Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 54
XLVIII - A Víbora




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/653186/chapter/54

XLVIII

A Víbora


A Rainha da Fortaleza de Areia era uma víbora, e Kurt agora percebia isso.


Ela tinha aparentado ser uma pessoa segura, como se suas relações não fossem tão problemáticas como eram as relações com o Faraó. E de fato ela o era, mas por causa de sua praticidade e de seu pensamento maquiavélico, mas não pela sensação de segurança. Pelo menos, não mais.

O Hasir nunca tinha avisado-o dela. Apenas soube de sua existência quando foi convocado por ela própria através do que seria um informante de um informante de um informante, seja lá quantos informantes ela possuía. Certamente muitos, para ter uma presença tão distante, da Fortaleza até à Pirâmide, e para saber de tudo o que acontecia no Deserto e com ainda mais precisão que o Faraó, que se dizia o “líder do Mundo”. A única vez que o Faraó falou daquela mulher foi durante a reunião realizada para decidir o plano que iria destruir Annik. Naquela ocasião, disseram que ela era uma mulher dissimulada e manipuladora, mas Kurt, ambicioso, não lhes deu ouvidos e caiu em suas graças quando ela o chamou para trabalhar com ela.

Talvez ela não representasse uma ameaça à hegemonia do Faraó, mas nunca se sabe. As maiores ameaças vêm do desconhecido, exatamente o que a Rainha era para Kurt havia poucos tempos.

E agora, agora que havia percebido quem ela era realmente, ele não podia mais se desvencilhar dela. Estava preso em sua teia e não conseguiria se soltar dela sem sofrer sérias consequências. Pior que estar preso em sua teia, estava agarrado a ela como uma presa de uma cobra venenosa. Primeiro, ela lhe aplicava o veneno e depois o apertava e engolia-o. Ela havia aplicado o veneno em Kurt com sua retórica segura e impecável, porém falsa, e agora que ele havia percebido que seus sentidos estavam indo embora, já era tarde demais, pois ela já estava o sufocando e o engoliria logo em seguida.

Para Kurt, restava continuar a seguir o plano — o maldito plano. O que era aquele plano, aliás? Suspeitava de algo contra Os Corvos, afinal, por que outro motivo ela iria querer manter constante vigilância sobre Annik e Adam? Talvez fosse algo até mesmo contra o próprio Faraó. Tanto segredo só poderia significar algo grandioso, e era claro que a Rainha e seus comparsas colocaram muito tempo e esforço naquele plano para que saísse perfeito.

Não sabia o que fazer agora. Deveria avisar ao Faraó de suas suspeitas contra a Rainha ou deixá-la seguir com seu misterioso projeto? De alguma maneira, a Rainha lhe parecia mais consciente que o Hasir e se ela realmente cumprisse com sua promessa, pelo menos tudo valeria a pena no final. Preferiu, então, manter-se quieto e continuar jogando seu jogo.

A ordem dela tinha poder sobre o caos de Kurt, e ele viu-se subjugado por ela em pouco tempo. Sua postura dominadora foi estraçalhada pela dela. Ele via-se como um homem esperto, mas ela era uma raposa perto dele, ainda mais inteligente e manipuladora que ele próprio. Mas a verdade é que ele não era inteligente, apenas tinha o poder da retórica. Já a Rainha tinha a fala e o pensamento, e por isso ela era tão acima dele. Se ele fosse um pouquinho, mas um pouquinho mais esperto do que ele já era, ele teria percebido sua artimanha.

Naquele ponto, a Rainha também era esperta: jamais fazer negócios com pessoas mais ou tão inteligentes quanto ela. Kurt estava um pouco mais abaixo, então se tornou uma presa. O Hasir também poderia ser sua presa caso ele não tivesse conhecimento de sua personalidade ardilosa. Isso não queria dizer que ele não era inteligente; até era, mas os seus ataques de fúria o dominavam.

Soube que após a visita surpresa de Oneiros, o Faraó destruiu completamente seus aposentos durante um de seus ataques. Segundo alguns dos seus serviçais, ele deixou o lugar “um completo caos”. Não era uma atitude muito inteligente para um líder, ou pelo menos para quem se dizia um, porque o Mundo não tinha de fato um governante. O Mundo era seu próprio governante, e qualquer outra pessoa que ousasse se dizer seu líder ainda teria que ser subserviente a Ele.

Apesar de o Faraó ser um homem de personalidade raivosa, Kurt não temia isso nele. Não se importava com seus ataques de fúria, contanto que não fossem direcionados a ele. Na verdade, ele até gostava disso no Hasir. Isso mostrava que ele era um homem do caos, e o caos atraía Kurt. Já a Rainha era exatamente o oposto: era uma mulher calma, centrada, voltada para a ordem, e não havia nada que assustasse tanto Kurt quanto a ordem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entropia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.