me convidasse para estudar com ele eu poderia tentar avançar na nossa relação...

-Tirei um cinco! Cara, no último trimestre tirei seis e no próximo terei que tirar no mínimo dez! Dez com a Elinor beira o impossível! Eu tô muito ferrado!

-Não se preocupa, vai dar tudo certo... –falei tentando consolá-lo – Eu posso te ajudar, daremos um jeito. – falei acariciando seu ombro.

Ele levantou a cabeça e em meio aquele rosto incrível vi um olhar esperançoso. E o melhor de tudo: ele não se preocupou com o fato de eu ter acariciado seu ombro, sendo que normalmente ele olharia torto.

- Você tá falando sério? Eu precisaria de ajuda até o final do ano, você sabe disso né? Eu não sei nem como te agradecer!

Minha vontade de dizer era: “Sabe sim! Me beija por favor, é só isso que eu peço...”, porém na realidade só sorri e disse:

-Quando começamos?

Ele sorriu de um jeito que só fez com que eu o desejasse mais ainda e disse:

- Amanhã depois da aula, pode ser? Você pode almoçar lá em casa...

###

No outro dia acordei com um sorriso enorme, torcendo para que eu pudesse ter um avanço significativo no Caso Gregório, que foi como eu intitulei minha missão.

Depois da aula fomos para a casa de Gregório, que era enorme. A casa era branca, de dois andares com várias janelas, um jardim enorme e várias sacadas. Chegando na casa, fomos direto para a cozinha, aonde comemos nosso almoço e conversamos um pouco.

-Uau! Sua casa é magnífica! Você mora aqui com quem? – por mais que eu fosse super apaixonado por Gregório eu não sabia nada sobre sua família, ele nunca falava nada.

- Eu moro aqui com a minha mãe, meu pai e meu irmão que já está no segundo ano da faculdade. Basicamente, eu fico sozinho nessa casa na maior parte do tempo, – ainda não consigo acreditar nisso. Como ele não se perde nesta casa? – minha mãe dá aulas de artesanato e o meu pai trabalha em alguma empresa da cidade, nunca tive tempo de perguntar qual. Quase não nos vemos... ele vive viajando.

Quando eu já estava indo embora, decepcionado por não ter tido avanços ele me para perto da porta, carregando meia dúzia de filmes e diz:

-Então você acha que só vem aqui para me ajudar e não tem um pingo de diversão? –ele disse rindo.

Nos sentamos num colchão que fora posicionado na sala, fizemos fondue de morango e assistimos um dos filmes escolhidos. Como sou desajeitado, acabei me sujando todo.

-Otávio, o seu nariz tá todo sujo de chocolate, você sabia que pessoas normais comem com a boca? – Gregório disse segurando o riso, tentando parecer sério.

- Aonde? –perguntei tentando me limpar com as mãos.

De repente ele segurou as minhas mãos, nesse momento comecei a esquentar. Fechei os olhos achando que ele iria me ajudar a limpar meu nariz, foi nesse momento que ele me tascou um beijo. Nesse momento correspondi, é claro, mas ele percebeu minha cara espantada.

-Tem algo errado? Achei que você gostasse de mim...

-Não... Eu gosto... Mas achei que você não gostasse de mim...

Naquele momento eu peguei minhas coisas, agradeci pelo filme e fui embora. Eu precisava pensar, meu corpo era uma mistura de sentimentos que nem eu conseguia distinguir. O que vai acontecer agora?