Pov. Alice Romanoff

Foi estranho estar rodeada de pessoas que possuíam as mesmas qualificações que eu possuo, mais estranho ainda foi saber que depois de longos anos, finalmente poderei dormir confortavelmente em uma cama de verdade, poderei ser aceita independente de minhas habilidades, e o mais importante de tudo; poderei aprender a controlar meus poderes para que ninguém saia ferido por um descontrole meu.

Não foi fácil ser abandonada pelos meus próprios pais quando eu ainda era uma garotinha indefesa só porque me consideravam uma aberração, um monstro que poderia mata-los a qualquer momento. Nos primeiros dias, tentei entender o lado deles, afinal, sou praticamente uma bomba-relógio e posso explodir a qualquer instante, mas isso se torna diferente quando você é uma simples criancinha. E com o passar dos anos, finalmente percebi que isto que possuo... esses dons que eu tenho não me tornam um problema, não me tornam uma ameaça – apenas tenho que entende-los e aceita-los, tudo só depende de mim.

E foi quando tentei salvar uma garota de um possível estupro que me dei conta, que sozinha não conseguirei alcançar o controle perfeito dos meus poderes. Caminhando pelas ruas da cidade durante à noite pude escutar os singelos choros da jovem que estava prestes a ser molestada por um homem em beco, por sorte, pude evitar o pior usando minhas habilidades para detê-lo.

O homem morreu, mas acontece que meus poderes foram tão intensos, que a garota acabou sendo atingida ficando em um estado grave de hipotermia. Isso me fez pensar a noite toda, até que vi um panfleto sobre o instituto justamente na calçada onde durmo, estava na hora de procurar ajuda.

— O que estamos esperando afinal de contas? – Um jovem de cabelos castanhos penteados para cima, pele levemente bronzeada e olhos castanhos claros chamativos pronunciou, olhando para todos nós. Acho que seu nome era Mattew, tivemos que nos apresentar para Andrew e Theodore que são os nossos professores e Mattew acabou me chamando atenção por demonstrar sempre estar preparado para tudo.

— Não apresse nossos professores. Eles sabem o que estão fazendo e qual é a hora certa para começarmos nossos treinamentos. – Outra garota retrucou, sua voz era suave e doce demonstrando o quão gentil era aparenta ser. Se tratava de Lindsay, consigo lembrar seu nome pois seu jeito dócil e sereno me trouxe boas impressões. Lindsay rodopiava um pequeno lírio pelo talo, sorrindo constante sem tirar os olhos da flor.

— Você gosta de observar as pessoas não é? – Alguém aproximou-se de mim, logo percebo que se tratava de duas meninas provavelmente da minha idade ou mais novas. Ambas sorrindo para mim. — Não se preocupe Alice, nós também somos observadoras.

— Desculpa, mas qual é o seu nome mesmo? Não consigo me lembrar. – Perguntei franzindo o cenho enquanto tentava lembrar do nome da garota dona de longos cabelos levemente cacheados de coloração avermelhada ou castanho escuro, não consegui distinguir.

— Harley... Harley Sullivan e essa é a Clair. Ela é um pouco na dela e estava começando a ser excluída então acabei trazendo ela para nos enturmarmos um pouco enquanto nossos professores conversam. – Ela explicou, trazendo Clair mais para perto. A loira me cumprimenta com seu sorriso tímido de lado, Harley era totalmente o oposto dela e mais semelhante a mim.

Ambas somos animadas e agitadas. Não conseguimos ficar paradas sem fazer nada, conquistar as pessoas é nosso ponto forte, uma boa lábia e simpatia ajuda bastante. Conversamos um pouco mais até que Andrew com sua voz grossa e meio rouca nos chama a atenção.

— Muito bem, o papo acabou. Dividimos vocês em dois times, um time será treinado por mim e o outro time será treinado por Theodore. Se seu nome for chamado por mim, venha para a minha direita, e pelo Theodore irão para a esquerda. – Andrew explicou, com uma espécie de bloco de papel em mãos.

— Iker Brooks, Spencer Stewart, Seth Milmman, Juno Gutierrez, Lindsay Wild, Clair Margaret e Harley Sullivan. Quem não foi chamado por mim estará na equipe do Theodore.

Harley não consegue esconder a frustação por não estar no mesmo time que eu, no entanto, a jovem ficou feliz ao saber que Clair estará com ela. Acabo ficando no time do Theodore, junto a Mattew, e outros alunos que não me recordo o nome.

Caminhamos separadamente, cada grupo foi em direções opostas. Logo nos deparamos com um pequeno jato de coloração prateada onde adentramos e partimos para um local qualquer. Theodore não revelou para onde estávamos indo, mas disse que seria o local do nosso treinamento, e não demorou muito para pousarmos em uma área plana e extensa. Caminhando mais um pouco e finalmente chegamos no nosso destino, uma placa em uma grade avisava: Décima Terceira Zona de Treinamento do Instituto Broken Hill.

— Não sou de enrolar muito como Andrew, então vamos direto ao ponto; este será o local do nosso treinamento e objetivo é muito simples, vocês terão que me atacar com seus poderes. Estratégia de equipe ajuda bastante, então analisem bem todo o ambiente a sua volta.

Theodore foi logo explicando, todos ficam perplexos. Ter que enfrentar um professor logo de cara não é algo nada fácil, olhei para o meu redor, vi muitas árvores e um pequeno riacho que existia mais ao lado.

— Como assim estratégia de equipe? Nos conhecemos agora, mal sabemos o nome de alguém daqui. Muitos também não conseguem controlar o próprio poder, seria idiotice ataca-lo! – Um jovem de cabelos escuros alongados, e olhos azuis retrucou.

— Esse é o objetivo do treinamento, seu idiota. – Outro garoto disse surgindo na frente de todos nós movimentando-se prestes a atacar Theodore, o jovem é ágil e bastante veloz, desfere um soco na direção do rosto de Theodore que simplesmente desvia.

Porém, na sequência, o rapaz retrocede dois passos erguendo o braço direito na horizontal enquanto apontava para uma imensa rocha que do outro lado do riacho estava. Em questão de segundos a pedra começa a flutuar sendo arremessada com extrema rapidez na direção de Theodore, que acaba sorrindo com a demonstração de poder do jovem.

— Muito boa iniciativa Henrique Reis, mas será que foi o suficiente? - Theodore novamente desvia realizando uma cambalhota para o lado nos mostrando sua incrível agilidade. Realmente ele era muito superior, mas a iniciativa de Henrique surpreendeu a todos nós, desde quando nos apresentamos Henrique era o mais calado e sério, diferente da Clair não era timidez e sim seriedade. A rocha atinge o chão se esvaindo em pedaços, Henrique trinca os dentes esboçando um sorriso logo em seguida.

— Quem disse que isto é tudo que tenho? – O jovem rebateu, fitando Theodore com seu olhar ameaçador e sádico. Henrique aproxima suas duas mãos vagarosamente, sua expressão aparentava concentrar uma grande quantidade de poder, suas mãos então ficam trémulas e com um único movimento, uma rajada energética é lançada em direção a Theodore.

A rajada era muito semelhante as rajadas psicóticas que já tentei controlar, no entanto, Henrique conseguiu reunir muito mais energia e poder destrutivo. Theodore cruza os braços para se poder se proteger, no entanto, o impacto é tão grande que o professor acaba sendo jogado para trás, caindo no chão após receber o ataque.

— Como ele conseguiu fazer isso!? – Ouço a voz de alguém se ecoar, não dei muita atenção para quem era, estava maravilhada com o talento de Henrique. O jovem ainda não tinha terminado, Henrique reconstrói a rocha que antes havia se despedaçado lançando-a na direção de Theodore que ainda não tinha se levantado.

Porém, um incrível jato d’água surge interrompendo a trajetória da pedra. A pressão da água foi tão grande que Henrique nem sequer conseguiu manter a telecinese, fazendo com que a rocha caia mais ao longe. A água controlada por Theodore acaba indo na direção de Henrique, que surpreso com a investida do professor acaba sendo atingido e arrastado para longe.

— Erick! Você me contou sobre seus poderes lá no jato, pode usá-lo ao meu favor? – Thomas perguntou, aproximando-se de Erick enquanto cochichava algo em seu ouvido, provavelmente bolando algum plano.

— Parece que estamos sobrando aqui! – Mattew exclamou, aproximando-se de mim. O garoto sorri enquanto apontava para Erick e Thomas que ainda estavam cochichando. — Podemos traçar uma estratégia também, veja só; possuo a habilidade de diminuir ou controlar minha massa corporal, se você puder usar o seu poder junto ao meu acredito que venceremos.

Mattew me diz confiante, não tive tempo de responder nada quando percebi a investida de Erick, que se posiciona na frente de nós enquanto inspirava e expirava intensamente. O garoto olha para a direção de um feixe luminoso que existia sobre a água do riacho, Erick conduz o reflexo da luz do sol na direção dos olhos de Theodore, um clarão imenso acaba envolvendo nosso professor e quando menos esperávamos, Thomas surge ao lado de Theodore já portando sua armadura metálica desferindo um golpe potente na face do professor.

— Que movimento! – Exclamei, impressionada com a união dos poderes dos dois. O soco de Thomas fora tão forte que acabou lançando Theodore sobre o riacho, não demorou muito e o mesmo logo estava de pé ainda dentro do pequeno riacho que não tinha uma corrente muito forte.

— Ótima combinação, vamos ver como vocês escapam disto. – Ele diz enquanto fechava os dois punhos rosnando para concentrar seu poder. Em questão de segundos praticamente toda a água do riacho estava erguida em pé, por detrás de Theodore.

A cena deixou todos nós impressionados, uma parede de água estava sendo erguida por detrás dele, cobrindo toda a extensão do percurso do riacho que aparentava estar seco. Theodore sorri enquanto retirava uma pequena quantidade de água da enorme parede hídrica e lançava em nossa direção.

Por puro reflexo, Mattew rapidamente diminui sua massa corporal tornando-se do tamanho de uma formiga ou qualquer inseto minúsculo, mas acontece que o garoto não precisava usar tal habilidade, isso porque acabei congelando tal água que foi lançada.

— Então você também é uma mutante com poderes de Hidrocinese. Interessante, vamos ver se você solidifica toda esta quantidade de água que estou reerguendo. – Ele diz irônico, se preparando para lançar toda a água do riacho em minha direção.

— Vamos lá, gosto de desafios. – Brinquei sorrindo, acabo realizando meu movimento primeiro, com minhas duas mãos esticadas e meus braços erguidos, a parede de água por detrás de Theodore começava a endurecer passando do estado líquido para o estado sólido, toda parte do lado direito de Theodore já havia congelado só faltava a outra parte. — Vamos, eu consigo, só mais um pouco... só mais um pouco!

Antes que eu pudesse terminar meu ataque, um forte tremor ocorre misteriosamente no local onde treinávamos. Todos se assustam, incluindo Theodore que já não ameaçava me atacar. O tremor acaba se intensificando, o chão começava a rachar, as árvores tremulavam... algo estava acontecendo.

Theodore completamente desequilibrado acaba soltando a parede de água que vem em nossa direção, Mattew então aumenta dessa vez sua massa corporal servindo como uma barragem gigante que protegia Erick, Thomas e eu da água.

A outra metade da parede que solidifiquei também acaba sendo destruída com o tremor, tornando-se água novamente e despejando-se em cima de Theodore que acaba sendo arrastado pela água e pela grande corrente formada com o tremor.

— Theodore!! O que vamos fazer? – Erick perguntou, se protegendo ao meu lado e atrás de Mattew que já havia separado toda a água do riacho que veio em nossa direção.

— Corram!! – Henrique surgiu assustado por dentre as árvores da pequena floresta que ali existia, ele corre em nossa direção visivelmente aflito. — Fujam, logo!

Ficamos sem entender do que ele corria até que percebemos uma grande quantidade de poder se aproximando. Eram rajadas extremamente fortes de ventos e sopros, a ventania possuía tanto poder que acabava cortando tudo que tocava, derrubando inúmeras árvores pelo seu caminho.

— Se aproximem de mim! – Erick grita, todos nós acabamos o obedecendo. O garoto faz um movimento com as mãos formando um escudo negro envolta de todos nós, era algo obscuro como se fosse nossas próprias sombras.

O sopro cortante passa por nós, mas o escudo resiste muito por causa de Henrique, que com suas habilidades consegue criar um pequeno campo de força telepático contido dentro do escudo de Erick, deixando-o mais poderoso e resistente.

Quando a ventania para, os escudos são desfeitos e todos possuíam olhares assustados. Minha respiração estava ofegante, o tremor e os fortes ventos foram algo repentinos que nos obrigaram a usar nossas técnicas.

— Todos estão bem? – Thomas e eu perguntamos ao mesmo tempo. Em um momento de distração não percebo a vinda de uma outra rajada de vento, que parecia simplesmente aguardar o momento que os escudos fossem desfeitos para vir em nossa direção novamente.

A rajada passa pelo meio do grupo, nos dividindo em duas partes. Erick acabou sendo atingido pela rajada que rapidamente já tinha o formato de um ciclone e o levava para longe na mesma direção que o rio levou Theodore.

— Erick! – Thomas grita, ameaçando correr atrás do jovem. No entanto, por onde passava o ciclone deixava rastros, todas as árvores despencaram e muitas vieram na nossa direção, em um momento de distração dois pedaços inteiros de troncos acabam caindo em cima de mim, deixando-me presa ao solo.