Fallen escrita por Milly Winchester


Capítulo 28
Pertence a você


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, cabritinhos! I'm back!

E nesse capítulo, muitas revelações... Coisinhas serão explicadas e etc... Enfim, leiam, leiam e sejam felizes! Boa leitura >3



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— É claro, Crowley. Quem é que não sente a sua falta?

O rei do inferno esboçou um sorriso maquiavélico. Cruzei os braços, semicerrando os olhos na direção dos dois demônios, que escondiam a vontade de estrangular um ao outro por trás de sorrisos irônicos e carregados de escárnio. Passos ressoaram atrás de mim, e quando virei para trás, percebi que era Sam. O caçador levou uma das mãos até o cabelo sedoso digno de uma propaganda da Pantene — o que eu acabei de dizer? —, e deslizou a mesma por ele em direção à sua nuca, fazendo uma careta de constrangimento.

— O que eu perdi? — ele perguntou.

— Nada de mais. Só esses dois se alfinetando — respondi, dando de ombros.

Sam caminhou até mim, parando ao meu lado. Encarei-o por alguns segundos e fiz cara feia ao me lembrar da estatura quase inacreditável de Samuel. Eu parecia mais uma anã ao lado dele, um legítimo gnomo, e Sam, o Empire State.

Voltei a focar nos dois demônios na minha frente. Os olhos de Abaddon estavam em chamas e ela deixava muito claro o quanto queria nos matar naquele momento. Não me surpreendia, afinal, nós a torturaríamos em troca de respostas e algo me dizia que ela sabia disso. Também não era pra lá de difícil de prever. Foi a vez de Castiel adentrar o aposento e se associar ao grupo. Observei o serafim cambalear com passos exageradamente lentos até mim. Cas coçou os olhos, e não pareceu importar-se com os olhares que caíam sobre ele por conta de sua cara de sono.

— Bom dia.

— É noite, Cas — corrigiu Dean.

Castiel bocejou e deu de ombros, parecendo não se importar com o fato de estar estranhamente perdido na situação. O anjo normalmente estava assim, disperso e distraído —ou seja, não era uma novidade muito grande. A vadia ruiva que estava sentada um pouco à nossa frente soltou uma risada amarga, atraindo nossa atenção até ela. Ela continuou rindo por um bom tempo, provavelmente um minuto, mas que pareceu durar uma eternidade. Franzi o cenho.

— Isso aqui é circo para você estar rindo? Por que se for, a única palhaça aqui é você — ergui as sobrancelhas.

Se Abaddon participasse de um desenho animado, provavelmente fumaça sairia de seus ouvidos agora e seu rosto seria inundado de vermelho — mais vermelho do que a cor de seu batom. Percebi que Sam estremeceu ao meu lado. Sem entender, encarei o seu irmão, que mantinha um sorriso travesso nos lábios. Ele pareceu perceber que eu não havia compreendido.

— Sam tem medo de palhaços — Dean reprimiu a risada.

— Dean... — Sam sussurrou, evidentemente assustado. — Isso não tem graça.

— Sammy Winchester chora quando vai ao McDonalds e vê o Ronald McDonald.

— Eu não vou ao McDonalds!

Ri da pequena discussão entre irmãos sobre lanchonetes de fast food e palhaços, mas fui interrompida por Crowley, que parecia muito frustrado diante do fato que havíamos nos distraído do objetivo principal. Contemplei o rosto vermelho do rei do inferno, elemento que denunciou o quanto ele estava irritado.

— Será que podem deixar o papo para depois? — o demônio revirou os olhos, tentando controlar a si mesmo. — Se não perceberam, temos algumas coisinhas mais importantes para resolver por aqui.

Movi o olhar até Abaddon, que parecia desinteressada. Ergui as sobrancelhas e voltei a encarar o rei do inferno, que mantinha as mãos enterradas em seu sobretudo ônix, cujo tremulava diante de suas canelas. Suspirei e realizei uma trilha desgovernada pelos fios castanhos em minha cabeça com os dedos franzinos, e quando terminei, deixei que os braços despencassem e caíssem ao lado do corpo.

— Ok, mandão. Por onde você quer começar?

Crowley lançou uma olhadela a Abaddon.

— Posso?

Fiz uma careta. Crowley levou isso como um sim. Assisti-o dar um passo a frente e o rei estalou os dedos. Uma adaga de ferro reluzente surgiu em sua mão livre, e deduzi que ela era capaz de matar demônios assim como a faca de Ruby. Com um sorriso de pura chacota enfeitando seus lábios, ele marchou até a ruiva, girando a lâmina entre as mãos. Apenas me mantive atenta à cena, de braços cruzados e sem dizer uma palavra sequer. Abaddon ergueu a cabeça para encará-lo, sem mostrar qualquer sinal de temor. Parecia confiante, e isso não me surpreendia. Crowley não era lá muito aterrorizante e intimidador — apesar de que ele achava que era.

— O que você vai fazer, docinho? Alguns cortes em meu corpo? Por favor... — caçoou ela, evidentemente despreocupada. — Como se isso fosse me machucar de verdade.

— Essa é a questão, darling. Não vai machucar você. Vai forçar você a falar. Até porque... — Crowley levou a ponta da adaga até o braço do demônio em cativeiro, fazendo um corte vertical no mesmo. Abaddon fez uma careta, grunhindo rapidamente. — Você e eu sabemos que você não quer morrer.

— De fato não quero, mas isso não significa que trairei meu senhor.

Semicerrei os olhos. Uma risada amarga escapou dos lábios de Crowley e o rei curvou-se para trás, permitindo-se a gargalhar por duradouros vinte segundos. A ruiva não pareceu apreciar o deboche do rei do inferno.

— Sabe, darling — apelidou ele novamente. — Isso é patético até para você. Onde é que está a líder sanguinolenta que conheci? Que nunca colocaria alguém acima de si mesma? Vejo que ela foi substituída por um demônio patético que coloca Lúcifer, um fracassado que pode ser facilmente derrotado pela princesa voodoo aqui, em um pedestal. Decepcionante.

A mulher rosnou, mostrando os dentes para Crowley e deixando ainda mais claro sua fúria. Isso não pareceu surtir efeito algum no homem. O rei do inferno voltou a girar a adaga entre as mãos, criando um certo suspense, mas não demorou muito para que ele avançasse e movesse a lâmina até Abaddon, fazendo um largo corte horizontal no abdômen da vadia ruiva. Crowley estava se saindo bem, afinal. Talvez pudéssemos tê-lo no time novamente — isso se ele prometesse que não daria mais uma de Maria-vai-com-as-outras e saltasse de volta no time Lúcifer. Por enquanto, ele estava me agradando. Até mesmo senti vontade de vestir um uniforme de líder de torcida com a letra C, sacudir pompons e gritar a plenos pulmões “Me dê um C, me dê um R, me dê um O, me dê um W, me dê um L, me dê um E, me dê um Y! O que forma? Crowley!”.

— E então, docinho? O que quer saber? Antes que pergunte, minha calcinha é vermelha, mas não vá pensando que é por isso que vou me jogar nesses seus bracinhos gordos — Abaddon riu, mesmo com a dor do recente corte que o outro demônio fizera.

— Como se eu realmente me interessasse por uma incompetente como você — Crowley riu amargamente. — Querida, esse corpinho é para poucas. Eu sou muita areia para esse seu caminhãozinho enferrujado.

Abaddon revirou os olhos. Decidi interromper o teatrinho dos dois e dei um passo a frente, descruzando os braços, de modo que eu ficasse bem próxima de ambos os demônios. Curvei-me sobre a cadeira onde a ruiva estava sentada, aproximando meu rosto do dela perigosamente, de modo que pude sentir sua respiração contra minha face e olhar fundo nas fendas negras que foram reveladas no lugar das íris verdes. A cada vez que eu olhava para ela, mais eu a odiava. Crowley não estava errado em ter uma certa aversão à ela.

— Agora você vai explicar o que era aquele acordo que você me proporcionou e de que maldito objeto você está falando.

A ruiva deu risada, claramente alienada e disposta a ignorar o perigo com o qual estava cara a cara.

— A não ser que você queira morrer, é claro — dei de ombros, sorrindo despreocupadamente. — Podemos achar outras alternativas a não ser torturar você até a morte para arrancar respostas à força.

— Sua determinação é inspiradora —ironizou. — E bem, você está certa... Esse rostinho lindo não merece ter um fim tão cedo, e vou apodrecer aqui se eu não disser nada.

“Vai apodrecer de qualquer jeito, vadia”. Era isso que eu queria dizer, mas contive minhas papas na língua e obriguei-as a serem comportadas pelo menos uma vez na vida. Testemunhei a mulher suspirando e erguendo as sobrancelhas, denunciando sua impaciência e o desejo de sair dali logo — não sem antes de transformar-nos em cinzas, é claro. Apesar de não teme-la, eu precisava admitir que a ruiva não era pra lá de inofensiva e era capaz de me surpreender, se quisesse.

— O objeto que eu desejava que você procurasse para mim é a caixa de Pandora.

Franzi o cenho. Já tinha ouvido falar nisso, mas realmente não compreendia o que ela queria dizer com isso. Ergui o tronco, recuando um pouco para cruzar os braços pela milésima vez no mesmo dia. Milhares de pensamentos e possibilidades percorreram minha mente, mas nada foi capaz de descrever ou associar a tal caixa de Pandora a qualquer outra coisa. Levei um susto quando Castiel se aproximou, ficando ao meu lado.

— Viu? O anjo bonitinho conhece a lenda.

— Alguém pode me deixar a par do que está acontecendo, por favor? — ergui uma das mãos, na defensiva.

Abaddon revirou os olhos. Crowley, que estava do meu lado esquerdo, balançou a cabeça e guardou a adaga para demônios dentro do bolso interno de seu sobretudo negro, aparentemente entediado. Pude perceber que ele desejava pular logo para a parte da tortura.

— A caixa de Pandora é um artefato muito raro, inclusive achei que ele havia sido destruído, mas pelo visto... — o rei do inferno suspirou. — Enfim, essa caixa é capaz de manter preso e trancafiado qualquer ser ou entidade, e só pode ser aberta pela própria Pandora ou por descendentes diretos da luz ou das trevas, no caso, você e Lúcifer.

Ouvi suas palavras com atenção e parei para digeri-las. Informação demais. Ignorando o nó que formou-se entre meus neurônios, retornei a encarar a ruiva em cativeiro, que parecia verdadeiramente entediada — ainda mais do que Crowley. Franzi o cenho novamente.

— Para que diabos você queria isso?

Abaddon gargalhou, e quando terminou, piscou, revelando seus verdadeiros olhos — as mesmas fendas negras vistas há alguns minutos, transbordando o mais puro ódio e desdém. Não vacilei ou a temi, encarei-a mesmo que seus verdadeiros olhos fossem um tanto amedrontadores.

— Para prender você, lindinha.

— O quê?! — vociferei.

O demônio em minha frente fez uma careta, provavelmente pelo fato de que minha voz ecoou pelo aposento de maneira tão alta que poderia ser comparada ao barulho de um trovão em uma noite de tempestade. Eu estava mais do que indignada. Só com a raiva que me consumia naquele momento, eu poderia saltar no pescoço daquela mulher e estrangulá-la ali mesmo, sem dó nem piedade, mas tentei considerar de que isso não era muito esperto, principalmente na situação onde eu me encontrava. Eu estava perdida, sem respostas, e neste caso, infelizmente, a vadia sardônica diante de meus olhos era a única capaz de me arranjar estas respostas.

— O quê? Isso não é uma surpresa para você, é?

— Que seja — estreitei o olhar e me virei para o rei do inferno. — Crowley, você disse que a caixa pode manter qualquer um preso... Poderia prender Lúcifer?

Crowley assentiu, alternando o olhar entre mim e Abaddon. A risada amarga da mulher ecoou novamente, o que me fez querer enforcá-la em dobro. Cerrei os punhos e o maxilar, completamente irritada com a capacidade que ela tinha de ser insuportavelmente insuportável e debochada. E não tratava-se de um deboche passivo ou sem segundas intenções — era um deboche constante. Ela estava sempre caçoando de tudo. Só Deus — que irônico — sabia o quanto eu queria estrangulá-la por ser tão mesquinha.

— Nossa, você é esperançosa mesmo, não? — ela elevou um dos supercílios, um ato certamente carregado de ironia. — Bem, eu respondo a sua pergunta... Sim, a caixa pode prendê-lo, mas primeiro, você tem que pegá-lo. É um detalhe importante e no seu caso, um pouquinho impossível, visto que na maioria das vezes você acaba se tornando a verdadeira refém. Vê, lindinha, o seu fracasso é inevitável.

— Diga isso quando você evaporar novamente assim que eu trancar o bastardo naquela caixa — dei as costas para ela, de braços cruzados.

Dean caminhou até mim e pousou a mão pesada em meu ombro.

— Ei, tigresa, calminha. Eu sei que a vadia é irritante, mas nós precisamos saber de tudo. Todos os detalhes. Guarde o seu lado feroz para a noite, hun? — ele abriu um sorriso malicioso.

Encarei-o por alguns segundos, sem entender. Do que diabos ele estava falando? Juntei as sobrancelhas. Dean percebeu que eu estava literalmente por fora do assunto e sacudiu a cabeça, com menção de que eu esquecesse.

— Deus, você é tão ingênua.

— Eu não entendi mesmo! — protestei enquanto ele puxava meu braço para voltarmos a conversar com Abaddon.

— Não se preocupe — Dean disse novamente em um tom malicioso. — Eu mostro quando a hora chegar.

Dei de ombros e voltei para a frente da ruiva. Crowley estendeu-me a adaga para demônios e eu a aceitei com o maior prazer, trazendo-a até minhas mãos. Girei a mesma entre os dedos, criando um suspense e uma tensão quase que tangível. Abaddon fitava-me com os olhos incendiados de raiva. Eu tinha que admitir que até gostava de vê-la irritada, derrotada. Se tornava hilário em função do ódio que eu nutria por ela e vice-versa. Não me contive em esperar mais e em um gesto veloz, movi a ponta da adaga até a barriga da ruiva, pressionando-a com força no local a ponto de fazer um pequeno furo. Abaddon grunhiu, e eu aproximei meu rosto do dela de maneira bastante perigosa se ela não estivesse com aquelas algemas.

— Onde está a caixa?

Abaddon gargalhou, ignorando a dor por alguns segundos.

— Procure no Google — ela sibilou com escárnio.

Pressionei mais a faca contra o seu baço e ela urrou alto, de modo que o som de sua agonia ecoasse por aquele aposento do bunker. Torturar alguém nunca havia sido tão divertido. O demônio rosnou, mostrando os dentes tão brancos quanto porcelana.

— Tá! — esbravejou. — Eu não sei! Eu não sei! Mas eu posso descobrir!

Semicerrei os olhos. Desconfiada, demorei para me afastar, mas logo, desencostei a ponta da faca da barriga da ruiva e recuei um pouco. Me apressei em guardar a faca na bainha do meu cinto e cruzei os braços. Com uma das mãos, fiz um gesto para que a ruiva continuasse falando. Abaddon revirou os olhos e em seguida, suspirou, tomando fôlego para começar:

— Tem um feitiço que aprendi com uma antiga bruxa. Rowena.

— Deus... — murmurou Crowley.

Franzi o cenho.

— O que foi?

— Nada... É só que... — o rei do inferno sacudiu a cabeça. — Esqueça, princesa.

— Anda logo, Crowley. Eu não tenho o dia todo.

Fuzilei o homem com o olhar, que deu de ombros e enfiou as mãos no bolso do sobretudo negro, parecendo não se importar. Não vacilei e continuei o encarando, aguardando que ele justificasse sua reação. Não demorou muito para que ele percebesse que eu estava o cobrando e eu assisti-o revirar os olhos, sem paciência.

— Rowena é a minha mãe.

Abri a boca. Abaddon deu risada.

— Sério? Então você era o tal Fergus que andava sem as calças? — caçoou ela. — Meu Deus, como uma mulher ótima como aquela pode dar à luz a um verme como você?

— Cale a boca — ordenei, apontando o indicador na frente de seu rosto. — Você não está no direito de falar nada agora. Lembre-se que eu estou no comando por aqui. Tenho uma arma que pode facilmente machucar você e não tenho medo de usá-la.

A ruiva fez uma careta.

— Machucar somente, até porque ambas sabemos que você, lindinha, não tem a mínima ideia de como me matar. Eu não sou um simples demônio de baixo escalão.

— Eu não diria isso — devolvi com outra careta. — Ainda não sei o que os meus poderes conseguem fazer no nível mais alto, portanto... — fiz um gesto para que ela ficasse quieta. — Shhh.

Ela respondeu revirando os olhos.

— Que seja. Há alguns séculos, Rowena me ensinou esse feitiço para que eu localizasse uma arma. Antes que perguntem que arma era, não é importante. Enfim, esse feitiço requer uma canalização de energia. Na época, eu consegui canalizá-la junto dos meus irmãos, mas é necessário uma horda de demônios ou anjos. Vocês nunca conseguiriam isso.

— Me subestimando novamente? — uni as sobrancelhas.

— Ah... — Abaddon ponderou, como se pensasse por um instante. Ela mantinha o olhar perdido em áreas desconexas do local. — É, lindinha. Se você se esforçar, acho que você consegue energia o suficiente. Mas bem, você não está lidando com o Bicho Papão, e sim, com alguém muito pior do que ele. O líder supremo. A escuridão, agora em carne e osso. O seu trágico destino.

— Sua adoração me faz querer vomitar — interferiu Castiel.

Encarei-o por alguns instantes. O serafim estava sério, impassível. As palavras ditas por ele até se tornaram engraçadas, pois o anjo estava sério demais. Dei de ombros e me virei novamente para Abaddon, que mostrava a língua para Castiel de maneira infantil. Quando ela percebeu que eu estava a observando, ela colocou a língua para dentro, retomando sua pose tradicional que ostentava uma falsa superioridade — afinal, alguém verdadeiramente superior não tolera ser sequestrado, amarrado e torturado por respostas.

— Ok, você vai nos dizer quais são os ingredientes desse feitiço.

— Por que eu faria isso? — ela ergueu uma sobrancelha.

Abri a boca para repetir a ameaça de mais cedo, mas Abaddon me interrompeu:

— Olha, Elizabeth, eu sei que vocês não vão me soltar. Eu sou uma ameaça. Mais um peão no time do Lúcifer, e mais um obstáculo para vocês ultrapassarem. Eu nem sei porque contei tudo isso, na verdade. De nada adiantará para mim. Só me restam essas duas opções, de qualquer forma: apodrecer aqui ou morrer. Tanto faz.

Semicerrei os olhos. Eu tinha que admitir — ela tinha razão. Nossas opções se esgotaram no momento em que ela foi capaz de raciocinar sobre isso. Não íamos soltá-la, é claro que não, mas precisávamos da caixa para trancar Lúcifer. Ela era nossa única esperança, nossa salvação, e agora que sabíamos da existência dela, precisávamos encontrá-la. Infelizmente, a única que estava por perto e que sabia como era Abaddon, e ela se negava a nos proporcionar informações sobre o tal feitiço. Procurei pensar em alguma alternativa, mas todas as milhares delas que se passavam por minha cabeça me pareciam inúteis.

Até eu me lembrar do que Lúcifer disse.

— Eu sinto muito estragar sua relação linda e saudável com o diabo, mas não sei se você está a par de tudo. Lúcifer não se importa com você.

A ruiva sorriu.

— Quem disse?

— Ora, vocês demônios não são capazes de saber quando alguém está mentindo ou os enganando? — me inclinei na direção do demônio, aproximando nossas faces. — Olhe nos meus olhos e me diga se estou mentindo.

Os lumes verdes de Abaddon me fitaram friamente, um olhar tão gélido que poderia ser capaz de me transformar em pedra. Me mantive firme, impassível, obstinada e inabalável. A conexão entre nós duas era eletrizante, e se alguém visse de perto, poderia observar faíscas acendendo e acercando-nos. Era como uma luta mental — os olhos da ruiva pareciam muito capazes de lerem minha alma tão facilmente quanto ler um livro de fábulas, e eu precisava confessar que isso me deixava levemente incomodada. De qualquer forma, era necessário. Eu precisava provar a ela que eu não estava mentindo — e eu de fato não estava.

Abaddon desviou o olhar, com uma carranca no rosto pelo fato de ter sido convencida.

— Eu não me importo — discordou, despreocupada. — Continuo ao seu lado.

— É isso que eu chamo de ser trouxa — revirei os olhos. — E se eu disser que podemos soltar você assim que colocarmos as mãos na caixa de Pandora?

— O quê?! — vociferou Dean.

Girei nos calcanhares para possibilitar minha visão dele. Assisti o Winchester caminhar até mim, os olhos arregalados e o cenho franzido. O caçador alternou o olhar entre mim e a ruiva algemada.

— Isso não é possível, Beth. E nem inteligente.

— Dean, eu sei o que eu estou fazendo — tranquilizei, mas não pareceu ser eficiente.

— Não, você não sabe — ele apontou para Abaddon. — Ela é perigosa. Uma pedra no nosso caminho. Mais um problema a ser resolvido. Mantê-la aqui é a melhor escolha a se fazer. Podemos achar outro jeito de localizar a caixa sem a ajuda dela.

Sam e Castiel se aproximaram, interferindo na conversa.

— Dean, ela está certa — concordou Castiel. — Eu conheço a história de Pandora. Ela é muito sigilosa. Na última vez em que sua caixa foi usada, ela foi sequestrada, mas fugiu e conseguiu pegar a caixa de volta, esvaziando-a. Desde então, ninguém nunca a viu. Ela está escondida em um lugar muito, muito oculto e discreto. Rowena é uma bruxa poderosa, e se não estou enganado, ela é realmente a única que sabe como encontrar Pandora. Contudo, como não estamos com muito tempo de sobra, precisamos da Abaddon. Precisamos das informações que ela tem, e quando tivermos a caixa, podemos resolver tudo. Ela vai morrer no final, de qualquer forma. Todos os demônios que Lúcifer trouxe de volta em sua ascensão retornarão ao inferno assim que ele for trancafiado na caixa.

— É, Dean — Sam também cedeu, lançando um olhar brevemente repreendedor ao irmão. — Beth tem razão.

O Winchester mais velho encarou-nos, parecendo não querer acreditar no que estava diante de seus olhos e ouvidos. Após um tempo tentando processar, ele balançou a cabeça e emitiu um suspiro pesado, rendendo-se. Castiel e Sam recuaram. Delicadamente, eu peguei a mão de Dean, entrelaçando meus dedos com os seus. Observei-o retribuir e levei nossas mãos até meus lábios. Depositei um breve e suave beijo nos nós de seus dedos, em uma tentativa de acalmá-lo.

— Vai dar tudo certo.

Ele balançou a cabeça e eu soltei sua mão.

Retornei ao encontro de Abaddon, que parecia muito entediada diante de nossa pequena discussão. A ruiva bocejou, evidentemente desinteressada.

— E então, o que você acha? — cruzei os braços.

— Ok, permita que eu me situe — a ruiva tombou a cabeça levemente para o lado. — Eu lhes digo como realizar o feitiço de localização e quando vocês pegarem a caixa, eu estou livre?

Assenti. O demônio fez uma careta.

— Tá. Que seja. Mas só digo uma coisa... Necessita de almas. Muitas almas. E tempo. O feitiço não funcionará de uma hora para outra, mas bem... Vocês saberão quando ele estará pronto.

Ela suspirou.

— Vocês vão precisar de...

{...}

— Essa quantidade de almas? Do jeito que o inferno está, vocês realmente acham que eu tenho toda essa quantidade? — esbravejou Crowley.

Contemplei o rosto rechonchudo do rei do inferno inundar-se de vermelho, como normalmente acontecia quando ele se irritava. Revirei os olhos, impaciente diante da impaciência do demônio. Apoiei o quadril na mesa de carvalho e cruzei os braços, descansando as palmas sobre a pele desnuda.

— Se você não tem acesso a isso, como diabos vamos conseguir essa quantidade de almas?

Levei o olhar até Sam, Dean e Castiel, que estavam sentados e sustentavam semblantes aflitos e pensativos nos poros faciais. Ao concluir que estávamos absolutamente perdidos, permiti que um suspiro carregado de decepção abandonasse meus lábios, produzindo um eco quase que inaudível pela biblioteca do bunker. Deixei que meu olhar se perdesse nas estantes de livros que subiam ao meu redor e desloquei a mão até o peito pelo susto que levei quando Dean levantou da cadeira bruscamente.

— Eu tenho uma ideia.

— E precisa quase me matar do coração para isso? — perguntei, esbaforida.

— Foi mal — ele deu um sorriso constrangido, mas não tardou a voltar a ficar sério. — Almas. Que tipo de criatura tem almas em abundância? Que põe as mãos nelas todos os dias?

Dean encarou Sam e Castiel, esperando que eles adivinhassem. Para a minha surpresa, Sam pareceu captar o recado, pois balançou a cabeça enquanto mantinha o olhar em um ponto distante qualquer. Logo depois, moveu os olhos até o irmão.

— Ceifadores.

— Ah, Deus, por favor, não — Crowley resmungou. — Eles são tão... Chatos.

— Você quer o seu trono de volta ou não? — ironizei, elevando um supercílio.

O rei do inferno me encarou com uma carranca presa no rosto, e mesmo a contragosto, abaixou a cabeça com menção de que concordava com a ideia, obviamente sem outras opções. Retornei a olhar para Dean.

— Você conhece algum ceifador que nos ajudaria? — questionei.

Dean fez uma careta e abriu a boca para falar algo, mas Castiel levantou da cadeira com violência, causando um breve estrondo. Seu sobretudo até ficou amarrotado por conta do gesto brusco. Reprimi a risada, pois ele parecia sério.

— Eu conheço uma — disse o anjo. — Seu nome é Tina. Ela ceifa há milênios. Ceifou a alma daquele cara... Eu não lembro o nome dele. Michael Jordan?

— O Michael Jordan está vivo, Cas — Sam corrigiu, também parecendo segurar a risada. — Você quer dizer Michael Jackson?

— É. Eu não faço ideia de quem é ele, mas da última vez que vi Tina há alguns anos ela estava histérica por conta disso.

— Então ele realmente está morto — observou Dean, pensativo. — Eu tinha minhas dúvidas...

Revirei os olhos.

— Ok. Será que você consegue chamar essa sua amiga aqui?

— Talvez, mas...

Castiel parou de falar e contorceu-se para a frente, espalmando os dedos sobre o abdômen. Assustada, tentei me aproximar, mas o anjo moveu as mãos até a cabeça, apertando-a, e caiu de joelhos no chão, como se uma dor de cabeça de outro mundo o assolasse de repente. O serafim urrou de dor, agoniado, e eu permiti a mim mesma que fosse até ele. Me ajoelhei ao seu lado e segurei seus braços, preocupada.

— Cas? Cas, o que aconteceu? Calma! Cas!

Ele não respondia. Empurrei seus braços e segurei seu rosto, forçando-o a olhar para mim. , Ele segurou meus pulsos com força, tentando me afastar.

— Cas! — bradei, tentando atingi-lo.

O anjo piscou, absurdamente atordoado. Suas órbitas focaram em mim e o aperto ao redor de meus pulsos aliviou. Castiel afastou as mãos deles devagar, denunciando que havia retomado a consciência. Soltei seu rosto na mesma velocidade, sem parar de olhar para ele. A confusão estava estampada em seus lumes e escrita em sua testa. Atônito, ele olhou ao redor, como se tentasse se recordar de onde estava. Assim que pareceu conseguir, eu o ajudei a levantar do chão, e ambos nos reerguemos. Sam, Dean e Crowley nos observavam tão confusos quanto Castiel. Toquei o ombro do serafim, apreensiva.

— O que aconteceu?

— Muitas vozes na rádio angelical ao mesmo tempo. Há uma... Concentração de anjos. Confusos. Milhares de perguntas invadiram a minha cabeça ao mesmo tempo. Eu sei de onde os murmúrios estão vindo. Preciso ir até lá.

Castiel deu um passo a frente para provavelmente desaparecer de nossa vista, mas eu segurei seu antebraço, impedindo-o. Lentamente, o anjo moveu seu olhar até mim, sem entender o meu gesto.

— Você não vai sozinho. Eu vou com você.

— Beth... — ele tentou argumentar, mas eu logo o cortei.

— Não. Eles precisam entender. Precisam que tudo esteja esclarecido, e você precisa de mim para isso.

Cas juntou as sobrancelhas, aparentemente temeroso. Notei a aproximação de Sam e Dean.

— Nós também vamos. Não vamos, Sammy? — disse Dean.

— É. Todos vamos.

Ouvi um resmungo e me virei na direção dele. Crowley sustentava uma carranca no rosto.

— E eu?

— Você fica — ordenou Dean, decidido. — Divirta-se.

O rei do inferno revirou os olhos. Diante das inúmeras demonstrações do mau humor infinito de Crowley, eu era capaz de facilmente concluir que ele era um demônio muito, mas muito impaciente e esquentadinho. Eu nem sequer precisava passar muito tempo com ele para deduzir isso.

Castiel pediu que nos aproximássemos para que ele pudesse nos levar até o lugar. Toquei o seu braço com delicadeza e ao mesmo tempo firmeza, e em um breve piscar de olhos, o cenário foi alterado, transportando-nos para uma estrada.

Com os olhos semicerrados, dei um passo à frente, sentindo a sola da minha bota pousar sobre um solo arenoso e pequenos pedregulhos. Um cheiro inusitado e irreconhecível invadia minhas narinas, e estendido diante dos meus olhos, um celeiro tingido de vermelho se escondia, acobertado pela escuridão predominante no local. Girei a cabeça para encarar Castiel. Ele mantinha as sobrancelhas juntas, também sem entender. Lancei olhadelas a Sam e Dean, que pareciam tão confusos quanto eu e o anjo. Todos concordamos silenciosamente em invadir o celeiro de maneira sorrateira — mesmo que essa decisão não fosse pra lá de esperta.

Marchamos discretamente até a porta do celeiro — que a propósito, estava entreaberta — tentando não produzir nenhum ruído estridente. Esgueirei a visão pela fresta, que me permitia ver uma pequena parte do interior. Meus olhos foram capazes de alcançar uma porção de pessoas — provavelmente, os anjos que Castiel citara. Todos sustentavam semblantes desesperados e confusos, fáceis de se desvendar. Virei-me para os meninos, focando em Castiel, que acenou com a cabeça devagar para que eu entrasse.

Orando para que nenhum dos anjos simplesmente surtasse e pulasse no meu pescoço, empurrei a porta do celeiro lentamente. O ranger ressoou por meus ouvidos, e logo, a extensa tábua de madeira moveu-se diagonalmente, abrindo espaço e dando-me acesso a uma visão mais ampla da pequena multidão diante de mim.

Um dos anjos deu um passo a frente, parecendo levemente mais confiante do que os outros. Seus cabelos eram dourados e levemente bagunçadas e suas íris eram adornadas por um azul cerúleo, a não ser é claro, a barba rala que cobria parte de seu rosto.

— Winchesters. Castiel, o anjo adorável que me matou — o homem sorriu e olhou para mim. — E você... Vejamos... Eu não a reconheço, sweetheart. Algum de vocês poderia me deixar a par da situação?

Outro anjo esbarrou nos outros e se pôs na frente, ao lado do anjo louro. O anjo desta vez era uma mulher, ruiva, e parecia confusa. Ela pareceu surpresa ao encarar algo atrás de mim. Virei-me para trás, e vi que Dean também a encarava constantemente. Uma breve onda de algo que não pude identificar percorreu meu corpo observar o olhar mútuo dos dois. Algo como um desagradável choque.

— Dean...

— Anna — o caçador deu um passo à frente.

Semicerrei os olhos.

— Como...

— Acho que Ele nos deu uma segunda chance — explicou-se com uma certa tristeza na voz, mas logo, tornou a ficar séria. — O que está acontecendo? Por que estamos aqui?

O Winchester mais velho suspirou. Cruzei os braços.

— Um resumo de tudo? — Dean ergueu as sobrancelhas. — Lúcifer está de volta. Deus deu uma segunda chance a todos vocês, assim como Lúcifer a alguns demônios, e o bastardo está prestes a trazer o maldito Armageddon de volta. Elizabeth aqui é a filha de Deus, é portadora de algumas habilidades poderosas e é a única capaz de derrotá-lo.

— Filha de Deus? Isso é impressionante — o anjo louro de algum tempo atrás se aproximou, estendendo-me a mão. — Muito prazer. Balthazar, às suas ordens, sweetheart.

Mesmo que levemente desconfiada e relutante, encarei sua mão que pairava no ar e me rendi, segurando-a e sacudindo-a brevemente. Tornei a encarar Anna, o anjo que me deixava incomodada.

— Apocalipse? De novo?

— É — confirmou Sam, brevemente cabisbaixo.

A ruiva ponderou e olhou para baixo, parecendo levemente perdida. Assisti-a virar-se para a multidão de anjos atrás dela e cruzar os braços. Os anjos a encaravam sem entender o que ela pretendia dizer, e nem mesmo eu sabia. Estava temerosa quanto ao seu futuro discurso. Castiel era o único anjo confiável que eu conhecia, e não sabia se poderia confiar nessa tal Anna — ainda mais quando ela conseguia me deixar bem incomodada.

— Irmãos, nós deveríamos nos juntar a eles.

Silêncio. Ninguém se pronunciou. Anna suspirou.

— Essa é a nossa segunda chance. E se estamos aqui, é por um propósito: ajudar na batalha contra Lúcifer. Ele está de volta e quer destruir tudo que o nosso Pai criou.

— Isso tudo quando o nosso Pai dá atenção a ela, mas não a nós — um anjo apontou para mim.

Juntei as sobrancelhas e dei um passo a frente, sentindo a indignação percorrer meu corpo como uma carga elétrica. Cruzei os braços.

— Escuta, Ele não me dá atenção. E nunca deu. Tudo que ele fez foi jogar o mundo nas minhas costas como fosse um saco de batata furado que precisa ser vedado e eu sou a única capaz de fazer isso. Essa missão inteira está sobre mim. As profecias, todas elas dizem que eu sou a escolhida. E você ainda tem a audácia de insinuar que eu sou privilegiada? — vociferei, feroz. — Sou perseguida por anjos, demônios e diversas outras criaturas. Tenho poderes que tentam frequentemente se voltar contra mim e me consumir. Eu sou aquela que carregarei o fardo se tudo falhar. Deus nem sequer se importou em falar comigo, em todas as vezes que rezei para ele. Vocês são criações. Eu sou filha dele. Nem a filha dele ele é capaz de contatar, de dar atenção. Eu não sou privilegiada, ok? Eu não sou!

O anjo que me contrariou me encarou por alguns segundos, com um certo constrangimento brilhando nas lumes castanhas. Ele não tardou a abaixar a cabeça e tornar a ficar em silêncio. Recuei devagar.

— Nós precisamos ajudar. Vamos todos morrer depois disso. Nós sabemos. Só estamos aqui pela luta. Então por que não lutarmos? Por que não orgulharmos Ele? — Anna questionou a todos.

— Ele está nos usando como soldados — outro anjo interferiu.

— Não, ele não está. Ele não está forçando ninguém a entrar na luta. Eu é que estou. Eu é que quero os convencer de derrotar o bastardo que deseja matar e aniquilar milhares de famílias e de pessoas inocentes. Vocês querem isso? Ver tudo desabar diante de seus olhos, inclusive vocês mesmos?

O silêncio retornou. Os anjos mantinham as cabeças abaixadas, aparentemente refletindo. Anna não era tão desagradável assim, afinal. Ergui as sobrancelhas. Anna virou-se, olhando para algo ao meu lado, e logo percebi de quem se tratava. A ruiva caminhou até Dean e tocou seu peito com a palma da mão, aproximando seu rosto do dele.

— Nós vamos ajuda-los — ela disse, em um tom levemente sedutor e alto o suficiente para que os outros anjos ouvissem.

Naquele momento, retirei o que eu dissera exatamente. Anna era muito, mas muito desagradável. Semicerrei os olhos.

Anna se afastou de Dean e voltou a ficar de costas para mim, Sam, Cas e Dean, olhando para a multidão de anjos.

— E então? Estão comigo?

Todos assentiram em uníssono.

Não tardou para que todos os anjos abandonassem o lugar. Alguns foram embora, outros desejaram vagar por aquela estrada, e eu fiquei ali, parada. Dean parecia pensativo. Anna estava no centro do celeiro, pisando em alguns amontoados de feno despreocupadamente e parecendo estar tão pensativa quanto Dean. Vi Castiel com Balthazar no lado de fora e fui até lá, já que de nada me adiantava ficar dentro do celeiro.

— Oh, olá, sweetheart — Balthazar cumprimentou quando me aproximei. — Eu só estava perguntando ao seu amigo por que ele me matou.

— Você matou ele? — olhei para Castiel, de cenho franzido.

— Longa história... — Cas desconversou, parecendo arrependido.

O anjo abaixou a cabeça e Balthazar tocou o ombro dele. Um minúsculo e reconfortante sorriso enfeitava os lábios do anjo de cabelos dourados.

— Ah, não se preocupe, irmão — tranquilizou. — Isso é passado. Agora estou aqui para chutar a bunda do Lúcifer e nada mais.

Sorri. Balthazar tirou a mão do ombro de Cas e olhou para mim.

— Então, você é bem inusitada, huh? Poderes? — ergueu uma sobrancelha.

— É. Eu demonstraria, mas bem, acho que ninguém aqui merece morrer...

— Por isso é que eu não duvidei. Vai saber se você é boa, não? — ele sorriu. — Eu vou indo, pessoal. Vejo vocês em breve. Passar bem.

Balthazar desapareceu no ar, deixando apenas um farfalhar de asas que ecoou pelo ambiente silencioso. Castiel parecia apreensivo. Pousei uma das mão sobre seu ombro, como maneira de reconforta-lo, e consegui atrair sua atenção. As órbitas cerúleas do anjo pareciam levemente aflitas.

— Ei, está tudo bem?

— Sim, é só... — o serafim balançou a cabeça. — Só estou preocupado com o rumo disso.

— O rumo de quê?

Castiel balançou a cabeça.

— Nada. Eu só estou cansado — ele passou a mão pelo rosto. — Você deveria chamar o Dean para irmos. Está ficando tarde.

Olhei para Sam, que esperava por nós um pouco longe do celeiro. Movi o olhar até a estrutura e só então percebi que Dean e Anna ainda estavam lá. Avisei a Cas que o chamaria e caminhei até lá, levemente desconfiada, mas ao mesmo tempo orando para que não me decepcionasse com o que me esperava por lá.

Empurrei a porta do celeiro, com o nome de Dean na ponta da língua, e me deparei com a pior cena que eu poderia ver.

Lá estavam os dois, se beijando. Bem debaixo do meu nariz.

Um sentimento horrível se apossou de mim. Não fui capaz de dizer nada. Dei as costas — e pude jurar que vi Dean a empurrando, mas preferi não acreditar — e marchei para fora do celeiro. Eu sentia meu coração doer. Sentia tudo doer. Com a dor, mal percebia que lágrimas pesadas e lentas desciam por meu rosto rapidamente, lágrimas intermináveis. Eu me mantive encolhida, as mãos afagando os braços, como se estivesse com frio, mas provavelmente era só uma maneira de consolar a mim mesma. Eu só não acreditava que Dean era capaz de algo como isso.

No dia anterior, ele havia dito que me amava. Como diabos ele teve a coragem de fazer isso?

Quando eu estava longe o suficiente do celeiro, podia ouvi-lo me chamando, bem próximo de mim. Seus passos pesados e apressados também eram audíveis. Aquilo estava me torturando. Parei e girei nos calcanhares, permitindo-o ver o estado do meu rosto.

— Como você tem coragem? — perguntei, sentindo mais lágrimas encharcarem minhas bochechas.

— Beth, eu juro que posso explicar...

Um sorriso amargo enfeitou meu rosto.

— Explicar? Você não tem nada a explicar, Dean.

— Sim, eu tenho — ele insistiu, se aproximando mais e segurando meu braço.

Tentei revidar, mas não consegui. Ele me segurava com toda a força. Me rendi, permitindo que ele falasse.

— Eu e Anna tivemos algo. Mas isso há cinco anos atrás. Eu nunca senti nada por ela, na verdade, foi só... Uma paixonite. Mas ela parecia gostar muito de mim. E agora que ela voltou, acho que não conseguiu se conter. Ela me beijou. Quando você saiu, eu a empurrei e disse a ela para nunca mais fazer isso. Beth, ela não mudará nada entre nós. Eu prometo.

— Eu quero acreditar nisso... — sequei o rosto com as costas da mão, a voz manhosa. — Eu quero muito, mas eu não sei se consigo.

— Não acredita nas minhas palavras? — o caçador balançou a cabeça. — Tudo bem. Então acredite nisso.

Em um gesto rápido, Dean segurou meu rosto entre as duas mãos e excluiu qualquer espaço entre nós dois, selando o momento com um beijo apaixonado e urgente. Seus lábios movimentaram-se junto dos meus com fervor, paixão. Uma onda de tranquilidade percorreu o meu corpo enquanto nós nos entregávamos um ao outro. Suas mãos deslizaram até minha cintura e as minhas até, seu pescoço. Toquei a sua nuca com os dedos, puxando-o para mais perto. Toda a dor se esvaiu. Eu o amava. Eu o amava muito.

Nos separamos devagar, mas ele não afastou as mãos que descansavam em meu quadril.

— Beth, o meu coração pertence a você. O meu amor pertence a você. Somente a você — ele murmurou e eu sorri. — Nada vai mudar isso. Eu te amo.

Dei risada, e antes de beijá-lo mais uma vez, eu disse:

— Eu também, idiota.

{...}

Elizabeth foi ao chão, o corpo caindo com um baque surdo na terra molhada. O homem louro que tinha o corpo da garota aos pés sorriu e desejou:

— Boa noite, Elizabeth.

E então, pousou o sapato sobre o pescoço da garota, pressionando-o e fazendo com que o mesmo estalasse, quebrando-o.

Ela estava morta.

Me levantando bruscamente, senti um grito agudo, interminável e involuntário fugir da garganta, ecoando pelo quarto inteiro. Uma camada pegajosa de suor cobria meu rosto. Ofeguei.

 

Eu havia sonhado com a minha morte.


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Notas finais do capítulo

E então? Esclareceram algumas dúvidas? Se tiverem perguntas, podem deixar nos comentários...

A crise de ciúmes da Beth kkkkk Maluca.

Espero que tenham gostado e não esqueçam dos comentários, por obséquio!

Beijocas.

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