Fallen escrita por Milly Winchester


Capítulo 13
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, meus sábios cabritinhos, minhas batatinhas, minhas coisinhas lindas! Demorei? Não, então fiquem felizes o/

Bom, aqui estou eu trazendo esse capítulo lindinho e triste ao mesmo tempo. Sei que vocês vão querer me matar quando terminarem de ler, mas por favor, não façam isso kkkk Vai dar tudo certo, prometo.

A boa notícia é a seguinte: Fallen agora tem um trailer! Aleluia, senhor!
Tomei vergonha na cara e fiz um trailer para a fanfic. Vocês podem assisti-lo no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=-To5LPmDjgQ
Espero que gostem dele, e por favor, digam o que acharam do trailer lá nos comentários ;)

Enfim, chega de enrolação, espero que gostem e boa leitura!

— Música do capítulo: In My Remains — Linkin Park



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Prendi o cabelo com agilidade e me dirigi em frente ao espelho, analisando o meu reflexo. Era visível a covardia em meu rosto. Eu definitivamente não estava preparada, mas não me restava nenhuma outra opção. Suspirei, aflita, e saí do banheiro, tomando rumo a uma das salas do bunker, assim como Dean e Miguel pediram.

Caminhei pisando forte, tentando achar dentro de mim a coragem que eu não possuía. Estava prestes a aprender como lutar, e depois, aprenderia como usar os meus poderes corretamente. Seria um dia e tanto.

Abri a porta da sala e observei Dean, que estava no centro da sala de braços cruzados. Miguel estava atrás dele, e pela expressão do Winchester, eles haviam discutido. Segurei a risada, tentando manter-me séria e focada no treinamento. Dean vestia luvas que mais pareciam almofadas — provavelmente para absorver o impacto. Já Miguel, segurava luvas normais de boxe — esporte que eu havia tomado conhecimento através de Dean. No princípio, eu não compreendi como o boxe me ajudaria em lutas, porém, Dean me explicou que aprendendo o boxe misturado com outros esportes, eu poderia me defender facilmente.

Caminhei até ambos e Miguel me entregou as luvas. Expirei e vesti-as com um pouco de dificuldade. Ergui o olhar para encarar Dean e este ergueu as sobrancelhas, como se eu estivesse engraçada usando aquelas luvas.

— O quê?

Pude notar que ele conteve uma risada.

— Comecemos do princípio, tudo bem? — disse ele, virando-se para trás e lançando um olhar fulminante para Miguel. O arcanjo aparentemente entendeu o recado e deixou a sala.

Assenti de prontidão.

— O primeiro de tudo é não pensar. Não pense no que está fazendo, não preste atenção nos seus movimentos e apenas siga o seu instinto de defesa. Pense no fato de que você precisa se defender para não tomar uma bela surra. Enfim… Não há um jeito certo de socar ou de chutar, você precisa seguir o que o seu instinto está lhe dizendo. Uma grande e ótima dica é pensar em algo que lhe deixe com raiva e furiosa.

— Tudo bem. Mas você tem certeza de que não preciso aprender nenhum movimento? Estou certa de que sou um desastre — cocei a nuca, um pouco amedrontada.

Dean revirou os olhos, como se a minha pergunta fosse a pergunta mais idiota do planeta.

— Miguel! — gritou ele, e o arcanjo subitamente apareceu na sala.

— Sim?

O Winchester tirou as luvas e socou o rosto de Miguel, que foi pego de surpresa. Meu queixo caiu de imediato. Dean puxou Miguel para perto e o socou outra vez. O arcanjo, desnorteado, foi alvo de mais um soco, e outro soco, e um chute e…

— Basta! — pedi, afastando Dean do arcanjo, que já sangrava um bocado.

Ele obedeceu e se afastou. Miguel ergueu-se, limpando o sangue que escorria do seu nariz. O arcanjo não ousou revidar. Apenas olhou-me de soslaio e desapareceu. Dean fez uma careta e juntou as luvas do chão, vestindo-as.

— Por que diabos fez isso? Está maluco? — perguntei, esbaforida.

— Demonstrando os movimentos. Sua vez — anunciou, colocando as mãos na frente do corpo. — E lembre-se: siga seus instintos. Não pense. Fique com raiva.

Cerrei os punhos dentro das luvas e posicionei as mãos em frente ao meu rosto, assim como o lutador do vídeo que eu assistira. Dean me encarava com um tédio aparente e a única coisa que faltava era ele bocejar. Desferi um soco na luva, amaldiçoando-me por ele ter sido tão fraco.

— É só disso que você é capaz? — desafiou, com os olhos semicerrados. — Minha falecida avó soca melhor do que você. E pasme, ela está morta.

Ah, aquilo me irritou. Me irritou muito.

Soquei mais uma vez, dessa vez com mais força. Alternei meu equilíbrio na perna direita, alternando conforme os segundos passavam. Bati na luva mais forte ainda, e ouvi Dean rir zombeteiro.

— Está melhorando, mas ainda não superou a vovó.

Sem hesitar, soquei mais uma vez e o sorriso vitorioso de Dean se desfez. Soquei novamente e de novo, fazendo-o surpreender-se. Soquei com uma mão de cada vez rapidamente, alternando entre elas. Decidi surpreendê-lo mais ainda e chutei a luva, porém, quando vi, a outra mão de Dean estava desprovida da luva e segurava o meu pé. Senti o desequilíbrio me atingir e ele torceu meu tornozelo, me fazendo cair no chão.

Ele veio até mim e se contorceu para olhar diretamente em meus olhos.

— Que pena… Estava quase me derrotando, mas parece que alguém aqui é mais esperto. Parece que a filhinha de Deus não é o suficiente…

Se eu já estava furiosa, fiquei mais ainda. Não pensei duas vezes e chutei-o, fazendo cambalear para longe. Parti para cima dele e o chutei na barriga. Em seguida, tomei fôlego e soquei seu rosto com toda a força. Porém, não notei que havia feito isso, e quando percebi seu nariz sangrava e seu olho estava inchado.

Tirei as luvas e lancei-as no chão, correndo até ele para ajudá-lo. Ele me encarou, estupefato, e eu delicadamente encostei no volume de sua pálpebra.

— Me desculpe. Minha intenção não era machucá-lo — falei, demonstrando compaixão.

— Tudo bem — ele sorriu desajeitadamente. — Esse era o objetivo. Mandou bem, ruivinha.

Eu sorri com o seu bom humor, mas lembrei que ele não poderia ficar sangrando daquele jeito. Puxei-o pelo braço até a biblioteca, onde ordenei que ele se sentasse e eu o ajudaria. Eu não fazia ideia de como cuidar de um ferimento, mas o meu instinto gritava para que eu o fizesse.

— Desculpe por ofendê-la… — murmurou, enquanto eu vasculhava as gavetas procurando por uma maleta de primeiros socorros.

— Você só queria me ensinar como lutar… Eu é que devo pedir desculpas por te dar um olho roxo — ri pelo nariz. — Por acaso sabe onde encontro uma maleta de primeiros socorros?

— No armário do banheiro há um frasco de álcool, esparadrapos e um pacote de gazes.

Agradeci com um aceno de cabeça e corri até o banheiro, pegando o que Dean dissera. Voltei rapidamente para a biblioteca e puxei uma cadeira, sentando-me em frente a Dean. Havia um corte não muito largo próximo à sua sobrancelha e parecia arder, porém, Dean não demonstrava nenhuma expressão de dor. Talvez ele só estivesse deixando eu fazer um curativo para não fazer eu me sentir culpada.

Despejei um pouco de álcool na gaze e, delicadamente, encostei a mesma no corte. Dean se remexeu na cadeira, e eu afastei a gaze do corte, encarando-o.

— Foi só uma ardência — esclareceu. — Prossiga.

Pressionei a gaze contra o ferimento, e dessa vez, Dean não protestou. Continuei pressionando e afastando para que o sangue estancasse e assim que isso aconteceu, peguei o esparadrapo. Arranquei um pedaço do mesmo e colei a beirada na gaze. Aproximei a pequena gaze do corte e colei em sua testa com os esparadrapos.

Logo, notei que estávamos muito próximos. Aparentemente, nossos rostos estavam a apenas seis centímetros de distância. Ruborizei e amaldiçoei-me por isso. Percebi que ele olhava diretamente em meus olhos, e eu também o fazia. Aquela imensidão verde em seus olhos parecia querer me abraçar e, sem perceber, estávamos nos aproximando ainda mais.

 Em um gesto delicado, ele se endireitou na cadeira sem afastar nossos rostos. Permaneci imóvel e ele pousou sua mão em meu rosto, segurando-o. Fechei os olhos e senti sua respiração contra o meu rosto. Abri-os novamente e vi que Dean olhava para os meus lábios. Eu sabia o que ia acontecer, porém, quando estava prestes a acontecer, um pigarro soou atrás de nós dois. Puxei o meu tronco para trás, batendo com as costas na cadeira. Dean fez o mesmo.

Era Sam, que nos olhava com o cenho franzido. Observei Dean contrair o maxilar, e quando ele me encarou, virei o rosto, tomada pela vergonha.

— Eu atrapalhei alguma coisa?

— Não — eu e Dean respondemos em uníssono.

Samuel sorriu de canto. Ele havia visto aquela cena… Constrangedora.

— Aliás — o Winchester mais novo parecia segurar o riso. — O que aconteceu com o seu rosto, Dean?

— Beth me bateu — respondeu, me olhando de canto.

Sorri, orgulhosa. Sam gargalhou e Dean revirou os olhos. Desculpe, Dean, queimei o seu filme e acabei com a sua imagem de macho alfa, mas acho que isso não muda o fato vergonhoso de que quase nos beijamos. Era estranho pensar isso.

Virei a cabeça para trás á procura do relógio que ficava na mesa. O mesmo marcava meia noite. Eu havia perguntado a Dean o motivo de treinarmos tão tarde, porém, ele não respondeu. Pisquei algumas vezes e o sono veio e imediato, denunciando a minha noite mal dormida e o cansaço do pequeno treino no qual eu derrotei Dean Winchester. Orgulhei-me ao pensar isso.

— Bom, eu vou para a cama. Sam, não ria do seu irmão, eu só o peguei despreparado — menti, levantando-me da cadeira.

— Tudo bem — disse Sam, contendo outra risada. — Boa noite, Beth.

Acenei e subi as escadas cambaleando, nocauteada pelo sono. Assim que cheguei ao quarto, fechei a porta desajeitadamente e não me preocupando com o fato de minhas vestes serem um pouco desconfortáveis para dormir, me lancei na cama macia. A imagem do quase beijo passou por minha cabeça algumas vezes, me atormentando, mas logo, quase que sem perceber, acabei apagando.

***

O homem loiro sentou-se na cadeira e acariciou a barba igualmente loura em seu rosto. Parecia despreocupado, como se nada o afetasse. De repente, um rapaz entrou na sala, revelando olhos pretos diante ao homem na cadeira.

— E então, senhor, o que deseja que façamos com a filha de Deus assim que a pegarmos?

— Matem-na — ordenou, esboçando um sorriso de canto. — Ela estará no abrigo dos Homens das Letras. Achem um jeito de tirar ela de lá e a matem. Caso os dois patetas, digo, Winchesters, tentarem interferir no processo, não hesitem em cortar suas lindas cabecinhas. Seria ótimo ter aqueles rostinhos na minha sala de visitas.

— Sim, Lúcifer — o demônio fez uma reverencia, mas imediatamente se corrigiu. — Digo, senhor.

Lúcifer sorriu maliciosamente, pensando nos resultados que sua ordem poderia dar.

O rapaz saiu pela porta, revelando cinco demônios de olhos negros. O demônio lançou um grito de guerra e olhou ao seu redor, como se estivesse prestes a anunciar algo.

— Matem Elizabeth a todo custo.

***

Como sempre depois das visões, puxei o ar com toda a força que me restava e ofeguei, lembrando das palavras de Lúcifer. Ele desejava matar-me?

Corri para as escadas e as desci agilmente, e sem eu mesmo notar, lágrimas escorriam por minha face feito carros de corrida. Nenhuma de minhas visões anteriores haviam me abalado tanto e naquele momento, meu peito doía, o nervosismo tomava conta do meu ser, assim como o meu medo. E era por isso que eu estava em prantos, resmungando coisas incompreensíveis entre os soluços.

Quando Dean apareceu em minha frente, tudo que eu pude fazer foi lançar-me em seus braços. Ele me abraçou e eu chorei em seu ombro. Meus soluços eram tão altos que garanto que Sam poderia ouvir, de onde quer que estivesse. Pressionei meu rosto contra a sua camiseta preta e contive o meu choro, encharcando o tecido que o Winchester vestia.

Lúcifer queria me matar. E eu não estava preparada.

Ou seja…

Eu iria morrer.

Dean afastou meu rosto de seu peito e segurou-o entre suas mãos. Encarou-me enquanto eu tentava olhar para baixo, em uma tentativa falha de esconder o meu rosto inchado, porém, ele sussurrou, pedindo para que eu olhasse em seus olhos.

— O que a visão dizia?

Solucei vulgarmente e Dean me abraçou de lado, me acompanhando até uma cadeira, para que eu sentasse e me acalmasse. Disse que iria buscar um copo de água e com essa deixa, chorei mais ainda, escondendo meu rosto entre minhas mãos e molhando-as em abundância.

Dean voltou com o copo d’água e entregou para mim. Com as mãos tremulas, peguei o copo e bebi um gole, sentindo o líquido queimando enquanto descia por minha garganta, como se eu tivesse engolido uma pimenta. Sam apareceu e ele e o irmão sentaram próximos a mim, entreolhando-se e ambos demonstrando aflição.

— Conte-nos o que aconteceu — pediu Sam, segurando minha mão que não segurava o copo.

Larguei o mesmo sobre a mesa e apertei mais a mão de Sam, que olhou para o irmão de soslaio, como se pressentisse algo ruim.

— Lúcifer — gaguejei entre mais soluços. — Ele vai me matar. Hoje.

Sam e Dean se entreolharam mais uma vez e engoliram em seco. Limpei a garganta e funguei, deixando o meu desespero mais evidente do que já estava. Eu os olhei — ao menos tentei, já que meus olhos estavam cheios de lágrimas e minha visão estava borrada —, buscando achar alguma esperança nos olhos dos irmãos, por mais pequena que fosse, mas nem mesmo isso poderia me confortar. Encolhi meus joelhos e escondi o meu rosto entre ele, soluçando.

— Ele disse mais alguma coisa? — murmurou Dean. Pude notar que ele não ousou aproximar-se de mim, aparentemente não querendo perturbar-me.

Assenti, levantando a cabeça e balançando-a, ainda abraçando meus joelhos com força.

— Eles virão aqui, no bunker. Lúcifer ordenou que os demônios dessem um jeito de me tirar daqui e me matar. E se vocês interferissem… — fiz uma pausa, e eles pareceram captar a mensagem.

— Ok, fique calma, nós tiraremos você daqui, nada vai… — começou Sam, mas eu o interrompi.

— Ficar calma? Eu apareci nessa droga de mundo simplesmente do nada e sou obrigada a ter visões, poderes. Está tudo confuso. Eu vejo anjos e demônios por toda a parte… Meu conceito de vida nunca será o mesmo, não que eu já tenha tido um diferente deste, mas garanto que eu poderia ser muito feliz sem tudo isso. Por quê? Por que devo carregar esse maldito fardo? Isso está acabando comigo e sei que não sou capaz! Não serei de capaz de salvar ninguém… — esbravejei, mas quando terminei a frase, meus olhos marejaram de novo e eu voltei a soluçar.

Sam e Dean me encararam, ainda apreensivos. Dean suspirou.

— Precisamos tirar você daqui — disse, olhando para o chão. — E rápido.

— É — concordou Samuel. — Tenho uma ideia.

Ergui a cabeça para olhá-lo.

— Podemos levá-la para algum celeiro, de preferência bem longe daqui. Precisamos nos afastar de Lebanon o máximo que pudermos. Se for preciso, passaremos a noite lá, até termos certeza de que nada acontecerá com você, Beth — afirmou, tentando passar confiança.

E eu acreditei nele. Sam e Dean eram minha única esperança e frágil do jeito que eu estava, eu não conseguiria detê-los. Sentia-me inofensiva, incapaz. Mas de repente, algo veio à minha cabeça… Helena.

Quando dei uma surra em Helena, o que me fortaleceu foi a raiva. Talvez essa fosse a chave para o controle. Mesmo assim, eu teria muito a aprender com Miguel e não poderia simplesmente usar essa vantagem — se é que a raiva é uma — sem saber as consequências.

— Tudo bem — sussurrei em um fio de voz.

Levantei-me da cadeira e com passos lentos, subi as escadas para o segundo andar. Apanhei roupas limpas e me dirigi ao banheiro.

Tudo o que eu precisava naquele momento era de um banho. Só isso.

Entrei debaixo do chuveiro e deixei que a água morna escorresse por meu rosto e pelo meu corpo. Foi inevitável não pensar nas coisas que me perturbavam — as palavras de Helena, a visão, o medo… Por que eu? Essa pergunta me atormentava mais do que qualquer coisa. Eu estava extremamente apta a falhar, e eu era a única que percebia isso. O que mais me deixava em desespero era a fé cega que todos tinham em mim, como se eu fosse uma heroína.

A verdade é que não era uma heroína, nunca tinha sido e nunca seria. Eu temia em decepcioná-los, mas eles pareciam não acreditar. O fato de eu ser a filha de um verdadeiro babaca que era capaz de perdoar até alguém impiedoso como Lúcifer não significava nada. Eu sabia que deveria ser muito mais poderosa do que eu era, mas isso não iria mudar. Eu não tinha chances contra o mal e eu era a única que percebia isso.

Tudo que eu podia fazer era acreditar. Tentar. Por mais que isso custasse a minha vida. Contudo, eu temia a morte. Temia que isso acarretasse ainda mais destruição e temia que eu fosse a última esperança. Mas eu era. E isso me deixava extremamente, completamente e verdadeiramente preocupada.

Eu sabia que Miguel poderia me ajudar com a questão dos poderes, mas isso também não me tornaria uma heroína. Eu lutaria para me tornar uma, mas algo me dizia que eu não conseguiria e isso me assombrava.

Percebi que já estava debaixo do chuveiro há bastante tempo e saí do banho. Novamente, eu estava chorando, mas agora, eu não soluçava. Era um choro silencioso. As lágrimas escorriam por meu rosto lentamente e eu não podia evitar isso, por mais que quisesse.

Vesti as roupas limpas, penteei os cabelos e saí do banheiro. Ainda era de tarde, partiríamos só depois de algumas horas. Desci para o primeiro andar, peguei um livro qualquer nas estantes e o folheei, desinteressada. Tentei ler o mesmo, mas minha visão estava embaçada. As letras começaram a se desorganizar e eu encontrei-me confusa. Uma tontura avassaladora me dominou e eu caí.

***

— Beth?

Senti algo me sacudindo. Abri os olhos e tentei focar minha visão, que tentava distinguir tudo ao meu redor. Assim que pude ver tudo claramente, Sam, que aparentemente havia me acordado, apertou os olhos, parecendo estar aliviado.

— Estou bem — informei, pedindo licença para que eu me erguesse.

— Ótimo. Eu já achava que…

Lancei-lhe um olhar amedrontado, interrompendo-o. Ele não ousou completar a frase.

— É melhor irmos. Já está na hora. Dean está esperando lá fora — começou, coçando a nuca.

Assenti e levantei do chão gélido. Apanhei as coisas necessárias e segui o Winchester para fora do bunker, notando que o sol já não estava mais ali, e sim, a lua. Deveriam ser por volta das nove da noite. Olhei ao meu redor e imaginei a cena que eu temia. Eu e os demônios, bem aqui. Dean e Sam caídos a alguns metros de distancia e eu gritando enquanto eles me apunhalavam. Tremi ao imaginar aquilo, porém, tentei disfarçar. Minha atitude foi falha, já que Sam me encarou apreensivamente. Ambos entramos no carro.

Sam e Dean não me disseram onde iríamos, e quando perguntei, ficaram em silêncio. Eu não sabia porque tinha essa sensação, mas eles parecia estar tão amedrontados quanto eu — e não pelos demônios, e sim por Lúcifer. Ele poderia aparecer e isso também era o motivo do meu medo constante.

Depois de algumas horas, chegamos ao nosso destino. Deduzi que era cerca de uma hora da manhã. Olhei pela janela e visualizei um grande galpão. Imaginava um celeiro, mas qualquer coisa que me afastasse do bunker naquela noite seria de grande ajuda. Eu e os dois Winchester descemos do velho Chevrolet e caminhamos relutantes até o local. Rezei — por mais irônico que isso fosse — para que tudo desse certo e eu esperava que desse. Ou melhor, precisava. Nós precisávamos.

Dean abriu a porta de madeira do galpão, que rangeu ruidosamente. Um cheiro de pó e velharias inundou minhas narinas, mas não me importei. Sam ligou a lanterna e iluminou para que ao entrássemos, não pisássemos em nada. Retirei a mochila que eles haviam me dado das costas e de lá de dentro tirei algumas velas. Coloquei-as sobre uma mesa iluminada por Sam e apanhei o isqueiro, acendendo cada uma delas. Logo, o galpão já não precisava mais da lanterna e o fogo alaranjado iluminou todo o local.

Depois de desenharmos armadilhas do diabo na porta e no teto, estendemos os sacos de dormir no chão e nos sentamos sobre eles. Seria uma longa e conturbada noite.

Retirei barras de cereal da mochila e entreguei uma a Dean, que aceitou. Tentei dar uma para Sam também, mas ele recusou. Desejou boa noite e deitou-se. Enquanto eu e Dean comíamos em silencio, pudemos ouvir os seus roncos. Ele deveria estar cansado.

Engoli o último pedaço da barra e encarei Dean, que fitava o chão. Seu rosto estava iluminado pela vela em cima da mesa de madeira, e ele pareceu não notar que eu estava o encarando. Sem pensar duas vezes, eu me aproximei dele e segurei a sua mão.

Eu não sabia o que estava fazendo, mas Dean olhou para mim, assim como eu olhava para ele. E quando eu menos esperava, ele me abraçou. Ele sabia o tamanho do meu medo, sabia o quanto eu temia não só a Lúcifer, mas a mim mesma. Enquanto eu escondia meu rosto em seu peito, sentia seu coração batendo suavemente e sua mão deslizando lentamente por meus cabelos. Sua respiração era calma, o que me fez ficar calma também. Até que eu lembrei de algo importante.

— Esqueci minha jaqueta no Impala. Posso ir buscar?

— Isso é realmente importante? — perguntou seriamente.

Balancei a cabeça positivamente e Dean semicerrou os olhos.

— Corre perigo lá fora — sussurrou, incrédulo.

— Tomarei cuidado — prometi.

Dean revirou os olhos e me entregou a chave. junto da faca para demônios. Sorri sem mostrar os dentes como uma forma de agradecimento e ele continuou olhando para o chão. Guardei a faca no cinto e apertei a chave em minha mão.

Saí do galpão e fechei a porta atrás de mim. No momento em que saí, senti alguns pingos caírem em mim, e em alguns instantes eles se tornaram uma chuva pesada e barulhenta. Eu não podia voltar atrás, então apenas segui em frente, encolhendo-me e abraçando a mim mesma. Afaguei meus braços gélidos e desnudos, em uma tentativa de aquecer os mesmos, mas minhas mãos estavam molhadas. Bufei e enfiei a chave na pequena fechadura da porta, que servia para abrir o Impala. Assim que ele abriu, me estiquei para pegar a jaqueta no banco de trás e depois que consegui, fechei a porta com força.

Chaveei e coloquei o casaco em volta do meu pescoço. Ele estava quente, mas eu sabia que logo ele ficaria encharcado como o resto da minha roupa. Prossegui até o galpão, tremendo.

— Ora, ora, ora. O que temos aqui? — uma voz soou atrás de mim.

Permaneci imóvel. Eu conhecia aquela voz. Era o demônio do sonho, o demônio que falava com Lúcifer. Escutei o barulho de um arranhão. Pobre Impala. Dean ficaria furioso. Meu corpo estava paralisado e eu não queria virar, não queria olhar para eles. O medo percorreu por meu corpo, eu não queria acreditar que isso estava realmente acontecendo. Girei nos calcanhares lentamente, observando os seis demônios parados bem na minha frente.

— Olá, querida. Como vai? — perguntou um deles.

— Eu não lhe dei a permissão para falar — rosnou o demônio líder, olhando para o outro. O mesmo se encolheu. — Muito prazer. Sou Jessie. Então, esperto de sua parte vir até aqui. Pena que saiu do galpão. Não é muito inteligente, sabia?

— Quem é você para falar algo sobre inteligência? É só um demônio estúpido — rebati, com a voz trêmula. Minha tentativa de soar ameaçadora foi falha.

Jessie riu. Sua risada rouca e áspera ecoou. Encolhi-me mais ainda e eu olhei para trás, na esperança de que Dean ou Sam saíssem dali, mas estávamos muito longe e eles não ouviriam nada.

— Está sozinha agora. Não depende dos seus cachorrinhos Winchesters — ele sorriu amargamente.

— Não devia chamá-los assim — ameacei, agora muito mais firme devido à raiva que Jessie havia me proporcionada.

Sim. Raiva. A raiva é a chave para o controle. Vamos, me deixe com raiva.

— Oh, eu não devia? E se eu disser que eles são inúteis e imprestáveis, que não dão a mínima para você e que só estão a usando para combater Lúcifer. Você sabe que falhará, pirralha insignificante.

Pirralha insignificante? Oh, ele não disse isso.

Corri até o demônio e o soquei, fazendo-o rir mais ainda. Ele me jogou para longe e outro demônio veio para cima de mim, deitando sobre mim e tentando me estrangular. Rolei e fiquei por cima, erguendo meu indicador e com ele, cortando sua garganta sem ao menos precisar de uma faca. Eu não sabia como tinha feito isso e nem queria saber, o que eu precisava agora era me defender.

Levantei em um pulo e tirei a faca do cinto, apunhalando o segundo demônio. Tirei a faca ensanguentada do corpo morto do demônio e corri até o terceiro, com a faca em mãos, mas este lançou minha faca para longe. Ergui a mão e apertei os olhos, lançando-o para longe com meus poderes. Girei a mão e seu pescoço quebrou violentamente. Aquilo pareceu doer.

O quarto e o quinto demônio vieram ao mesmo tempo e eu os ergui no ar com a força da mente. Estalei os dedos e os mesmos explodiram. Senti sangue jorrar em meu rosto, mas não liguei e corri para enfrentar Jessie, que me aguardava pacientemente.

— Bom trabalho até agora — elogiou ironicamente. — Pena que não sobreviverá a mim.

Eu ergui as sobrancelhas, exibindo um sorriso sarcástico.

— Alguém já lhe disse que é muito convencido?

Me aproximei dele e o chutei diversas vezes. Ele caiu no chão e eu o soquei, preparada para cortar sua garganta como fiz com o outro, mas Jessie revidou. Ele levantou e eu acabei levantando junto. Meu estômago doeu quando recebi vários chutes na barriga, mas eu não esperava que ele me puxasse para mais perto e cravasse um punhal em meu baço.

Uma dor excruciante tomou conta do meu corpo e Jessie me ergueu no ar, sorrindo maliciosamente enquanto girava a faca dentro de mim. Fechei os olhos e senti mais dor ainda. Um grito de desespero escapou dos meus lábios e Jessie tirou o punhal de dentro de mim. Quando ia cravá-la novamente,  Jessie recebeu uma facada de Dean no mesmo lugar que ele havia me apunhalado.

O demônio caiu e eu também cai. Dean veio até mim e Sam também estava ali. Minha visão estava turva e eu não conseguia enxergar bem. Encostei os dedos no ferimento e observei-os, encharcados de um sangue espesso e avermelhado. Eu estava tonta, meu corpo inteiro doía e eu não conseguia entender nenhuma palavra que Dean e Sam diziam. Eu ia morrer.

Mas então, eu ouvi algo. Dean segurou a minha mão.

— Vai ficar tudo bem. Estou aqui e não irei deixá-la — ele balbuciou, apertando minha mão gélida. Mesmo com a visão embaçada, pude notar que sua expressão era de tristeza de preocupação.

Aquilo me preencheu de alegria, por mais que uma dor agonizante estivesse me domando. Gritei mais uma vez e Dean apertou minha mão mais ainda. Não consegui dizer mais nada e por fim, perdi a consciência.


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Notas finais do capítulo

E aí? Indignados comigo? Eu sei, eu sei, desculpem por isso (risos).
O próximo não vai demorar a ser postado, prometo. Não esqueçam de comentar o que acharam do capítulo e do trailer, beleza?

Vou ficando por aqui. Beijos com cheirinho de uva (porque cheiro de uva é uma coisa dos deuses).

Meu twitter: http://twitter.com/purgatoryxz
Tumblr da fanfic: http://fallen-fanfic.tumblr.com



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