Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 38
O Casarão dos Potter


Notas iniciais do capítulo

To ficando boa nisso de postar nas terças! HAHAHAH



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O fraco brilho do sol que entrava pelas janelas de cortinas esfarrapadas iluminava o comprido corredor. Não era muito, mas era o suficiente para que Harry soubesse para onde estava indo, e pudesse observar o ambiente à sua volta, embora pouco houvesse mudado.

As paredes cobertas por veludo carmim antigo e desbotado estavam iguais à sua memória, e as dúzias de quadros de bruxos e bruxas emoldurados por pesadas molduras douradas e cravejadas ainda ignoravam sua presença, por mais que ele tivesse a sensação que eles o encarassem assim que ele passava por eles.

E no fim do corredor, exatamente no centro da saleta circular iluminada pelos vitrais das compridas janelas empoeiradas, no lugar da mesa circular sobre a qual o conhecido orbe negro deveria estar, havia uma suntuosa poltrona de pés de garra e encosto imperial, ocupada por uma dama, que segurava o orbe como uma mãe segura o próprio filho.

— Já encontrou sua resposta, Harry Potter? - Sem dúvidas, era a mesma mulher que apareceu em seus sonhos semanas atrás, Harry achava impossível que pudesse existir outro ser em todos os universos com os mesmos olhos que ela tinha, escuros, salpicados de pontos brilhantes como estrelas, que continham ao mesmo tempo toda a tristeza de uma vida e toda a sabedoria do mundo.

— Eu... – Harry gaguejou, confuso com a mudança abrupta em seu sonho – Ainda não.

— Mas alguma coisa o trouxe para mim. – Os cabelos muito negros da mulher escorreram em seus ombros quando ela se recostou no encosto da poltrona – Sente-se.

Harry estava prestes a perguntar se deveria se sentar no chão quando percebeu uma poltrona gêmea a que a mulher estava sentada logo atrás de si. Com toda a certeza que a mobília não estava ali a poucos segundos atrás, sentou-se com cautela.

Rapidamente, Harry percorreu os olhos pelo local. As duas portas de madeira avermelhada ainda estavam na parede em frente a si, e as cortinas que emolduravam as compridas janelas de vitrais ainda estavam puídas e empoeiradas.

— Senhora... – Harry começou, mas parou quando percebeu que não sabia nem mesmo como chama-la. – Eu não sei porque voltei. Na verdade, não sei nem porque vim pela primeira vez.

— Obviamente, Harry Potter – respondeu a mulher, com sua voz grossa e rouca.

— Então... – Harry franziu as sobrancelhas, com cada vez mais perguntas e menos respostas.

— Abra os olhos para além do que se vê, Harry Potter – a mulher o interrompeu, pela primeira vez pousando o orbe negro no próprio colo, para livrar as mãos e estendê-la em direção à Harry, que por sua vez, estendeu as próprias com cuidado, até que elas se encontrassem. Os dedos da mulher misteriosa à sua frente eram compridos e gélidos, mas foi com muita cautela que ela segurou as mãos calejadas do garoto sobre as suas, analisando-as como uma cigana – E volte a mim quando encontrar a resposta. Está na hora de acordar.

Confuso e desorientado, Harry abriu os olhos. Estava tudo muito embaçado, já que estava sem seus óculos. Tateando, encontrou-os ao seu lado, no que descobriu ser um criado mudo ao lado da confortável cama onde se encontrava. Ainda com a cabeça latejando, Harry sentou-se e estudou o ambiente onde estava. Era um quarto espaçoso e confortável, com uma bonita lareira acesa na parede oposta à cama onde estava. O papel de parede, azul e bronze, parecia um pouco desbotado, e os pôsteres do time de Quadribol britânico Montrose Magpies estavam caídos e suas pontas pareciam comidas por traças.

A magia ao redor era conhecida e agradável, então foi sem medo que Harry retirou as pesadas cobertas de cima de si, para revelar pijamas desconhecidos que o cobriam. Apesar da lareira acesa, assim que ele se levantou um vento frio passou por si, dando calafrios. Internamente satisfeito que o chão fosse coberto por um macio carpete, ele se levantou para procurar um robe, ou algum casaco que pudesse aquecê-lo o suficiente para sair de onde estava e poder procurar os outros, mas antes mesmo que pudesse vasculhar o quarto, a porta ao lado da lareira se abriu.

— Harry! – James adentrou o quarto com um sorriso aliviado, segurando uma bandeja prateada com três copos onde poções soltavam fumaças – Estávamos preocupados, não sabíamos quando ia acordar.

— Eu fiquei desacordado por muito tempo? – Harry sentou-se novamente na cama, aceitando um dos copos que James lhe entregou, e tomando-o em um só gole. Ele havia reconhecido na hora o líquido vermelho e doce como poção para repor sangue.

— Não, ainda não completaram vinte e quatro horas. – James ofereceu a Harry o segundo copo, que também fora esvaziado rapidamente. – Mas como o caminho dos escudos até o castelo seria muito difícil para leva-lo, concordamos que trazê-lo para cá seria a melhor solução, pelo menos até se recuperar. Lily tem feito suas poções com muito zelo desde que chegamos.

— E onde exatamente é “aqui”? – Harry perguntou, curioso.

— Bem – James levou uma mão à nuca, bagunçando os cabelos com um sorriso no rosto – Esse foi meu quarto durante toda minha infância e adolescência, até eu me casar. Estamos no Casarão dos Potter.

— Não sabia da existência desse local – Harry disse impressionado, sentindo um sorriso abrir em seu rosto – Montrose Magpies?

— Torço pelos Pegas desde que me lembro – James olhou saudoso para os pôsteres antigos colados em suas paredes – Meu pai também, e o pai de meu pai.

— É uma tradição entre os Potter, então. – Harry comentou, esvaziando o último copo.

— Era – James fez uma careta, antes de se levantar e pegar a bandeja – Desde pequena Lottie torce pelas Harpias... Não importam meus esforços.

— Minha noiva joga pelas Harpias – Harry sentiu os lábios repuxarem em um sorriso triste, cheio de saudades.

— Então talvez Lottie não torcer pelos Pagas não seja o fim do mundo – James abriu a porta, mas antes de sair, acrescentou – Suas roupas estão limpas em cima daquela poltrona. E se quiser se lavar, a porta ao lado da cama leva ao banheiro. - James lançou mais um olhar demorado a Harry, antes de se retirar do quarto, sem dúvidas para avisar a Lily que ele havia acordado.

Antes de se levantar da cama, Harry ainda se demorou admirando o quarto onde estava. As cortinas e o papel de parede estavam desbotados e os pôsteres em decadência, mas tirando isso, todo o resto parecia estar do mesmo modo que o jovem James Potter deixou antes de se casar e se mudar para Godric’s Hollow com a esposa, sem nem sequer imaginar o quanto suas vidas estariam prestes a mudar naquela casa.

***

Apesar de intocado por muitos anos, o banheiro era bastante aconchegante, e a água quente serviu para relaxar os ombros de Harry. Lembranças da casa dos Riddle misturadas com as da caverna onde ele e Dumbledore enfrentaram os inferis inundavam sua mente, e a ducha ajudava a leva-las ralo abaixo.

O banho, mais demorado que Harry previra, foi de muita valia para que as poções feitas por Lily fizessem efeito, e o frio sentido por ele anteriormente pela falta de sangue já não era mais um problema, ao contrário do audível ronco em seu estômago.

Depois de se dar por vencido e desistir de pentear os fios rebeldes, Harry finalmente saiu do antigo quarto de James, e se viu no final de um largo e iluminado corredor. Ciente que a madeira escura e nobre denunciava seus passos, Harry tentava caminhar devagar e o mais silenciosamente possível, observando todos os detalhes que seus olhos podiam absorver, desde o papel de parede de aparência majestosa, às obras de arte que enfeitavam a parede, embora não houvesse nenhuma alma habitando nas molduras, até o corrimão trabalhado de uma belíssima escada que levava ao andar inferior do casarão.

— Harry? – A voz de Lily veio antes dela aparecer no campo de visão do garoto, vinda de um par de portas francesas abertas – James me disse que você acordou. Desça, eu fiz algo para comermos.

Como se tivesse vida própria, Harry sentiu seu estômago dar um ronco animado. Feliz com a perspectiva de comida, ele desceu depressa as escadas e atravessou as portas por onde Lily tinha aparecido, revelando uma cozinha surpreendentemente limpa e arrumada.

— Estávamos te esperando – Lily sorriu, levando uma grande panela até uma mesa circular em uma das extremidades do ambiente – Achamos melhor comermos na cozinha mesmo, seria besteira usar a sala de jantar apenas para nós três.

— Meu pai sempre falava isso, por mais que minha mãe insistisse em usar o salão de jantar – James comentou enquanto se servia do conteúdo da panela. O cheiro era delicioso – Ele sempre dizia para ela esquecer a criação aristocrática que a família Black dá e...

— Sua mãe era da família Black? – Perguntou Harry, realmente surpreso.

— Até os quinze anos, sim. – James respondeu.

— Ela se casou com quinze anos? – Harry sentiu os olhos se abrirem ainda mais de espanto.

— Pela primeira vez, sim, obrigada pelas tradições bruxas. – Dessa vez foi Lily quem respondeu. – Mas os pais de James renovaram os votos alguns anos depois, quando se apaixonaram. Euphemia sempre me contava a história do segundo casamento deles, enquanto ela me dava o mesmo treinamento que recebeu antes de casar.

Harry mastigou seu ensopado devagar, admirando os pais relembrarem memórias dos dias que passaram naquela casa. Eles contaram a Harry que James pediu Lily em casamento ainda em Hogwarts, em seus últimos dias no castelo. Devido à guerra anunciada, Lily achou por melhor começar a cortar laços com sua vida trouxa, e Euphemia foi muito receptiva em toma-la como filha no Casarão dos Potter, onde ela pode passar à futura nora todos os segredos de uma boa criação bruxa, já que Lily fora criada como trouxa.

— Euphemia Potter parece ter sido uma pessoa única – falou Harry, relembrando da mulher de pose aristocrática que Lottie havia lhe mostrado semanas atrás.

— Ela era a melhor mãe que alguém poderia ter – James sorriu, mas após sentir o olhar de Lily em si, acrescentou – Eu sei que dona Orquídea era maravilhosa, mas eu duvido que ela aguentaria criar a mim e ao Almofadinhas – Lily bufou levemente e sorriu, logo em seguida, vencida pelo argumento – E papai também, era um bruxo e tanto. Eles eram perfeitos juntos.

— O que aconteceu? – Perguntou Harry. Ele sabia que o avô paterno havia morrido enquanto seu pai ainda estava em Hogwarts, mas pouco sabia da avó.

— Varíola de Dragão. É bem comum em bruxos de idade mais avançada. – James respondeu, um pouco cabisbaixo – Meu pai já não era jovem quando eu nasci, e mamãe não aguentou muito tempo depois que ele se foi.

— Então... – Harry pigarreou, desconfortável com o clima que havia caído sobre a mesa – Esse é o Casarão dos Potter. Nunca ouvi falar na existência desse lugar. Os Potter têm morado aqui a muito tempo?

— Por muitas gerações – a voz de James ainda estava um pouco embargada, mas seu sorriso voltou aos poucos enquanto ele contava sobre a história de sua família. Da família deles – Essas terras eram de Linfred de Stinchombe (*). Ele trabalhava com ervas medicinais, e curou muitos bruxos e trouxas em sua vida, e depois de tratar de um furúnculo muito dolorido de um bruxo nobre e de outras doenças de bruxos e trouxas locais, ele deu início a uma fortuna, que ele dividiu para cada um dos seus sete filhos. O mais velho deles herdou as terras, e junto com sua esposa eles ergueram essa casa. Desde então as terras têm sido passadas para o filho ou filha mais velho de cada geração. E foi assim que meu pai herdou essas terras, enriqueceu devido ao seu talento e trabalho duro, e depois de muitos anos, depois até mesmo dele ter aceitado que mamãe não seria capaz de dar um herdeiro para ele... Eu nasci.

— E depois de conformados que teriam apenas um filho – Lily, que estava observando tudo de longe enquanto arrumava a cozinha, voltou para perto do marido, envolvendo-o com um abraço – Sirius surgiu na vida deles.

— Mamãe sempre disse que queria uma família grande – James sorriu, balançado os ombros.

— E eu tenho certeza que vocês dois sozinhos equivaliam a um exército – Lily riu melodicamente.

— Mas se essas terras passariam diretamente para você – Harry comentou pensativo, referindo-se a James – Porque se mudaram para Godric’s Hollow? Foi para se esconderem?

— Oh, não – Lily respondeu, o sorriso vacilando um pouco – Nos mudamos para lá muito antes de sabermos da profecia.

— É só que essa é a casa dos meus pais – James respondeu, calmamente – Não minha. E eu queria um começo novo com Lily, sem tradições nem obrigações. E se um dia meus filhos... – ele pigarreou – Se um dia Lottie quiser, ela pode vir morar aqui.

— Lottie sabe da existência dessa casa? – Perguntou Harry.

— Ela conhece as histórias, e já a viu em fotos – falou James – Mas por causa da guerra, nós nunca viemos para cá.

— O que é uma pena, Lottie adoraria o jardim de inverno – Lily suspirou, enquanto a varinha apontada para a pia lavava os pratos onde comeram alguns minutos antes.

— O jardim de inverno? – James riu, balançando a cabeça incrédulo – Lottie adoraria a quadra de Quadribol, isso sim! E a sala de jogos, nunca vi ninguém jogar xadrez como essa menina!

— Vocês têm uma quadra de Quadribol? – Harry arregalou os olhos, sentindo o rosto se abrir em um sorriso.

— É claro que temos uma quadra! Semiolímpica, mas ainda assim grande o suficiente para um bom jogo entre amigos. – James tinha um sorriso maior que o rosto enquanto descrevia a quadra, quando foi interrompido pela mulher.

— Você gostaria de conhecer a casa? – Lily perguntou, docemente – Ela está um pouco empoeirada, mas eu me lembro perfeitamente do tour que Euphemia me deu assim que me mudei.

Exultante com a proposta, Harry aceitou o convite antes mesmo que a mãe tivesse acabado de falar. Por influência de James, eles começaram o tour pelo Casarão dos Potter do lado externo da casa, saindo da cozinha por portas de vitrais embaçados para um jardim grande e muito malcuidado, mas onde ainda eram visíveis um campo de críquete, um lago cheio de algas e, mais ao fundo, o menor campo de Quadribol que Harry já vira, mas sem dúvidas, eficiente para pequenas partidas.

— Você precisava ver esse jardim bem cuidado, Harry – James falou, observando com saudades o terreno a sua frente. – Minha avó tinha uma roseira de estimação que dava as rosas mais cheirosas do mundo, e em todas as minhas férias de verão eu e Sirius explorávamos o caminho até a cidade. Tinha um buraco na cerca viva por onde passávamos... Ah, quando mamãe descobriu ela ficou furiosa. Tenho as marcas no meu bumbum até hoje.

Harry não sabia se deveria rir de uma confissão tão íntima, mas a visão do exterior da casa em sua dimensão total tirou seu ar. O campo de Quadribol, onde eles estavam no momento, era um pouco distante do jardim em si, e dava uma magnífica vista da construção. O Casarão dos Potter podia estar abandonado e acabado, mas suas paredes de tijolinhos vermelhos ainda contrastavam belamente com as portas e janelas brancas, embora alguns vidros estivessem quebrados ou completamente tomados por teias de aranha. Seu segundo andar tinha uma sacada comprida, que pegava quase toda sua extensão, e parecia ser um ótimo lugar para se dar festas nos dias quentes de verão.

— O meu quarto era aquela janela ali, a última do lado esquerdo – James apontou para uma das janelas ainda inteiras da casa – E Sirius dormia no quarto logo ao lado, naquela janela... Claro, ele só se mudou para cá quando tinha quinze anos, mas papai montou um quarto só para ele nas nossas férias do segundo ano. Já Lily ficou em um dos quartos de hóspedes, do outro lado da casa.

— Não ficou no quarto de James? – Harry perguntou, enquanto percorriam o exterior da casa.

— Euphemia nunca permitiria isso enquanto não estivéssemos casados – Lily respondeu com um sorriso nostálgico – Como dissemos, ela fora criada nas tradições bruxas.

Harry não sabia bem o que isso significava, mas assentiu mesmo assim. Eles haviam dado a volta na construção, e agora estavam levando Harry para a fachada principal da casa. Quando bem cuidada, deveria ter sido um local maravilhoso de se viver, com suas janelas compridas e as margaridas que cresciam desordenadamente pela grama, que antes deveriam fazer parte de um belo e bem organizado jardim. Com um sorriso, Harry se lembrou que Gina adorava margaridas.

— Seja bem-vindo ao Casarão dos Potter – James falou solenemente, antes de abrir a grande porta de carvalho, dando em uma ampla antessala.

— Belo vaso – Harry comentou, reparando um vaso de porcelana que havia sido muito mal colado de modo trouxa, exibido sobre uma mesa em destaque no local, coberta por uma grossa camada de poeira.

— Essa era a peça favorita da minha mãe – falou James, logo depois de ter sugado o que pode da poeira com sua varinha – Mas só depois de quebrada.

— Sirius a quebrou em uma das suas estadias – Lily respondeu ao olhar interrogativo de Harry – E tentou colá-lo com cola, já que não podia usar magia.

— Eu não estava aqui na hora, mas Almofadinhas me disse que ele nunca tinha sentido tanto medo na vida dele quando viu a minha mãe se aproximar – James continuou – Ele disse que já estava se preparando para ouvir um sermão e ser mandado de volta para casa quando minha mãe ignorou completamente o vaso quebrado e perguntou a Sirius se havia se machucado. Sabe, a família do Almofadinhas nunca foi muito carinhosa... Então ele ficou realmente surpreso de não ter sido esfolado vivo por ter quebrado o vaso. E quando meu pai perguntou o que havia acontecido, mamãe respondeu “ah, você sabe como nossos meninos são”.

— Sirius ainda fica com lágrimas nos olhos com essa história até hoje. – Lily riu baixinho, enquanto guiava Harry até uma sala de estar grande e iluminada, que parecia ter sido muito confortável um dia.

— Está vendo que o leão do lado esquerdo da lareira só tem um dos caninos? – James chamou a atenção de Harry para os leões de mármore que ladeavam uma enorme lareira em uma das paredes da sala – Tivemos um incidente com um balaço uma tarde... Meu pai mandou erguer o campo de Quadribol no dia seguinte. Disse que precisava do resto da casa intacto para morarmos nela.

O Casarão dos Potter era uma construção grande. Não era imenso como a Mansão Malfoy, mas ainda assim tinha uma aura indubitavelmente aristocrata, mas não de um jeito frio. As paredes, embora estivessem sujas e malcuidadas, ainda conseguiam passar um ar confortável, familiar a Harry.

Lily guiou Harry a um tour bem informado sobre os ambientes da casa, e a cada recinto que entravam, James mostrava sinais de uma infância bem aproveitada. Lily fez questão de mostrar o jardim de inverno, e mesmo que estivesse em mal estado, Harry teve que concordar que Lottie adoraria aquele lugar. Atravessando o salão de bailes, encontrava-se a biblioteca, um grande aposento da casa com vista para o jardim, mas cujas inúmeras prateleiras estavam vazias, já que James levou tudo o que pode para Hogwarts quando se mudaram para o castelo.

Andando por aqueles corredores, ouvindo histórias de acontecimentos passados, sentindo a atmosfera confortável que as paredes lhe davam, Harry ouviu a voz de Dumbledore surgir do fundo de sua memória, quando o encontrou em frente ao quadro da Mulher Gorda, lhe dizendo que lar é onde o coração descansa. Sim... Agora Harry entendia isso, sentia em seus ossos que aquela casa poderia ser sua, quando voltasse. Poderia ser seu lar.

Com esse pensamento reconfortante em mente, Harry percorreu com um sorriso no rosto a saleta de música, perdido em seus pensamentos. Não era grande, na verdade mais parecia uma extensão da biblioteca, mas o decadente piano de cauda em seu centro chamou sua atenção. Algumas teclas estavam faltando, e a pauta de música que havia sido esquecida sobre a madeira escura estava comida por traças. Harry encostou de leve a mão nas peças de marfim, arrancando um som grave do instrumento, lembrando-o dos acontecimentos recentes na casa dos Riddle.

— Onde está Dumbledore? – Harry perguntou subitamente, interrompendo Lily, que estava contando do fiasco que foram suas aulas de piano com James – Ele e Fred já não estavam aqui quando acordei.

— Fred aproveitou que ainda não voltamos para o castelo e foi visitar a tia Muriel - disse Lily – Já Dumbledore não deu maiores explicações, só pediu que não saíssemos daqui enquanto ele não voltasse.

— Isso realmente parece com Dumbledore – Harry concordou, mas com a mente completamente voltada para a visita de Fred à tia Muriel e, consequentemente, à Gina. Como será que ela estava?

O sol ainda estava alto no céu quando eles voltaram para a sala. Harry tomou uso dos feitiços caseiros que sua Gina havia ensinado para ele, e ajudou Lily a limpar o ambiente o melhor que pode. As teias de aranha e a grossa camada de sujeira foram definitivamente limpas, e a lareira foi acesa, ajudando a combater o frio que a neve trouxe.

— Olha só o que eu achei escondido na cozinha! – James tinha um sorriso enorme no rosto, e carregava um grande saco de marshmalows nos braços.

— James, você não está pensando em comer isso, está? – Lily perguntou, horrorizada, enquanto James espetava marshmalows e entregava um espeto com três marshmalows para Harry, e ficava com outro para si próprio, ignorando os protestos da esposa. – Harry?! Esse saco tem vinte anos, pelo menos!

— Ah, Lily, você sempre disse que essas coisas industrializadas estão cheias de conservantes, aposto que eles conservaram bem – James revirou os olhos, como se estivesse dizendo algo óbvio, embora Lily estivesse procurando a data de validade no saco dos doces – Vamos, não é como se fossemos ter uma batalha mais tarde para passar mal.

— Talvez seja muito cedo para falar isso – Harry sentiu o coração afundar coma visão de uma hiena prateada e fantasmagórica atravessando os jardins, até chegar até eles.

— Ataque em Killarney – a voz de Fred Weasley falou – Lobisomens. Venham logo, precisamos de ajuda.

James e Lily se levantaram na mesma hora, convocando seus casacos e objetos pessoais que ainda estavam na cozinha. Com o coração a mil, Harry convocou o próprio casaco de lã de chemilys que ainda estava no antigo quarto de James, e assim que a lã tocou sua pele, ele enfiou a mão no bolso interno, sentindo o pequeno volume do anel dos Gaunt.

Sua respiração estava rápida quando ele se concentrou para aparatar, com uma péssima sensação no estômago ao finalmente reconhecer de onde conhecia o nome da cidade atacada: era a cidade onde a tia Muriel morava com Gina.


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Notas finais do capítulo

(*) Dados retirados do texto "A Família Potter", da tia Jô, disponível no Pottermore, Potterish e vários outros sites :)

Galera, eu queria muito escrever uma nota final fofa e engraçada, mas a verdade é que não dá. Eu estou terrivelmente envergonhada pelo meu país, e envergonhada pelo circo que ele se formou.

Só espero de coração que esse capítulo possa fazer vocês viajarem por um tempo, e que coloque um sorriso no rosto de vocês.

Sejam gentis uns com os outros. Eu amo vocês ♥



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