Fallen escrita por Milly Winchester


Capítulo 18
Juízo final


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, meus cabritinhos liiiiindos! Tudo bem com vocês?

Dessa vez eu não demorei, né? É que eu estava realmente muito ansiosa para postar esse capítulo. Sobre o nome dele, é apenas um trocadilho com o capítulo não significa que é o final, ok? Relaxem! Garanto que ficaram intrigados com esse nome kkkk

Enfim, eu estava com saudades de escrever capítulos maiores e esse saiu grandinho, mas vale a pena ler. Muita treta, vish, muita treta ~le aquela musiqueta doida~

Escrevi esse humilde capítulo ao som de algumas sinfonias de Bach (amo/sou), porém, vou indicar uma musiqueta para dar mais vida e cor para esse capítulo. Esta aqui: https://www.youtube.com/watch?v=tfY4OfUXiYU
Essa musiqueta se chama Falling Inside The Black, da banda Skillet, que eu AAAAMO, e eu me inspirei nela para escrever alguns diálogos desse capítulo. Se ouvirem a música, entenderão a referência em um dos diálogos do capítulo.

Caso encontrem algum erro, me perdoem, revisei o capítulo umas cinco vezes kkk

É isso, meus cabritinhos. Desejo à vocês uma ótima leitura! See you down there!



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— Preparada? — perguntou Sam, enquanto abria a porta do silencioso quarto.

— Sim. Obrigada — agradeci com um sorriso e Samuel se afastou um pouco de mim.

Virei-me para o quarto, observando a pequena cama de solteiro presente nele e soltando um longo suspiro. Eu estava prestes a me comunicar com o pior dos meus inimigos, e eu precisava admitir, isso me deixava realmente nervosa. Ele poderia me ouvir, aparecer no meu sonho e me enforcar no mesmo segundo, sem que ninguém testemunhasse ou até mesmo tivesse a chance de me salvar e me tirar das garras do diabo. Mesmo assim, não havia outro jeito. Estremeci ao perceber que a porta igualmente de ferro foi fechada com força atrás de mim e pude escutar o barulho da mesma sendo trancada, para que eu não pudesse sair e para que ninguém pudesse entrar. Aquele cômodo do bunker, segundo Sam e Dean, era semelhante ao que Bobby tinha em sua casa, e era à prova de todos os seres sobrenaturais, até mesmo à prova de Castiel, que à propósito, estava sumido desde que havíamos voltado de Litchfield Park. 

Com passos lentos, caminhei até a cama no centro do quarto, o que dava a ele um ar amedrontador. Estava quente ali, eu já estava começando a suar por baixo do suéter vermelho que eu vestia. Respirei fundo. Inspirei e expirei repetidas vezes, tentando me preparar psicologicamente e talvez, fisicamente para o que vinha a seguir. Disse a mim mesma para se acalmar e tentei alertar o meu coração, ordenando que ele parasse de bater tão rápido. Em movimentos suaves e delicados, me deitei na cama lentamente, apoiando a minha cabeça no travesseiro macio disposto nela. Posicionei as minhas mãos juntas sobre o meu abdômen, encarando a claraboia no teto pela qual a luz do luar entrava. A luz provinda da lua era a única fonte de iluminação do cômodo. 

Pisquei algumas vezes, tentando atrair o sono até mim. Mentalizei a imagem de Lúcifer na minha cabeça e sua casca que sempre me deixou assustada fez isso novamente. Tremi de olhos fechados, engolindo em seco, e eu pude garantir que meu pomo de adão estava visível naquele instante. Respirei fundo mais uma vez, tentando me acalmar e não surtar de uma vez por todas. Busquei repousar meus músculos de maneira que todos ficassem relaxados e puxei ar lentamente pelo nariz, expelindo-o em seguida. Meus ombros começaram a ficar mais leves e minhas pálpebras pesadas sobre os meus olhos. Estava fazendo efeito, e mesmo sem perceber, abri os olhos.

Agora, eu estava em outro lugar. Em uma praça, para ser mais específica. Era um dia ensolarado e um vestido amarelo cobria parte do meu corpo. Meus pés estavam descalços e notei que eu pisava em uma grama macia e muito bem aparada. A brisa fresca que me envolvia me deixava relaxada, e só então percebi que estava sonhando. Quando parei para observar, reparei que uma porção de árvores subia ao meu redor. Atrás de mim, havia um banco de madeira, e na minha frente, bem distante, havia um pequeno playground onde crianças brincavam e se divertiam e eu até mesmo podia escutar as suas risadas. Em um ato súbito, me fazendo congelar e cada parte do meu corpo se arrepiar, captei uma risada vinda de trás de mim. Girei nos calcanhares e reconheci o rosto inesquecível daquele que acabara de rir, sentado naquele banco.

Lúcifer.

Seus olhos encontraram os meus e o sorrisinho de escárnio preencheu os seus lábios quase que instantaneamente. Ele se arrastou para o canto do banco, como se me convidasse para sentar. Sabendo como aquilo era arriscado, hesitei em aceitar a sugestão dele e preferi permanecer em dúvida, de pé. Engoli em seco e tentei mascarar o medo que eu sentia devolvendo o seu sorriso, porém, de maneira sarcástica.

— Esse é o seu paraíso particular? — satirizei, segurando a borda do meu vestido com força, tentando descontar o tremor nas minhas mãos na peça de roupa. Permaneci sorrindo, como se fosse um disfarce.

— Na verdade, essa é um versão bem antiquada do meu paraíso particular — confessou Lúcifer, me encarando como se apreciasse a minha audácia em elaborar uma teoria sobre os gostos pessoais do diabo. — Eu só não queria assustá-la com a versão original... Talvez ficasse um pouco traumatizada.

Enquanto eu ouvia cada palavra que saía da boca de Lúcifer com atenção, me recordei que precisava convencê-lo a cair na minha armadilha. O espaço livre que havia ao seu lado era tentador e eu acabei me rendendo, dando apenas alguns passos e me sentando na companhia dele. Ele suspirou, me olhando com certa curiosidade.

— Então, posso saber a troca de quê me chama em seu sonho tão repentinamente, sabendo que tenho interesse em colocar a sua cabeça em uma travessa no meu banquete? — alfinetou ele mais uma vez, e mesmo que fossem simples demonstrações de sarcasmo, vindas do diabo já eram assustadoras o suficiente para me fazer reprimir mais um dos meus tremores.

Encarei o playground de longe e observei atentamente uma criança descer pelo escorregador, como se isso fosse a coisa mais triunfante que ela faria em sua vida inteira. Se ela mesma soubesse o fardo que eu carregava, não sei se acharia a mesma coisa. Voltei minha atenção para Lúcifer, que aguardava a minha resposta pacientemente.

— Eu preciso que você esteja em Crestwood, no estado de Kentucky, amanhã exatamente às onze e meia da noite. Ou seja, daqui a um dia — fui direto ao assunto, e Lúcifer me fitou, intrigado.

— Por que eu faria isso? — estranhou ele, com uma careta no rosto.

Senti gosto de bile na minha garganta e o encarei suavemente, tentando não parecer nervosa. Sorri de canto

— Porque sei que você quer conversar comigo, e eu também quero conversar com você. Será só nós dois, sem Winchesters ou quaisquer outras pessoas. Eu preciso de respostas, Lúcifer, e eu acredito que só você pode me dá-las — menti da maneira mais convincente que pude, e por incrível que pareça, ele pareceu acreditar.

Lúcifer entrelaçou os dedos das sua mão esquerda com as da mão direita e apoiou o rosto neles, encarando o horizonte de maneira sarcástica, como se estivesse refletindo poeticamente. Me segurei para não revirar os olhos e ele pigarreou.

— É uma proposta tentadora. Arriscada também, a propósito, portanto, pensarei no seu caso — ele ergueu o indicador, balançando-o na minha direção.

Assenti em concordância e ele abriu um sorriso carregado de deboche. Seus olhos rolaram até o playground que eu encarava anteriormente e eu também levei o olhar até o mesmo. Meu coração quase saltou para fora da boca quando vi que os brinquedos do parquinho estavam todos repletos e encharcados de sangue fresco. Vísceras e restos mortais estavam espalhadas para todos os lados, tingindo não só os brinquedos, mas também a grama de um tom escuro de escarlate. Cobri a boca com a mão, reprimindo um grunhido de pavor, e quando girei a cabeça lentamente para encarar Lúcifer, ele não estava lá.

Tudo ao meu redor começou a se tornar vermelho e enegrecido. O céu tingiu-se de sangue, assim como o meu vestido, e quando olhei para as minhas mãos e para o meu corpo, diversos cortes atravessavam todas as partes dele. Uma dor excruciante por todo o meu corpo surgiu de repente. O máximo que consegui fazer em resposta à isso foi deixar que lágrimas pesadas rolassem pelo meu rosto e um grito estridente e desesperado escapasse dos meus lábios, como um último suspiro.

{...}

Acordei em um salto, me sentando na cama bruscamente. Eu não estava mais no quarto de ferro, e sim no quarto onde eu dormia. As paredes cinza que subiam ao meu redor me fizeram reconhecê-lo. Meu corpo estava suando frio e minhas roupas estavam encharcadas, deixando esse fato ainda mais evidente. Minha franja grudava na minha testa e eu arfei. Encontrava-me em um alto nível de ofegância. Relutante, pus os pés descalços no piso vinílico, sentindo a frieza do mesmo. 

Sem nem mesmo pensar em procurar por Sam e Dean, peguei um par de roupas limpas e corri para o banheiro, afim de limpar o suor grudado na minha pele. Não demorei muito no banho, levando no máximo dez minutos e voltei ao quarto, deixando as roupas sujas sobre a cadeira perto do móvel onde se encontrava o meu telefone. Chequei o horário e o relógio marcava dez horas da manhã. Me apressei em descer para o andar inferior, e quando cheguei lá, me deparei com Sam e Dean, que estavam sentados na mesa da biblioteca e pareciam aflitos. Quando repararam a minha presença, o alívio se fez presente em suas expressões.

— Como foi? — inquiriu Sam, apreensivo.

— Desculpa, Sam, mas antes de responder qualquer pergunta, eu preciso de um café — alertei, me dirigindo até a cozinha e começando a preparar um.

Fui surpreendida pelos passos do Winchester, que me seguiram demonstrando sua insistência. Coloquei o filtro com o café na máquina e antes mesmo que eu pudesse posicionar a xícara no aparelho, o interrogatório começou mais uma vez.

— Você conversou com Lúcifer no seu sonho e quer que esperemos você fazer um maldito café? — exaltou-se Dean, parecendo ofendido com a minha repentina rejeição. — Aquele cara é tipo o Freddy Krueger! Nós ao menos queremos saber se ele acabou não cortando a sua garganta ou algo do tipo...

Girei nos calcanhares e encarei-o com uma das sobrancelhas erguidas, confusa e mentalmente questionando que referências idiotas eram aquelas que ele estava fazendo.

— Ok, Dean, cala a boca — ele disse para si mesmo, lambendo os lábios.

Me virei de novo para a máquina e coloquei a caneca no local indicado no aparelho, clicando no botão de iniciar. Suspirei pesadamente e depois de cerca de um minuto, fui bombardeada mais uma vez por perguntas.

— Ele concordou com a proposta ou não? — dessa vez foi Sam que se inscreveu para o Oscar de impaciente-do-ano, inserindo-se em uma competição acirrada com o Dean.

— Será que vocês sabem o significado de paciência? — ironizei. — Se querem tanto saber... — fui interrompida pela máquina de café, que apitou e indicou que a bebida estava pronta. Peguei a caneca com cuidado e virei de novo para os Winchester, assoprando de leve o líquido quente. — Sim, eu estou bem, e eu não sei se ele aceitou a proposta, mas ele provavelmente irá.

— Não sabe se ele aceitou? Como assim? — indagou Dean, sem entender e de cenho franzido.

— Ele me disse que ia pensar se compareceria ou não.

Sam e Dean se entreolharam.

— Então como vamos adivinhar se ele vai ou não?

— Não custa tentar — respondi, bebendo um gole do café, agora um pouco menos quente. — Vamos até Crestwood e esperamos por ele no horário combinado. Ele saberá onde estaremos com o radar diabólico dele, e se ele não for, nós vamos embora. Simples — expliquei. — Mas ele não pode saber que pretendemos prendê-lo de volta na jaula. Nem pensar.

— E você acha que ele não descobrirá? Ele tem lacaios por toda a parte — alertou Sam, me fazendo menear a cabeça.

— Nós só falamos sobre plano aqui, no bunker, e como temos proteção contra demônios, ninguém sabe do plano. Os únicos que sabem é Morte e Castiel — elaborei um raciocínio, segurando a caneca firme entre as duas mãos e cruzando as pernas, já que eu me apoiava na bancada da cozinha. — Falando no tal anjo de sobretudo... Onde está o Cas?

Dean ergueu as sobrancelhas, levantando as mãos em defesa.

— Eu não sei. Ele sumiu desde que voltamos... — respondeu, parecendo distante. — Talvez tenha ido resolver alguns dos seus empecilhos angelicais, mas creio que ele aparecerá em Kentucky para nos ajudar. 

Assenti e Sam pigarreou, chamando a nossa atenção.

— Beth, você tem certeza de que quer fazer isso? Sabe, seus poderes...

Balancei a cabeça.

— Sam, eu vou me esforçar. Como eu disse, não custa nada tentar. Não posso ficar para sempre aqui, com medo que os meus poderes não funcionem. Isso seria covardia, e não é uma covarde que vai conseguir impedir o apocalipse, então, não vou ficar com o meu traseiro grudado em uma cadeira enquanto o mundo desmorona. Isso está completamente fora de questão — determinei, pela primeira vez sentindo uma verdadeira confiança na minha voz. — E nada que digam me fará mudar de ideia. Essa é a nossa chance de acabar com esse bastardo, e eu com certeza não vou desperdiçá-la.

Sam e Dean me olharam, parecendo acreditar nas minhas palavras, mas mesmo assim, intrigados. Não consegui conter o sorriso repentino que nasceu nos meus lábios e deixei a caneca já vazia sobre a bancada, encarando-os de maneira confiante.

— E então? Mãos à obra!

{...}

O relógio do meu telefone marcava dez horas da noite. Já estávamos em Kentucky desde o ínicio da tarde, mais precisamente em Bedford, pois eu iria de ônibus até Crestwood  — levando em conta que o tempo para chegar até a tal cidade era apenas trinta minutos  — para que ninguém descobrisse nosso plano. Coloquei as luvas sem dedo que Dean me entregou e me coloquei na posição de luta. O Winchester na minha frente também estava nessa posição e estávamos nos aquecendo no estacionamento do hotel vazio de Bedford, visto que a cidade tinha, no máximo, setecentos habitantes. 

Iniciei a luta desviando de um golpe de Dean, que teria sido certeiro se não fossem os bons reflexos que eu havia desenvolvido durante nossos treinamentos. Em resposta ao seu ataque, acertei um chute em sua barriga, que não pareceu machucá-lo, mas Dean pareceu estar impressionado com a minha rapidez. Voltou à realidade e eu lancei meu punho na sua direção. Dean bloqueou-o rapidamente, erguendo uma sobrancelha como desafio.

Sorri rapidamente e chutei a lateral do seu antebraço, seguido de uma tentativa de soco, do qual ele rapidamente desviou. Girei instantaneamente e golpeei seu ombro, fazendo-o ficar vulnerável e dar espaço para outro chute. Assim que ele se recuperou, tentei dar socos consecutivos, todos bloqueados por ele.

Dean tentou acertar um chute em mim e eu me abaixei o mais rápido que pude. Tentando finalizar e me surpreendendo com o sucesso dessa tentativa, empurrei-o com força e me aproximei rapidamente, chutando o seu calcanhar e fazendo-o cair de maneira nem um pouco graciosa no chão. Não consegui me conter e acabei por rir do Winchester caído no chão, aparentando estar inconformado por ter perdido uma luta para uma garota.

— Por acaso você é a nova versão do Karate Kid? — ele franziu o cenho, tentando levantar-se com dificuldade. Ofereci-lhe uma ajudinha com a mão, que mesmo com relutância, foi aceita por Dean.

— Talvez. Está com inveja? — sorri.

Ele crispou os lábios, fazendo uma breve careta.

— Aliás... Nenhum sinal do Cas?

— Não. Tentei me comunicar com ele, mas ele não responde. Rezei por ajuda. Claro que nem sempre ele aparece quando eu oro, mas isso só acontece quando ele está em perigo... — respondeu apreensivo.

— Eu estou preocupada — declarei por fim, tirando as luvas e limpando o suor das minhas mãos nos meus jeans confortáveis.

— Cas é imprevisível. Vai saber o que ocorreu...

Voltamos para dentro do hotel e fomos até o quarto que havíamos pego para organizar as nossas coisas antes da batalha que teríamos à noite. Quando abrimos a porta do mesmo, vimos o que sempre costumamos ver  — Sam Winchester e seu inseparável laptop. Assim que reparou que havíamos retornado, fechou o laptop e suspirou, olhando para nós dois. Decidimos nos sentar junto de Sam na mesa que havia no centro do quarto para repassar o plano mais uma vez.

— Ok, vamos desde o princípio. Beth, você pega o ônibus para Crestwood enquanto eu e Dean vamos com o Impala. Quando chegar lá, vá até o local combinado, no caso, o parque que decidimos. Nós estaremos lá. Você manterá Lúcifer ocupado por algum tempo, conversará sobre qualquer coisa, e então nós o pegamos de surpresa e jogamos ele para dentro da jaula.

Assenti com um aceno de cabeça, mas uma interrogação gigantesca veio à minha mente.

— Er, Sam, Dean... Nós esquecemos de uma coisa.

— O quê? — questionou Dean.

— Como nós vamos fazer Lúcifer pular dentro do buraco?

Nos entreolhamos, preocupados. Estávamos encrencados. Não tínhamos como compelir ele ou algo do tipo, e já tínhamos tudo em mente. O plano iria por água à baixo e se eu não me encontrasse com Lúcifer, ele suspeitaria e mandaria lacaios dele atrás de mim para descobrir qual era o nosso plano. Estávamos verdadeiramente arruinados.

Son of a bitch! — exclamou Dean, decepcionado. — É, acabamos de dar descarga no plano inteiro.

— E se eu forçá-lo? — sugeri.

— Forçar ele? Como você vai fazer isso? — perguntou Sam, sem entender.

— Com os meus poderes. Consigo mover as pessoas com a força da minha mente, talvez eu consiga empurrá-lo — expliquei apreensiva. 

Sam e Dean se entreolharam e eu praticamente li os pensamentos deles.

— Eu sei que é um risco grande a se correr, ok? Sei que da última vez eles não funcionaram, mas eu sinto que dessa vez dará certo. Como eu disse hoje pela manhã, essa é a nossa chance e não sabemos se haverá outra. Nessas situações, precisamos tentar, nem que para isso tivermos que colocar os nossos pescoços em jogo.

— Beth... — tentou interferir Samuel novamente, mas eu o interrompi.

— Nada de Beth. Está combinado — declarei, me levantando e pegando a minha bolsa sobre a cama presente no quarto, colocando-a atravessada em meu corpo.

Me dirigi até a porta e parei na soleira dela, virando para encarar os irmãos Winchester. Acenei rapidamente, sorrindo sem descolar os lábios e me sentindo confiante.

— Vejo vocês em Crestwood, meninos.

Saí sem dizer mais nada e nem mesmo olhar para trás, pisando forte e com as mãos agarradas na alça da minha bolsa.

{...}

Entrei no bar e procurei uma cadeira próxima ao balcão. Assim que encontrei uma disponível, me sentei e apoiei os cotovelos na bancada. Foi inevitável evitar um suspiro. Minha cabeça estava a mil, pois aquele seria o dia no qual eu confrontaria Lúcifer, cara a cara. A batalha final se aproximava lentamente, me torturando, e ainda faltavam belos quarenta e cinco minutos até o horário combinado. Por isso, entrei no primeiro bar que avistei quando cheguei em Crestwood.

Um barmen se aproximou, jogando o pano de cozinha que tinha em mãos sobre o ombro direito.

— Vai querer alguma coisa, senhorita? — perguntou educadamente. Pisquei algumas vezes, totalmente desacostumada com atendentes de bar educados. A maioria era extremamente rude.

Meus olhos rolaram pelo lugar e eu reparei no relógio preso à parede tingida de vermelho do bar e ocupada por uma porção de quadros vintage e retrô. O aparelho indicava o horário que eu havia deduzido  — eu estava certa. Colei os lábios e sorri cordialmente para o barmen.

— Um café está bom — pedi, vendo-o se afastar para atender ao meu pedido.

Batuquei com a ponta das unhas na bancada, e logo, olhei atentamente para a minha mão. Virei-a e observei a minha palma. Trouxe a outra mão até a que estava na bancada e observei ambas. Os flashes da noite em que matei os demônios e fui apunhalada por um deles veio à minha mente. Me recordei de mim mesma, cortando a garganta deles e usando os meus poderes. Com a raiva. E logo, me recordei daquele demônio me apunhalando repentinamente. Me lembrei da dor excruciante e fechei os olhos, sentindo o meu corpo todo estremecer, e logo, fui removida de meus devaneios pelo barmen, que estalou os dedos na frente do meu rosto. Abri os olhos com dificuldade, um pouco constrangida, e ele depositou gentilmente a caneca com o café na bancada.

— Está tudo bem, moça?

— Sim, é, foi só uma tontura, obrigada — crispei os lábios e agradeci com um aceno de cabeça. Ele se afastou mais uma vez.

Beberiquei o café lentamente e acabei me perdendo no horário. Completamente dispersa nos pensamentos, quando parei para checar o horário, o relógio do bar já marcava onze e vinte. Tratei de apanhar o meu mapa da cidade dentro da bolsa e ingeri o resto da bebida rapidamente, deixando o pagamento sobre a bancada. Saí às pressas do estabelecimento com o mapa aberto em mãos, tentando inutilmente enxergar para onde eu deveria ir.

Assim que reconheci a rota, segui ela e depois de um certo tempo, avistei o tal parque. Tudo estava silencioso e não havia ninguém lá, e por sorte, eu não havia me atrasado muito, pois por coincidência o parque não ficava muito longe do bar onde eu estava. O ar gélido envolveu os meus braços e eu me encolhi na jaqueta de couro. Guardei o mapa de Crestwood dentro da minha bolsa e cruzei os braços em uma tentativa inútil de me manter aquecida. Caminhei até uma porção vazia do parque, parando bem no centro daquela área e olhando ao meu redor. O medo se fazia presente e eu já estava tremendo, não só pelo frio, mas também pelo quanto eu estava temerosa.

Girei em torno de mim mesma algumas vezes, esperando por ele. Soltei um longo suspiro, observando as árvores enegrecidas pelo fato de ser noite, e aquele clima todo estava me fazendo sentir desconfortável. Até porque é super normal você ir a um parque vazio, às onze e meia da noite em um dia frio, a fim de esperar Lúcifer para tomar um chá. Muito normal. Fechei os olhos, e fui surpreendida por um barulho de asas.

Não era Castiel. Eu sabia disso. Meu sangue congelou.

Girei lentamente nos calcanhares e era ele. Ele estava bem na minha frente, com o seu inseparável sorrisinho de escárnio estampado no seu rosto.

Lúcifer.

— Olá, Elizabeth — ele cumprimentou cordialmente, cruzando os braços. — Decidi vir até aqui para essa tão famigerada conversa.

Permaneci em silêncio, sem saber o que dizer. As palavras haviam se perdido pela minha garganta, e isso não passou despercebido pelo anjo caído na minha frente, que tomou fôlego para falar.

— O que foi? O gato comeu a sua língua? Quais eram todas aquelas perguntas que disse que desejava me fazer?

— Eu disse que queria conversar — corrigi, segurando a alça da minha bolsa atravessada em meu corpo com força.

— Conversar sobre você. Garanto que não é sobre os filmes em cartaz de hoje, é claro — ele ironizou, falando uma careta. — Mas até é uma boa ideia ir assistir aquele filme novo que está em cartaz... Corrente do Mal? Para rir, obviamente. Esses humanos não sabem como é um terror de verdade.

Franzi o cenho, não compreendendo a sua referência. Ele pareceu indignado diante da minha inocência relacionada aos filmes em cartaz, como se eu fosse obrigada a saber, mas logo, sua expressão se desfez, dando lugar para a de deboche, como sempre.

— Você está certo — falei por fim, lembrando que eu precisava distraí-lo. — É sobre mim.

— Sou um livro aberto, baby — ele abriu os braços. — Pergunte o que quiser.

Mordi o lábio e olhei para o lado. Entre algumas árvores, eu pude ver um cabelo familiar. Sam. Tratei de disfarçar e suspirei, mexendo no meu cabelo. Voltei a olhar para Lúcifer e como eu estava antes, cruzei os braços, encarando-o. Uma pergunta veio à minha cabeça, e não era somente algo para distraí-lo. Era algo que eu realmente queria saber, e mesmo que aquilo não passasse de um plano para prendê-lo, eu precisava aproveitar a situação. Já que meu pai aparentemente não se importava muito comigo e em todas as vezes que rezei para ele fui ignorada, senti que Lúcifer era o único que poderia responder a pergunta que me atormentava ultimamente. Somente ele.

— Eu usei os meus poderes e descobri que se eu usá-los com raiva, meus olhos mudam de cor e eu mudo — hesitei, analisando lentamente a reação do anjo caído. — O que isso significa?

— Eu disse que eram perguntas — ele revirou os olhos.    

— Só responda, por favor.

Lúcifer soltou uma lufada de ar e quando ele fechou os olhos por um instante, dei mais uma olhada nos meninos, que observavam a cena atentamente. Dean me encarava com um ar de reprovação e eu virei o rosto, voltando minha atenção para Lúcifer, que abriu os olhos assim que eu parei para observá-lo.

— Sabe, todos nós temos um mal interior, até mesmo o seu querido papai — ele andou de um lado para o outro, com os braços atrás do corpo. — No seu caso, se usar os seus poderes incorretamente, você está automaticamente sucumbindo ao mal dentro de você, pois ele existe, com você querendo ou não. Eu sou um exemplo disso, e me orgulho disso. O mal faz você mais forte.

Balancei a cabeça.

— Não, não faz. Faz de você um covarde.

Uma gargalhada seca saiu da garganta de Lúcifer, entrando nos meus ouvidos e me deixando extremamente perturbada. A risada rouca dele me deixou arrepiada da cabeça aos pés, e ele conseguia ser intimidador até demais quando queria.

— Recapitulando e digo novamente, querendo ou não, parte de você já está dentro do mal. Nem que seja um dos seus dedos do pé. A cada vez que você usar a raiva para ativar os seus poderes, mais você estará se afundando neste mal, e depois que você entra nele, é extremamente difícil voltar. E eu sinto muito, mas uma parte de você é má, e se você acha que é a garotinha boazinha que vai acabar comigo e encerrar o apocalipse que eu pretendo trazer, está muito enganada. Para tudo existem consequências, e às vezes, uma delas é a sua bondade e a sua sanidade. O lado negro estará sempre à espreita.

Suas palavras me afetaram como balas naquele mesmo segundo, e eu abri a boca, estupefata. Engoli em seco e senti gosto de bile na minha língua. Uma parte de mim estava mergulhada no mal, e agora, eu tinha que lutar para não sucumbir à ela. Agora tudo fazia sentido, e tudo ficou mais claro. Apesar de assustada, concluí uma coisa — eu precisava de uma âncora e de concentração. Ergui a cabeça até Lúcifer, que me encarava com um sorriso no rosto, parecendo apreciar o meu estado perplexo.

— Além do mais... Você acha mesmo que ia me enganar?

Arregalei os olhos.

— Sam e Dean, não sejam tímidos, saiam dos seus esconderijos! 

Olhei para os Winchester atrás da árvores, surpresos e assustados, assim como eu. Com passos lentos, eles se aproximaram com certa relutância. Ambos colocaram-se de pé ao meu lado, e eu não precisava de um estetoscópio para saber que o coração deles batia forte, assim como o meu.

— Que belo trio... — ele ironizou, examinando nós três dos pés à cabeça. — Mas parece que está faltando alguém... Hum... Como é o nome dele mesmo? Castiel?     

Cerrei os punhos, furiosa. Meu sangue subiu até a cabeça e senti ele ferver.

— O que você fez com ele? — exclamei, me segurando para não avançar naquele bastardo.

— Ah, nada de significante... — Lúcifer estreitou os olhos. — Só sequestrei ele e o torturei... Algumas vezes.

— Ora, seu...

Ergui o braço, me concentrando na minha âncora. Família. Família. Vamos, Elizabeth. Você consegue. As imagens dos sorrisos de Sam, Dean e Castiel vieram à minha cabeça e senti que meus olhos mudavam. Quando meu poder estava finalmente vindo, fui puxada por trás por um desconhecido, que pressionou uma faca contra o meu pescoço enquanto erguia-me no ar. Tentei lutar, mas o aperto dele era muito forte, e com toda aquela falta de ar, eu não conseguia concentrar-me para usar os meus poderes. Sam e Dean também foram capturados por trás.

— Não revide, Winchester, ou a mocinha morrerá — ameaçou o demônio que me segurava, apertando mais a faca contra o meu pescoço e eu quase senti a lâmina entrando no mesmo.

Dean me olhou, preocupado. Seus olhos transmitiam um pavor, um medo. Medo de que algo acontecesse comigo. Sam também tinha esse olhar, e a risada rouca de Lúcifer preencheu a porção do parque novamente, me fazendo tremer mais uma vez. O sorriso maléfico do anjo caído de repente se desfez, e ele apontou para Dean.

— Cheque os bolsos dele — ordenou.     

O lacaio obedeceu de prontidão, enfiando as mãos nos bolsos de Dean, que permaneceu imóvel para que nada acontecesse comigo. Tentei respirar fundo, sentindo aquele sufoco me dominar. O demônio rapidamente tirou de dentro da jaqueta de Dean os quatro anéis dos cavaleiros.

Como um filme que se repetia, Lúcifer gargalhou mais uma vez. Seu lacaio caminhou até ele e entregou-lhe os anéis. Lúcifer examinou-os cuidadosamente, girando os mesmos em suas mãos e encarando-os com certa repugnância. Ele estalou os dedos e os anéis facilmente se transformaram em pó na sua mão, e ele encarou-nos com os olhos pegando fogo.

— Acharam mesmo que isso ia funcionar? — ele ergueu uma sobrancelha, demonstrando seu sarcasmo. — A vossa ingenuidade é adorável, Winchesters.

— Não custava tentar. Qualquer opção é válida para mandar o seu traseiro de volta para o inferno, you son of a bitch — arriscou Dean, em um tom elevado.

A adaga foi pressionada com mais força contra o meu pescoço e eu engasguei. Dean percebeu o que havia provocado e eu pude ver que ele engoliu em seco, temeroso.

— A cada vez que você lançar uma de suas ameaças idiotas para mim, Dean, mais ela estará perto de conhecer o papai dela — ele alertou, cruzando os braços.     

Dean permaneceu em silêncio, e dessa vez, foi Sam que se pronunciou.

— Lúcifer, por favor, solte ela. Nós deixaremos você em paz se o fizer — pediu ele educadamente, sem mexer-se nos braços do demônio que o encurralava para não demonstrar um ato rebelde.

— Oi, Sammy! Achei que o gato tinha comido a sua língua, também. Estava tão quieto... Nem parece aquele que fez todas aquelas coisas com a Ruby... Você lembra dela? Ah, a minha aliada mais fiel... — Lúcifer provocou, pensativo.

— Pare com isso! — pedi em desespero, com a voz rouca por conta da falta de ar.

Lúcifer comprimiu os lábios, me encarando de cenho franzido.

— Soltem eles — o anjo caído ordenou e o lacaio me soltou, afastando a adaga da minha garganta.

Dean também foram soltos pelos demônios que os encurralavam e eu caí no chão, ofegante. Os lacaios se afastaram e Lúcifer caminhou até mim. Sam e Dean gritaram para que ele se afastasse, mas ele não o fez e eles não se aproximaram, pois sabiam que Lúcifer poderia matá-los em um estalar de dedos. Lúcifer se abaixou até seu rosto estar extremamente próximo do meu. Consegui sentir a sua respiração contra o meu rosto.

— Da próxima vez, quem vai virar pó como aqueles anéis viraram vai ser você — ameaçou em um sussurro, que entrou no meu ouvido e arrepiou todo o meu corpo. — Seja uma boa garota.

Permaneci ofegante e Lúcifer se levantou, ainda me encarando. Ele estalou os seus dedos mais uma vez e ele e seus lacaios rapidamente desapareceram, dando lugar ao silêncio da noite que facilmente os substituiu.

Estávamos arruinados. Nosso plano havia ido por água à baixo e Castiel estava em apuros. Não consegui me reerguer sozinha, e Sam e Dean vieram me ajudar. Com seu auxílio, levantei da grama, permanecendo de cabeça baixa. O mundo acabara de dar uma descarga em todas as nossas esperanças, e tudo que eu consegui foi abraçar Sam, que me acolheu gentilmente. Apertei-o com toda a força, envolvendo-o no abraço.

Quando nos desvencilhamos, Dean me esperava. Seu olhar denunciava decepção e tristeza. Minha garganta ainda doía pela faca que fora pressionada contra ela, e meus olhos marejaram. Um soluço escapou da minha boca de repente.

— Me desculpe — ele murmurou.

Não aguentei e envolvi-o em um abraço ainda mais forte do que o que eu dei em Sam. Desabei no seu ombro, encharcando a sua jaqueta de lágrimas. Suas mãos envolviam a minha cintura e ele respirava pesado contra o meu ouvido, abalado assim como eu. Apertei mais minhas mãos ao redor do seu pescoço, chorando em silêncio.

Aquele não havia sido o fim do mundo, mas havia sido praticamente o nosso juízo final. 


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Notas finais do capítulo

Tenso, né? Eu sei... Também acho. Fiquei até meio chocada com esse final...

Enfim, eu espero que vocês tenham gostado e deixem um comentário aí! Não custa nada dar uma forcinha, né? Beijos da Milly ♥

(Meu twitter: http://twitter.com/winxchestwr
Meu ask, caso queiram me fazer perguntinhas sobre a fic: http://ask.fm/novakswife)



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