Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 26
XXIII - O Livro


Notas iniciais do capítulo

Esta voltou. Vocês sabem que esta história não tem data certa para ser postada, mas mesmo assim, não é normal que esta demore mais de um mês para postar, então esta decidiu explicar-lhes por que demorou tanto tempo para postar: porque o notebook estragou. Não perdi absolutamente nada, porque guardo tudo no pendrive e na Cloud (inclusive alguns capítulos de Entropia estão lá, caso dê algum problema com os pendrives, também), mas eu não tinha onde escrever. Finalmente consegui escrever, apesar de que em uma posição tão desconfortável que meu ombro dói, mas estou de volta.



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XXIII

Kniga


Os livros não tinham som. Era por isso que Adam não era um leitor assíduo.

Poder-se-ia dizer que ele era um violonista assíduo, entretanto. Seus dedos moviam-se com a destreza de olhos acostumados às letras do alfabeto kra’vstan ou até mesmo das velhas runas kra’vstanva, caso ele estivesse acostumado a usar a antiquíssima, arcaica e intelectual forma de escrita da língua incomum.

Mas seus olhos eram seus dedos e suas páginas, as seis cordas do violão, e ele era o Leitor de Sons.


Entretanto, ver todos aqueles livros na estante de Isaac [descanse em paz — anvent en lan.] o fazia se sentir diante de um consultório, cheio de aparelhos desconhecidos que serviam sabe-se lá para quê. Os aparelhos de consultório, entretanto, serviam para abrir corpos; os de Isaac, para abrir mentes. Havia outra semelhança entre os livros e as pinças cirúrgicas: talvez o processo fosse doloroso. Também havia outra diferença: para os livros, não havia anestesia. E era por isso que Adam estava receoso.

Talvez o livro que abrisse lhe dissesse que a Música do Deserto estava soterrada numa caverna impossível de se entrar; talvez lhe dissesse que ela estava enterrada na mente de um Obaten morto há muitos tempos. Ou talvez lhe dissesse que a Música do Deserto estava em todo lugar: o sarlik. Seria uma ironia se ele obtivesse aquela resposta, afinal, o sarlik e a Música que procurava eram duas coisas diferentes, com nomes diferentes no kra’vstan, mas com a mesma tradução. Uma, o sarlik, era o vento que orquestrava o Deserto; a outra era uma composição, Sarvden, composta provavelmente por algum Obaten que já provavelmente apodrecia em alguma cripta soterrada por areia.

— Achou alguma coisa? — perguntou ele à Serpente.

— Eh. Nada ainda — ela disse, rastejando pela estante e derrubando os livros com a cauda. Depois ela descia da estante (na verdade, ela literalmente despencava dela, mas parecia não machucá-la) e, com a cauda, ou seja lá como se chama a extremidade do corpo de uma cobra, abria e folheava os livros em busca de algo útil. — Adam, você bem que podia dar uma mãozinha aqui.

— Claro. — Levantou-se, colocando a cerveja que achara na geladeira na mesa de centro da sala.

Seus olhos pareceram querer fechar quando ficou diante de letras e mais letras. Elas embolavam sua cabeça, cheias de diacríticos para fazer sua mente quase explodir. Ele definitivamente não era um cara para as palavras escritas. Gostaria de ter a paciência que Isaac e Annik tinham para essas coisas, escrever e coisas do tipo.

Passando os olhos pelos títulos, um lhe chamou a atenção. O que era raro de acontecer, mas não impossível.

— Acho que encontrei algo interessante.

— Ah, me mostre! — A Serpente saiu de cima do livro que lia e pulou para a estante, se arrastando até o livro que Adam vira. — Adam — oh não, era aquele jeito repreensivo dela. Ele fizera algo errado, com certeza. — Esse é um livro ensinando música. — Os olhos da Serpente estavam franzidos numa espécie de “Sério mesmo? Sério que você está me mostrando isso?”.

— Ah, desculpe. Você sabe… não levo jeito para essas coisas.

— Não leva jeito e não tem o mínimo de atenção, também. Procure por algo sobre os Obatenva, não um guia para iniciantes em música! — Ela voltou a se rastejar pela estante e Adam rastejava seus olhos pelas lombadas dos livros empoeirados. Um deles parecia realmente velho. Se Adam fosse o dono daquela casa, iria jogar aquele livro fora, com certeza. Não tinha nem mesmo o nome escrito na lombada; os escritos haviam se apagado com o uso excessivo. Pegou-o e o abriu.

— Olhe este aqui, Serpente. — O livro parecia se encaixar no que a cobra requerera.

— Espero que agora não seja um guia de matemática para iniciantes… — Ela se arrastou até Adam, caindo sobre seus ombros. — Hum, esse realmente parece se encaixar no que nós estamos procurando. Composições Musicais Clássicas. Dê uma folheada nele, talvez você ache algo que não seja tão inútil.

Adam quase espirrou quando passou as páginas velozmente. Aquilo, além de séculos de poeira, tinha milênios de mofo. Chegou à última página — que deveria ser branca, mas já estava amarelecida e com algumas manchas emboloradas — com uma decepção. Suspiro. Ah… Mais procura cansativa e maçante por aquela estante que parecia ter livros infinitos e com infinita sujeira — não que Adam fosse a pessoa mais limpa do Deserto, mas sujeira sinceramente o incomodava, quando em demasia.

Queria ter os olhos, não os ouvidos. Ou os dois. Mas a vida, principalmente no deserto, não dá tudo. Ela sempre pede algo em troca para os desafortunados. Adam e talvez cerca de noventa e nove por cento de todas as pessoas deveriam ser desafortunados. Mas não Annik. Ela tinha tudo que qualquer um gostaria de ter. Não era excelente em tudo, obviamente, mas conseguia se virar com qualquer coisa que caísse em suas mãos. Se virava com qualquer coisa e de qualquer jeito possível. Um violão podia se tornar uma arma e uma AK-47 podia se tornar um instrumento musical.

— Adam — disse a Serpente. — Achei algo.

— O que é? — Adam disse, removendo o livro que a Serpente indicara.

— Um livro sobre os Obatenva. Sobre todos eles.

Adam folheou. Havia descrições longuíssimas e enfadonhas sobre os Mestres. Todos eles, como a Serpente dissera. E, juntamente às descrições deles, havia suas obras notáveis.

— O que diz aí? — ela perguntou.

— Aqui diz que foi o Mestre da Música que criou a Música do Deserto, como é de se imaginar. Mas ele teve a ajuda da Mestra Viajante. Ele não poderia fazer uma música sobre o deserto sem saber como ele realmente era. Então Príncipe Alexei, o Príncipe da Música, pediu ajuda a Mestra Veronica, a Princesa Viajante, que sabia tudo sobre o deserto. Não fala mais nada sobre.

— Tem alguma nota de rodapé? Fique atento, Adam!

— Não. Mas tem uma bibliografia. — Adam passou várias páginas de uma só vez, indo para o apêndice do livro. — Aqui cita o livro As Grandes Obras dos Obatenva. Veja se o Isaac tem… tinha esse livro.

A Serpente serpenteou pela estante e derrubou com a cauda um livro.

— Aqui está — ela disse.

Adam o coletou do chão e abriu-o na parte do Obaten Alexei.

— Achei — sentia que sua voz acompanhava o coração, também acelerado e afoito. — Antes da guerra contra a Organização, Príncipe Alexei completou a Música. Ele foi dado como morto após a guerra contra a Organização, e dizem que a partitura da Música sumiu juntamente com ele.

— Não citam nenhuma localização?

— Não, o corpo dele simplesmente sumiu. E a Música também.

— Isso não vai nos ajudar em nada, Adam. Precisamos começar por algum lugar. E por favor, não me sugira a Instituição.

Precisamos. Não soube por que, mas aquilo lhe parecia tão errado. Bom, não queria desmerecer o que a Serpente e Dusq faziam por ele, mas aquela jornada fora dada a ele. Crepúsculo e a Serpente eram meros coadjuvantes naquela história e não ganhariam nada com aquilo, apenas Adam. Ou havia algo escondido por trás? Poderia haver. Dusq, do jeito que era ranzinza e meio arrogante não aceitaria fazer aquilo por nada. E a Serpente também não era estúpida. Por mais que ela gostasse de Adam, ela não iria deixar aquilo barato. Mas não iria comentar aquilo, não naquele momento. Ele sentia que estavam perto. Era quase como uma palavra que está na ponta da língua, mas você não consegue lembrar-se dela, e se mudasse o foco, iria perdê-la.

— Não tem nada lá para nós. O Colégio está tão vazio quanto o deserto. Se quisermos procurar em um lugar útil de verdade, precisamos encontrar alguém que saiba dessa música e que tenha procurado-a em algum lugar antes. Alguém que a estude. E eu não faço a menor ideia de quem pode nos ajudar.

— E eu muito menos. Dusq talvez tenha alguma ideia.

— Vamos perguntar a ele.

Saíram da casa, a Serpente já pulando no ombro de Adam, que saía a passos largos de ansiedade.

Dusq! — Adam gritou, chamando a atenção do cavalo.

— Descobriram algo? — disse ele.

— Para falar a verdade — a Serpente tomou o lugar do Bardo —, encontramos sim. Mas só conseguiremos dar o próximo passo nisso com sua ajuda.

¡Ahkrevaz! Isso é ótimo! Precisam de mim para quê?

— Precisamos encontrar alguém que saiba sobre essa música, que a tenha procurado ou pesquisado. Precisamos de qualquer pista que diga onde essa maldita Música está!

— Acho que sei de alguém. O seu nome é Kurt. Ele não é muito amigável, no entanto. É o que vocês chamam de hacker de memórias. Ele vai cobrar um preço, talvez alto, mas ele com certeza deve saber de algo. Ele é também um músico, como Adam, e vaga pelo deserto em busca de qualquer tralha que haja na mente de alguém.

— Ele parece perigoso — analisou Adam.

— Nem tanto. Apenas concordem com ele, entrem na dança dele. Caso contrário, ele pode se tornar uma ameaça. Ele não gosta de ser contrariado. — Estava explicado por que Crepúsculo se dava bem com gente daquele tipo: porque ele era exatamente a mesma coisa.

— Você pode nos levar até ele?

— É para isso que estou aqui, mason. K-serv. — Para servir.

Adam, então, montou em Dusq, que, sem precisar ser incentivado, pôs-se a trotar.


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