Entropia escrita por Reyna Voronova


Capítulo 17
XV - Isaac




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XV

Isaac


— É aqui — disse Annik, aproximando-se da porta da casa e olhando para a Menina, que a seguia, como sempre.

Annik deu três batidinhas na porta. Alice iria imaginar — a propósito, ela já estava se acostumando bastante bem com o novo nome! — que uma assassina como ela não iria bater; iria chegar derrubando a porta com um chute. Mas Annik era muito mais delicada do que parecia. A voz dela e até o jeito com que ela tratava a Menina eram delicados.

— Uh, quem é? — respondeu uma vozinha abafada do outro lado da porta.

— Um fantasma — Annik respondeu casualmente, como se ser um fantasma fosse a coisa mais banal do planeta.

— Ah, merda… merda merda merda, não pode ser. — Ele fechou a porta e pôde-se ouvir barulho de metal. Estava abrindo a tranca. Logo, a porta branca se abriu. — Cacete, não pode ser… Annik!!

Ela não respondeu nada, apenas o observou. Era um homenzinho baixo, meio gordinho, careca e usava óculos. Deveria ter uns trinta anos, mas ali anos não significavam nada.

— Eu não acredito! Você tá viva! Ah, merda… entra, entra, antes que aquelas desgraças da Organização apareçam. — Ele entrou e Annik e a Menina o seguiram.

— A Organização? — Annik perguntou e a Menina só quis perguntar o que raios era aquela Organização, mas se manteve calada. O taco de baseball… Annik não iria gostar nem um pouco se ela interrompesse-os. — Suspeitei deles. Encontramos um cadáver no meio da rodovia, com um tiro na têmpora. Só me surpreendo que eles estejam de volta à ativa apenas agora.

— Humpf. Sempre estiveram, mesmo que debaixo dos panos. Eu tô praticamente preso nessa merda de casa! Tenho medo de sair e algum dos atiradores de elite dele explodir minha cabeça! Eu ouvi no rádio que eles querem caçar o resto da Legião. Foi o primeiro, ou segundo, após esse cadáver que você viu, sinal de vida deles em muitos tempos! Eles disseram que viram você andando no deserto com outra pessoa… — ele olhou para Alice. — Suponho que é ela, certo?

— Ela mesma. E foi por isso que vim aqui, Isaac.

— Eh. Fala.

— Leia o nome dela.

O gordinho abaixou um pouco os óculos de aro redondo.

— Ah, cacete… cacete! Primeiro um fantasma aparece na minha porta, agora isso! Annik, onde diabos você tava?! Ah, caralho, você é uma desgraçada filha da puta! Fingiu de morta e agora me aparece com… essa guria. Eu te bateria se eu pudesse, mas eu não sou louco de…

— Leu ou não?

— Não, porra! Se eu tivesse lido, não estaria quase tendo um maldito ataque do coração! — O homem, Isaac, se sentou, com as mãos no rosto e um suspiro pesado. — Ah… Não pode ser… A Legião procurou durante anos, anos!, e ninguém achou. Finalmente achamos o trunfo do baralho, Annik. Ah… eu vou ter um infarto aqui. Primeiro você, agora ela.

— Então… é ela?

— Só pode ser.

— Espera — a Menina interrompeu os dois. — Por favor, me expliquem o que é isso tudo. Eu tô completamente perdida aqui.

— É uma explicação demorada — respondeu Isaac. — Vou precisar consultar uns livros que tenho aqui em casa. E também acalmar meu coração porque ele vai ter um ataque a qualquer momento, cacete. Enquanto isso, Annik, eu tô com algumas coisas suas aqui. Algumas coisas da época que a Legião… ainda era viva — Legião, outro nome estranho para a Menina, que, coitada, já estava como cego no tiroteio.

— Hm — ela simplesmente respondeu.

— Vai dar uma olhada nas suas coisas enquanto procuro esses livros. Leva sua… amiga junto.

— Venha — Annik chamou. Ela parecia uma completa estrangeira ali, falando tudo certinho, enquanto o homem Isaac e Alice nem mesmo se preocupavam em falar as palavras inteiras. Na verdade, a estrangeira mesmo era a Menina, que não entendia absolutamente nada da conversa bizarra e sem noção dos dois.

Annik subiu umas escadas no hall de entrada da casa. Era uma casa bastante bonita, com paredes brancas e piso de madeira. Bem confortável, se não estivesse no meio do deserto e com uma assassina perambulando pelos cômodos.

O andar de cima era igualmente bonito, mas bagunçado. Havia umas mesas, cadeiras e uns itens muito estranhos. Armas de fogo, espadas, casacos, relógios, todo tipo de quinquilharia que se acharia numa loja de penhores ou numa garagem de um acumulador.

— Veja só — Annik disse, com um leve traço de surpresa na voz. Ela se dirigiu na direção de um casaco muito empoeirado. — Isso era meu.

Era uma roupa muito estranha. Um sobretudo preto, com uma foice e um martelo vermelhos no peito e um bordado com as letras CCCP também em vermelho na manga. Havia também outros bordados num alfabeto que ela nem mesmo conseguia ler. Ao lado, havia um cachecol.

— Não parecem roupas apropriadas pra um deserto — comentou a Menina.

— E não são, por isso deixei de usá-las. Mas ficariam boas em você.

— Quê?

— Sim. Elas esquentam até de mais durante as manhãs e tardes do deserto, mas são bastante úteis durante as noites. Você não iria sentir frio.

— Ahm… obrigada. Mesmo.

Aranek. Não tem de quê — Annik sorriu. Um pouquinho só. Bem pouquinho mesmo. Mas sorriu.

Annik lhe estendeu o casaco e a Menina pegou-o e o vestiu. Depois, continuaram perambulando pela sala. Tinha tanta tralha estranha que achou até mesmo uma águia romana! Talvez fosse daquela Legião que falaram.

Outro item chamou a atenção de Annik.

— Minha arma — ela pegou um revólver enferrujado sobre uma outra mesa, que também estava lotada de submetralhadoras, rifles e pistolas. Um arsenal. O revólver seria lindo se não estivesse todo sujo e com ferrugem em vários lugares. Nos pontos em que não estava nem empoeirado nem oxidado, ele reluzia como prata pura.

— Você usava armas?

— Sim. Esse revólver me traz lembranças… desagradáveis. — Ela o colocou de volta sobre a mesa. — Não o usaria por nada. E nem seria possível. Está todo enferrujado, nem mesmo deve funcionar.

Mais andança pelo sótão improvisado, que na verdade seria o andar dos quartos. Alice pôde ver casacos pretos todos rasgados e sujos de sangue — algo amedrontador. Annik, entretanto, nem mesmo mexia as sobrancelhas de tanta frieza diante da crueldade. Viu também vários gravadores. Quis saber o que havia gravado neles, que conversas estavam gravadas ali. Bem, ela assumia que fossem conversas, porque havia percebido que o povo do Mundo não era muito chegado à música.

Viu também uma foto em sépia. Pegou e a viu. Era um grupo de pessoas, umas dezesseis no total. Estavam dispostas como num time de futebol: sete levantadas, sete agachadas e um ao lado esquerdo e outro ao lado direito, que pareciam ser os líderes. Uma das figuras da foto era muito familiar. Annik. Ela estava no grupo de pessoas de pé, sorrindo. Vestia o casaco que Alice agora usava e estava sem a boina. Também reconheceu Isaac, na fileira de baixo. Ele era mais magro e tinha um pouco mais de cabelo. Também sorria. Quase todos sorriam, na verdade, com exceção do capitão ao lado esquerdo, que parecia fazer uma cara de bravo propositalmente para o fotógrafo. Um dos homens da foto tinha uma cobra enrolada no pescoço. Quê? Olhou de novo. Meu. Deus. Realmente era uma cobra! Que pessoalzinho bizarro!

— Minha coorte da Legião. — A Menina se virou imediatamente e deu de cara com Annik atrás de si, também olhando a foto. — Os sete de cima, onde eu estou, são a Guarda Pretoriana. O homem à esquerda, o nosso Pretor. Depois, ele morreu e eu assumi o lugar dele. Os sete de baixo são os Legionários. Do lado direito, o Legado­, comandante dos Legionários comuns.

— Você conheceu todos eles?

— Sim. Éramos como uma… — ela suspirou. Um suspiro claramente triste e saudosista —… uma família.

— O que houve com eles?

— Tirando Isaac e eu, estão todos mortos.

— Como morreram?

— A Organização nos caçou. Um a um. E só terminou quando assumiu que todos estavam mortos.

— Mas você sobreviveu… Você e Isaac.

— Isaac… eu não sei o que aconteceu exatamente com ele na época, apenas sei que, como alguns de nós, ele fugiu. Mas sim, ele sobreviveu, e bastante bem. Mas eu, eu não apenas sobrevivi; eu fugi, desertei. Eu fui uma das cofundadoras da Legião e, por ambição, resolvi fugir. Não apenas para escapar da Organização, mas para procurar por outras coisas que eu jamais iria conseguir estando na Legião.

— Cofundadora? Então você era a líder?

— Não. Eu e uns antigos amigos resolvemos criar um grupo, mas quem iria nos apoiar? Então fomos ao Imperador, que decidiu nos liderar. Nós fomos os fundadores, mas o verdadeiro líder não éramos nós.

— E o que aconteceu depois? Essa… Legião… ela ainda existe?

— Morreu com todos os outros. Sobraram alguns… eu, Isaac… talvez haja outros perdidos no deserto, ainda vivos. Mas ninguém mais se importa com a Legião. Ela morreu para servir de aviso: não discorde dos ideais da Organização. Qualquer outro grupo que nasça e se oponha a eles será aniquilado, porque é assim que as coisas funcionam aqui. É uma questão de quem é o mais forte. Por um tempo, fomos os mais fortes, mas tudo não passou de sorte. Sorte de principiante.

A Menina parou de perguntar. Provavelmente Annik estava irritada. Ela havia passado por muitas coisas difíceis. Perder os amigos, depois desertar… entre outras coisas que ela provavelmente omitia. Será que era por aquilo que ela era assim, tão cruel? Por ter visto tanta gente morrer na frente dela? Podia ser. Teve pena. Sentiu um gosto amargo no fundo da boca. Era crueldade demais para uma pessoa só. Imagine viver num mundo onde todos seus amigos, quase todas as pessoas próximas de você, haviam morrido? Era uma possibilidade totalmente assustadora.

Olhou para Annik sorrindo de novo.

— É estranho.

— O quê?

— Você sorrindo.

Annik apenas a olhou. Seu rosto não esboçava nada. Ela não sabia o que responder. Ela ficou vermelha.

— Ahm… Isso foi um elogio?

— Uh… é, foi. — A Menina sorriu, mas imediatamente tirou o sorriso do rosto.

— Nesse caso… obrigada. Densk.

E ela sorriu. Foi devagar, meio desajeitado. Era como se estivesse desacostumada, como se tivesse esquecido como sorrir, como se os músculos ao redor da boca tivessem estado duros após tanto tempo. Mas ela sorriu. Foi um sorriso bonito. E verdadeiro.

— Ei — gritou Isaac num grasnido —, eu achei os livros aqui.

Annik olhou para a Menina.

— Vamos descer.

Alice mal teve tempo de anuir; Annik já descia as escadas com rapidez.

Isaac estava sentado no sofá da sala, com uma xícara fumegante nas mãos. Havia sobre uma mesa de centro duas xícaras, certamente para Annik e Alice, uma jarra do líquido que Isaac bebia e vários livros velhos, mofados e empoeirados. Havia uma enorme estante na parede, com uma televisão — que provavelmente não funcionava — no meio e, ao redor, vários e vários livros. Quando olhou para os lados, viu mais estantes repletas de livros e enciclopédias.

— Eu fiz café — ele disse, enchendo as duas xícaras. A Menina pegou uma xícara e bebeu-a quase que num só trago; se arrependeu quando queimou a língua. Que dó. Annik, entretanto, sentou-se e pegou a xícara, mas olhou o conteúdo com pouca vontade.

— O que você achou nos seus livros? — Annik perguntou, assoprando o café. Mas continuou não o bebendo. Estava envenenado? Se estivesse, Alice iria partir daquela para melhor.

— Hm. Apenas histórias e mais histórias sobre o Kra’vstanlas, sobre os nomes (esses eu ganhei direto da Instituição quando terminei meus estudos) e algumas coisas as quais notei estranhas… uhn, semelhanças.

“O primeiro livro, ou melhor, os primeiros, contam sobre umas histórias sobre o Kra’vstanlas, o Sem Nome. Eh, o tipo de história que todo mundo conhece… com exceção dela, é claro — apontou para a Menina. Lógico. Ela era a esquisita, a Sem Nome. — Uma delas é a mais clássica de todas e a mais famosa. Você se lembra, Annik?”

— O Kra’vstanlas irá surgir como a última esperança do Devon, e então irá batalhar longamente contra o Khos.

— Ahn? — Alice apenas grunhiu. Annik não gostava de facilitar mesmo.

— Annik basicamente disse que o Sem Nome surgirá como a última esperança do Mundo ao lutar contra o Caos.

— Isso explica um pouco — na verdade, quase nada.

— É claro que explica, essa é a grande odisseia do Kra’vstanlas! — Isaac berrou com grandiosidade na voz. — Há outras histórias em que ele acha a Fonte de Tudo, a Borda do Mundo, a Música do Deserto… Tudo bobagem que o povo inventa, é claro. A única história que tem um fundo de verdade é a de que o Sem Nome irá lutar contra o Caos. E que ele irá vencer.

“Tá, prosseguindo essa parte, achei os livros da Instituição. Explicações chatíssimas sobre os nomes, blá, blá, blá. Um monte de baboseira, se quer saber. Não há nada sobre o Kra’vstanlas, afinal, ele ou ela é só um mito. Nenhum texto científico iria escrever sobre uma lenda popular. Os livros nem mesmo citam a possibilidade de ter um Sem Nome no Mundo. Enfim, mais bobagem. Só peguei pra verificar se realmente não tinha nada. E não tem.”

— E os outros? — Annik perguntou, bebendo o café pela primeira vez. Não esboçou nenhuma reação se estava bom ou ruim. Se ela não fosse beber, que desse para a Menina, oras. Ela estava morta de sede e com frio, mesmo com aquele casaco.

— Ahá, aí sim que entra a parte curiosa! Achei uns livros sobre as forças do Caos. Aposto que foi um charlatão que escreveu, mas pode ser útil, quem sabe. Não tive tempo pra folhear, mas pode levar, se quiser. E o mais interessante: um catálogo da Biblioteca da Instituição. E, ao verificar esse catálogo, um nome muito interessante apareceu. Kra’vstanlas: ¿Trie’fan ot Nakze’nie?. Sem Nome: Conto de Fadas ou Verdade? Quem diria que a Biblioteca teria um livro sobre o Kra’vstanlas… Eu era um ratinho de biblioteca, naquela época, e mesmo assim nunca achei esse livro lá.

— Também nunca vi esse livro na época em que estive lá.

— Olhei a quantidade de exemplares que tinha: só um. Um único exemplar. Ou alguém pegou… ou roubou.

— Roubar? Que louco seria capaz de fazer isso?

— Você sabe. A Organização. O Faraó — mais nomes esquisitos para a listinha de coisas bizarras que podemos encontrar no Mundo parte dois. Já havia desistido de tentar entender sobre esses grupos que pareciam odiar todo mundo. A parte um, a propósito, era dedicada quase que inteiramente à língua bizarra. Ou a Annik, porque ela era assunto para um livro inteiro. — Podem ter mandado a Instituição tirar o volume da Biblioteca. O mais interessante ainda é quem escreveu o livro, o que faz a ideia de roubo ainda mais plausível…

Annik endireitou as costas enquanto bebia um gole do café, claramente interessada. Isaac prosseguiu, com um sorriso esperto no rosto (ele parecia um nerd quando fazia aquela cara):

— Foi um Príncipe. Ou melhor, dois. — Alice anotou mais um nome na lista. Não iria mais interrompê-los para perguntar nada, porque, sempre que perguntava sobre algo estranho, outras duas coisas ainda mais estranhas apareciam. Era como cortar a cabeça de uma hidra: sempre que se cortasse uma, apareciam mais duas. O único jeito de destruir uma por completo era com fogo. Ou, no caso de Alice, ouvindo a conversa sem interromper.

Annik arregalou os olhos. Alice achou que ela iria se engasgar com o café. Seria engraçado, até.

— Quais Príncipes?

Obaten Kevin e Obaten Alexander. Kevin ficou com a parte de escrita enquanto Alexander, a parte da pesquisa.

— Príncipe Kevin era o Mestre da Escrita. Príncipe Alexander, o Mestre dos Nomes. Ambos morreram ou desapareceram após a Guerra contra a Organização.

— Aliás, peguei um livro sobre essa guerra. Muitos tempos antes de nós mesmos cairmos no Mundo aconteceu a Primeira Guerra contra a recém-formada Organização. Os vencedores, claro, foram a Organização, que ofereceram anistia aos sobreviventes desde que eles entrassem no grupo. Outros fugiram ou morreram durante a batalha. Você sabe por que os Obatenva, os Príncipes, guerrearam contra a Organização, sabe, Annik?

— Porque os Príncipes discordavam dos ideais da Organização. Pelo menos é esse o senso comum.

— Não apenas por isso, Annik. Aliás, preciso corrigir: a Organização guerreou contra os Obatenva. Desde muitos tempos atrás, os Príncipes sabiam do Kra’vstanlas. A odisseia do Sem Nome para combater o Caos é tão ou até mais antiga que eles. Eles sabiam de algo sobre o Kra’vstanlas e a Organização também queria saber… ou talvez eles discordassem das ideias dos Príncipes sobre o Sem Nome, e não o contrário. Enfim, disso não temos certeza. Apenas tenho certeza de que essa guerra não foi motivada apenas por um odiozinho entre os dois grupos. Tinha algo mais, algo que incomodou a Organização profundamente. É por isso que eu sempre, sempre duvidei de que essa briga começou porque “os Príncipes não gostavam da Organização”. Eles sempre foram pacíficos, de acordo com as histórias, não uns bárbaros como a Organização. É por isso que a Organização que iniciou toda essa rixa.

— Toda a história do Mundo que é lecionada na Instituição está errada, então.

— Realmente. Também não duvido de que a Instituição esteja mancomunada com a Organização, mas, até o momento, a hipótese de roubo me faz mais sentido que uma parceria entre os dois.

— Na verdade, essa hipótese me parece ainda mais plausível que a de roubo. A Organização se aliou ao Faraó. Por que não iriam se aliar à Instituição? Eles teriam o controle do Mundo inteiro assim.

— Hm… — Isaac colocou a mão no queixo, olhando para baixo, pensativo. — Faz bastante sentido, até porque esse é um dos objetivos reais da Organização. Eles dizem que querem levar conhecimento aos seus Encaminhados, mas é pura mentira. Eles querem é controlar tudo e todos. Quem é pior: a Organização ou o Caos?

Annik riu. A risada dela, assim como o sorriso e como ela própria, era muito agradável e bonita. Ela deveria rir mais vezes.

— A Organização, é claro. O Caos, pelo menos, não mata. — Aquilo era uma hipocrisia. Annik não era inocente, a Menina sabia. Ela era uma assassina. Quem era pior: o Caos ou Annik? A tal Organização ou Annik? A resposta para a primeira pergunta era óbvia: Annik. Para a segunda, Alice tinha dúvidas. Annik era uma mercenária, mas, do jeito que falavam sobre a Organização, era de se supor que aquele grupo era formado por várias Anniks: vários assassinos cruéis. É, talvez a Organização fosse pior mesmo. E logo depois dela, vinha Annik no ranking.

— Hm. Nesse caso, você é tão ruim quanto a Organização. — Bingo. Isaac falou exatamente o que a Menina gostaria de ter falado. Só não falou por causa do taco de baseball. E também não queria ser chata; Annik havia lhe dado um casaco de presente. Não era lá grandes coisas, mas significava que ela realmente se importava com a garota. Ou pelo menos fingia se importar.

Annik suspirou. Se Alice contasse quantas vezes Annik suspirava, já deveria ter passado da casa do milhar. Depois de suspirar, Annik era mestra em matar.

— Então… o que devemos fazer? — Ela deu mais um gole no café, que já estava frio. E o dela, além de frio, ainda estava cheio. A barriga de Alice quase roncou.

Isaac ajeitou os óculos, parecendo um verdadeiro profissional agora.

— O que vocês devem fazer é procurar uma pista. E não tem lugar melhor pra procurar do que o lugar onde tudo isso começou: na Instituição.


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