Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 46
Os Quatro Potter


Notas iniciais do capítulo

Quem mais quase infartou quando viu o capítulo passado e viu que não tinham notícias dos Potter, além de mim? hehehhe Mas já está na hora de voltarmos pro Harry, depois de um pequeno gostinho do tio Voldy :B

E o capítulo passado não tem nada a ver com o fato de eu adorar os Malfoy e querer escrever sobre eles, não, longe disso :x

Mas não vou mais prender vocês aqui comigo, curiooosos! Boa leitura :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/653605/chapter/46

Harry soube que ele e Lottie tinham conseguido escapar antes mesmo de seus pés tocarem o solo em frente à proteção mágica que envolvia o castelo de Hogwarts. Ainda era de manhã, mas o sol estava completamente encoberto por pesadas nuvens que anunciavam que uma forte tempestade estava por vir.

— Eu não acredito! – a voz de Lottie veio de algum lugar a sua esquerda, antes do rosto sorridente e corado dela aparecer flutuando, descoberto pela capa – Nós conseguimos mesmo! A gente invadiu o Ministério! Nós roubamos o Ministro – Ela pulava de alegria de um lado para o outro, os olhos verdes muito abertos e brilhantes – E, por Merlim, ele ajudou a gente!

— Sim – Harry respondeu, permitindo-se um sorriso apesar da mente perturbada, mas a irmã não pareceu perceber seu desconforto.

— Harry, alegre-se! Nós completamos a missão! Eu não sei como, mas conseguimos! – ela parou na frente dele, ainda dando pequenos pulinhos, como se manter-se parada fosse fisicamente impossível – Nós saímos vivos, você nos salvou do Voldemort, lutou contra a Belatriz de novo, e ainda defendeu a nossa mãe! Você viu a cara da Belatriz quando você surgiu e gritou: “A minha mãe não”.... – A voz de Lottie pareceu desaparecer em sua garganta quando ela finalmente percebeu o peso das palavras do irmão, e o que elas significavam. – Oh, Merlim...

— Sim. – Harry murmurou – E assim que nós passarmos pelo escudo protetor do castelo eu vou ter que explicar para os nossos pais que tenho mentido sobre quem sou desde que cheguei. Eu não sei se estou preparado para isso – Ele confessou, com a voz baixa.

Um silêncio constrangido se estendeu entre os dois, e Harry o aproveitou para desviar o olhar da irmã, deixando os olhos caírem sobre a paisagem à sua frente. Lottie havia os levado para um pouco longe de uma das extremidades de Hogsmeade, na antiga estação ferroviária. Ficava alguns minutos de caminhada morro abaixo do vilarejo, e o sol da manhã escondido entre as nuvens densas iluminava fracamente o pequeno vilarejo.

— Não tenha medo – Lottie pegou sua mão e puxou-a, em direção ao caminho que deveriam seguir, mas ele não se mexeu.

— Eu os neguei. Mais de uma vez – Harry sentiu a garganta fechar levemente – Eu menti, omiti tanta coisa...

— Harry – ele sentiu a pequena mão da irmã apertar a sua, enquanto ela se virava para ficar na sua frente – Os nossos pais ainda sofrem muito pela sua perda. Vinte anos se passaram desde o atentado, e mesmo depois de tanto tempo, a dor não diminuiu. Eu sei. – Ela suspirou levemente, abaixou os olhos marejados – Eu nasci e cresci com essa sombra, com esse vazio na família, que sempre esteve ali. Mas quando eu descobri que as minhas suspeitas sobre a sua identidade eram verdade, que você realmente é meu irmão, aquele vazio desapareceu, por mais que eu saiba que você não vai ficar aqui para sempre. Esse pouco tempo tem sido o suficiente para apagar os últimos vinte anos de falta... Por favor, não prive os nossos pais desse tempo. Não mais.

— E se eles não me perdoarem? – Harry falou de uma vez, sentindo o coração se apertar com a possibilidade.

— Harry, acredite em mim, não há nada para ser perdoado.  – Lottie levantou a mão e passou pela bochecha do irmão, limpando o rastro de uma única lágrima que havia escapado de seus olhos – Agora, vamos, por favor. Metade da Ordem deve estar tendo que manter a mamãe no castelo, e eu não quero ninguém se machuque.

— Acha que eles podem machucá-la? – Harry perguntou, incrédulo.

— Não – respondeu Lottie, com uma risada alta – Mas ela pode machucá-los!

Incapaz de reprimir um sorriso, Harry se deixou se conduzido pela irmã pelas ruelas do vilarejo até alcançarem o caminho que os levaria até as portas do castelo. O caminho estava deserto, e isso somado ao nervosismo que ambos sentiam fez com que percorressem o trajeto com mais pressa do que normalmente fariam, chegando relativamente rápido até a entrada dos terrenos do castelo, onde dois altos pilares encimados por javalis alados que ladeavam os portões da escola eram guardados.

— Pelas calças de Merlim, Lottie! – Harry reconheceu Ronald como um dos guardas do portão antes mesmo dele ter saído de seu posto para ir até eles, e abraçar a garota com tanta força que quase a derrubou no chão – Você está bem! Oh, eu já estava começando a pensar em ir eu mesmo procurar por você! Os outros disseram que deveríamos esperar mais um pouco, mas eu não consegui simplesmente não fazer nada...

— Eu estou bem... – Lottie retribuiu o abraço de Ronald, tentando acalmar o garoto – Eu e Harry chegamos faz um tempo, mas aparatamos mais longe do que eu havia calculado...

— Ah, Harry! – Ronald soltou Lottie rapidamente e, com as orelhas cada vez mais vermelhas, se dirigiu a ele – Fico contente que também esteja bem. Eu apenas...

— Está tudo bem – disse Harry com um sorriso constrangido.

— Não – Ronald se aproximou de Harry, as orelhas escarlates e ligeiramente caídas – Eu tenho sido injusto com você desde que você chegou, agora eu vejo isso. Na verdade, eu tenho tentado me desculpar desde o funeral da minha irmã, mas... Eu não conseguia encontrar as palavras.

— Obrigado – Harry respondeu, realmente surpreso, mas igualmente satisfeito – E fico contente que tenha conseguido encontrar as palavras.

— Eu deveria levar vocês até Dumbledore – Ronald disse após alguns segundos, parecendo realmente satisfeito que Lottie o olhasse com aprovação. – Ele e alguns poucos membros da Ordem estão esperando na Sala dos Professores, embora boa parte dos que participaram na invasão já voltaram para casa ou estão na ala hospitalar.

— Tivemos muitos feridos? – Harry perguntou, pensando se alguém não teria se machucado quando ele explodiu o teto do Ministério, na tentativa desesperada, mas bem-sucedida, de distrair Voldemort tempo o suficiente para que eles pudessem escapar.

— Sim, mas nada muito sério – Ronald respondia sorridente, e Harry não pode deixar de notar que o garoto lançava olhares furtivos à Lottie a cada oportunidade enquanto andavam pelo castelo – Nada que Madame Pomfrey não fosse capaz de concertar em dois tempos.

Apesar de ser um dia de aula, os três não cruzaram com nenhum aluno em seu percurso, chegando em seu objetivo rapidamente. Até então, Harry estava se sentindo relativamente leve e bastante satisfeito com a súbita melhora em seu relacionamento com Ronald, mas no momento em que o garoto bateu na pesada porta de madeira pertencente à sala dos professores, todas as suas angústias de apenas alguns minutos atrás voltaram a afundar seu peito.

— Acalme-se – Lottie sussurrou, olhando para ele.

— É fácil pra você falar – ele sussurrou de volta, sentindo o pescoço se fechar dolorosamente conforme o coração acelerava.

A porta se abriu sem nenhum barulho, e no mesmo instante todas as vozes que antes eram ouvidas lá dentro se calaram, deixando o ambiente no mais profundo silêncio. Envergonhado, e sentindo as bochechas quentes, Harry entrou primeiro, passando os olhos sem realmente ver quem estava lá, e sua mente registrou apenas parcialmente a presença de Dumbledore, Moody, Tonks, os outros irmãos Weasley e alguns outros membros da Ordem que ele não reconheceu, pois toda sua atenção foi subitamente voltada para o casal sentado no canto mais distante da sala, isolado de todos os outros.

Foi como se o tempo tivesse resolvido passar mais devagar, por puro capricho, quando seus olhos se encontraram. Harry sentiu como se estivesse parcialmente privado de alguns sentidos. O mundo, para ele, havia ficado completamente mudo, e qualquer coisa em seu campo de visão que não fosse o casal sentado à sua frente era simplesmente indigno de sua atenção no momento. Mas ao mesmo tempo, ele sentia cada veia de seu corpo pulsar de expectativa e o coração bater pesadamente no peito em conjunto com a garganta subitamente seca e sendo arranhada por cada palavra que ele gostaria de falar, no entanto, quando a mudez finalmente foi vencida, tudo o que ele conseguiu pronunciar foi:

— Oi... mãe.

E então, tudo aconteceu muito depressa. No instante seguinte, Lily já havia se levantado com violência da cadeira onde estava sentada, derrubando-a com um alto estrépito e findando a distância entre os dois um com um abraço urgente e apertado, passando suas mãos trêmulas pelos ombros e pelo rosto de Harry, que não havia percebido que estava chorando até sentir a mãe limpar as lágrimas que desciam profusamente pelo seu rosto.

— Me desculpe... – Harry sussurrou, olhando para os olhos da mãe, tão semelhantes aos dele.

— Oh, meu Harry! – Ela chorou, voltando a abraça-lo com toda a força que possuía em seus braços finos, e ele descobriu, por fim, que suas pernas não eram fortes o suficiente para sustenta-lo, e ele se permitiu deslizar até o chão dentro dos braços da mãe, de onde olhou para cima, buscando o olhar do pai que ainda os observava claramente atordoado.

— Pai... – ele implorou em um sussurro estrangulado, quase inaudível, que resultou em mais lágrimas quando James Potter finalmente se ajoelhou em frente à sua mulher e filho e os envolveu naquele abraço a tanto tempo adiado.

Harry não sabia que ainda guardava tanta dor em si por todos os anos em que teve que viver sem a presença dos pais. Junto com as lágrimas, ele tentou várias vezes, começar um pedido de perdão por ter mentindo, por tê-los enganado, mas a cada tentativa, suas palavras se transformavam em soluços. Ele não soube quanto tempo eles ficaram ali, receosos demais de se moverem com medo que tudo fosse um sonho e se desfizesse.

— Shh – James conseguiu falar entre as lágrimas depois do que pareceu a décima tentativa de Harry de juntar palavras compreensíveis – Está tudo bem, tudo bem...

— Muito bem, está tudo muito lindo, mas acho que vocês estão esquecendo do objetivo! – Moody fez-se ouvir do outro lado da sala antes de vir mancando para mais perto dos três Potters abraçados no chão. – Vocês o trouxeram, moleque?

— Alastor, não acha que deveríamos dá-los um pouco mais de tempo... – A professora McGonagall tentou interferir, mas Harry a interrompeu.

— Não – Lily fungou, levantando-se dos braços do marido e filho – Ele tem razão, Minerva. A missão vem em primeiro lugar. Depois teremos tempo para conversarmos – Ela sorriu para os dois homens que se levantavam, e então se virou para a filha, que estava distante alguns passos, e a abraçou – Você foi muito corajosa.

Lottie retribui com carinho o olhar da mãe, sentindo o peito de inchar de orgulho, mas antes que pudesse pronunciar o que fosse, Moody os interrompeu mais uma vez.

— E então? – O ex auror perguntou novamente com a voz áspera e muito impaciente.

— Talvez seja mais sensato termos essa conversa em um lugar mais privado, Alastor – Dumbledore se adiantou, interrompendo o ex-auror.

— Não há tal necessidade, Alvo – A professora McGonagall disse enquanto se dirigia até a porta da sala dos professores – Todos estamos muito cansados e querendo descansar. Vamos deixá-los resolver o que quer que queiram resolver a sós.

Um murmúrio de concordância passou por cada um dos integrantes da sala antes de se levantarem e passarem pela porta que a professora manteve aberta até que o último integrante da Ordem passasse, para somente então sair, fechando a pesada porta de madeira atrás de si, deixando Harry, Dumbledore, Moody e os outros três Potters na sala.

Com um aceno de varinha, Moody trancou a pesada porta de madeira, mas ainda assim olhou desconfiado para os quatro lados da sala, como se esperasse encontrar um espião escondido entre as poltronas.

— Lottie, se puder me trazer o medalhão, eu adoraria examina-lo – Dumbledore pediu com a voz calma, como se estivesse pedindo que a jovem menina o passasse uma xícara de chá – Sim, muito interessante... Imagino que só abra com ofidioglossia?

— Sim senhor – Harry confirmou, sentado na cadeira ao lado da escolhida pela irmã, sendo seguido por perto pelos seus pais, que mantiveram-se em pé, abraçados e velando os dois filhos, como se para garantir que eles nunca mais saíssem de suas vistas.

— Sim, realmente interessante – Dumbledore balançou a cabeça afirmativamente e depositou o medalhão com cuidado no centro da mesa, antes de se virar novamente para os outros, ignorando a impaciência de Moody – Harry, Lottie, nós já ouvimos a versão dos últimos acontecimentos do Ministério de todos que estavam lá, menos a de vocês, que é, inclusive, a mais importante. Então, se puderem nos inteirarem...

— Você é melhor nisso do que eu... – Lottie sorriu para Harry, abraçando a mão do pai, que afagava seus cabelos carinhosamente.

— Mas foi você quem trouxe o Medalhão – Harry indicou com o queixo a joia que repousava na mesa, inofensiva.

— Ok... – Lottie se sentou mais ereta na cadeira com as sobrancelhas levemente franzidas – Bem, como vocês já devem saber, assim que conseguimos nossos disfarces e entramos no ministério, eu e Harry nos separamos de Tonks e Ronald – Lottie começou a história, hesitante, mas Harry acenou a cabeça para ela positivamente, incentivando-a a continuar, e ela continuou com um pouco mais de certeza na voz.

Harry se sentiu ser transportado em suas memórias pelos acontecimentos das horas anteriores quando ela contou, com o máximo de detalhes possíveis, tudo o que se passou. Ela contou como quase se desesperou quando o chefe da moça de quem ela havia se disfarçado exigiu que ela o acompanhasse, e como Harry conseguiu convencer o homem a deixa-la ir com ele, e como o elevador foi se esvaziando conforme eles subiam de níveis no prédio. Com os olhos brilhantes, Lottie descreveu como o chão tremeu quando a explosão destinada a distrair os trabalhadores eclodiu, e como foi difícil caminhar entre tantos bruxos desesperados e curiosos carregando o Mapa do Ministério.

— E foi aí que vimos o Ministro sair da sala dele, como imaginamos que iria acontecer – a voz de Lottie preenchia o ambiente, e Harry notou que, se não fosse o brilho nos olhos azuis, Dumbledore poderia ser tomado como uma estátua. – Nós aproveitamos que estava tudo uma bagunça e seguimos até o gabinete do Ministro, mas não podíamos olhar o Mapa para ver a senha para entrarmos. Naquela hora eu achei que estava tudo perdido, mas daí o Harry... Ele acertou a senha.

— A senha era “Lily” – Harry falou, e ele sentiu os dedos do pai apertarem seu ombro, mas ele não prestou atenção nisso, e nem na expressão surpresa que escapou dos lábios da mãe, pois ele percebeu um brilho de satisfação nos olhos de Dumbledore que duraram apenas uma fração de segundos, mas que ele tinha certeza que viu. – E então conseguimos entrar. Passamos os próximos minutos procurando em qualquer superfície ou gaveta...

— Eu até tentei usar um feitiço convocatório – Lottie continuou – Mas não funcionou.

— Eu tentei seguir a magia que os objetos exalavam – explicou Harry – Mas muitos objetos possuíam a magia do Voldemort, então buscar pelas ondas de magia se mostrou inútil. Nós reviramos quase todo o lugar mas então...

— Eu abri um armário enorme – Lottie sussurrou, olhando para o irmão pelo canto dos olhos, buscando apoio – E lá dentro estava o Espelho de Erized...

— Espelho de Ojesed – Harry concertou a irmã, baixinho.

— Foi quase isso que eu disse – Lottie balançou os ombros, arrancando um pequeno sorriso de Dumbledore – Aquele era um espelho incrível... Eu sentia que poderia ficar olhando-o para sempre! Mas daí o Harry encontrou o Medalhão.

— Onde ele estava? – Moody perguntou com surpreendente calma, mas foi à Dumbledore que Harry respondeu.

— Simplesmente pendurado sobre o espelho. – Harry examinou com cuidado o rosto enrugado do diretor, mas poucos segundos se passaram antes que a compreensão iluminasse os olhos por detrás dos oclinhos de meia lua.

— Realmente brilhante. – o diretor concordou, e Harry sorriu, satisfeito que o diretor concordasse com ele em suas suspeitas.

— Harry disse a mesma coisa – Lottie franziu o cenho, o olhar dançando do irmão para o diretor – Mas estava simplesmente apoiado no espelho... Sem nenhum feitiço de proteção! Como isso pode ser tão inteligente?

— Lottie – Dumbledore perguntou com a calma de um professor que quer guiar o aluno à resposta certa – Porque você acha que não conseguiu ver o Medalhão, mesmo ele estando na sua frente?

— Ninguém prestaria atenção no Medalhão, se tivesse a sua frente o maior pedido do seu coração – a voz de Lily surgiu como um sussurro, mas audível o suficiente para que os ocupantes da sala a ouvissem.

— O filho da puta seria um ótimo aliado – Moody murmurou entre os dentes antes de levar seu inseparável cantil a boca, mas seu olho mágico não deixou de captar o olhar que Harry e Lottie trocaram.

— O melhor dos aliados. – Harry falou, com cautela.

— O que quer dizer? – Moody perguntou, ignorando que o cantil tivesse derramado parte do seu conteúdo na frente da sua camisa.

— Snape nos ajudou a escapar – Lottie falou, em um único fôlego. – Ele voltou antes que tivéssemos saído. Harry conseguiu pegar o medalhão e se esconder sob a capa de invisibilidade, mas não chegou até a mim a tempo. Eu fiquei apavorada – ela confessou com um sorriso envergonhado, mas continuou seu relato – Mas... Ele não fez nada. Só me perguntou onde eu havia conseguido o meu cordão – Harry olhou de relance para a irmã, mas novamente não conseguiu olhar o cordão que protegeu sua vida, visto que sua mão delicada apertava o pingente, escondendo-o. – E depois que eu disse que havia sido um presente seu, mãe, ele nos deixou ir. E nós fomos. Harry tirou a capa e a jogou sobre mim, e nós corremos até o átrio... E vocês estavam lá. Nós corremos até a saída, mas antes que alcançássemos as lareiras, o Harry foi ajuda-los. E então ele chegou.

— Voldemort – Dumbledore afirmou, e Lottie balançou a cabeça positivamente.

— Eu achei que fossemos todos morrer – ela virou os grandes olhos verdes para o irmão, que manteve o olhar – Mas daí o Harry explodiu o teto! Naquela hora eu tive certeza que íamos morrer – Ela riu melodiosamente, mas Harry não a acompanhou, lembrando-se enfim dos últimos segundos de caos que passou no Ministério.

— Professor – a voz de Harry, muito mais séria do que o normal, calou o riso dos outros no mesmo segundo, mas ele não estava se preocupando com isso no momento. – Antes de Lottie e eu desaparatarmos do Ministério, eu acho que eu ouvi uma coisa... Mas eu não entendi o que poderia significar. Eu acho que ouvi... Eu ouvi Belatriz gritar para ele me atacar. Mas ele não era capaz de me ver. “De que garoto você está falando”, ele perguntou. – Harry suspirou, insatisfeito com a confusão em sua mente, e depositou seus olhos verdes no diretor, procurando respostas em suas profundas rugas – O que ele queria dizer com isso, professor?

Harry sentiu o silêncio cair na sala como uma neblina fechada com suas palavras. Tudo ficou silencioso e calmo, e ele percebeu, pelo olhar surpreso do diretor, que ele também não tinha a resposta para sanar sua dúvida. Frustrado, Harry abaixou o olhar, passando pelo medalhão, que repousava calmamente na superfície da madeira, passando pelo rosto confuso da irmã, até cair nas mãos dela, onde uma pequena e familiar chave dourada repousava. Com um pequeno sorriso, Harry levou as mãos até o próprio pescoço, e tateou ali até encontrar uma fina corrente de ouro, que ele puxou pelas vestes, até que o pingente aparecesse; uma chave pequena e delicada, idêntica à que estava pendurada no pescoço da jovem ao seu lado.

— Eu sinto muito, Harry – Dumbledore se pronunciou, aparentando muitos anos mais velho – Eu realmente gostaria de ter a resposta para isso... Mas não a tenho.

— Eu... Eu acho que eu tenho. Foi o pingente. – Harry sentiu o coração pular com a declaração de James, que parecia subitamente envergonhado com toda a súbita atenção que estava recebendo. – Esse pingente, Harry, foi da sua mãe? Em seu... universo?

— James – Lily perguntou, hesitante, depois de Harry ter confirmado a pergunta do pai com um leve aceno de cabeça – Esse pingente foi um presente seu de natal para mim. O que ele pode ter a ver com tudo isso?

— Lily, meu amor – Harry observou o pai se virar cautelosamente para a esposa e pegar em suas mãos antes de continuar – Você é a mulher da minha vida. Você me deu os melhores presentes que eu poderia imaginar, você é meu tesouro. E por você eu faço tudo. Até aceitar ajuda.

— Ajuda de quem? – Lottie perguntou, os olhos tão arregalados quanto os da mãe, iguais em cor, formato e surpresa.

— Eu sempre soube, e aceitei, todos os riscos que caíram sobre mim quando decidi meu lado na Guerra, ao lado da Ordem e do seu, meu Lírio – James olhava fixamente nos olhos da esposa, que não desviava do olhar – Mas eu não era capaz de aceitar que você estivesse correndo o mesmo risco que eu, e ainda mais, por ser nascida-trouxa. Eu passei nossos últimos meses em Hogwarts em claro, buscando um modo de te proteger da ira de Voldemort, mas nada que eu tenha encontrado funcionou.

— Eu não entendo. Você me deu o colar, me disse que ele me traria proteção... – Lily tentou falar, mas suas palavras foram engolidas pelas do marido.

— Eu te dei o colar. – Ele concordou, e a pouca cor que ainda existia em seu rosto desapareceu aos poucos – Mas não fui eu quem o fez. Lily, para te proteger, eu sou capaz de qualquer coisa. Tanto que e-eu... Aceitei a ajuda do Ranhoso. Ele me procurou uma noite. Era madrugada, e eu estava fazendo pesquisas na biblioteca quando ele apareceu. No início eu imaginei que ele tivesse lá para me azarar, mas não. Ele me perguntou se era verdade que eu tinha te pedido em casamento... E quando eu confirmei, ele me deu um soco. Fraco e maldado, mas me pegou de surpresa... E antes que eu revidasse, ele me jogou esse colar e pediu... Ele implorou que eu te desse, mas que não te contasse que era um presente dele, porque saberia que você nunca iria usá-lo se soubesse.

— Você mentiu para mim a pedido do Severo?! – Lily havia definitivamente soltado as mãos de James, e agora recuava em direção aos filhos, incredulidade estampada no rosto – O que ele possivelmente poderia ter te dito para você aceitar mentir para mim?

— Ele me explicou que o feitiço que envolve o pingente te tornaria invulnerável aos olhos de Voldemort enquanto você o usasse. – James sussurrou, e Harry sentiu o corpo de Lily relaxar no mesmo segundo. – Ranhoso nunca me explicou exatamente como a proteção acontecia... Mas agora é claro que o pingente torna quem o usa invisível para aquele filho da puta. Foi assim com o Harry... E comigo, na noite em Godric’s Hollow, quando você insistiu que eu o usasse...

— Mas porque o Snape iria querer proteger a minha mãe? – perguntou Lottie para ninguém em particular, observando a pequena chave dourada em suas mãos com uma recém descoberta reverência.

— Severo Snape amou nossa mãe por toda a vida dele, Lottie. Desde que eram crianças – disse Harry – Quando ele se uniu à Voldemort, ele ainda a amava tanto que implorou ao mestre que a poupasse, se ela viesse a cruzar seu caminho. – virando-se para Dumbledore, ele falou, procurando ser o mais sucinto possível – Em meu universo, Snape procurou o senhor, professor, apenas horas depois de ter descoberto que Voldemort acreditava que o bebê da profecia era eu – Harry continuou, sob o olhar muito atento dos outros – Isso também aconteceu nessa realidade?

— Severo Snape me procurou uma noite, há muitos anos atrás – Dumbledore confessou – Eu sabia que ele tinha conhecimento da profecia, visto que ele também a ouviu, e portanto, o seu Mestre também tomou conhecimento dela. Ou pelo menos, de parte dela. Mas foi o suficiente para que Voldemort acreditasse que a profecia se referia aos Potter. Mais especificamente, ao seu filho, Lily – Dumbledore suspirou, colocou as duas mãos sobre a mesa, e com o semblante muito cansado, continuou sua narrativa, sob o olhar incrédulo de Lily – Severo me implorou que a protegesse, a escondesse. E em troca, ele me prometeu o que eu quisesse, desde que eu a mantivesse protegida.

— Snape espionou para você?! – Moody rosnou, o rosto deformado dividido entre a surpresa e o repugno – E você pensou que seria sensato que ninguém mais soubesse disso?

— Eu dei minha palavra – o diretor respondeu, simplesmente, como quem encerrasse o assunto – Ele me informou de vários ataques e planos dos comensais por muitos meses... Até o ataque aos Potter. Ele cortou todos os contatos comigo depois que o bebê morreu, e ele se certificou que Lily estaria segura de Voldemort.

— Lily – James chamou a atenção da esposa após vários segundos de silêncio – Eu imagino que deve ser muito para digerir, e entendo se você estiver brava comigo...

— Eu não estou brava com você – disse Lily – Só estou surpresa com tudo isso. É muita informação, e eu preciso de tempo para digerir tudo. Mas não agora. Dumbledore, só hoje eu tive meus pés tirados do chão mais vezes do que achei ser possível, e eu gostaria de passar um tempo sozinha com minha família.

— Mas de jeito ne... – Moody se retesou em sua cadeira, franzindo o rosto deformado para a mulher, mas um pequeno gesto de Dumbledore o calou.

— Nós já temos o medalhão, Alastor – disse Dumbledore enquanto se levantava – Não é como se a joia fosse criar pequenas pernas e sair correndo. Dê-lhes pelo menos essa noite.

— Hm... Certo – Moody concordou, muito a contra gosto, a bocarra cheia de cicatrizes deformada em uma linha severa – Mas eu ainda tenho perguntas, moleque! – Ele se virou de repente para Harry, o dedo indicador apontado para ele, embora um pedaço do dedo lhe faltasse – Parece que a cada hora você surge com mais informações que nos seriam preciosas!

— Sim senhor – disse Harry, com um sorriso quase imperceptível quando os dois homens mais velhos finalmente se retiraram da sala.

Harry os acompanhou com os olhos até que a enorme e pesada porta de madeira bateu atrás dos dois, e assim que a maçaneta voltou a sua posição normal, ele sentiu um par de braços envolve-lo por cima do encosto da cadeira, e uma chuva de cabelos vermelhos aparecer em seu campo de visão.

— Poderíamos ir ao apartamento dos Potter – Lily disse, ainda abraçada ao filho – Tem tanto que eu gostaria de contar, e de ouvir...

— Seria perfeito – respondeu Harry, sentindo novamente os olhos marejados, enquanto se levantava de onde estava, mas nunca se desprendendo do abraço da mãe, como se ele precisasse daquele contato para continuar respirando.

— Talvez Cookie possa nos levar um almoço. Seria legal um pouco de privacidade em nosso primeiro almoço oficialmente em família. – disse James, passando um braço por cima dos ombros de Harry, enquanto o outro envolvia os ombros da filha – E Lottie, eu imagino que você vá querer saber cada detalhe que puder esmiuçar...

— Oh! Na verdade... – Harry sorriu com a vermelhidão subindo pelas bochechas da irmã – Eu meio que já sabia.

— Desde quando?! – Lily e James perguntaram em uníssono, expressões gêmeas de genuína surpresa em seus rostos.

— Vejamos, o Harry chegou aqui dia vinte e dois de dezembro então... desde o Natal – Lottie falou baixinho, com um sorriso envergonhado nos lábios tensos.

Harry pensou que os pais fossem ficar furiosos, ou pelo menos magoados que Lottie tivesse guardado esse segredo por tanto tempo, mas ele certamente não esperava que Lily balançasse a cabeça e sorrisse levemente, nem que James soltasse uma leve e alta gargalhada, o que confirmou que ele realmente conhecia muito menos dos pais do que ele esperava. Mas agora, talvez ele pudesse ter essa oportunidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Owwwwwwn
Não sei o que dizer, só sentir.
Então tô saindo daqui pra cuidar dos meus sentimentos e deixando vocês pra comentarem ;)
Até terça que vem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harry Potter e o Orbe dos Universos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.