Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 46
XL - O Príncipe


Notas iniciais do capítulo

Devo avisá-los de que o capítulo O Comensal foi postado na ordem errada por descuido meu. Peço desculpas pelo erro. Este capítulo, O Príncipe, é o correto na ordem. Logo após ele, vem O Comensal, que será postado ainda hoje. Porém, mesmo para aqueles que já leram o capítulo XLI, recomendo que leiam este primeiro e depois releiam o próximo para terem um melhor entendimento dos acontecimentos que acontecerão a seguir.

Também venho avisá-los de que adicionei uma linha a mais no capítulo Sal & Sangue. É a última linha do capítulo, portanto, caso queiram conferir, podem procurar lá que o capítulo já foi editado.



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XL

O Príncipe


— Senhora, ele já está aqui! — Aaron avisou na sua voz idosa e esganiçada.

— Mande-o entrar — e a Rainha respondeu na sua voz jovial, porém cansada.

O rapaz — Kurt era seu nome — adentrou a passos largos, como se exercesse seu domínio naquele lugar. Cada passo que dava no piso da Fortaleza se assemelhava com passos num carpete vermelho. Seu jeito de andar era superior, arrogante, e a Rainha não soube se gostava ou não daquilo. Até aquele momento, Kurt parecia mais ser uma futura ameaça do que aliado.

Entretanto, não podia demonstrar seu receio. A postura era um dos pontos principais para se ganhar um aliado ou para atemorizar um inimigo, e a Rainha tinha aquilo de sobra. E, apesar de Kurt ser uma ameaça, a Rainha também sabia como ser ameaçadora. Ele era apenas um filhote enquanto ela já era leoa crescida.

— Senhor Kurt. Fico surpresa que tenha aceitado meu pedido. Sente-se, por favor — ela disse sem demonstrar a mínima emoção. Ele, por sua vez, estendeu-lhe a mão para cumprimentá-la, mas ela apenas observou-a. Kurt, vendo que sua saudação fora ignorada, apenas recuou a mão e sentou-se em seguida. Depois da postura, vinha a falta de sentimentalismo. Nada de ser amigável. Sua postura racional deveria passar a impressão de quão ameaçadora poderia ser quando contrariada.

— Então, sobre o que viemos debater, minha bela senhora? — Ele deu um sorrisinho e fez uma mesura, mas nada daquilo fez com que a Rainha mudasse seu rosto ou expressasse algum sentimento.

— Tenho uma proposta para você, Kurt. — Ela esboçou pela primeira vez uma emoção: um sorriso, mas não de felicidade. Estava mais para um sorriso de ambição, de ver seus planos voltando aos trilhos corretos, de ver que aquela pecinha estava a um passo de ser capturada, uma carta a alguns blefes a mais de ser roubada.

— Diga, senhora, e estarei interessado em ouvir, claro, principalmente se vosmecê estiver pagando, hehehe...

— E estarei, senhor Kurt. — Seu sorriso se alargou. — Nomeie seu preço. Sei que o senhor é ótimo nisso, aliás.

O sorriso e a ironia de Kurt desapareceram.

— Como a senhora sabe disso?

— Uma boa Rainha deve se manter informada do que acontece ao seu redor, não acha? — O sorriso dela permaneceu fixo em seu rosto, fixo e com um toque de maldade proposital. Aquele rapaz a tomava como uma piada, porém, era hora de ensiná-lo que ela não era uma ignorante qualquer. — Bem, de qualquer forma, diga o que deseja, senhor Kurt, e eu, como cumpro as promessas que faço, irei recompensá-lo.

— Então primeiro fale o que quer de mim. — Ele era esperto. Uma pessoa qualquer teria logo dito o que desejava, mas não aquele rapaz. Mas seria ele tão esperto quanto ela?, a Rainha imaginava. E temia que não fosse.

— Certo, certo... — Ela se reclinou em sua cadeira antes de explicar. — Eu, como uma boa Rainha, devo manter-me informada do que ocorre ao meu redor. E por “meu redor”, quero dizer o que está acontecendo na Pirâmide. O que o Faraó está planejando, o que Os Corvos têm feito. E você, Kurt, será bem pago caso queira ser os meus olhos dentro da Pirâmide. Será ainda mais recompensado caso faça alguns... trabalhos extras para mim. Se aceitar, basta nomear seu preço e eu o recompensarei.

— É de fato uma proposta tentadora, senhora Rainha, mas e os riscos? Veja bem, eu fui promovido recentemente pelo Hasir em pessoa e não quero jogar tudo isso pelo ralo. Os riscos devem valer a pena, certo?

— Eles valem. Você pode pedir o que bem quiser, Kurt, e acredito que qualquer risco valha a pena, nesse caso.

— Esse é o ponto em que quero chegar! E a senhora poderia me pagar o que eu bem quisesse?

— Se me dado o tempo necessário, consigo o Mundo inteiro, se quiser. Confie em mim, senhor Kurt. Já realizei o irrealizável para muitos, e eu posso realizar até mesmo o impensável para você. Apenas trabalhe para mim e, em questão de tempo, posso lhe dar tudo ou até mais.

— Não estou convencido. Quero provas, minha senhora. Eu sou um homem que já trabalhou com memórias, com fatos. Você só tem me dado palavras até agora. — Ele realmente era esperto. Mas não tanto quanto ela. Agora tinha certeza. Poderia parecer esperteza da parte dele exigir provas, mas era aí que a sagacidade da Rainha entrava, e ela o superava naquela batalha verbal.

— As palavras têm poder, senhor Kurt. Nós estamos no Deserto. Aqui, uma palavra vale mais do que mil imagens. Eu estou lhe entregando os fatos através de palavras. É isso que uma Rainha faz. Pedir que eu lhe entregue provas visuais, mentais, é impossível. Observe pelo meu ponto de vista, senhor Kurt. Um líder não deve mostrar o que se passa em sua mente. O Faraó jamais iria autorizar algo do tipo, e imagino que o Imperador também não. Além disso, eu já estou prometendo lhe dar o que você quiser. Por que você iria querer mais? Eu espero que entenda, senhor Kurt. Seria uma pena ter de abandonar este trato porque o senhor se recusou a aceitar minha palavra. Seria ainda pior não ter você como aliado. Sei que é excelente no que faz e eu apenas escolho aqueles que são notáveis no que exercem para realizar negócios. — E é assim que se engana uma pessoa razoavelmente esperta. Não basta bons argumentos, deve haver bajulação também.

— Tudo bem, tudo bem. — Ele levantou as mãos, num ato de rendição ao argumento da Rainha. — Vejo que a senhora realmente é uma pessoa digna de se negociar. Por eu já ter sido um negociante, talvez eu não me renda a argumentos muito facilmente. Mas Vossa Majestade me convenceu. — Ele novamente fez uma mesura, sorrindo.

— Pois bem, direto aos negócios: o que o senhor deseja?

— Bom, isso é até difícil de pensar. — Ele pôs a mão no queixo, assumindo uma postura pensativa. — O que mais eu posso querer? Já estou relativamente bem, numa boa posição na corte do Faraó, tenho uma certa influência... Existem tantas coisas no Mundo, mas poucas coisas que eu realmente desejo.

— Estar relativamente bem não é estar ótimo, senhor Kurt. Vamos lá, com certeza há algo que você deseja mais do que ser um mero peão do Faraó e da Organização.

— Não há nada que me atraia mais que o poder. Mas ter poder deve ser imensamente chato. Imagine, poder resolver todos os problemas com uma só ordem?

— Senhor Kurt, não existe nenhum problema de verdade que seja resolvido com ordens. Dizer que todos os problemas podem ser resolvidos apenas com palavras infelizmente é uma ilusão. Se as coisas ocorressem desse jeito, o Faraó não precisaria ter se aliado aos Corvos para que eles resolvessem seus problemas... ou melhor, seu problema. Bastava dizer algumas palavras e ele de repente desapareceria. Ter poder pode parecer chato, senhor Kurt, mas garanto que não é tão fácil assim. E acredito que o Faraó poderia lhe garantir a mesma coisa.

— Bem, se a senhora assim o diz, fico mais interessado na ideia de ter poder, nesse caso, hehehe... Mas quanto poder a senhora poderia me dar?

— Com tempo, eu poderia lhe dar mais poder do que eu possuo, senhor Kurt. Mais poder do que o Faraó, eu, o Imperador. Mais poder que todos os líderes do Mundo têm reunidos.

Kurt sorriu, uma prova de que aquilo o satisfazia, e disse:

— Sendo assim, acho que podemos fechar negócio. — Estendeu a mão de novo, mas a Rainha não a recusou daquela vez. Fecharam o acordo num aperto de mão apertado e amigável, em meio a sorrisos. Sorrisos que pareciam ter o mesmo propósito, a ambição, mas que ao mesmo tempo se contradiziam.

A ambição daquele rapaz realmente era grande, tão grande quanto à dela, a Rainha pensava. Contudo, aquilo não a preocupava. Se tudo no seu plano desse certo, ele seria um pequeno empecilho a ser removido. Seria como um rei em xeque. E ela daria o xeque-mate. Afinal, no xadrez, mesmo a peça mais importante sendo o rei, a Rainha ainda era a mais poderosa.


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