Fallen escrita por Milly Winchester


Capítulo 20
Anjo em apuros


Notas iniciais do capítulo

Saudações, cabritinhos do meu heart!

Sim, eu voltei bem rapidinho pra trazer esse capítulo kkk não aguentei ficar muito tempo sem vocês e se eu demorasse, a Vicki (minha marida que está lendo isso agora mesmo) ia rasgar a minha orelha ou pior, e eu realmente não estava afim de sair por aí com uma orelha rasgada e.e

Então é isso. Não vou ficar enrolando muito e vamos dar espaço para esse capítulo emblemático! Rsrs.

Boa leitura o/



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 Dias depois do incidente, eu ainda estava fraca por causa daquele djinn maldito que me envenenara. Tive diversos pesadelos envolvendo a realidade na qual ele me colocou, e infelizmente, todas elas incluíam o meu pai. Quanto aos Winchester, quando voltamos ao bunker, acabei por pedir espaço a eles. Eu estava abalada demais para contar a eles todo o ocorrido, abalada demais para relembrar tudo o que vivi durante aquele período de tempo. Eu só conseguia pensar no quanto eu desejava ter ficado lá, com o meu pai, Castiel, Leonel e Hannah, vivendo feliz, sem ter que se preocupar com Lúcifer ou outros assuntos que colocassem a minha vida em risco. Entretanto, a vida nem sempre é como desejamos, e por isso, passei a chorar silenciosamente todas as noites. Eu esperava até o momento certo, cujo era caracterizado pela ausência de qualquer ruído. Me escondia debaixo dos cobertores e chorava por até uma hora sem parar. Isso era totalmente covarde da minha parte, mas eu simplesmente não conseguia conter a dor que me consumia por dentro. Sem falar, é claro, em Castiel. Não o encontrávamos em um lugar nenhum, era como se ele tivesse simplesmente evaporado, e isso me deixava extremamente preocupada.

Deixando os meus devaneios de lado, desci as escadas lentamente e com certa dificuldade, já que a tontura era persistente desde o ataque daquela coisa azul. Sam e Dean insistiam em saber do ocorrido e eu estava cogitando contar a eles, afinal, eles não me deixariam em paz se eu não contasse logo a eles. Eu também tinha que admitir que eu estava sendo um pouco rígida demais, pois dias haviam se passado e quanto mais eu me recusasse a me abrir, menos focada eu ficaria na busca por um meio de encontrar Castiel, atrasando o seu resgate e tendo a chance de resultar em eventos um tanto quanto catastróficos. 

Marchei até o centro da biblioteca, me deparando com ambos os irmãos Winchester concentrados em alguma coisa no computador de Samuel. Crispei os lábios e franzi o cenho, levemente confusa com a cena. Aquela era a primeira vez que eu demonstrava reação a qualquer ação deles desde o dia em que aquele maldito djinn me envenenou, o que aparentemente havia causado uma surpresa neles, que me fitavam. Os olhares questionadores dos dois caíram sobre mim como um véu pressionador e tentei ignorar isto, me deslocando até a cozinha.

Enquanto eu aprontava um café, programei mentalmente algumas possíveis maneiras de contar a Sam e Dean o ocorrido durante o feitiço do djinn. Era evidente que eles me fariam uma enxurrada de perguntas — um interrogatório, para ser mais precisa —, e não importava o quão cansada e abalada eu estivesse, eles ignorariam. Apesar de todo o drama, eu compreendia que essa necessidade de saber de todos os detalhes era para o meu bem, pois eles estavam preocupados comigo, disso eu estava ciente. Portanto, decidi dar a eles uma chance. Apanhei a caneca quente preenchida pelo café e voltei à biblioteca. Ao contrário do que eu fiz nos últimos dias — subir para o segundo andar sem nem mesmo olhar para Sam e Dean —, me associei aos dois, sentando-me próxima à mesa cuja eles acercavam. Logo, novamente fui o alvo do olhar dos irmãos.

— Hm... Precisa de alguma coisa? — perguntou Sam, estreitando os olhos até mim.

Ergui as sobrancelhas e comprimi os lábios, deixando a caneca sobre a mesa.

— Eu decidi que vou contar a vocês o que aconteceu no sonho em que o djinn me prendeu — declarei enquanto tamborilava as unhas retas e limpas na mesa de carvalho.

Sam e Dean se entreolharam.

— Decidiu? — Dean também elevou as sobrancelhas, desconfiado.

— É. Decidi — confirmei.

Sam deu de ombros e fechou o seu laptop, cruzando os braços em seguida.

— Tudo bem. Estamos ouvindo.

Suspirei, fazendo uma pausa para beber um longo gole do café, deixando um pequeno suspense no ar. Acredito que essa minha ação deixou os Winchester um pouco ansiosos, pois eles observavam cada um dos meus movimentos de maneira entediada, esperando que eu saltasse logo para a parte que interessava. Encerrei os jogos e descansei o utensílio sobre a mesa mais uma vez, deixando que um pigarro escapasse da minha garganta.

— Eu conheci Deus — confessei de uma vez por todas.     

Como previsto, Dean e Sam não foram capazes de dizer nada. Os dois estavam boquiabertos, me encarando duvidosos, como se aquilo fosse algum tipo de piada. Mantive a expressão serena, visando provar que eu estava falando a verdade. Os dois se entreolharam mais uma vez e eu identifiquei aquilo como uma mania deles. Se aquele não fosse um momento de certa tensão, eu teria rido do espanto dos dois irmãos. Dean abriu a boca, fazendo um biquinho esquisito.

— Então... Você conheceu Deus?

— Conheci Deus — respondi calmamente, bebericando ruidosamente mais um gole do café.

Dean passou a língua pelos lábios, visivelmente atônito e desconcertado.

— E como foi isso? — logo foi a vez de Sam me questionar, parecendo atento.

Sorri involuntariamente.

— Olha, eu juro que não queria ser irônica quando contasse isso, mas essa foi a única maneira que eu encontrei de simplesmente não chorar ao tocar nesse assunto... Delicado. Nessa realidade, Castiel estava comigo e Hannah também. Eu tinha um noivo, Leonel, Lúcifer estava preso na jaula e e tinha poderes bem avançados. Eu podia me teletransportar para qualquer lugar, fora outras coisas que eu preferi não testar. Eu encontrei Deus, ele foi atencioso e... Vocês sabem. Foi um momento de bastante emoção. De maneira ou outra, por mais que às vezes eu nutra tristeza e ódio por ele, quando encontrei ele, tudo o que eu fui capaz de sentir foi adoração, afeto, amor — desabafei sinceramente, tentando manter meus olhos mais secos possível. — E sim, eu admito, sinto a falta dele, sinto a falta de um pai na minha vida, e por mais que eu seja a sua filha, eu não tenho lá muitas esperanças. A vida é um pé no saco, e quanto mais você fraquejar, mais ela se aproveitará de você e tentará destruir todas as expectativas que você criou. E me desculpe por não ter contado antes... Precisei de um tempo para processar e perceber isso. Perceber que nem tudo é do jeito que queremos. E se eu não posso ter o meu pai por perto, tudo bem. Eu ao menos o honrarei derrotando o Lúcifer com a ajuda de vocês dois.

Sam e Dean me olhavam apreensivos. Abaixei a cabeça e voltei a beber o meu café, finalizando-o. Quando terminei, meu olhar alcançou Samuel, que possuía uma expressão terna em seu rosto.

— Com o seu pai ou sem, você é completamente capaz. Nada disso conseguirá colocar você para baixo, nem mesmo essa vida idiota — Sam dirigiu seu olhar rapidamente ao irmão, que o encarava cheio de orgulho. — Disso, você pode ter certeza. E nós dois estaremos sempre aqui para ajudar você a enfrentar esses obstáculos.

Mais uma vez, foi impossível não sorrir. Retirei uma mecha de cabelo que caía sobre o meu rosto e afastei a caneca, fitando os dois Winchester na minha frente com os lábios preenchidos pelo sorriso de gratidão.

— E então? Preparados para resgatar um anjo em apuros?

— Preparados nós estamos — respondeu Sammy, ligando o laptop novamente. — O problema é que nós não sabemos como.

— Bem, vamos pensar em alguma coisa. Coloquem esses cérebros para funcionar — incentivei enquanto me levantava da cadeira.

Circulei pela biblioteca, gesticulando e mentalizando algumas ideias malucas. Nenhuma delas parecia plausível ou eficiente, e por isso, bufei de insatisfação. De repente, ouvi um farfalhar de asas atrás de mim e dei um salto onde eu estava, virando-me para trás e tomando um grande susto. Quase esbarrei em Gabriel, que tinha a típica expressão travessa estampada em seu rosto. Coloquei a mão sobre o peito, como se estivesse ofendida com a sua repentina aparição que me causou um choque.

— Desculpe, Matilda. Assustei você?  — ele ergueu uma das sobrancelhas, esboçando o seu usual sorrisinho de deboche.

Revirei os olhos, cruzando os braços sobre o peito e dando-lhe as costas para me sentar novamente à mesa. 

— A que devemos a sua ilustre presença, Gabriel?  — fingiu querer saber Dean, em um tom irônico.

— Já estava com saudade, Deanno? Que doce!  — vangloriou-se o arcanjo, gesticulando.  — Bem, vamos direto ao assunto. Um passarinho me contou que aquele anjinho de sobretudo está desaparecido...

— Ele está, mas ultimamente não tivemos sucesso em achar uma maneira de resgatá-lo  — informou Sam.

— É por isso mesmo que eu estou aqui. Castiel usou a rádio angelical para mandar uma mensagem, para pedir ajuda.

Eu, Sam e Dean nos entreolhamos. Desloquei o meu olhar até Gabriel, que parecia divertir-se com cada movimento nosso, por mais que eles não fossem engraçados.

— E o que ele disse?  — perguntei esperançosa.

— Ele não disse onde ele estava, exatamente  — respondeu o arcanjo. Foi como se aquela esperança murchasse de repente.  — Mas... Ele nos deu uma pista secreta, justamente para que nenhum outro anjo o encontrasse, visto que é procurado por ter ajudado Metatron a fechar as portas celestiais.

— E que pista é essa?  — interessou-se Sammy.

Gabriel suspirou e fez uma pose enigmática, tentando embelezar o momento e as palavras que ele iria proferir. Revirei os olhos mais uma vez diante daquela cena ridícula.

— Disse que estava em um lugar relacionado a mim. Um lugar onde meu sangue foi derramado  — ele fez uma careta.  — Assim fica difícil. As pessoas tentaram ferir o meu lindo corpinho tantas vezes que não há como saber com precisão de qual lugar ele estava falando... De qualquer forma, ele pediu para que eu repassasse o recado. 

Olhei para os Winchester, que se olhavam pensativos. Eu não fazia ideia de como desvendar aquela espécie de enigma e isso acabou não sendo uma grande ajuda de Castiel. Nós infelizmente não tínhamos uma bola de cristal. Até que, para a minha surpresa, Sam se pronunciou.

— Eu tenho um palpite — revelou ele.

— E qual seria? — perguntei.

— Visto que foi Lúcifer quem sequestrou o Castiel e a pista diz que foi onde o sangue do Gabriel foi derramado, isso nos leva a um lugar. 

Dean abriu a boca, parecendo entender o que o irmão queria dizer.

— Elysian Fields — os dois disseram em uníssono.

Franzi o cenho, confusa.

— O quê?

— Elysian Fields é um hotel em Muncie, Indiana. Foi lá que Lúcifer matou Gabriel.

Enquanto eu tentava processar aquela informação, ouvi uma risada de nervosismo vindo de trás de mim. Girei nos calcanhares lentamente me deparando com Gabriel fazendo  uma careta e esfregando a mão no próprio pescoço. Ele deu de ombros rapidamente enquanto alternava o seu olhar entre mim, Sam e Dean.

— Olha, pessoal, eu realmente queria ser útil mas eu não gostaria de ser aniquilado mais uma vez por aquele cara... Prefiro aproveitar o tempo que me sobra por aqui — ele levantou os braços em defesa. — Sinto muito! Tchauzinho, amo vocês, parceiros.

Sem dizer mais nada, Gabriel desapareceu diante dos meus olhos. Estreitei os olhos e virei-me para os Winchester novamente. Eles me encaravam apreensivos. Tudo o que eu pude fazer foi abrir um sorriso radiante, o primeiro em dias, e posicionar minhas mãos em minha cintura sutilmente.

— E agora? Preparados para resgatar um anjo em apuros?

{...}

Assim que senti o Impala frear devagar, pisquei freneticamente uma tentativa de abrir os olhos. Quando consegui, visualizei a lua alta no céu através da janela, o que provavelmente significava que era de madrugada. Suspirei e dirigi o meu olhar até o banco da frente. Notei que Sam dormia encostado na janela e não emitia nenhum ruído durante o seu sono. Dean tirava a chave da ignição enquanto ajeitava a jaqueta sobre o corpo. Me remexi no banco, chamando a atenção do Winchester. Ele virou para trás e nossos olhares se encontraram, fazendo cada pelo do meu corpo ficar eriçado. Era como se eu tivesse levado um choque.

— Acordada ainda? — indagou, virando-se para a frente novamente e me fitando através do retrovisor.

— Acho que você acabou me acordando — respondi com um sorriso de canto. Observei-o passar a língua pelos lábios.

— Isso te incomoda? — ele fez uma careta.

— Nem um pouco — dei uma risadinha.

Um silêncio se instalou entre nós dois enquanto ele me observava pelo retrovisor. Eu decidi não evitá-lo  — devolvi o olhar e assim permanecemos por algum tempo. Acabei ficando vidrada nos olhos verdes do caçador e ele pigarreou. Em seguida, deixou que um suspiro fugisse do seu peito.

— Vou comprar alguma coisa para comer — ele indicou a loja de conveniência próximo ao lugar onde havíamos estacionado em um gesto com a cabeça. — Eu já volto.

Dean abriu a porta, mas antes que ele pudesse sair do automóvel, toquei o seu ombro, fazendo-o me olhar de relance.

— Eu vou com você.

O Winchester assentiu e ambos saímos do carro, fechando a porta da maneira mais silenciosa que pudemos. Caminhamos lado a lado até a loja, com as mãos nos bolsos de nossas jaquetas e enfrentando o vento frio que fluía contra nossos corpos. Me encolhi na jaqueta e tive uma ótima sensação de alívio quando entramos na loja de conveniência, visto que havia um aparelho de ar condicionado ligado no quente dentro do pequeno estabelecimento. Dean interessou-se por um belo hambúrguer na vitrine do balcão da loja e eu desejei ter uma câmera para filmar aquela cena cômica. Ele aproveitou para pegar um refrigerante também. Acabei ficando com um café e com um pacote de amendoins. Logo, pagamos pelas coisas e saímos calmamente. Decidimos não voltar diretamente ao Impala pelo fato de Sam estar dormindo lá dentro, então preferimos nos sentar em uma pequena mesa de madeira do lado de fora da loja de conveniência, cuja provavelmente servia para os clientes se sentarem e fazerem um lanche.

Enquanto comíamos, o único barulho que escutávamos era o dos grilos que se abrigavam nas árvores ao redor da estrada e de nossas bocas mastigando os devidos alimentos. Tive que segurar o riso ao ver Dean comendo o hambúrguer com muita rapidez, provavelmente porque estava faminto, porém, a certo ponto, não consegui e deixei uma risadinha baixa escapar, chamando a atenção de Dean. Ele lentamente dirigiu seu olhar a mim.

— O quê? — disse de boca cheia. Ele não pareceu entender o motivo da minha risada.

— Algum dia você vai sofrer de artérias entupidas — avisei com um leve sorriso nos lábios.

Dean fez uma careta.

— Então eu acho que preciso aproveitar cada momento — replicou, erguendo as sobrancelhas e continuando a comer o hambúrguer com vontade.

Revirei os olhos sem abandonar o sorriso e bebi mais um gole do meu café. Apanhei alguns amendoins e comi-os, fechando o pacote em seguida para caso eu sentisse fome durante o resto da viagem. Do Kansas até Indiana eram dez horas e havíamos viajado apenas cinco, o que significava que chegaríamos lá por volta das nove da manhã. Comprei o café justamente para isso  — eu já havia dormido durante o resto da viagem e desejava ficar acordada para não deixar Dean sozinho. Me apressei em livrar-me dos devaneios quando ouvi o barulho de Dean sugando o refrigerante do copo de plástico através do canudo, fazendo um ruído irritante. Tentei ignorar o som, e logo, quando Dean finalizou a bebida, seu olhar encontrou o meu novamente. Como da outra vez, eu não desviei o olhar.

— Você tem alguma coisa para perguntar, não tem?

— Não — negou ele, franzindo o cenho, como se aquilo fosse um absurdo, mas logo, a sua expressão mudou para uma de rendição. — Ok, eu tenho.

— Estou toda a ouvidos — disse enquanto piscava lentamente.

Me remexi na cadeira e cruzei os braços enquanto ele parecia escolher cuidadosamente as palavras certas para perguntar o que desejava.

— Como foi? Digo, o sonho — ele fez aspas com os dedos, gesticulando. — No qual o djinn prendeu você.

— Eu já contei tudo. Eu conheci Deus e... — tentei repetir, mas ele me interrompeu.

— Não foi isso que eu quis dizer. O que eu quis dizer, foi... — Dean pausou sua fala, um pouco receoso. — Você sentiu vontade de ficar?

Semicerrei os olhos e abaixei os mesmos, pensando em como eu responderia aquilo sem me lembrar do sonho, pois cada vez que eu me lembrava, doía mais ainda. Suspirei e voltei a encarar Dean.

— Sim. Muita.

Dean assentiu e apoiou os cotovelos na mesa enquanto olhava para algum ponto fixo nas árvores. Virei para ver o que ele tanto observava, mas não havia nada, portanto, deduzi que ele estava apenas pensativo. Meu senso de percepção captou algo e eu não consegui conter as palavras.

— Aconteceu com você também, não aconteceu? — o encarei profundamente.

A pergunta pareceu surpreender o Winchester, que passou a língua por seus lábios em um gesto rápido e apertou os lábios.

— É. Aconteceu há algum tempo — respondeu calmamente. — Olha, você sabe que eu não sou do tipo meloso e com espírito de garotinha como o Sam, então isso vai ser bem difícil de dizer — ironizou, sorrindo forçado. — Mas eu entendo você. Eu também passei por isso e imagino o quão abalada você deve estar por um son of a bitch como aquele djinn entrar na sua cabeça e usar as suas fraquezas contra você, e por isso, quero que saiba que você não está sozinha. É isso.

Ao ouvir aquelas palavras, uma onda de felicidade e tranquilidade invadiu o meu corpo e o meu coração. Foi inevitável não sorrir.

— Deus, isso foi muito gay — acusou ele, meneando a cabeça em negação.

— Isso não foi gay, Dean. Isso foi fofo! — eu ri.

Ele revirou os olhos.

— Você não vai contar isso para ninguém! Nunca! — ameaçou ele, tentando prevalecer com a expressão séria.

Gargalhei mais uma vez, sentindo a minha barriga doer.

— O quê? Isso vai ferir a sua pose de macho alfa? — ergui uma sobrancelha, sugestiva.

— Definitivamente! — ele arregalou os olhos, fazendo uma careta esquisita.

Sorri novamente, apoiando o meu rosto sobre as minhas mãos. Dean me encarou confuso e eu voltei à minha posição anterior, elevando meus supercílios para dar-lhe uma lição.

— Bem, Dean, eu acho que você é muito mais legal quando não está com essa sua pose de macho alfa — elogiei discretamente. — E eu acho que você também precisa dar uma chance para o Dean doce. 

Ele torceu o nariz, reprovando a minha sugestão e levantando-se da cadeira. Minha risada ecoou de novo pelo local silencioso e antes que Dean pudesse andar às pressas até o Impala, segurei o seu braço. Ele virou para mim, querendo saber do que se tratava, e tudo que eu pude fazer foi puxá-lo para um abraço. Dean permaneceu estático, mas depois de alguns segundos, ele me abraçou de volta. Inspirei o aroma único de Dean Winchester  — não, ele não cheirava a rosas ou algo muito doce. Cheirava a coisa velha, um cheiro bem incomum e que me agradou bastante. 

Quando eu ia me afastar, me lembrei daquele beijo e quão errado ele foi. Ninguém simplesmente beija outra pessoa sem motivo algum, certo? E eu me lembro de que ele correspondeu. Por quê? Aquela pergunta me atormentava. Me livrei de seu abraço e olhei profundamente em seu olhos.

— Obrigada por ser um bom amigo — eu disse, sorrindo. — Obrigada por ser você.

Marchei na sua frente até o Impala e entrei nele, ainda tomando cuidado para não fazer barulho com a porta e acordar Sam. Logo em seguida, Dean entrou no carro também, sentando-se e devolvendo a chave à ignição. Antes de dar a partida no carro, ele me olhou através do retrovisor do carro. 

Aqueles olhos verdes me fitaram por alguns instantes e eu senti algo. Algo que eu já havia sentido antes, mas não reconhecia.

Me recuperando da carga elétrica que o seu olhar me proporcionou, sorri discretamente e encostei a cabeça na janela. Observei a lua enquanto retomávamos o caminho até Indiana.

{...}

— Eu espero que esse seja o lugar — comentou Sam, observando o hotel de longe.

O Elysian Fields não era um hotel pra lá de grande, mas por incrível que pareça, tinha uma aparência assustadora e me parecia um típico hotel onde Lúcifer se hospedaria. Bufei enquanto retirava algumas mechas que caíam no meu rosto.

— E qual é o plano de vocês para entrar lá? — perguntei ironicamente enquanto erguia uma das sobrancelhas na direção dos Winchester.

Sam e Dean me olharam pelo retrovisor e eu soltei uma risada sarcástica. Foi então que eu tive uma ideia.

— Vamos pela frente.

— O quê?! — eles disseram em uníssono.

Os Winchester se entreolharam.

— Não fale ao mesmo tempo que eu — pediu Sam, incomodado.

— Eu? Você é quem... — tentou dizer Dean, mas Samuel o interrompeu.

— É, você — acusou ele.

Reprimi o riso que queria incontrolavelmente sair da minha boca cobrindo ela, gesto cujo passou despercebido pelos dois irmãos brigões sentados no banco da frente do Impala que pareciam mais preocupados em discutir sobre a coincidência de se falar ao mesmo tempo.

Bitch... — insultou Dean, estreitando o olhar.

Jerk... — devolveu Sam.

Me inclinei para frente, apoiando uma mão em cada banco.

— Ok, acabaram com a DR, princesas? — indaguei. — Voltando ao plano.

— Você chama isso de plano? — Dean virou para me olhar. — Isso é suicídio!

Revirei os olhos como resposta ao jeito de mãe de Dean Winchester.

— Onde está o Dean Winchester corajoso que eu conheci? — dei um tapa de leve em seu ombro, encorajando-o. — Vamos! Não seja tão careta, Dean.

— Isso não se trata de coragem! — ironizou. — Isso se trata do fato de que devem ter pelo menos uma dúzia de demônios lá dentro, considerando é claro, o fato de que você não está lá em uma boa forma para lutar com Lúcifer e seus lacaios. De novo! — alertou de sobrancelhas erguidas, dando ênfase às duas últimas palavras.

Voltei ao banco de trás, lançando-me até ele e batendo com as costas no banco estofado. Soltei uma lufada de ar enquanto jogava a cabeça para trás, sendo contaminada pelo mau humor e pelo pessimismo de Dean. Elevei os supercílios e ignorando o protesto do Winchester mais velho, abri a porta, ignorando os chamados de Dean pedindo para que eu voltasse. Antes que eu pudesse fechá-la atrás de mim, me virei e enfiei a cabeça dentro do carro, chamando a atenção dos irmãos.

— Bem, se as duas donzelas desejam ficar e arriscar a vida do Cas, visto que o tempo está correndo... Tudo bem. Vejo vocês depois! — me despedi alegremente e fechei a porta. 

Dei um sorriso vitorioso quando ouvi o barulho das portas do Impala se abrindo e fechando em seguida. Escutei atentamente os passos dos Winchester atrás de mim, tentando me alcançar devido ao meu andar rápido. Parei por um instante a alguns metros do Elysian Fields e girei nos calcanhares, denunciando a minha vitória. Me segurei para não rir alto da cara de decepção de Sam e de Dean.

Marchamos até a entrada do hotel e entramos calmamente, tornando a cena extremamente cômica. Dois caçadores e a filha de Deus, entrando em um estabelecimento cheio de demônios e que abrigava inclusive Lúcifer na maior calmaria, como se aquilo fosse uma pizzaria. Eu poderia rir se aquilo não fosse uma situação de tensão. 

Eu realmente não sabia o que havia dado em mim. Depois do acontecimento com o djinn, eu acabei mudando. Acho que percebi que nem tudo é como queremos e que lamentar-se não irá mudar nada, no final das contas. Eu tinha que enfrentar tudo aquilo com um sorriso no rosto e lutar pelo o que eu queria, pelo meu destino  — derrotar Lúcifer e salvar o mundo. Nada mais importava, nem mesmo meu pai. Eu já havia perdido as esperanças com ele, então nada mais importava.

Um pequeno sino acima da porta soou quando a abrimos. Desfilei até o balcão da recepção com os Winchester na minha cola. Atuando como o recepcionista, havia um homem, e eu não tinha dúvidas de que ele era um demônio. Sorri para ele, me esgueirando no balcão como se aquilo fosse uma piada. E realmente era. Eu estava realmente cansada de enfrentar tudo aquilo da maneira mais melancólica possível, coisa que eu geralmente fazia. Eu faria diferente.

— Winchesters e a filha de Deus... Para que se entregarem tão facilmente? — o demônio meneou a cabeça, revelando as órbitas negras.

Seus olhos não me surpreenderam nem um pouco e eu senti braços me segurando por trás. Um brutamontes me segurava com força, apertando meus pulsos, e eu já imaginei que Sam e Dean também estivessem encurralados. Dei uma risadinha.

— O que é isso? Nova versão de "Cinquenta Tons de Cinza"? — fiz uma piada em relação ao aperto forte do lacaio. — Patético, Sr. Grey.

Fechei os meus olhos e apertei as pálpebras contra as minhas órbitas, me concentrando. Talvez aquele fosse o segredo. Encontrar a minha âncora e esquecer tudo em volta. Talvez eu finalmente havia encontrado a chave para o controle. Eu estive tão preocupada com a ausência do meu pai e vivi tudo até aquele momento de maneira tão dramática que eu havia esquecido o quão curta a vida era. Talvez enfrentar aquilo da maneira mais positiva possível fosse o segredo tão secreto, e não pensar nisso me fez perceber o quão idiota eu era. 

Minha âncora. Família, família, família. Senti meus poderes vindo, e abri os olhos de repente. Eu não precisava me olhar no espelho para saber que deles, saía uma luz azul, pois eu podia sentir. Podia sentir o poder correndo em minhas veias. Chutei o joelho do demônio atrás de mim e quando ele se contorceu, ergui o braço, lançando-o para longe e fazendo-o ficar preso contra a parede. Também lancei para longe os demônios que encurralavam Sam e Dean e quando o trabalho estava feito, lancei um sorriso para eles.

— Que diabos... — sussurrou Dean, surpreso.

— Bem, não vamos perder tempo, meninos! Temos um anjo para resgatar — incentivei, puxando-os para a outra sala e aproveitando para quebrar as pernas de todos os demônios ali presentes com um simples gesto, inclusive o demônio da recepção.

Atravessamos o corredor do hotel, abrindo todas as portas no nosso caminho. Vários demônios arriscaram lutar contra eu, Sam e Dean, mas nenhum conseguiu. Alguns eu imobilizava, outros Sam e Dean matavam com balas com pentagramas entalhados e com a faca de Ruby. Passar por tudo aquilo era completamente fácil, e por mais que eu tivesse descoberto o segredo para o controle dos meus poderes, sobre uma coisa eu estava receosa. Lúcifer.

De alguma maneira, ele era minha fraqueza. Ele era como o meu oposto. Ele era a minha fraqueza e eu a dele, assim como a kryptonita era do Superman. De alguma maneira, estávamos conectados. Lúcifer era um anjo e eu era filha de Deus. Anjos também eram tecnicamente  — não exatamente, mas não importa  — filhos de Deus. Nós estávamos interligados, querendo ou não, e todas as vezes que eu enfrentasse ele, querendo ou não, eu sentiria esse medo, essa insegurança. Tentei mantê-la de lado, é claro, mas quando chegamos ao último quarto  — cujo não vasculhamos  — nos deparamos com os dois. Lúcifer e Castiel.

Permaneci imóvel na entrada no quarto, observando os dois. Castiel estava preso em uma cadeira, com machucados e cortes espalhados por toda a extensão de seu tórax, visível por causa de sua camisa que havia sido rasgada. Haviam feridas em seus braços e também em seu rosto, e ele estava suado, aparentava estar exausto. Uma onda de ódio percorreu o meu corpo inteiro e naquele momento, eu quis saltar no pescoço de Lúcifer e rasgar a sua garganta.

— Winchesters e... Hm — Lúcifer fungou, ainda de costas para mim. — Elizabeth.

O anjo rebelde girou nos calcanhares e eu visualizei o seu típico sorriso de escárnio, cujo nunca abandonava a sua face. Cerrei os punhos, tomada pela raiva e pelo rancor. Sua risada ecoou pelo cômodo.

— Vejo que obtiveram sucesso em seguir a pequena pista que Castiel lhes proporcionou — ironizou ele, me surpreendendo. Ele pareceu perceber isso, pois ergueu as sobrancelhas. — O quê? Acha que eu não presto atenção nos meus prisioneiros?

— Você vai pagar por isso — falei, dando um passo a frente e me preparando para acabar com aquele bastardo, mas ele ergueu o seu dedo e o torceu.

No mesmo instante, meu braço começou a ser torcido e um grito de dor escapou dos meus lábios. Segurei o braço com força, arfando com os olhos pegando fogo na direção de Lúcifer. Ele parecia se divertir bastante com a cena.

— Eu não terminei de falar, querida — alertou. — Você sabia que interromper as pessoas é falta de educação?

Contraí o maxilar e tentei me mexer, mas ele havia me imobilizado. Pude perceber isso por seu indicador erguido, que mantinha eu, Sam e Dean parados, presos no lugar onde estávamos. Lúcifer caminhou até uma mesa perto da cadeira onde Cas era torturado e apanhou uma lâmina angelical, exibindo-a para nós. Fechei os olhos, tentando me concentrar, mas a adrenalina do momento não colaborava para que eu usasse os meus poderes. O anjo girou a espada entre as mãos, brincando com ela e me provocando. Levou ela até o peito de Castiel e fez um pequeno corte, fazendo o anjo grunhir e do corte uma luz esbranquiçada irradiar.

Apreciando a minha dor, Lúcifer fez mais um corte em Castiel. E mais um. E mais um. Aquilo me deixava cada vez mais motivada. A raiva me consumia. Apertei os olhos e os punhos com toda a força que pude, me livrando da imobilização de Lúcifer. Abri os olhos novamente, sabendo que eles estavam azuis. Família.

Castiel era a minha família. E eu não ia deixar que Lúcifer encostasse um dedo na minha família.

Fiz um gesto com o braço para o lado, surpreendendo Lúcifer e lançando-o contra a parede do quarto. Sam e Dean foram libertados da imobilização no mesmo instante e eu ordenei que eles desamarrassem Castiel. Caminhei com passos lentos até Lúcifer, que se acomodava desajeitadamente na cratera que fez ao colidir com a parede. Sua face estava contorcida em uma careta e eu cerrei os punhos mais uma vez, me segurando para não chutá-lo. Seu olhar se deslocou até mim e ele grunhiu, resmungando algo sobre suas costas doerem.

— Levem Castiel daqui — mandei sem olhar para trás. — Agora.

— Beth, você não... — tentou dizer Sam, mas eu o interrompi.

— Não. Eu não vou. Está tudo sob controle.

Quando me certifiquei de que eles haviam ido embora, me abaixei para encará-lo, assim como ele fez comigo naquela praça em Crestwood. Pensei que ele iria fazer alguma coisa, mas quando seus olhos encontraram os meus com precisão, ele não fez nada além de me encarar.

— Sabe... Nós estamos conectados. Eu sei que você sabe disso. Você é a minha fraqueza, e eu sou a sua. Em Crestwood, eu disse que da próxima vez que nos víssemos eu mataria você.

Encarei-o, tentando descobrir o que ele queria dizer com aquilo e o que suas palavras significavam.

— Mas eu mudei de ideia — ele tossiu, colocando uma das mãos na barriga, ainda em choque pela colisão com a parede.

Franzi o cenho. Sua cabeça, antes abaixada, ergueu-se e ele olhou para mim, revelando veias vermelhas e vinho ao redor de seus olhos. As órbitas estavam avermelhadas, os vasos sanguíneos dentro delas se destacavam e o verde de seus olhos não era mais bonito. Estava acinzentado, morto, e sua expressão facial era completamente assustadora.

— Decidi que reservo algo muito, mas muito pior para você, Elizabeth Corpus. E não se preocupe... — ele sorriu, me encarando com aqueles olhos horrorosos. — A sua hora chegará. 

O sorriso maquiavélico de Lúcifer se alargou e ele riu fraco, quase como uma tossida. Estática, engoli em seco diante das palavras macabras dele. Me levantei, poupando-o da lição que eu pretendia lhe dar, mas ao erguer-me, cruzei os braços, olhando ainda para ele.

— Não me importo com seja lá o que você está planejando — ditei, determinada a lhe dizer aquilo. — Mas não mexa com o nosso anjo de novo. Nunca mais.

Dito isso, dei as costas para Lúcifer, marchando para fora do Elysian Fields com o coração na boca. 

 


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Notas finais do capítulo

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEITA!

E então? Gostaram do Dark!Lúcifer? Deu medinho, né?

Finalmente a Beth conseguiu "aprender" a controlar os poderes dela. Ainda haverão alguns empecilhos, porque Fallen sem drama não é Fallen (risos), mas agora ela estará bem menos suscetível àqueles desmaios que ocorriam no ínicio da fic. Não vou dizer que não acontecerá novamente, mas não serão em grande número.

Beth pode estar enfrentando isso da melhor maneira possível, mas depois dessa mensagem do Lúcifer, vocês vão ver o jeito que ela vai estar...

Muitos mistérios, meus jovens padawan's!!!!!!

Próximo capítulo: teremos a presença de um personagem muito querido de SPN e mais algumas complicações, porque Fallen sem complicações não é Fallen! Kkkkk

Beijos e até lá! ♥

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