Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 37
Little Hangleton, Great Hangleton, Fogo e Gelo


Notas iniciais do capítulo

E não é que hoje é terça de verdade, segundo o horário de Brasília e tudo mais??? Quase um milagre! :O

E pra me desculpar por ter feito vocês esperarem, não vou encher muito o saco de vocês, então boa leitura, SEUS LINDOS!



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A reabertura do Clube de Duelos foi muito comentada na semana seguinte. Harry estava com medo que mais pessoas fossem procura-lo querendo saber de seu passado, mas a história de Lottie correu rápido pelos ouvidos alheios, e apesar de algumas fofocas fantasiosas chegarem aos seus próprios ouvidos, ele não foi importunado sobre sua identidade uma única vez que fosse.

Na segunda reunião do Clube de Duelos, Harry sentiu que a turma estava bem o suficiente para ter as primeiras noções de duelo, como a reverência, a postura e as maneiras corretas de se segurara varinha. Como demonstração, Harry chamou Lily e Sirius ao palco, e a mulher não precisou de dez segundos para imobilizar o amigo. Sob uma chuva de aplausos, Harry pediu que Lily, James e Sirius, depois que o feitiço foi desfeito, o ajudassem com os que estivessem tendo problemas, pelo menos nas primeiras horas da reunião. Foi uma aula bastante agitada, com um caso que levou um quintanista à enfermaria, mas tirando isso, foi um sábado muito proveitoso.

O talento de Harry, somado à posição de professor, o deixou conhecido entre os moradores do povoado e entre os alunos, em especial entre um pequeno grupo de alunas muito sorridentes. Sirius brincava dizendo que ele era jovem e desimpedido, e Harry sempre o cortava lembrando-o que ele era noivo, mas foi só quando Lily ameaçou castrá-lo que as brincadeiras em relação às alunas pararam. É claro que Harry havia reparado que vez ou outra uma das meninas vinha falar com ele com a saia mais curta que o normal, ou com um botão a mais aberto, mas o mero pensamento dele trair sua Gina era risível, então ele passou a sempre usar os atalhos quando andava pelo castelo, depois de cansar de pisar em ovos para dispensar cada uma das meninas que insistia em ir atrás dele.

A nova rotina de Harry não era muito bem definida, mas isso estava sendo bom naquele momento. Ele pegou a mania de Sirius de comer seu desjejum na mesa da Grifinória, mas sempre o fazia de manhã bem cedo ou acompanhado de Lily, para evitar o máximo possível as poucas insistentes alunas que Lottie nomeou de “Harrietes”. Depois, ele às vezes assistia as aulas dos pais e Sirius, e outras vezes perambulava pelo castelo, mas em geral ele era visto na biblioteca, sempre cercado de livros e cadernos.

— Você vai acabar sendo engolido por um desses livros – Lottie se aproximou dele devagar, pegando um dos cadernos onde ele estava fazendo anotações – Little Hangleton?

— É o vilarejo perto de onde a mãe de Voldemort viveu antes de fugir e engravidar dele – Harry explicou, aproveitando a pausa forçada para se espreguiçar – Se eu estou certo, tem uma horcrux lá, e acho que esse deva ser nosso novo passo.

— Espero que dê tudo certo quando vocês forem destruí-la – Lottie suspirou, deprimida, chamando a atenção de Harry.

— Como assim “vocês”? – Ele perguntou – Você não pretende ir?

— Só se for para atrasar você – Lottie respondeu, sarcástica – Não sou tão talentosa como a maioria dos membros da Ordem, você viu como foi em Beauxbattons. – Ela suspirou, e desviou o olhar, corando – Se não fosse por mim, você não teria se distraído durante o duelo com a Belatriz, e não teria se machucado.

— Lottie, você é muito mais forte do que imagina...

— Não atingi Sirius uma vez que fosse, durante o Clube de Duelos – ela o olhou de lado, ficando ainda mais corada – Eu pensei que estivesse mais preparada para ajudar na Guerra, mas acho que mamãe tem razão em me manter aqui no castelo, se eu não sei nem me defender direito.

— Lottie, eu vi você desarmar e incapacitar um comensal na minha frente, em Beauxbattons. – Harry disse, e achou ter visto um rápido sorriso no rosto da irmã – Você é mais capaz do que pensa, vai por mim. E se mesmo a minha palavra não for suficiente – ele sorriu, pois viu que conseguiu capturar a atenção dela – Posso te treinar.

— Harry, você não precisa perder seu tempo com isso.

— Deixa de besteira – Harry revirou os olhos, quase ao mesmo tempo que Lottie – Não será perda de tempo, tome isso como um presente de todos os aniversários que já teve até agora.

— Parece justo – um sorriso tímido foi crescendo nos lábios de Lottie – Mas então eu também precisaria te dar um presente.

— Você pode me ajudar aqui – Harry fez um gesto amplo com a mão, indicando os inúmeros papéis à sua frente – Moody está chegando do Oriente Médio em dois dias, e eu queria já ter um plano traçado para essa próxima horcrux.

— Parece uma ótima troca – Lottie sentou-se mais perto de Harry, definitivamente mais animada, e prendeu o cabelo em um coque bagunçado, antes de pegar o mapa da cidadezinha – Por onde começamos?

***

Moody chegou ao cair da noite do primeiro sábado de fevereiro (*), depois de uma missão especialmente difícil no Oriente Médio. Ele e mais alguns antigos aurores foram investigar uma movimentação estranha de vampiros naqueles países, visto que a presença desses seres em lugares tão ensolarados era, no mínimo, suspeita.

— Duas semanas de investigações dando em nada – Moody se jogou em uma das poltronas do escritório pertencente à professora McGonagall, que o olhava de canto de olho, claramente indignada que ele estivesse sujando suas poltronas estofadas de lã escocesa – Pelo menos sei que vocês tiveram um resultado positivo com os franceses.

— Tivemos nossos contratempos – Dumbledore concordou, servindo-se de uma tortinha de morango – Mas por fim, a aliança entre Beauxbatons e o reino aquático do rei Tritus foi selada, assim como a aliança com Hogwarts. Gui Weasley partiu de manhã para se encontrar com a senhorita Delacour, e ainda de madrugada deveremos receber notícias dele.

— Hunf, só espero que ele tenha bastante cérebro na cabeça de cima para manter a cabeça de baixo bem presa em suas calças...

— Alastor! – A professora McGonagall reprendeu o ex-auror, muito corada. Harry não se lembrava da última vez que tinha visto a professora tão ofendida, mas Olho-Tonto simplesmente a ignorou.

Dumbledore e Moody achavam que seria melhor não contar seus planos para toda a Ordem, e Harry concordava veementemente com essa decisão. Primeiramente, ele passaria para os dois homens tudo o que ele e Lottie conseguiram reunir e organizar, e a partir daí, traçariam um plano de fato. Entretanto, não havia muito realmente o que se descobrir sobre o pequeno vilarejo onde os Gaunt residiram, e Harry suspeitava que Dumbledore já tinha ciência de tudo que ele Lottie conseguiram levantar nesses últimos dois dias, que não diferia muito do que aconteceu em seu universo de origem, exceto um detalhe, hoje Little Hangleton é uma cidade fantasma.

— Ninguém sabe realmente o que aconteceu. – Harry explicou – Os jornais de cidades próximas simplesmente pararam de escrever da pequena cidade, não há conhecimento do atual paradeiro dos antigos moradores. Foi como se, em um dado momento, todos os seus moradores tivessem desaparecidos.

— O que facilita ainda mais nosso trabalho – disse a professora McGonagall – se bem me lembro, Harry, você nos informou que o anel estava simplesmente jogado no meio dos escombros... Sem uma cidade trouxa para testemunhar, não há necessidade de tanta cautela.

— Vigilância constante, Minerva! – Olho-Tonto gritou em direção à professora, que girou os olhos em sinal de impaciência – Melhor preparar um bom grupo da Ordem, nunca sabemos o que podemos esperar.

— Mas também não podemos dispor de todos os membros, Alastor – Dumbledore interviu – O castelo ainda precisa de proteção, e precisamos de força caso haja algum ataque onde possamos ajudar.

— Não acho que haverá a necessidade de levar muitas pessoas – disse Harry – Até porque, em um grupo pequeno chamaremos menos atenção.

— Qual o número você tem em mente? – Moody perguntou, o olho castanho fixo nele, enquanto o olho mágico continuava a vasculhar a sala, rodopiando em sua órbita.

— Não mais que cinco – Harry disse, confiante – Contando comigo.

***

Pela primeira vez, Lottie não insistiu para fazer parte do grupo escolhido para uma missão da Ordem. James e Lily acharam essa nova atitude muito suspeita, mas preferiram não comentar nada diretamente com a filha, com medo de incentivá-la a voltar a querer fazer parte nas missões. Harry, entretanto, sabia que aquilo se devia à recém-encontrada insegurança da garota, mas também não comentou sobre seu silêncio quando os nomes dos voluntários foram escolhidos.

Fred Weasley tinham se voluntariado e sido escolhido como o quinto nome, mas no momento em que Dumbledore falou em voz alta sua vontade de acompanhar a caravana, Harry concordou que seis pessoas não seriam tão menos discretas que cinco.

Eles partiram no sábado, dia 9 de fevereiro ao primeiro sinal do raiar do sol. Foi preciso que todos se deslocassem até a extremidade do escudo protetor do castelo, para ultrapassá-lo e poderem aparatar.

Assim que a terrível sensação de estar sendo esmagado por um apertadíssimo e desconfortável cano de borracha passou, Harry abriu os olhos. Harry se lembrava nitidamente das memórias que os levaram até aquela pequena casa, em seu universo, portanto reconhece-la não foi difícil. Nas margens de uma pequena estrada rural, ladeadas por cercas vivas há muito não tratadas, quase escondido entre o mato alto, estava um casebre, semioculto entre os troncos das árvores em sua volta.

As paredes eram meio tortas e quase completamente cobertas de musgo, e quase não existiam mais telhas no telhado, portanto os galhos mais baixos das árvores circundantes entravam livremente pelos ambientes da casa.

— Varinhas em punho? – Fred perguntou, já com a própria varinha em mãos, os olhos percorrendo o local com cautela.

— É uma boa ideia – Harry respondeu – Embora estejamos sozinhos aqui. Não sinto a presença de nenhum outro bruxo.

— Mas há magia no ar – Dumbledore falou calmamente, embora não houvesse nenhum sinal de diversão em seu semblante enrugado – Magia negra. Certamente você a reconhece, não, Harry?

— Perfeitamente – Harry respondeu, sombrio – Vamos nos mover.

Com cautela, Harry empurrou com o pé os restos apodrecidos do que um dia foi a porta da casa dos Gaunt. Dentro do casebre, os parcos móveis estavam podres e muitos serviam de moradia para musgos e pequenos insetos. O que restava do teto estava coalhado de teias de aranha e já não se via mais o chão. Mas a pior parte, sem dúvida, era a certeza que o anel dos Gaunt não se encontrava no casebre abandonado.

— Como você pode ter certeza disso, Harry? – Lily perguntou, claramente nervosa – Nem chegamos a procurar direito, e do jeito que esse casebre está abandonado...

— Pode muito bem-estar escondido debaixo de toda essa sujeira – sugeriu Fred.

— Objetos enfeitiçados mantêm uma aura em si – Harry explicou, procurando pensar onde mais o anel poderia estar – Ainda mais quando são enfeitiçados com magia negra. E eu não estou sentindo nenhuma magia negra nesse nível nesse casebre.

— Mas... – disse James, as sobrancelhas franzidas por detrás dos óculos – Você veio de outro universo. Talvez não esteja reconhecendo pela aura do Voldemort aqui ser diferente.

— Fui capaz de reconhecer cada pessoa com quem já tive contato em minha realidade de origem – Harry tentou explicar do modo mais claro possível, aquele poderia ser um conceito difícil de ser entendido – Então acho impossível que seja esse o caso.

— Talvez Voldemort apenas o tenha colocado em um local mais protegido – a voz de Dumbledore estava baixa, e ouvi-la foi um pouco difícil, pois ele estava falando do lado de fora da cabana – Esse casebre não tem nada que possa nos ajudar agora. No entanto, a cidade...

— Do que vocês estão falando? – Lily perguntou, observando a cidade, procurando algum sinal do que Dumbledore estava se referindo.

— A cidade praticamente exala magia negra. – Harry concordou – Deveríamos procurar lá.

— Procurar pela cidade inteira? Claro, não é como se estivéssemos com pressa para achar logo esse anel demoníaco – Fred perguntou, a voz dois tons acima do normal.

— Não precisaremos procurar a cidade inteira, Fred – respondeu Harry com um sorriso no rosto, embora seus olhos estivessem duros, observando de longe uma imensa construção de uma casa senhorial – Apenas uma casa será o suficiente.

— E agora você vai dar as boas notícias que não é a mansão do lado do cemitério – Fred resmungou, mas apenas o olhar complacente de Harry confirmou seus medos – É claro que seria a mansão mal-assombrada. Nunca é a casinha simpática habitada por fadas...

Harry riu gostosamente com os outros, mais por concordar com a reclamação de Fred que por outro motivo.  Ainda rindo, eles saíram da propriedade dos Gaunt, se encontrando em uma estrada de terra mal demarcada e flanqueada pela vegetação crescente. O sol já estava no céu matutino muito azul, mas seu calor não foi o suficiente para descongelar o solo, que estava muito escorregadio. Com cuidado para não caírem, eles seguiram a pequena estrada em direção ao horizonte da cidade, visível apesar do mato alto.

Little Hangleton ficava a poucos minutos de caminhada do casebre dos Ogden, e costumava ser uma pequena vila pacata. Antes de se tornar uma cidade fantasma, possuía pouco mais dois mil habitantes, que viviam suas vidas muito calmamente até desaparecerem sem deixarem vestígios. A cidade em si não era muito desenvolvida, já que as escolas e o hospital da região ficavam em sua cidade vizinha, Great Hangleton. Mas, apesar de calma e subdesenvolvida, era uma bela cidadezinha, aninhada entre dois morros escarpados, com suas casinhas de jardins bem cuidados e a Matriz, imponente quase no centro da aldeia.

A casa dos Riddle, no entanto, era um pouco afastada. Engastada no pé de um dos morros e ao lado do cemitério da cidade, ela chamava atenção pelas suas janelas enormes e seu jardim gigantesco que um dia certamente fora muito bem cuidado. Quase na entrada da pequena cidade, a estrada de terra se dividia em duas, um caminho que os levaria até Little Hangleton, e outro que os guiaria até os enormes portões da casa dos Riddle.

Eles tiveram que percorrer todo o caminho a pé, já que aparatar não era possível naquela área devido a um feitiço anti aparatação, o que significava que eles tiveram que andar por todo o cemitério para chegar ao seu destino final. Harry estava fazendo o possível para esconder seu desconforto, e suspeitava que os outros também estivessem muito incomodados com o amplo cemitério ao lado da casa senhorial.

— A magia está mais densa aqui – Harry disse, e viu Dumbledore concordar com um aceno leve de cabeça.

— Apostaria um palmo de minhas barbas que o que procuramos está na casa – Dumbledore disse, se adiantando. – E que pegá-lo não será uma missão fácil.

Era visível no semblante de todos o desejo que Dumbledore estivesse enganado, mas Harry se sentiu obrigado a concordar com o professor. Não só por tudo o que ele conhecia sobre Voldemort, e toda sua vaidade, mas também porque estava tudo muito calmo.

Harry, foi a frente, acompanhado de Dumbledore ao seu lado, e um simples feitiço destrancou as enormes portas de madeira maciça. Atrás delas, um cheiro de podridão assolou suas narinas. As cortinas das janelas estavam todas corroídas por traças, e as que não haviam caído no chão deixavam a luz da manhã entrar no aposento, iluminando-o um pouco, mas tirando a poeira e as traças, o salão principal da mansão estava como deveria estar quando seus donos desapareceram.

Teias de aranha se acumulavam nos sofás e poltronas comidos por traças, e a enorme quantidade de poeira em volta da suntuosa lareira de mármore indicava que ela não era acesa há muitos anos. A mesa de jantar estava posta, e em seu centro havia um grande vaso de cristal, com flores há muito podres, caindo pelos pratos e copos mais próximos.

Andando com cautela, Harry percorreu a sala, muito ciente do barulho que seus sapatos faziam nos assoalhos de madeira.

— Talvez devêssemos nos separar – sugeriu James, ainda do lado da porta – A casa é imensa, procurar um objeto tão pequeno pode levar muito tempo.

— É uma boa ideia – respondeu Dumbledore, com a calma de alguém que estava concordando com o local de se fazer um piquenique.

— Então seria melhor que ficássemos em grupos separados, senhor, afinal apenas nós dois conhecemos a magia de Voldemort o suficiente para reconhece-la. – Disse Harry – Podemos dividir a casa em primeiro e segundo andar.

— Parece justo – Dumbledore sorriu e se afastou de Harry, em direção às escadas – James, se não se importar em acompanhar um velho? Obrigado. Lily seguiria com Harry. E Fred, precisamos de alguém que fique de olho na cidade, você poderia vigiar o terreno e nos avisar quando acontecer alguma coisa?

— Claro, professor – Fred tirou a varinha do bolso da calça – Mas o senhor não quis dizer “se” acontecer alguma coisa?

— Não acho que estamos trabalhando com hipóteses, Fred – Dumbledore falou sombriamente.

Fred engoliu em seco antes de virar noventa graus e ficar de sentinela. James e o professor subiram as escadas em direção aos quartos, enquanto Harry e Lily seguiram em direção ao que eles descobriram ser um corredor mal iluminado. Eles seguiram em silêncio lado a lado, abrindo as portas existentes por onde passavam, um escritório, uma sala de fumar, um lavabo, tudo impregnado com a magia de Voldemort, mas sem sinal do anel.

— Lottie contou sobre a princesa dos sereianos, e da profecia – Lily falou baixinho, como se estivesse com medo que as paredes ouvissem.

— Pois é... – Harry levou a mão aos cabelos, bagunçando-os inconscientemente – Eu sempre disse à Gina que é sempre os problemas que me procuram, e não o contrário. Agora eu tenho uma profecia que prova isso.

— Acha que ela vai ficar brava com você? – Lily perguntou, empurrando uma porta que dava ao que parecia ser um armário de vassouras.

— Espero que não – Harry riu por debaixo da própria respiração – Pelo menos não comigo.

— Você pensa sobre o que deve estar acontecendo desde que você foi trazido para cá?

— Todos os dias – Harry sorriu, sentindo a saudade apertar a garganta.

Ainda com os pensamentos em seus amigos e em Gina, Harry estendeu a mão para abrir a última porta. Atrás dela, os parcos raios de sol iluminavam o que um dia foi uma sala de música, onde Harry reconheceu uma harpa, violinos, violoncelos, diversos instrumentos de sopro e, no meio exato do ambiente, sobre um tapete feito de pele de urso, havia um piano de calda, empeirado e com cupins.

A onda de magia proveniente do piano chegou delicada aos sentidos de Harry. Curioso que tal instrumento tivesse sido enfeitiçado, Harry pisou com cautela dentro da sala. Assim que ele colocou o outro pé na madeira rangente, ele sentiu os fios de sua nuca se arrepiarem, pois uma melodia começou a ser ouvida, bela, melancólica e triste.

Com a varinha em punho, Harry se esgueirou pela empeirada sala de música, muito curioso que as teclas de marfim do piano estivessem se mexendo, apesar de não haverem sinais de algum músico a tocando.

— Talvez devêssemos chamar os outros – Lily sussurrou por cima da música.

Ainda olhando para o piano alguns metros a sua frente, Harry concordou com um aceno de cabeça, e sem nem pensar no que estava fazendo, levantou a varinha e ordenou:

— Expecto Patronum – Um grande cervo prateado saiu da ponta da sua varinha, graciosa e silenciosamente trotando até desaparecer pelas paredes, indo buscar James e Dumbledore no segundo andar da mansão.

Harry venceu a distância entre ele o piano encantado com três passos largos. Agora, apesar da poeira, ele conseguia ver as teclas de marfim amarelado subirem e descerem, como um convite. Indo contra todos os seus instintos, Harry tocou em uma tecla do piano, para logo tirar sua mão rapidamente, deixando no marfim apenas um rastro vermelho, do sangue que escorreu de seu dedo.

— Harry! – Lily gritou da porta, a voz amedrontada.

— Está tudo bem – Ele respondeu, sentindo o cérebro trabalhar ao interpretar as ondas de magia que circundavam a sala – Veja só.

— O que? – Lily perguntou temerosa, depois de ter ido vagorosamente até onde Harry estava.

— A gaveta, embaixo do piano – Harry chamou a atenção de Lily para uma pequena gaveta de vidro logo embaixo das teclas – O anel.

— Está trancada?

— Sim.

— E como abrimos? – Ela perguntou, em um sussurro.

— Dançando a música que Voldemort tocar. – Harry respondeu simplesmente, antes de se sentar no banquinho empoeirado em frente ao piano.

— Você sabe tocar? – Perguntou Lily, surpresa.

— Não é preciso saber – Harry respondeu, com certeza que havia interpretado corretamente os sinais da magia – Ele quer apenas o sacrifício.

— Sacrifício? – A voz de Lily se dividia entre a preocupação e o repúdio.

— Sangue. – Harry respondeu, as mãos erguidas, mas ainda sem encostar nas teclas que tocavam a melodia – Voldemort nunca deixaria que ninguém tentasse por a mão em um pedaço de sua preciosa alma sem pagar um preço antes...

— Harry, se for assim é melhor que eu...

— Não – Harry foi incisivo em sua resposta – Tecnicamente, eu não existo nesse universo, é melhor assim. Só esteja preparada.

Antes de ouvir a resposta de Lily, Harry tocou nas teclas estranhamente afiadas, sentindo o sangue escorrer de seus dedos pelo marfim até a madeira e o piano guiando suas mãos onde ele deveria ir.

A música era doce e pesarosa, mas Harry não a reconheceu. Depois de alguns segundos, ele percebeu que seus dedos, agora muito machucados, estavam ficando dormentes, e ele se perguntou o quanto mais demoraria. Entretanto, foi só quando todas as teclas estavam banhadas de vermelho que Harry ouviu alguma coisa clicar, e a pequena gaveta de vidro se abriu.

Satisfeito, mas um pouco tonto, Harry se levantou do banquinho e retirou toda a gavetinha do piano, levando-a até uma mesa encostada em uma das paredes. A luz do sol poente iluminou a gaveta transparente e seu conteúdo. Depositado em uma desgastada e desbotada almofada roxa de veludo, estava o anel dos Gaunt. Ele era exatamente como Harry se recordava, rústico e feio, encrustado com uma única pedra negra e desforme, com o símbolo dos Peverell, o símbolo das relíquias da morte.

Ainda com os dedos em carne viva, Harry tirou um lenço de seu bolso e enrolou o anel o melhor que pôde, devido a dor que sentia. Não foi um bom trabalho, mas era o suficiente para manter a horcrux isolada de si e protegida até que pudessem destruí-la.

— Harry seus dedos... – Lily pegou as mãos ensanguentadas de Harry em suas próprias e as apertou um pouco, tirando um protesto baixo de dor da garganta do garoto. Anormalmente séria, Lily tirou um pequeno frasco do bolso do casaco e derramou o líquido escarlate nos ferimentos, fechando-os quase instantaneamente.

— Obrigado – ele agradeceu – Nada melhor que uma medibruxa como parceira.

Lily sorriu e entregou mais um pequeno frasco para Harry, que o reconheceu na hora como poção analgésica. Ele tomou todo o conteúdo do frasquinho em um gole só, mas assim que se virou para sair da sala de música, ele viu uma silhueta de um homem na porta da sala, muito magro, vestido em trapos e, sem um traço de dúvidas, morto.

— Lily! Harry! – A voz de Fred vinha de longe – Onde vocês estão?

— Alerte Ascendare! – Harry gritou, apontando a varinha para o peito do cadáver que antes estava vindo em sua direção.

O corpo do cadáver foi lançado com força contra a parede oposta, dando espaço suficiente apenas para Harry arrastar Lily para fora da sala de músicas em direção ao salão principal da casa dos Riddle, onde o caos reinava.

A parte visível do gramado pelas janelas e pelas portas escancaradas, mostrava a propriedade toda tomada por corpos vacilantes e apodrecidos, andando initerruptamente em direção à mansão. A varanda da casa estava completamente tomada pelos mortos-vivos, que entravam desordenadamente pela porta escancarada.

— Fred?! – Lily gritou, a voz mais fina que o normal.

— Ali! – Harry disse, depois de passar os olhos pelo local. Fred estava tentando manter os cadáveres reanimados o mais longe possível das escadas, mas nenhum feitiço que ele lançava contra os cadáveres parecia fazer algum efeito, que não fosse retardá-los.

— Harry, Lily! – Fred gritou, recuando cada vez mais para perto das escadas – Onde vocês estavam?! Eu estive gritando por reforço por pelo menos cinco minutos, os inferis começaram a vir do nada, eu não consegui pará-los sozinhos! E onde estão os outros?

Com um feitiço, Harry abriu caminho para chegar até as escadas, com Lily atrás de si gritando por James, que ainda não tinha aparecido com Dumbledore.

— Subam as escadas! – Harry gritou – Rápido, para o segundo andar!

Fred jogou um pesado jogo de sofás em cima dos mortos-vivos mais perto de si antes de se virar e correr com Lily escada acima, sendo seguidos por Harry.

— Bombarda! – Harry apontou a varinha para as escadas, demolindo-as instantaneamente e prendendo a si mesmo e os outros no segundo andar da mansão – Estamos a salvo temporariamente. Precisamos nos apressar, logo eles darão um jeito de nos encurralarem de novo.

— E agora, para onde? – Perguntou Fred, mas assim que as palavras saíram da sua boca, um barulho alto de explosão veio do lado esquerdo do corredor.

— James! – Gritou Lily, correndo rapidamente em direção ao som.

O barulho guiou Harry e os outros até um par de portas francesas escancaradas, que davam em uma varanda no nível do chão já que o terreno era desnivelado, pelo fato da casa ter sido construída em uma montanha. Assim como no andar inferior, o gramado estava assolado por mortos-vivos imparáveis, indo em direção à casa sob o céu vermelho e laranja iluminado pelo sol poente.

James e Dumbledore estavam lado a lado tentando impedir ao máximo que eles se aproximassem, mas nada parecia parar os cadáveres. Harry correu o mais rápido que pode, colocando-se ao lado dos dois homens suados tentando a todo custo parar o avanço do exército de defuntos, mas a cada morto-vivo atingido, mais três tomavam seu lugar. O gramado, antes verde, agora estava quase todo tomado por cadáveres muito brancos, homens, mulheres, velhos e crianças, arrastando-se assustadoramente em direção à mansão.

— Defodio! – Falou Dumbledore apontando a varinha para baixo, criando uma trincheira a alguns metros de onde estavam, funda o suficiente para prender os mortos-vivos que caíssem nela. – Recebemos seu Patrono, Harry. Está com ela?

— Sim – Harry respondeu, o suor escorrendo da testa.

A noite caindo trazia o frio consigo, mas o arrepio que Harry sentiu no calcanhar definitivamente não era devido à baixa temperatura. Uma mão branca conectada a apenas um antebraço estava fixa em seu tornozelo, expondo unhas negras e apodrecidas. Com repúdio, Harry usou um Feitiço Detonador para explodir a mão que o agarrava, e no movimento para se livrar dela, seus olhos captaram uma imagem que fez seu coração parar. Centenas de mortos-vivos indo em direção à onde estava, cercando-os.

Eles avançavam sem perceber quando batiam em algum obstáculo, e quando caiam eram rapidamente pisoteados pelos que vinham atrás de si. Harry demoliu parte de uma parede, prendendo uma parte dos defuntos nos escombros temporariamente, com uma sensação terrível de que estava deixando alguma coisa passar. Os corpos estavam se movimentando de um modo estranho, não era como os inferis que ele já enfrentou na vida... E foi aí que a resposta veio em sua direção quando ele viu Fred explodir a cabeça de um cadáver que tentou mordê-lo.

— Precisamos de fogo! – Harry ouviu James gritar.

— Vamos morrer queimados junto com os inferis se usarmos fogo enquanto ainda estivermos na casa! – Lily respondeu, ao lado de Harry.

— Vamos morrer se não pararmos esses inferis agora! – James gritou, ao mesmo tempo que Harry.

— Não! – Harry gritou, o mais alto que seus pulmões conseguiram, mas já era tarde.

Fogo escarlate e dourado saiu da varinha de James, circundando-o e aos outros em um anel carmim, clareando a noite recém caída com o brilho de um sol, lambendo as peles e carnes dos cadáveres mais próximos, que entraram em um estado de total frenesi.

— Expulso! – O feitiço extremamente poderoso de Dumbledore mandou os cadáveres mais próximos vários metros acima, aumentando o raio de proteção de onde estavam, mas o delírio que acometia o exército os tornava ainda mais assustadores.

— Não usem fogo! – Harry falou, elevando a voz por cima dos barulhos agudos que saiam das gargantas mortas – Não são inferis, o fogo apenas vai atiça-los!

— Se não são inferis – perguntou Fred – Que diabos são?!

— Zumbis – Harry havia aberto a boca para responder, mas Dumbledore fora mais rápido – Mirem nas cabeças.

Assim como foram ordenados, James, Lily e Fred lançavam feitiços alucinadamente, procurando diminuir o número de defuntos o mais que podiam, mas seu número parecia subir ao invés de decrescer. Dumbledore também fazia o mesmo, mas com a velocidade dos três somada em suas investidas precisas.

Harry também estava derrubando o máximo de cadáveres que conseguia, mas sua mente estava dividida. Parte dela estava trabalhando em mirar e atacar, mas o resto de sua consciência estava desesperadamente tentando se lembrar do treinamento com Charlotte.

Ele se lembrava muito vagamente, mas eles estudaram Zumbis. Frequentemente confundidos com Inferis, o que dava ao bruxo que os usassem uma vitória quase certeira, já que a maioria esmagadora dos bruxos europeus, americanos e asiáticos desconhecia o primeiro tipo, e tentaria pará-los com fogo, quando na verdade deveria tentar feitiços que tirassem seu calor.

— Abaixem-se! – Harry ordenou, e assim que todos haviam se agachado, gritou – Glacius Maxima!

Uma forte rajada congelante saiu de sua varinha, criando uma grossa camada de gelo onde encontrava, paralisando e congelando cada obstáculo em sua frente, principalmente os cadáveres, que se transformaram em brilhantes estátuas horripilantes.

— O... o que aconteceu? – James perguntou, ainda em seus joelhos.

— Zumbis entram em um furor incontrolável quando aquecidos – Harry respondeu, sentindo os próprios joelhos tremerem como geleia pelo alívio – O único jeito de mata-los e atingi-los no cérebro, de um jeito que seja impossível recuperar, mas isso não é muito eficaz em grandes números. Congelá-los os deixa em um estado de torpor temporário... Não é muito, mas será o suficiente para sairmos da cidade para aparatar.

— Incrivelmente engenhoso, Harry – Dumbledore tinha a ponta dos cabelos e da longa barba ligeiramente chamuscadas, mas isso não o impediu de chegar mais perto do exército congelado, estudando-o.

Harry sorriu com o elogio, mas quando tentou responder o diretor, apenas um grunhido saiu de sua boca, e seus joelhos cederam de vez. Alguma parte de sua consciência ouviu os outros chamarem seu nome, mas o cansaço somado à perda de sangue para obter a horcrux falaram mais alto, e ele sentiu seus olhos se embaçando até sua mente cair no escuro.


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Notas finais do capítulo

(*) 02/02/2002

Hmmmmmmmm acho que não tenho nada pra falar hoje :) Mas que cliffhanger, não? Acho que me inspirei no fim de TWD! hahahhaha não me odeiem! :D

Ou odeiem, mas comentem o que gostaram, o que não gostaram, onde eu mandei bem e onde viajei... Ou deem só um "oi", vocês quem sabem :*



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