Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 48
Novos Planos


Notas iniciais do capítulo

Vim só dar um oi pra vocês antes de dormir :*



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Harry sempre gostou da primavera em Hogwarts. Embora ele preferisse o verão e suas temperaturas quentes o suficiente para que um mergulho no Lago Negro fosse agradável, ele sempre se deleitou em observar os gramados passarem de branco para um verde brilhante, salpicado de pequenas flores amarelas sobre a sombra do castelo. Em seus anos de estudante, ele e os amigos tinham o costume de passar o tempo sob a sombras das árvores, curtindo o sol morno tocar a pele quando conseguia passar pelas folhas recém-nascidas nos galhos.

O fim de abril trouxe temperaturas exponencialmente mais altas, e consigo uma das épocas mais memoráveis de toda a vida de Harry. Tendo crescido órfão, e praticamente sem conhecer formas de afeto em sua infância, cada simples detalhe daquelas semanas vivendo com a sua família sem mais segredos, marcaram fundo em sua memória, como os beijos de bom dia de Lily, sempre acompanhados de um carinho em seu braço direito, ou as piadas internas entre ele e James, que pareciam se multiplicar conforme os dias passavam.

Desde aquela tarde em que Harry havia finalmente revelado sua identidade para os pais, aqueles pequenos gestos foram entranhando em seu modo de ser, tanto que em menos de duas semanas depois, Lottie chamou sua atenção comentando que ele pegou a mania da mãe de girar o prato ligeiramente antes de começar a comer e o modo do pai de pronunciar a palavra “supostamente”. Por fora, Harry mantinha um sorriso discreto e balançava a cabeça, mas seu interior se regorgizava a cada vez que alguém notava mais algum detalhe que o ligasse à família, por menor que fosse.

Sirius, especialmente, parecia ter um dom para observar esses detalhes. Tendo convivido com James como irmãos desde muito cedo, ele encontrava maneirismos idênticos entre pai e filho, mas depois que Remus comentou que o amigo parecia uma velha avó tagarelando sobre os netos, ele passou a guardar a grande maioria de suas observações para si.

Entretanto, se sua relação com sua família estava fluindo maravilhosamente bem, sua situação fora dos muros do castelo não poderia estar pior. Inicialmente, Harry imaginou que os seguidores de Voldemort estivessem querendo manter sua existência e o ataque ao Ministério como um detalhe pequeno, indigno da atenção do povo, já que os jornais seguintes ao dia da invasão trouxeram apenas uma pequena nota afirmando que os rebeldes tentaram invadir o Ministério da Magia com um objetivo desconhecido, mas que sua “tentativa fraca e vergonhosa não resultou em nada, apesar de que os rebeldes tivessem conseguido escapar ilesos, sem prejudicar permanentemente o Ministério e seus trabalhadores”.

Não obstante, sua teoria de que os Comensais haviam decidido ignorá-lo caiu por água abaixo no fim da última semana de abril, depois de uma visita há muito planejada.

— Eles aumentaram sua recompensa – disse Draco, enquanto depositava um cartaz de “procura-se” na frente de Harry com a mão livre, enquanto a outra alisava o ombro de Hermione – Duzentos mil galeões.

Harry percebeu que eles haviam conseguido uma foto sua no ataque do Ministério. O novo cartaz ainda seguia com as informações de nome, idade e nacionalidade em branco, mas agora seu eu na foto que se mexia era razoavelmente reconhecível, apesar da poeira que caia em sua volta.

— Os novos cartazes vão começar a circular no primeiro dia de maio – Narcisa Malfoy sentou-se em uma das poltronas da sala onde estavam, e Harry conseguia sentir os olhos azuis da mulher estuda-lo com astúcia.

— Eu pensei que Voldemort fosse fazer um alvoroço maior quando descobrisse quem eu sou – comentou Harry, levantando os olhos do cartaz.

— A verdade é que ele não sabe de nada, Harry – disse Dumbledore, arrumando os bigodes, que estavam um pouco arrepiados – Ele não sabe como é possível que você esteja vivo, e se eu bem conheço meu antigo aluno, ele está apavorado com tudo o que está acontecendo.

— Na verdade, foi ideia do meu pai não colocar maiores informações no cartaz – Draco informou a todos, sem se preocupar em esconder o orgulho – minha tia Bela havia insistido em colocar sua identidade neles, mas o Lorde aceitou o conselho do meu pai e proibiu. Meu pai acha que ele está com medo de dar esperanças aos que ainda são contra ao governo dele, mas tem medo de lutar.

— Lucius sempre foi um homem muito sensato – afirmou Dumbledore com um sorriso que seria mais comumente visto no rosto de uma mãe orgulhosa.

— Não foi sensato o suficiente para se manter fora dessa história de Comensal – Sirius resmungou, olhando sorrateiramente para a prima sentada alguns metros distante de si.

— Todos temos coisas das quais nos envergonhamos, primo – Narcisa respondeu vorazmente, e por um segundo Harry reconheceu a altivez que ele estava acostumado a ver no rosto da mulher – Mas somente os sábios reconhecem seus erros e fazem algo para repará-lo, mesmo se isso significar arriscar o próprio pescoço.

Sirius não respondeu a prima, apenas balançou os ombros imperceptivelmente e voltou a analisar a foto do cartaz, onde um Harry sujo e especialmente descabelado lançava feitiços em direção a um oponente fora da foto.

— Vocês disseram que apenas o círculo íntimo está a par das novidades – a voz grossa de Moody fez-se ouvir do outro lado da mesa.

— Sim, está correto – disse Narcisa, afilando os olhos ligeiramente.

— Então o que aconteceu com os Comensais que estavam no Ministério? – perguntou Moody, perspicazmente – Não é como se o garoto ali tivesse sido discreto com suas revelações.

— O Lorde mandou meu marido... Cuidar deles. – Narcisa respondeu secamente, os olhos azuis passando por cada um dos presentes, como se os desafiasse a falar o que fosse. – Estão mortos.

— Lucius sempre foi ótimo em seguir ordens – Dumbledore disse, sonhadoramente – Ou fingir que as seguia. Eu me lembro, quando ele foi nomeado Monitor...

Harry aproveitou que Dumbledore começara a relembrar a época de Lucius e Narcisa Malfoy como seus alunos e deixou seus olhos passearem pelo cartaz, fixando-se no prêmio. Aquele era, segundo Moody, uma das recompensas mais altas do mundo, e a quantia se tornava ainda mais admirável visto que ele não era considerado o Indesejável Número Um.

— E como está Bela? – Dumbledore perguntou de repente, pegando tanto Narcisa quanto Draco desprevenidos.

— Minha irmã passa bem, mas ainda sofre com os efeitos da Cruciatus. – Narcisa respondeu, com os ombros baixos, e Hermione tomou a mão da sogra em solidariedade, que sorriu agradecida de volta – Eu imaginei que talvez a obsessão dela pelo Lorde diminuísse depois que ele a torturou tanto, mas fui uma tola em pensar isso.

— Uma pena que ele não terminou o trabalho e liquidou com a bruxa por nós – Moody murmurou depois de um longo gole em seu frasco, deixando o queixo molhado de vinho.

Harry viu Draco e Hermione olharem horrorizados para o homem deformado mas Narcisa apenas ignorou-o, e levantou as sobrancelhas delicadas, retomando o ar altivo de alguém que está sentindo um cheiro desagradável mas que não tem certeza de sua origem.

— Mas é claro que o senhor não insistiria em uma visita de nossa parte apenas para perguntar da saúde de minha irmã, Dumbledore. – Narcisa afirmou, ainda ignorando os comentários obscenos murmurados por Moody.

— Na verdade, eu pedi por essa reunião, estive esperando a oportunidade de conversar com vocês já faz várias semanas – Harry se pronunciou, tossindo levemente, finalmente fazendo com que Moody parasse com suas ofensas à Belatriz. – Eu não sei até onde Draco informou a senhora sobre mim, e de como Voldemort conseguiu a aparente imortalidade...

— Eu e meu marido estamos a par da situação – Narcisa respondeu, os olhos brilhando, alimentando a teoria de Harry que aquela mulher era, provavelmente, mais inteligente que o filho e o marido juntos – Inclusive, Lucius deve estar em nossa biblioteca nesse momento, buscando livros que falem mais sobre Horcruxes.

— Livros sobre Necromancia são proibidos para bibliotecas particulares desde 1813, Ciça, você e seu marido sabem disso muito bem – o olho normal de Moody se estreitou em direção à mulher, enquanto o olho mágico parecia estudar suas feições.

— Não creio que eu ou meu marido sejamos presos por posses de livros, Olho-Tonto – ela finalmente respondeu, com desprezo velado na voz arrastada – Não enquanto fizermos um bom papel como espiões.

Satisfeita que o ex-auror se recostou a contragosto na cadeira que estava ocupando, resmungando inaudivelmente com a boca torta cheia de cicatrizes, Narcisa virou o rosto novamente para Harry, com um sorriso orgulhoso e ligeiramente cruel, pedindo com os olhos que ele retomasse a fala.

— Bem, na verdade, era exatamente sobre sua biblioteca que eu gostaria de falar – disse Harry, e ele percebeu que Draco e a mãe trocaram um rápido olhar interrogativo.

— Não pretende nos denunciar pela posse de livros de Necromancia, pretende, Harry? – Draco gracejou, embora seus olhos cinzentos estivessem duros.

— Não, mas o que eu procuro também não é um livro. Eu estou procurando um diário. – Harry disse sério, e embora Narcisa não tenha movido um músculo, um rápido brilho no olhar dela confirmou que ela sabia do que ele estava falando – Ele foi dado a Lucius Malfoy muitos anos atrás, antes até do atentado aos Potter, a pedido de Voldemort que o guardasse e o protegesse.

— Eu me lembro desse diário – Narcisa afirmou, e um vinco surgiu em sua testa lisa – Anos atrás o Lorde apareceu na Mansão tarde da noite, nos meus primeiros meses de gravidez. Lucius achou que eu já estava dormindo, pois eu tive recomendações de descansar muito nos primeiros meses, por conta do meu útero frágil... Então ele não se preocupou em fechar a porta que comunica nosso quarto ao escritório menor. O Lorde disse à Lucius que estava interessado em conhecer a nossa biblioteca particular, e como é no escritório menor que guardamos as peças mais valiosas e perigosas ele o levou prontamente para lá, mas eles ficaram apenas poucos minutos. Eu achei estranho que o Lorde tivesse terminado de examinar nossa coleção tão rápido, já que ele perguntava do nosso acervo já fazia alguns meses, mas o que mais me chamou a atenção foi ele ter pedido que Lucius guardasse esse caderno na parte mais protegida da casa. O Lorde afirmou que não tinha lugar para o caderno em seus novos aposentos, mas que não conseguia se livrar dele por lembra-lo de seu passado. – Narcisa balançou a cabeça levemente, abanando a mão livre no ar – Eu achei muito estranho, obviamente, mas não falei nada sobre isso com Lucius...

— Aposentos? Deixa pra lá – Harry arrumou os óculos e se inclinou ligeiramente em direção a mulher, com um sorriso crescente - Então o caderno ainda está em sua posse?

— Eu acho que sei o que você está passando, Harry – Hermione falou, os olhos exalando preocupação pulando de Draco para Harry – A Mansão Malfoy é muitíssimo bem protegida, especialmente os aposentos principais. Em sua construção, Haliax Malfoy usou feitiços de proteção especialmente intricados nos aposentos que viriam a ser seus e de sua primeira esposa, e se alguém tenta invadi-los...

— Vejo que meus futuros netos não terão problemas em aprender sobre a história da nossa família – Narcisa interrompeu o relato de Hermione com um sorriso doce, e a menina corou furiosamente embora também estivesse sorrindo. – Mas Hermione tem razão, Harry. Não há como invadir a Mansão Malfoy.

— Talvez uma invasão não seja necessária – falou Draco, tão baixo que se Harry não estivesse sentado na sua frente, não teria percebido que ele havia falado alguma coisa.

— Acredito que repor o diário por uma duplicata e esperar que sua diferença não seja notada, jovem Draco, não seja uma ação sábia – disse Dumbledore, como um professor orientando um pupilo.

— Sim, senhor – Draco levantou a cabeça, encarando o diretor seriamente – Mas se a peça fosse simplesmente retirada por um Malfoy, a biblioteca entenderia que o novo senhor da Mansão simplesmente resolveu tirá-la de lá.

— Então a única opção possível é o roubo do caderno – Sirius murmurou, coçando o queixo liso – Mas como isso será possível se o tal Ajax Malfoy...

— Haliax Malfoy – disse Hermione, ligeiramente indignada pelo erro deliberado cometido pelo homem.

— Ajax, Haliax, tanto faz – Sirius balançou os ombros, alheio ao olhar mortal que Narcisa e Draco lhe lançavam devido à falta de respeito com seu antepassado – Onde eu estou querendo chegar é: O único jeito de se invadir a Mansão Malfoy é não a invadir.

— Sirius, você andou bebendo água da privada de novo? – Remus, que até então estava sentado muito quieto ao lado de James e Lily, perguntou com um sorriso maroto no rosto, embora Harry tivesse achado que viu um toque de preocupação real em seus olhos.

— Não, meu primo tem razão – Narcisa interferiu, e a surpresa de ter a prima concordando com algo que ele disse fez a mandíbula de Sirius cair alguns centímetros no meio de um palavrão.

— Eu presumo que a senhora não tenha bebido água de privada também – Moody crocitou, com um sorriso maldoso em sua boca torta, mas antes que a ira de Narcisa caísse sobre o homem, a voz de Dumbledore capturou a atenção dos outros, que praticamente se penduraram em cada uma de suas palavras.

— Teria que ser muito bem planejado... E bem explicado – ele se dirigia a Harry e a Draco, que pareciam tão compenetrados quanto o diretor – Teríamos que ter tudo ensaiado, e tem que ser crível...

— Do que vocês estão falando? – James perguntou, por fim, inconformado por não estar acompanhando o raciocínio.

— A Mansão Malfoy é impossível de ser invadida... – começou Harry.

— Sim, isso nós entendemos – James interrompeu o filho, ainda claramente insatisfeito.

— ...Mas se alguém de dentro convidar o invasor... – Harry deixou a frase morrer no ar, enquanto via a compreensão finalmente chegar no rosto dos pais, brilhante e clara em James, e sombria em Lily – Como acontece com algum prisioneiro, por exemplo.

— E quem exatamente vocês sugerem que seja esse prisioneiro? – perguntou Lily, os olhos verdes praticamente soltando faíscas.

— Bem... – Harry levou a mão nervosamente à nuca, e mesmo que nenhuma resposta concreta tenha saído de sua garganta, ela estava bem clara, mesmo que subentendida.

— Você só pode ter enlouquecido para pensar que nós concordaríamos com isso – ela disse entredentes.

— Mãe, precisamos do diário se quisermos derrotar o Voldemort – respondeu Harry – Sei que já destruímos três horcruxes, mas essa é só metade do caminho. E mesmo que não contemos com a horcrux que não conhecemos, ainda faltam o caderno e a taça...

— Taça? – Narcisa interrompeu Harry, calando-o no mesmo segundo, intrigado com o tom de voz da mulher.

— Sim – Dumbledore confirmou - Outro pedaço da alma de Voldemort foi depositado em uma taça que um dia pertenceu a...

— Helga Hufflepuff – ela completou, e Harry sentiu o coração pular uma batida – Esse foi o presente do Lorde pelo casamento da minha irmã, tantos anos atrás. É o maior tesouro dela.

— E é de seu conhecimento onde ela guarda a taça? – Dumbledore, antes muito relaxado, inclinou-se subitamente.

— Sim – Narcisa respondeu, acenando a cabeça delicadamente – Mas não creio que será uma resposta que vocês queiram.

— Isso nós só vamos descobrir se você parar de tagarelar – resmungou Moody, obviamente irritado com a reunião que já completava quase duas horas.

— Bela e meu cunhado Rodolfo a mantinham como um tesouro – Narcisa continuou, novamente ignorando completamente o outro homem – E por muitos anos ela ficou protegida pelas paredes e feitiços contidos no Château Lestrange, na França. Mas quando Rodolfo foi assassinado e as terras passaram para o nome do seu irmão mais novo, Rabastan, minha irmã recusou a oferta do cunhado de continuar morando na França, e passou muitos anos como uma nômade, servindo as ordens do Lorde. Nesses anos, como ela não tinha mais casa, Bela guardou a taça em seu cofre no Gringotes, e ela ainda a mantém lá, apesar de morar conosco há alguns anos.

— Então pelo que eu entendi – disse Remus passando as mãos no queixo barbado – Depois de termos invadido o Ministério, nos convencido que temos que invadir a Mansão Malfoy, acrescentamos Gringotes à lista?

— A menos que descubramos um modo de convencer minha irmã a dar-nos a taça – Narcisa respondeu a contragosto, e Harry se perguntou se teria a ver com o fato de Remus ser um lobisomem.

— Harry? – Draco sussurrou, tentando ser discreto – Você está... rindo?

— Desculpe – Harry balançou a cabeça, tentando reprimir o riso baixo que surgiu em sua garganta – Não é engraçado. Mas é irônico como os acontecimentos estão se repetindo.

Draco, pela expressão hesitante, não pareceu ter sido capaz de ver a ironia nesses acontecimentos, mas Harry não se preocupou com isso, sua mente estava ocupada demais pensando em como, no final, as coisas pareciam estar se encaixando para que o universo onde ele estava e o de onde ele veio tomassem os mesmos rumos.

— Não acredito que tenhamos muito o que planejar sobre a Mansão Malfoy – O rumo da conversa, somado ao tom eficiente vindo de Narcisa, fizeram com que Harry se distraísse de seus pensamentos e voltasse a se concentrar na reunião – Desde que escolhamos a data com muito cuidado. Precisaria ser um dia sem visitas, mas teremos que arquitetar a saída muito bem, para que o Lorde continue a acreditar que nós não temos um dedo nisso.

— Você tem alguma data em mente, Ciça? – Sirius perguntou, e até mesmo a mulher pareceu surpresa com a cortesia dirigida pelo primo.

— Ainda não, mas garanto que encontrarei. – Ela afirmou, e Harry assentiu rapidamente quando os olhos azuis perspicazes passaram por ele antes de focarem em um ponto logo atrás de sua cabeça - Draco... – Narcisa chamou a atenção do filho, os olhos fixos no relógio cuco em cima da lareira por onde eles vieram, via flu – Deveríamos partir. O senhor Burke só nos garantiu duas horas.

— Manteremos contato – prometeu Harry, antes que Draco pudesse falar o que fosse.

— Eu vou estudar opções com o meu pai, sobre o roubo do diário – prometeu Draco, oferecendo à Harry a mão direita, já que a esquerda estava firmemente presa em volta da cintura de Hermione – Mas não prometo uma solução rápida. Nosso próximo contato deve demorar para acontecer.

— Talvez isso seja uma boa coisa – Harry retribuiu o aperto de mão com um pequeno sorriso no rosto – No momento em que o diário desaparecer, Voldemort terá certeza que seu segredo foi exposto. O mais sensato é adquirirmos a taça primeiro.

— E nós desejamos sorte nessa missão – Narcisa disse em uma voz fúnebre enquanto jogava uma pesada capa de lã verde escura sobre os ombros – Não será fácil.

Harry não falou nada, apenas contentou-se em observar os dois visitantes entrarem na lareira, um de cada vez, e desaparecerem rodopiando por entre as chamas verdes. Somente depois que o fogo retomou à cor original alaranjada que Harry se sentou novamente, esfregando os olhos por detrás das lentes dos óculos.

— Então – Moody limpou a garganta, encerrando as conversas paralelas que ocorriam na sala e tirando Harry bruscamente de seus pensamentos – Já nos decidimos que a invasão à Mansão Malfoy é terrivelmente arriscada, mas possível... – uma grande onda de concordância passou pelos presentes, com exceção de Lily, que ainda parecia altamente contrária à ideia – E que com o plano certo, se bem articulado, poderá até mesmo ser bem sucedida.

— No entanto, Moody – disse James, ainda com o cenho franzido - Eu não sei como poderemos colocar as mãos naquela taça.

— É simples – afirmou Harry calmamente – Nós invadimos o Gringotes.

Inicialmente, Harry não pretendera soar tão pretencioso, mas as palavras simplesmente escaparam-lhe à boca enquanto flashes de memórias de anos atrás passavam em sua mente.

— Harry – Sirius sorriu nervosamente – Nós não sabemos muito sobre o universo de onde você veio, mas aqui, na nossa realidade, existe algumas coisas em que todos concordamos, independentemente de onde você veio e em que você acredite. Número um: Mantícoras são os animais mais perigosos já criados pelos bruxos, número dois: Joshua Duncan não capturou o pomo propositalmente na final de Copa de 1965 e número três: é impossível roubar Gringotes.

— Não é não – Harry contradisse o padrinho, e ele sentiu os olhos na sala o encarassem como se ele tivesse enlouquecido – Já foi feito. Quando eu tinha onze anos, Gringotes foi invadido e o invasor não foi capturado. E outra vez, quando eu tinha dezessete.

— E dessa segunda vez, o ladrão foi capturado? – Lily perguntou, genuinamente curiosa.

— Não, eu não fui capturado. – respondeu Harry.

O silêncio caiu novamente no ambiente, como uma névoa, e Harry aproveitou aqueles poucos segundos para analisar melhor a que pé eles estavam, e apesar de ele ver olhares esperançosos o encararem de volta, Moody ainda não parecia convencido, a passo que Dumbledore parecia estranhamente concentrado em limpar os oclinhos de meia-lua.

— Harry, não que eu esteja questionando sua sanidade – crocitou Moody, o olho mágico girando em sua orbita muito rápido – Mas você enlouqueceu. O cofre em questão pertence a uma das famílias mais antigas, sob fortíssima proteção.

— Feitiços, encantamentos, azarações e um dragão – Harry confirmou, e sua visão periférica viu Lily empalidecer consideravelmente, enquanto a testa de Moody se tornou gradualmente mais vermelha.

— Então por favor queira nos explicar como raios você pretende repetir tal façanha – crocitou Moody, cada palavra rasgando por entre seus dentes.

— Com ajuda – afirmou Harry – Mas para discutirmos mais sobre isso, eu precisaria da presença de Gui Weasley. Se eu bem me lembro, ele trabalhou alguns anos no Gringotes.

— Suponhamos que Gui ainda se lembre de coisas que possam nos ajudar nessa missão suicida – Remus falou, olhando de Harry para Moody – E que por algum milagre consigamos encontrar e, pasmem, entrar no cofre Lestrange. A taça ainda estará protegida por feitiços avançadíssimos, azarações e maldições...

— Temos bruxos talentosíssimos na Ordem, Alastor – Dumbledore respondeu sorridente, apoiando satisfeito os oclinhos no nariz torto.

— ...E um dragão – Moody terminou seu relato, e junto com ele os ânimos dos presentes pareceram se esvair novamente – Provavelmente poderoso e muito perigoso. As chances são que ele transforme a equipe da missão em churrasquinho antes que tenhamos a chance de chegar no cofre, a menos que você conheça um domador.

— Acontece que nós conhecemos um domador – respondeu Harry calmamente, e ele sentiu todos os olhos presentes caírem sobre si novamente – Carlinhos Weasley.


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Notas finais do capítulo

Conseguem sentir o cheiro? De treta fresca? hhahahah

Até terça que vem!