Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 60
LIII - O Retorno


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de avisá-los que alterei os seguintes capítulos:
— XXXVI - Sal & Sangue
— XLIV - Northern Lights
— Interlúdio - O Deserto, de novo



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LIII

Retorno


Mais uma vez, Adam teria de ser forçado a fazer uma jornada da qual não sabia se sairia vivo.

Havia conseguido a Música do Deserto. Carregava-a transcrita num papel guardado dentro de suas vestes, mas caso ele se avariasse durante a jornada, também a carregava dentro de sua mente.

O velho da Escola tinha sido severo em dizer a Adam para não tocar aquela música em hipótese alguma, fosse em seu violão ou até mesmo assobiando. Segundo ele, aquela música “acordava o Deserto”. Adam não sabia o que aquilo queria dizer, mas imaginava que a Rainha sim, então não se importou muito. Bom, contanto que ela não tocasse a música, assim como o velho tinha dito, não havia por que se importar. Iria entregar a música, e a Rainha iria fazê-lo se reencontrar com Annik. Aquele era o trato, e Adam esperava que ela o cumprisse, apesar de não estar esperançoso. Havia motivo para estar, mas Adam não estava. Não mais confiava naquela mulher e nas suas palavras. Não confiava em mais nada e ninguém daquele lugar. Talvez fosse aquilo que dormir tinha lhe causado: a perda da confiança e da esperança.

Fora da Escola, o Deserto estava bravio. Era como um mar revolto, mas com areia no lugar da água. Parecia estar havendo uma tempestade de areia; era impossível enxergar a um metro à sua frente com tantos grãos de areia sendo carregadas pelo vento. Todos aqueles grãos entravam nas roupas de Adam ou iam de encontro com as partes de seu corpo descobertas, fazendo-o se coçar. Era difícil até ver o céu com todo aquele caos. Era possível perceber que estava escuro — a noite havia caído rápido —, mas não era possível enxergar com clareza o céu, se havia estrelas ou não.

Aquele era um Deserto desconhecido e inóspito, dominado pelo caos e pela selvageria, e Adam não mais suportava aquele ambiente. Tinha nele a mesma sensação que tivera no dia em que Annik tentara matá-lo: um silêncio pouco natural ao seu redor, uma sensação de abafamento e o sentimento de heterogeneidade, como se não se misturasse àquele lugar, como se estivesse deslocado naquele Deserto.

Felizmente ou não, já era hora de voltar; daquela vez, sozinho. Não sabia se aquilo era algo positivo porque sempre havia o medo de algo acontecer durante a jornada de volta, tal como foi com a primeira, e o medo de ver o que se passava no Deserto, o velho Deserto que conhecia. Quando partira, ele ainda estava calmo, porém, havia certas indicações de que ele não permaneceria assim por tanto tempo. Começando pelo fato de Annik subitamente acordar, depois pelo fato de a Rainha o enviar em uma jornada em busca da Música do Deserto, esta que, segundo o velho, não poderia ser tocada de nenhuma forma em hipótese alguma. Aquilo tornava tudo ainda mais estranho. Algo deveria estar acontecendo ou deveria acontecer muito em breve para que a Rainha o mandasse naquela busca. Não tinha suspeitado de suas intenções a princípio, mas agora elas lhe pareciam ainda mais preocupantes. Talvez fosse a percepção daqueles planos obscuros daquela mulher que tivessem minado a confiança de Adam nela. De qualquer forma, ele teria que entregar o que tinha ido buscar a ela. Imaginava que, caso não o fizesse, ele sofreria, ou ainda pior: Annik sofreria.

Lembrando-se dela, passou a mão em sua dog tag, já em seu pescoço novamente. Ela ainda continuava quente. Deslizou o polegar pelos sulcos escritos, sentindo o relevo roçar sobre suas digitais. Aquilo era a única coisa que o movia: sua vontade de reencontrá-la. Sentia falta dela. Era como se ela fosse uma velha amiga, e a ideia de vê-la novamente lhe causava uma euforia e uma ansiedade acima do normal.


Inspirou e expirou, largando a dog tag.


Como que se enfrentasse uma multidão pronta para atacá-lo, Adam deu seu primeiro passo em direção à tempestade de areia, confrontando-a. O maior ataque contra aquele vendaval, naquele caso, seria expor-se aos próprios ataques daquele Deserto revoltoso. Era como se ele mesmo estivesse desafiando o Deserto.

Entretanto, ao pensar naquilo, estremeceu, e toda sua coragem para enfrentar a tempestade foi embora. O Deserto parecia observar a figura de Adam como se estivesse prestes a castigá-lo caso ele ousasse confrontá-Lo de novo. Adam não deveria se esquecer de que o Deserto, mesmo em suas regiões mais ásperas, ainda o vigiava.

Pegou seu violão e começou a tocar algumas notas aleatórias para que elas o acalmassem e fizessem-no ter coragem de novo. Logo prosseguiu, sem medo daquelas sensações estranhas que tinha quando chegara àquele lugar pela primeira vez, ao som das notas e dos acordes de seu violão meio desafinado, mas que ainda o confortava no meio do caos.


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