Folhas ao Vento escrita por The Phantom Queen


Capítulo 1
Assim como dizia sua avó


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse oneshot há um tempinho,para experimentar a escrita pelo olhar de um personagem do qual eu não tinha nada em comum e me liberar de alguns sentimentos que,na hora, eu tinha. Não havia pensado em posta-la até que hoje, quando eu resolvi reler, me descobri chocada com o quanto eu tinha gostado do que escrevi. Espero que gostem também.



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Caminhara o dia inteiro para isso; numa atitude impensada e motivada pela frustração, viera. E valeu a pena. Sim,valeu.

Do olhar dele era possível ver a imensidão que se estendia por quilômetros até onde seus olhos não alcançavam mais com clareza. Admirando todo o esplendor da criação de Deus com a final realização de que, dentro do jogos de peças que formavam o mosaico do mundo, ele era uma pequena e igualmente importante parte.

No dançar suave das folhas ao vento, no beijo quente do astro rei em sua pele doce como cacau, no aroma suave que as águas a muitos metros à frente empurravam em sua direção. Qualquer que tenha sido o cerne de cada matéria que pela terra percorria, certamente também percorria por ele. Assim como dizia sua avó: Tudo e todos seguram uma pequena ponta da corrente que liga todos nós.

Faziam seis anos que ela havia falecido, e ele ainda tinha a impressão de ouvir o arrastar de seus gastos chinelos pela varanda. Estaria ainda segurando a sua ponta da corrente?

Ele respirou fundo, tentando acalmar as frenéticas batidas de seu coração, ou seriam as lágrimas que cismavam em brotar de seus olhos?

Segurando o ímpeto de mergulhar o rosto nas mãos e chorar, abriu seus braços como se fosse possível abraçar o mundo ao seu redor.

E assim se imagina a fazer, libertando um pouco do peso que, por muito tempo, carregava dentro de si. Sentindo seu corpo criar uma ridícula barreira na enorme ventania.

Quais foram as curvas que o trouxeram até aqui? Onde ele a havia esquecido de dobrar?

Como se sua condição social e sua cor não fossem um grande empecilho, fizera questão de obscurecer cada vez mais o seu futuro.

Desde jovem os chinelos não conseguiram ensinar aquilo que as cicatrizes em seu corpo faziam questão de lembrá-lo. Cicatrizes que o transformaram em algo menor que um ser humano.

Por muito tempo ouvira dos lábios dos outros aquilo que sua mente negava em aceitar. Fechou-se para a real face daquilo que havia abraçado, e pagou um preço muito alto com sua ignorância.

O moleque irresponsável.O preto bandido. O drogado inútil.

Ele olhava nos olhos de cada um deles ao mirar-se no espelho, e cada noite, ao se deitar, pedia para que seus fantasmas não mais assombrassem seu reflexo no dia seguinte.

É tudo uma questão de tempo e perseverança, dizia o líder do seu grupo de apoio.

A questão era, até quando mais ele iria conseguir aguentar? Se cada vez que sua mãe o olhava, era decepção que via, e seu pai, que quase não o aceitara de volta, o olhava com raiva. Então agradecia a Deus por sua avó não estar viva para vê-lo assim, seria uma barra grande demais para segurar.

Seus pés chegam à beira da pedra, mais um passo e ele estaria livre; de toda a frustração, toda dor que causara a si e à sua família.

O coração quase explodia de medo. Daqui para frente, a incerteza me aguarda, pensou, com um frio incontrolável o congelando por dentro.

Projetando seu corpo para frente, jogou-se na imensidão do ar. Ele não acreditava mais em destinos. Cada um é o autor de sua própria vida.

Há aqueles que a história vem escrita de uma longa linhagem, e que não se importam de continuar a escrevê-la, uns acabam riscando várias partes enquanto a escrevem, alguns acabam tendo a sua esparramada numa poça, outros precisam ser fortes o suficiente para mudar a sua.

Cada um encontra seu jeito de segurar a sua ponta da corrente e seu livro sob o braço, e todos precisam ser fortes para segurá-los até o fim.

Ele os jogou ao vento, junto com seu corpo. Todas as folhas caindo.

Seu grito ecoando por todo o vale. Lá embaixo, com o corpo em queda, ouviu os gritos das pessoas que estavam lá em cima com ele.

Na completa solidão, abraçado por suas lembranças, permitiu-se chorar.

Seu corpo dá um forte tranco, quando a corda que prendia seus pés se recolhe para voltar ao tamanho de início, e várias vezes repete o processo.

De cabeça para baixo, seu corpo sacudia com a força da corda. Ele ouve as palmas de aprovação dos amigos e, ao ser içado de volta, já não era mais aquele rapaz de antes. Havia se perdido na ventaria e empurrado para longe; esse era um diferente, com um novo livro em branco para reescrever toda sua história.


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Notas finais do capítulo

Eu falei pra minha sis "É uma oneshot comum,as pessoas só querem saber de fantasia,de yaoi e yuri,ninguém vai ler." Então se você quiser jogar na minha cara o quanto eu estava errada é so comentar,se não eu posso jogar na cara dela o quanto ela estava errada. =D



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