Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 54
Recém Chegados


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo bem grandinho hoje! Eu disse que recompensaria vocês ♥



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Aquele deveria ser o melhor lugar de todo o jardim de Hogwarts. Debaixo daquele frondoso carvalho, tinha-se uma visão clara dos terrenos da ala Sul do castelo, e se esticasse um pouco as pernas, dava para se mergulhar as pontas dos dedos nas águas geladas do Lago Negro.

Apoiada no tronco da árvore, que era grosso o suficiente para precisar de três adultos crescidos para abraçar sua circunferência, Lottie olhava de longe um grupo de estudantes sentados encolhidos na sombra que as paredes do castelo formavam na grama, assim como ela, procurando escapar do intenso calor do sol que o fim de maio trouxe. Levantando os longos cabelos escuros em um rabo de cavalo improvisado, Lottie sentiu agradecida uma fresca brisa secar a sua nuca.

Naquele momento, um dos estudantes soltou um grito fino quando a ponta de um dos tentáculos raspou em seus tornozelos, e Lottie riu baixinho junto com o resto do pequeno grupo, embora eles estivessem alheios à sua presença, brincando com os feitiços que aprenderam recentemente, fazendo flutuar a sua volta as pequenas flores amarelas que nasciam quando a neve derretia, e não desviou o olhar dos alunos mesmo quando um grito fantasmagórico vindo de dentro do castelo assustou o pequeno grupo, e os fez levantarem assustados, soltando as flores amarelas na mesma hora.

Menos uma horcrux, pensou Lottie, sentindo o coração ficar um pouco mais leve. Mesmo sabendo que o autor dessa magia era Lorde Voldemort, ela não conseguia entender como um ser humano pudesse chegar ao ponto de submeter sua alma a algo tão tenebroso. Ela imaginou, quando Harry revelou que esse era o motivo da suposta imortalidade do Lorde, que aquele não era uma magia inocente. Mas quando foi à biblioteca o único livro em que encontrou alguma referência ao termo, disse que “sobre as Horcruxes, a invenção mais perversa da magia, não falaremos nada”. Ela tinha certeza que em momento nenhum seu pai falou sobre esse assunto nas aulas de DCAT, por isso buscou a ajuda de Dumbledore, como ela sempre fazia quando tinha algum problema.

— O que você tem que entender, Lottie, é que essa é uma magia das trevas – respondeu Dumbledore quando ela o procurou em uma manhã particularmente fria – Ela permite que a pessoa divida a sua alma e a esconda em um outro objeto. Assim, caso aconteça algo com seu corpo, ela não morre pois sua alma continua presa à terra.

— Mas professor – Lottie se lembrava de ter perguntado, ignorando completamente a xícara de chá em suas mãos – Se uma pessoa tem o corpo destruído e mesmo assim continuar... viva...

— É uma semivida – continuou Dumbledore, extremamente sério. Lottie nunca havia visto o diretor daquele modo – A pessoa se tornaria quase um espírito, mais perto de um fantasma do que um ser humano.

— Mas como alguém poderia aceitar passar por isso? – perguntou Lottie, subitamente, sentindo um embrulho no estômago.

— Minha doce criança – sorriu Dumbledore – Nós pensamos assim, porque sabemos que existem coisas piores que a morte, e coisas melhores que a vida eterna. Lorde Voldemort não pensa assim. Mesmo quando eu o conheci como o órfão Tom Riddle, ele demonstrava ser assim. Um homem incapaz de sentir empatia, ou remorso. Só mesmo uma pessoa assim para conseguir levar até o fim o ritual para se fazer uma horcrux.

— Eu pensei que fosse necessário apenas cometer um assassinato senhor. Não que matar seja simples... – adicionou a garota rapidamente, mas o sorriso rápido que surgiu sob a barba prateada a indicou que o diretor havia entendido.

— O ato de se matar outro ser humano é apenas o primeiro passo, dividindo a alma – disse Dumbledore, retomando a seriedade – O feitiço para transferir o pedaço de alma rasgado para o objeto é muito difícil e trabalhoso, envolvendo um grande conhecimento em feitiços das trevas, canibalismo, necromancia...

Lottie fechou os olhos, enjoada com sua recente descoberta, sem saber se estava feliz por ter satisfeito sua curiosidade.

— Professor – perguntou Lottie, buscando tirar de sua mente a imagem de um homem comendo o conteúdo de dentro da cavidade abdominal de outra pessoa – Quando uma alma se divide, existe algum modo de uni-la novamente?

— Remorso, Lottie. O amor, no final, é a maior das magias. – disse Dumbledore, recolhendo sua xícara intocada, indicando claramente que a conversa dos dois havia acabado.

Aquela conversa ainda aparecia com frequência em seus pensamentos, principalmente quando ela pensava na Guerra e em tudo o que mudou desde que Harry chegara naquele universo. Ela se lembrava que a princípio, muitos dos membros da Ordem estavam bastante descrentes sobre o plano de Dumbledore de usar um ritual supostamente criado por Morgana a mais de mil anos atrás para encontrar o bruxo ou bruxa capaz de acabar com a Guerra, e quando Harry finalmente chegou, muitos tinham certeza que o diretor havia feito algum erro.

Era estranho pensar assim, mas depois de tão pouco tempo, Lottie já tinha a impressão de que Harry sempre esteve lá. Claro que ela não esqueceu dos buquês de flores que sua mãe conjurava todo 31 de julho desde antes dela nascer, e ela sabia que aquela vez em que ela viu seu pai chorando escondido segurando um hipogrifo de pelúcia ficariam grudados em sua mente para sempre, mas quando Harry chegou ela simplesmente sabia que ele veio a essa realidade para fazer muito mais que acabar com a Guerra. Ele pode ter tentado esconder sua identidade, mas algo em seu sangue havia identificado aquele garoto alto e tímido como parte de sua família, e ela sentia em seus ossos que, mesmo que ele voltasse para onde veio, esse encontro poderia finalmente fazer o luto acabar.

— Lottie!

A garota virou o rosto em direção da voz que a chamou, mas teve que colocar a mão sobre os olhos para tapar finalmente reconhecer quem vinha em sua direção.

— Olá, Ronald – Lottie cumprimentou o garoto, levantando-se conforme ele se aproximava – Começando ou terminando a ronda?

— Terminando – respondeu Ronald, sorridente e parecendo mais sardento do que nunca debaixo do sol forte – Os irmãos Holley assumiram agora. Er... – ele pigarreou, aparentemente nervoso por algum motivo que Lottie não soube identificar – Onde estão os outros? É quase um milagre te ver sozinha.

— Estão dentro do Castelo – informou Lottie, calçando os tênis que havia tirado – Harry, Tonks, Remus e Gui voltaram do Gringotes com a horcrux.

— Então aquele grito que ouvi antes era a horcrux? – perguntou Ronald, assombrado – Uou, eu gostaria de ter visto aquilo.

— Acredite em mim, não gostaria – respondeu Lottie se levantando, mas o olhar surpreso no rosto do garoto a fez perceber que talvez tivesse sido um pouco ríspida – Desculpe. É que não é um espetáculo agradável de se observar, de verdade. Aquilo mexe com a gente, com a sua mente, te promete tudo o que você mais quer em troca de não ser destruído... É uma coisa que marca fundo.

— Eu não sabia – murmurou Ronald, com as orelhas muito vermelhas.

— Tudo bem – disse Lottie suavemente, encostando rapidamente no antebraço do garoto com um sorriso no rosto – Mas afinal, o que te trouxe ao castelo?

— Eu e Francis vimos um incêndio estranho vindo das montanhas no fim do nosso turno – explicou Ronald, que havia ficado subitamente sorridente – Os irmãos Holley disseram que ficariam de olho, mas achei melhor avisar para a professora McGonagall, ou Moody, ou talvez o Harry, se ele não estiver muito cansado.

— Você querendo falar com meu irmão voluntariamente? – implicou Lottie, com um sorriso maroto no rosto – O que aconteceu, bateu a cabeça?

— Não, mas bem que merecia – Ronald respondeu, encolhendo-se ligeiramente enquanto seguia Lottie em direção ao castelo com as orelhas tão vermelhas quanto seu cabelo – O Harry é um cara legal. Eu estava com, er, com ciúmes e... E fiz algumas coisas das quais não me orgulho.

— Mas ciúmes de que? – perguntou Lottie, curiosa, olhando diretamente para Ronald, enquanto andavam, embora o garoto olhasse fixamente para frente.

— Seus pais – disse Ron, subitamente, o que fez Lottie franzir o cenho.

— Meus pais? – perguntou ela – Porque você teria ciúmes dos meus pais?

Mas Ronald não respondeu, apenas levantou a mão e apontou para frente, para o fim do corredor, e Lottie seguiu com o olhar até onde o garoto havia apontado. Quando seu olhar finalmente caiu sobre os pais, ela soube imediatamente que algo estava errado muito errado no modo que seu pai, Sirius e Remus se inclinavam sobre sua mãe.

— Mãe? – perguntou Lottie, sentindo o coração acelerar quando o rosto molhado de sua mãe finalmente apareceu em seu campo de visão – O que aconteceu?

— Foi o Harry – respondeu Sirius, com a voz fúnebre.

— Ele se machucou? – perguntou Lottie, sentindo o coração martelar pesadamente nas costelas – É muito grave? Onde ele está?

— Lottie, sente-se – disse Sirius, afastando-se dos três amigos, e indicando que a garota se sentasse ao seu lado no beiral de uma das janelas do corredor.

— Sirius, o que aconteceu? – perguntou Lottie nervosa, irritada por sentir seus olhos ficarem subitamente úmidos – Cadê meu irmão? Aquela horcrux fez alguma coisa com ele?

— Lottie, Dumbledore voltou ao castelo pouco depois de termos destruído a taça. – explicou Sirius, levantando uma das mãos e delicadamente secando uma lágrima no rosto da garota, que ela não sentiu sair de seus olhos - Ele trouxe notícias dos Malfoy, e Harry foi se encontrar o Draco...

— Sirius, eu não sou mais uma menininha – interrompeu Lottie, embora fosse exatamente assim como ela se sentia no momento, pequena e fraca – Onde está o Harry?

— Na Mansão Malfoy – respondeu Sirius – Neville Longbottom apareceu, e Harry deixou-se capturar para manter o disfarce dos Malfoy.

Lottie olhou em sua volta, olhando para o rosto dos outros buscando qualquer sinal de aquela era uma simplesmente uma brincadeira de péssimo gosto, mas não encontrou. Uma dor que ela nunca havia sentido antes apertou seu coração, e ela precisou sorver uma grande golfada de ar de uma vez só pois só então percebeu que havia parado de respirar.

— Como a gente sabe que ele simplesmente não está atrasado? – perguntou Lottie, se agarrando em uma última fagulha de esperança.

— Narcisa mandou um patrono, e o próprio Draco está conversando com Dumbledore pela lareira nesse momento – explicou Sirius, e Lottie afundou novamente em si mesma.

Ela sabia o suficiente sobre a família Malfoy por causa de Hermione, e sabia que conseguir resgatá-lo seria algo que beirava o impossível. E as únicas pessoas que ela conhecia que poderia ultrapassar essa barreira e transformar o impossível em possível eram o próprio Harry e, talvez Dumbledore.

— O que Dumbledore está esperando? – perguntou a garota, de supetão – Se alguém sabe o que fazer, é ele!

— Dumbledore está... – Começou Sirius, mas foi interrompido com o barulho alto das portas de madeira do escritório da professora McGonagall se destrancando e abrindo.

— Aqui – disse Dumbledore, sombriamente – Por favor, entrem. Ronald, se puder tentar entrar em contato com Ninfadora e pedir para ela localizar Moody imediatamente.

— Sim senhor – disse Ronald, assumindo um ar eficiente automaticamente, saindo correndo na direção contrária a que veio.

Lottie esperou Ronald desaparecer depois de virar em um corredor e só então entrou no escritório da professora. Em todos os seus quase vinte anos de idade, ela nunca havia visto o diretor daquele jeito. As barbas e cabelos do velho, normalmente brilhantes e penteados, pareciam embaçados e embaraçados, e seu óculos em formato de meia lua ficou torto no fim de seu nariz arqueado.

— Narcisa mandou um patrono alguns minutos atrás dizendo que Harry fora capturado, pedindo que esperássemos o contato de Draco pela lareira – começou Dumbledore, e Lottie se arrepiou com a dor escondida na voz do diretor. Ela pensou que nunca o havia visto tão velho como naquela hora – Eu estava falando com ele agora pouco, e ele me inteirou dos fatos.

— E quais são eles? – perguntou James, e Lottie olhou surpresa para o pai, que parecia anormalmente sério e calmo, o rosto subitamente envelhecido sem o típico meio sorriso que sempre exibia.

— Neville Longbottom apareceu na mansão quando Harry estava prestes a ir embora, e para evitar que Draco fosse desmascarado como espião, Harry deixou-se capturar – disse Dumbledore – Ele agora está nas masmorras da Mansão Malfoy, mas Draco informou que assim que ele acordar, Neville pretende arrancar dele o máximo de informações que conseguir enquanto Belatriz e o próprio Voldemort não voltarem. Draco ainda está em posse da Horcrux, e atualmente também está em posse da varinha de Harry. Ele está pedindo nossa ajuda para tirar Harry de lá, senão ele disse que iria retirá-lo de lá ele mesmo e acabar com seu disfarce. Ele nos deu uma hora.

— Draco está disposto a ser desmascarado? – perguntou Sirius, com assombro.

— Draco sabe que a sobrevivência de Harry é mais importante do que o papel dele como espião, nessas circunstâncias – disse a professora McGonagall sabiamente – E conhecendo Lucius como conheço, se isso chegar a ser necessário, ele será capaz de driblar essa situação e continuar no círculo íntimo de Voldemort.

Lottie sentia como se seu corpo estivesse flutuando. Ela sabia que outras pessoas estavam falando, e conseguia perceber que os ânimos estavam ficando mais exaltados a cada segundo, mas não estava conseguindo se concentrar em nada naquele momento. Ela olhava, sem realmente ver, seu pai e Remus discutirem alguma coisa com a professora McGonagall, enquanto sua mãe e Sirius gritavam suas opiniões para ninguém em especial. Foi como se ela estivesse novamente em Beauxbattons, sob fogo cruzado.

— SILÊNCIO! – gritou Dumbledore, levantando-se e recuperando a antiga imponência e altura com a qual Lottie estava acostumada – Tenham calma.

— Não me peça para ter calma, Dumbledore – sibilou James, indignado, e Lottie percebeu pela primeira vez em sua vida que seu pai poderia ser tão assustador quanto sua mãe – Harry foi capturado, e o senhor ouviu o que a Narcisa disse. Existe uma grande chance dele estar sendo torturado agora, e essa é a melhor das nossas hipóteses. Então não...

— Shiu! – chiou Remus na direção de James, levantando-se também.

— Aluado, eu... – começou James, magoado e indignado, mas foi novamente interrompido.

— Não, James – sussurrou Lily, levantando-se também – Você não está ouvindo?

Lottie permaneceu o mais imóvel e silenciosa possível nos próximos segundos, assim como todos os da sala, procurando descobrir a que Lily poderia estar se referindo, mas assim que eles começaram a se olhar confusos entre si, um barulho abafado veio do outro lado da sala. Mais uma vez. E de novo. Lottie estava terrivelmente assustada que o armário pudesse ter criado vida de uma hora para outra; aquilo seria estranho demais até mesmo para Hogwarts.

— Tia Minnie – começou Lottie, hesitante, sem tirar os olhos do armário pesado que agora balançava ligeiramente – A senhora não costuma esconder animais perigosos no seu escritório, costuma?

— Ora, mas isso é pergunta que se faça! – exclamou a professora – Eu imaginei que a senhorita tivesse o mínimo de bom senso para concluir que eu não teria nada a ver com algo assim.

— Mas o armário é da senhora... – disse Lottie, cruzando os braços, sentindo o rosto esquentar ao enrubescer – Afinal, o que mais poderia ser?

— Uma muito bem vinda ajuda – disse Dumbledore, surpreendentemente calmo – Lottie, querida, será que poderia abrir a porta para os nossos convidados? Eles devem estar muito desconfortáveis – continuou o diretor, sentando-se novamente e cruzando os dedos em frente ao rosto.

Se não fosse os barulhos abafados vindo da enorme peça de madeira do outro lado da sala, seria capaz de se ouvir um alfinete cair. Lottie percebeu que todos olhavam para o diretor com assombro e descrença no rosto, como se o velho homem tivesse finalmente enlouquecido, e ela tinha a impressão que seu próprio rosto não deveria estar muito diferente. Levantando-se devagar, olhando de lado para o diretor como se esperasse a qualquer segundo que ele a parasse dizendo que era apenas uma piada, a garota se encaminhou até o armário antigo e abriu sua porta com força.

No segundo seguinte, ela estava no chão, quase esmagada pelo peso de outros três corpos que se contorciam e reclamavam.

— George, sai de cima de mim, sua perna está me esmagando! – esganiçou uma voz feminina.

— Não é a minha, é a do paquiderme do Roniquito!  - respondeu uma voz masculina

— Paquiderme é a sua mãe! – disse uma segunda voz masculina, mais grossa que a anterior, que Lottie tinha certeza já ter escutado.

— É a mesma que a sua, seu boçal! – rosnou a primeira voz.

— Oh meu deus parem de brigar! – disse exasperada a primeira voz, e Lottie sentiu os corpos em cima de si se retorcerem – E levantem-se, acho que... Oh, caímos em cima de alguma coisa!

— Em cima de mim! – Lottie tentou gritar, mas sua voz saiu abafada.

— Por Merlim, caímos em cima de uma garota! – Gritou a primeira voz masculina, e Lottie sentiu um enorme peso sair de cima de suas costelas quase instantaneamente, permitindo que ela voltasse a respirar propriamente – Nos desculpe, nós estamos... bem nós não sabemos exatamente.

Os outros dois corpos saíram de cima de Lottie, e ela sentiu um par de braços ajudarem-na a se levantar com cuidado. Ainda um pouco irritada por ter sido derrubada e quase asfixiada, Lottie deu um passo para trás e jogou o cabelo para trás dos ombros antes de lançar um olhar irritado para as três pessoas que segundos atrás estavam em cima dela.

Sua irritação se evaporou assim que seus olhos processaram o que estavam vendo. Na sua frente, estavam Ronald, Hermione e Fred. Mas, tinha algo muito estrando neles. Ronald tinha o cabelo mais comprido do que ela jamais se lembrava, e por algum motivo parecia ainda mais sardento que o normal. Fred não possuía nenhuma das cicatrizes características em seus braços e o cabelo de Hermione estava seco, armado e sem brilho. Não esses não eram seus amigos, ela raciocinou enquanto olhava para eles com os olhos muito esbugalhados. E isso só poderia ter uma explicação, por mais maluca que pudesse ser.

— Desculpe pela chegada sem avisar – disse a Hermione de cabelos secos, ainda olhando muito preocupada para Lottie – Mas é que nós... O que foi, Ron?!

O outro Ronald não falou nada, apenas apontou para algum ponto atrás de Lottie, e a outra Hermione deu um gritinho alto e esganiçado, tapando a boca com as duas mãos.

— Dumbledore! – ela disse, com a voz abafada meio esganiçada – Está vivo!

— É claro que está vivo, senhorita Granger – disse Sirius, olhando confuso para os três recém chegados – Meio caduco as vezes, mas...

— Acredito que a pergunta da senhorita se deve ao fato de eu estar morto de onde ela veio – Dumbledore disse calmamente, apoiando os dedos uns nos outros na frente do nariz adunco – Estou correto?

— Sim, eu-eu acho – respondeu a garota, dando um pequeno passo mais para perto do novo Ronald, que enlaçou sua cintura protetoramente – Nós viemos procurar o Harry. O orbe de Merlim nos trouxe até aqui, eu acho. – ela disse, parecendo satisfeita em manter o olhar fixo em Dumbledore, que observava os três jovens muito atentamente – Ele está aqui?

— Primeiro, queiram sentar-se – disse Dumbledore, arrastando com a varinha um pequeno sofá até a frente da cadeira onde ele mesmo estava sentado – Aceitam alguma coisa para beber?

— Dumbledore, com todo respeito, mas acho que não temos tempo... – disse James esfregando a testa nervosamente, e Lottie percebeu uma veia pulsando na têmpora do pai, a mesma que ela via aparecer em sua mãe quando estava prestes a explodir.

— Eu serei breve James – disse Dumbledore, cortante, antes de se voltar na direção dos recém chegados – Vocês sabem, ou ao menos imaginam, como chegaram aqui?

— Foi o George – respondeu o novo Ronald, e Lottie olhou com mais curiosidade para o mais velho dos três. Ela não tinha muitas lembranças do gêmeo do Fred Weasley que ela conhecia, tanto que no início nem pensou que esse rapaz poderia ser o outro gêmeo – Ele pegou aquela bola gigante nos braços e disse para nos levar até o Harry, nosso amigo. Eu não sei se vocês o conhecem, mas...

— É claro que conhecemos – respondeu Lily – Ele é meu filho.

Se a situação não fosse muito séria, Lottie teria achado muita graça em ver as três mandíbulas dos forasteiros caírem juntas, olhando para sua mãe. Eles a encaravam com os olhos arregalados, como se fossem trouxas vendo fantasmas, e ela concluiu que a sua teoria estava correta. Aqueles eram os amigos de Harry, do universo dele, que enfim encontraram uma maneira de vir busca-lo.

— Mas... Mas... – o novo Ronald balbuciava, claramente com dificuldade em montar uma frase.

— Depois teremos tempo para apresentações, mas agora é imprescindível que prestem atenção em mim e não me interrompam – disse Dumbledore muito sério, ganhando novamente a atenção incondicional dos três recém chegados, que pareciam se encolher em si mesmos, nervosos por estarem em um terreno tão desconhecido – Como já devem imaginar, vocês estão em outra realidade. Um outro universo, se desejarem o termo, mas não me aprofundarei nesse assunto. O mundo no qual estamos agora está em Guerra há mais de vinte anos, lutando para sair das garras das trevas de Lorde Voldemort, mas a cada ano que se passa o mundo afunda mais nas mãos de Voldemort. Eu tentei contê-lo por um tempo, mas quando sua influência cresceu, eu juntei os bruxos e bruxas mais talentosos que estavam dispostos a lutar e criei a Ordem da Fênix. Por anos conseguimos refrear um pouco o domínio de Voldemort e seus comensais, mas depois de uma terrível noite, seu poder cresceu de tal modo que não conseguimos mais segurar.

— O atentado aos Potter – disse a nova Hermione, com os olhos cheios de lágrimas – Mas, o Harry...

— Nosso bebê não sobreviveu – disse James, e Lottie sentiu o coração se despedaçar ao ver a expressão no rosto do pai.

— Fomos obrigados a nos reestruturar. Perdemos muitos membros, quer tenham nos traído ou sido mortos – continuou Dumbledore – Passamos os próximos dez anos reestruturando a Ordem e Hogwarts, e os outros dez lutando do melhor jeito que conseguimos, mas apesar de todos os nossos esforços, a Guerra estava sendo perdida. Estávamos perdendo feio, e depois de um ataque em massa ao castelo que resultou na morte de amigos muito queridos, eu me lembrei de um conto antigo que minha mãe costumava contar para mim quando era pequeno. Eu não me lembrava dos detalhes, pois aquela era a história que minha irmã gostava, mas me lembrava o suficiente para pesquisar sobre ele.

— A história de Merlim e Morgana – disse a nova Hermione novamente, e Lottie olhou incomodada para ela. O papel de responder aos professores nunca fora da Hermione que ela conhecia, quem fazia aquilo era o Ronald.

— Mas professor – interrompeu o jovem que agora Lottie sabia ser o George – como o senhor sabia que essa não era só mais uma história para por crianças para dormir?

— Histórias não são só histórias – disse Dumbledore, com a voz suave – Lendas são lições, elas carregam a verdade. Tanta verdade que eu pude trazer para essa realidade o bruxo ou bruxa capaz de acabar com a Guerra.

— Sim, o Harry – disse o novo Ronald, finalmente se pronunciando com clareza e uma certa impaciência – Onde ele está, por falar nisso?

— É uma longa história, mas termina com ele como prisioneiro na Mansão Malfoy – respondeu Lottie, a fim de encurtar as explicações – Estávamos tentando descobrir uma maneira de resgatar meu irmão quando vocês...

— Espera, espera aí – o novo Ronald a interrompeu, e Lottie inspirou o ar bruscamente, irritada com a interrupção rude – Irmão? Harry não tem nenhuma irmã.

— Lottie não teve a oportunidade de nascer no universo de onde vocês vieram – Dumbledore interviu, e Lottie viu uma compaixão imensa invadir os olhos castanhos da nova Hermione, e ela não conseguiu deixar de baixar a guarda novamente.

— Eu sinto muito – disse o novo Ronald, muito vermelho e claramente nervoso – Eu não...

— Está tudo bem – respondeu Lottie, sorrindo levemente por ter visto um pouco do Ronald que ela conhecia no recém-chegado – É uma situação que ninguém sabe bem como agir. Mas o fato é que meu irmão está sendo mantido como prisioneiro, e existe uma grande chance de estar sendo torturado enquanto falamos. Draco nos prometeu apenas uma hora...

— Draco? – dessa vez foi George quem interrompeu sua fala – Eu sabia que essa fuinha albina estava metida nisso quando vocês falaram na Mansão Malfoy! Aquele filho de um diabo, é uma semente podre até mesmo em outro universo!

— Os Malfoy são nossos espiões mais valiosos – explicou Dumbledore, e Lottie não deixou de observar o olhar de espanto nos recém-chegados, mais do que quando ela havia se revelado como a irmã do Harry – Draco estava acompanhando Harry em uma missão para recuperar uma Horcrux, mas um contratempo surgiu e o único modo que Harry encontrou para manter o disfarce dos Malfoy foi deixar-se capturar.

— Que contratempo foi esse? – perguntou George.

— Neville Longbottom apareceu – respondeu Remus, e Lottie se perguntou internamente se o olhar assustado que lançaram ao homem foi devido a descoberta que o amigo deles era um comensal nessa realidade, ou porque Remus havia morrido a muitos anos na realidade deles.

— O problema maior é que Draco disse que se nós não conseguimos tirar ele de lá, ele fará isso pessoalmente – completou Lottie, querendo acabar com a conversa e partir para a ação o mais rápido possível – E isso seria muito perigoso, colocando a vida dos dois em risco e a Ordem ainda pode perder um dos nossos maiores trunfos, que são as informações privilegiadas que apenas o círculo íntimo de Voldemort possuem.

— Então o que estamos esperando? – perguntou o novo Ronald, levantando-se e arregaçando as mangas da blusa amassada que estava usando – Vamos até lá! Mione, você está com a sua varinha não é? George, você teria alguma coisa da loja de logros que possa ajudar com...

— Do que vocês estão falando? – perguntou a professora McGonagall escandalizada – Nós passamos semanas planejando cautelosamente uma invasão à Mansão Malfoy, e mesmo assim foi desastrosa! Vocês não podem pensar seriamente em ir até lá sem um plano, é loucura! É impossível!

Uma onda de concordância passou por entre os presentes, e Lottie viu até mesmo seus pais concordarem, embora contrafeitos.

— Nós somos meio que especialistas em coisas impossíveis – disse o novo Ronald, estufando o peito de orgulho – O Harry principalmente, é praticamente um profissional nesse quesito.

— Sim, nós sabemos que ele é muito talentoso. Mas existem algumas coisas que simplesmente não podem ser feitas - disse a professora McGonagall, balançando uma das mãos como se espantasse um inseto perto do rosto, e um baixo murmúrio de concordância se espalhou pela sala.

— Ora, deixem de ser tão negativos! – gritou a nova Hermione, e Lottie olhou espantada para ela. A Hermione que ela conhecia nunca faria algo do tipo – Todos acreditavam que era impossível sobreviver à Maldição da Morte, até que foi feito. Todos acreditavam que era impossível escapar de Azkaban, até que foi feito. Todos acreditavam que seria impossível acabar com a Guerra, até que nós fizemos!

— Sim, mas esses são casos extraordinários – continuou Remus, hesitante – Nesse universo, Voldemort está muito mais poderoso do que vocês jamais imaginariam. Vocês não sabem com o que estão lidando.

— Me desculpe, Remus, mas eu acho que são vocês que não sabem com quem estão lidando – respondeu o novo Ronald, muito sério, passando os olhos azuis em cada um dos presentes – Vocês não conhecem o Harry como nós conhecemos. Como eu conheço. Ele salvou o mundo bruxo mais vezes em vinte anos do que qualquer outro bruxo ou bruxa da história. Ele lutou contra acromântulas e um basilisco com doze anos...

— Aos treze ele salvou a minha vida e a do padrinho conjurando um patrono tão poderoso que foi capaz de afastar mais de cem dementadores – continuou a nova Hermione, cruzando os braços.

— Aos quatorze ele venceu o torneio tribruxo e de quebra ainda duelou com Voldemort, que havia finalmente retornado...

— Muito impressionante, é claro... – tentou falar a professora McGonagall, mas foi rapidamente interrompida pelo relato do novo Ronald.

— Aos quinze anos, ele nos liderou em uma invasão ao Ministério do Magia e lá ele duelou novamente com Voldemort – o garoto discursava, batendo o punho o na mão – E mesmo que tenhamos saído machucados de lá, saímos todos vivos. Quando ele fez dezesseis anos, Dumbledore, o senhor começou a treiná-lo para que ele assumisse os seus passos, e quando chegou a hora, eu e Hermione seguimos com o Harry rumo ao desconhecido. Foi difícil, tinham horas que eu queria simplesmente largar tudo e esquecer a Guerra – ele engoliu em seco – E teve uma hora que eu realmente larguei tudo. Mas o Harry não, ele ficou firme em sua missão, e quando eu voltei, ele me recebeu de volta de braços abertos.

— O Harry nunca desistiu de nós e nós não vamos desistir dele – disse a nova Hermione, determinada – Quanto do tempo que Draco nos deu nós ainda temos?

— Pouco menos de quarenta minutos – respondeu James prontamente.

— Então temos que sair já – disse George, retirando a varinha do bolso.

— Nós vamos mesmo buscar meu irmão? – perguntou Lottie, sentindo uma onda percorrer seu corpo.

— Que história é essa de “vamos”, moçinh... – Lottie ouviu a mãe começar a falar, por isso ficou extremamente grata, quando o pai fez um sinal para que a esposa deixasse a filha.

— É claro que sim – respondeu George, sorrindo – Você não acha que viríamos de tão longe para voltar com as mãos abanando?

— Muito bem, só me deem um minu... – começou Lottie.

— Escute, Lottie, não é? – o novo Ronald a interrompeu, e Lottie inflou o peito indignada – Nós não temos um minuto!

— Oh, então eu imagino que vocês conheçam o caminho para a Mansão Malfoy, além de saberem onde ficam as masmorras e quais as melhores rotas de fuga – disse Lottie, cruzando os braços, tentando ao máximo impedir que um sorriso triunfante se espalhasse em seu rosto quando viu os três recém-chegados se entreolharem.

— Bem, na verdade, não. – confessou a nova Hermione, e Lottie deixou o sorriso se alastrar em seus lábios.

— Pois eu conheço. Cookie!

Pelo chamado de Lottie, um alto barulho de estalo preencheu a sala quando a pequena elfa doméstica surgiu logo a sua frente, curvando-se profundamente na direção de Lottie.

— Senhorita Lottie! – disse Cookie com sua voz muito fina – No que posso te ajudar hoje?

— Cookie, vá buscar a Herms, por favor. Diga a ela que Harry e Draco estão em perigo.

Com mais uma larga reverência, Cookie desapareceu em um pequeno rastro de fumaça. Não demoraria para ela voltar com Hermione, Lottie sabia que a amiga viria no segundo em que ouvisse o nome do noivo.


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Notas finais do capítulo

Não falarei nada, deixarei isso pra vocês!

Até terça que vem ♥



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