Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 44
XXXVIII - Interrogatório


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi repostado. Ele era o XL, mas agora é o XLI. No entanto, não é necessário reler este capítulo caso você já o tenha lido. Apesar de eu ter mudado a ordem dos capítulos, não fará diferença caso você tenha lido este primeiro e o XL depois ou vice-versa.



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XXXVIII

Interrogatório


— Então... o que você viu naquele dia, senhora Administradora? — tinha perguntado o inquisidor, mas a resposta demorou a vir à tona.

A velha senhora de olhos puxados ainda carregava consigo tantos sentimentos que só conseguiu responder à pergunta alguns tempos depois. Toda a situação, o estado de choque em que ainda estava, as últimas notícias, nada daquilo tornava o ato de soltar as palavras que tanto segurava mais fácil.

— Eu a vi — respondeu com sua voz calma de sempre, a mesma voz calma que usara quando tinha visto sua ex-aluna naquele dia fatídico. Foi o máximo que conseguiu falar, inicialmente. Era como se fosse uma caixa d’água vazia. Ao abrir uma torneira, apenas poucas gotas caíam. O mesmo acontecia com sua voz: abria a boca para falar, mas apenas poucas palavras saíam dela. A resposta provocou um entorpecimento em sua língua, como ela tinha imaginado. Era estranho falar dela agora. A notícia tinha se espalhado com poucos tempos, mas parecia que tinha acontecido muitos tempos atrás, quando os Mestres ainda eram vivos ou tinham sua índole incorruptível.

— Isso nós sabemos, senhora. Queremos saber o que mais você viu naquele dia, na biblioteca.

— Eu a vi — repetiu, mas não se referia à sua ex-aluna agora. Referia-se a uma outra figura, aparentemente inocente, de quem cujo segredo fora descoberto. E a velha administradora ainda mastigava todas aquelas informações, desde aquele dia até o dia de seu interrogatório. Ainda achava difícil compreender aquilo. Era como a volta de um Profeta sagrado, era como se o Deserto tivesse se manifestado de modo objetivo, era como se uma ameaça pairasse sobre todos. Todas as sensações que esses eventos causavam agora eram sentidas por aquela senhora ao mesmo tempo. Espanto, medo, incerteza, impotência, apatia e mais uma gama de outros sentimentos que só podiam ser descritos no kra’vstan.

— S-sim, sabemos disso, senhora administradora. — O inquisidor já aparentava estar desconfortável tanto por receber respostas que já sabia, tanto por ter que forçar uma senhora naquele estado quase catatônico a falar. — Mas nós...

— Ela estava esquisita naquele dia — então um jorro de palavras irrompeu de sua boca de modo incessante, assim como vômito. — Procurava um livro. Um livro sobre o Kra’vstanlas. Apontou uma arma para mim para que eu lhe entregasse. Então... — Pensou no que iria dizer. — Então eu pensei... por que ela quer um livro sobre esse assunto? E eu percebi. Eu... eu percebi. Ela trazia consigo uma pessoa, uma garota. Não prestei atenção nela a princípio porque me pareceu inofensiva. Talvez estivesse sendo forçada a fazer aquilo ou coisa parecida. Enfim, essa parte é apenas suposição. Mas o que direi a seguir... o que direi a seguir não é. Eu tenho certeza. Eu a vi, vi nos olhos dela, eu a li. A menina que estava lá naquele dia não tinha nome. Ela não tinha nome. Não tinha kayrn. Não tinha — afirmou com tanto vigor que até sua cabeça balançava de um lado para o outro, rápida e repetidamente, em sinal de negação ao nome que a menina não possuía.

— Como a senhora pode ter tanta certeza disso? Digo, esse tipo de afirmação é algo que pode ter um impacto... — ele escolheu com cautela as palavras — mais que gigantesco, para ser honesto — era possível perceber a surpresa e o medo na voz jovial do inquisidor.

— Eu sei o que vi — tornou a falar com o mesmo vigor de antes. — Eu tenho certeza. Eu vi uma menina que não tinha nome.

O inquisidor e a senhora ficaram em silêncio. Pôde-se ouvir um lápis rabiscando papel. O inquisidor tomava suas anotações, e elas eram bastante longas. Talvez escrevesse sobre o quão louca a administradora havia ficado após presenciar aqueles momentos ou talvez estivesse apenas começando o processo de digerir aquela informação indigesta, assim como ela também estava.

Ao terminar de anotar o que tinha de ser anotado, o inquisidor finalmente a dispensou:

— Senhora administradora, é melhor pararmos por hoje. Acredito que a senhora não esteja se sentindo muito bem depois deste interrogatório e depois de receber as últimas notícias. Se bem que as últimas notícias foram boas notícias. Ótimas notícias! Mesmo assim, recomendo que descanse. E quanto ao seu testemunho, eu espero de verdade que o que você disse tenha sido apenas um... um lapso de memória. Do contrário... — Suspirou. — Do contrário, não faremos ideia do que vai acontecer.


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