—Severo, eu sou uma agente da Ordem, não uma general, não sei se consigo liderar um grupo em uma missão tão grande.

—E o que me diz sobre o dia em que matou Nagini? Fred, Harry, Draco e Jonay estavam com você.

—Aquilo foi diferente, não planejei levá-los – Severo ergueu uma sobrancelha, incrédulo. - Ou deixava que fossem comigo ou não ia conseguir sair deste castelo.

Severo suspirou mais uma vez e acariciou os cabelos da menina.

—Vai dar certo, vai ver.

Bianca meneou a cabeça, queria acreditar em Severo, mas era uma situação difícil.

—Como vai saber se não tentar? - Severo disse, sorrindo. Falava como que diante de uma criança que se recusava a comer vegetais.

—Okay, venceu. Preciso escrever para Fred, dizer que pode ir se quiser.

Severo assentiu enquanto Bianca saía para a torre da Grifinória. Puxou pena e pergaminho e escreveu:

Fred, eu pesquisei um pouco e descobri que aurores britânicos não podem trabalhar na França, por isso, se quiser ir comigo, não poderá ser como auror. Se ainda quiser viajar, agradeço pela ajuda.

Bianca.

A resposta positiva chegou tão rápido quanto o bilhete havia partido. Bianca sorriu tensa. Ela teria com certeza o apoio de Harry e de Fred em Paris, e também os incentivos de Sirius, Remus e Severo.

Tudo parecia girar em torno da “missão”, como haviam apelidado a situação, Bianca precisava rever detalhes com muito cuidado e tempo, como dia da partida, local e meios disponíveis. Por serem um grupo pequeno, qualquer meio exceto a Aparatação -Harry ainda estava aprendendo a aparatar – era válido.

Tudo, desde vassouras a chaves de portal podiam ser usados, mas havia pormenores a serem avaliados. Vassouras eram pouco discretas, por mais cautela que tivessem, e chaves de portal eram difíceis de ser obtidas – embora isso não fosse muito problema para a filha do Ministro da Magia e do chefe dos aurores – e era necessária muita antecedência para ter uma em mãos.

Testrálios? Nem pensar. Bianca nunca subiria em algo que não podia ver. Certa vez, Fred sugerira que usassem a moto voadora de Sirius. O banco podia muito bem acomodar duas pessoas e havia também o side car. Era tão chamativa quanto as vassouras. O ruivo oferecera seu carro, um Ford Anglia azul antigo que ele e Jorge ganharam dos pais quando passaram na U.M. “O argumento é o mesmo das vassouras e da moto, e não me interessa se ele é equipado para ser invisível – a motocicleta também é. Preciso de algo que não voe”, ela respondera.

Agora, Bianca e Harry debatiam a questão do transporte na biblioteca, quer dizer, Bianca falava pelos cotovelos sobre alguma coisa, mas a mente de Harry não ouvia porque com a tensão da missão e da final de quadribol que se aproximavam, ele mal tinha cabeça para refletir sobre seu relacionamento com Draco. Era verdade que ele e o loiro haviam se afastado desde que o ano letivo começara, mas eles não tinham terminado, pelo menos não oficialmente, e isso o deixava louco.

—Harry? - Bianca chamou. - Está me ouvindo? Acho que não. Pensa em quê agora? Draco?

—Quinze pontos pra sua Casa – disse o garoto, contrafeito.

A morena suspirou e tamborilou os dedos na mesa.

—Não é por nada, mas você e Draco escolheram lados diferentes e até que isso termine, terão de aguentar a distância. Mas posso garantir que ele não quer ninguém além de você.

Reconfortante, Harry revirou os olhos, mas não muda nada. Para Bianca, parecia levemente saudável discutir a vida amorosa do irmão, para se distrair da caos de sua própria vida.

—Certo, chega de falar da missão. Desabafe, o que te incomoda?

—Me incomoda que a guerra seja a razão e o prazo de tudo.

—Nem sabemos se vai haver uma guerra. Tudo o que temos em nosso horizonte é a missão.

—Mas você vai lutar contra Voldemort e os Comensais vão entrar na briga também, e não posso esquecer que eu também vou lutar com você.

—Está na hora de você conhecê-los.

Sem que Harry entendesse a frase, ela puxou pergaminho e pena da mochila. As palavras vinham a milhão na mente da garota, a parte difícil era organizá-las. Por fim, ela optou por: Sirius e Remus, acho que está na hora de apresentar Harry à Ordem. Reúnam todo mundo e eu cuido dele. Bianca Lupin-Black.

A carta rapidamente chegou ao destino. Sirius e Remus escreveram bilhetes para todos os membros – incluindo James e Lily – para que fossem ao largo na sexta.

—Era chegada a hora de abrirmos o jogo com ele – disse Sirius casualmente.

ALGUMAS HORAS DEPOIS…

A Ordem da Fênix estava reunida, todos muito ansiosos para a chegada de Harry e Bianca, em especial, Lily e James. Todos haviam prevenido-os quanto às possíveis reações do garoto, considerando que seria um grande choque ver os pais que morreram.

Bianca e Harry chegaram ao largo Grimmauld, e enquanto Monstro levava as malas deles para os quartos, foram à cozinha, onde a reunião aconteceria.

—Harry – disse Bianca -, esta é a Ordem da Fênix. Nós lutamos contra Voldemort e os Comensais da Morte.

—Nós? Quando foi que entrou nessa?

—Antes de te conhecer. Minha tarefa era te proteger quando ainda acreditávamos que você era o Menino-Que-Sobreviveu.

Harry correu os olhos pelo grupo. Não conhecia ninguém, exceto Sirius, Remus, os Weasley, Snape e profa. McGonagall. Bianca também fez uma varredura, nada de estranho ou novo, à exceção de um casal sentado à ponta oposta da mesa, encarando Harry com curiosidade. Ela já os vira antes.

—Senhorita Lupin-Black – Remus chamou a garota -, temos dois veteranos de volta à causa, Lily e James Potter.

—É o quê? - os estudantes se espantaram – Como isso é possível?

Sem nada dizer, Sirius tirou a Pedra da Ressurreição do bolso e pousou-a na mesa. Mais cedo ou mais tarde eles tentariam algo assim, a garota pensou.

A reunião resumiu-se a Bianca falando sobre a missão. Os membros partiram aos poucos, mas Lily e James ficaram para conversar com o filho, que estava tão emocionado que apenas chorou. Amava Sirius e Remus, mas eles eram os pais de Bianca, já Lily e James eram os seus pais. Lily não aguentou e abraçou-o, rendendo-se às lágrimas também.

—Obrigado mamãe – Harry balbuciou. - Obrigado por me salvar.

—Eu sonhava com o dia em que me chamaria de “mamãe” - ela afagou os cabelos rebeldes do filho. - Agora vejo o quanto valeu a pena. Como foi com Válter e Petúnia?

—Horrível – Harry sacudiu a cabeça.

—Remus disse que talvez tivesse medo de vassouras – disse James. - Tem algo a ver com o tratamento que seus tios lhe deram?

Num suspiro, Harry ergueu a camiseta, expondo um vergão cicatrizado no tórax.

—Foi no dia que recebi a primeira carta de Hogwarts. Petúnia achou que podia arrancar a magia de mim às vassouradas.

—Pois é Lírio, sua irmã não foi tão boa para Harry quanto pensava – o homem fez piada.

—Ora, cale a boa, James.

Enquanto os Potter conversavam, Severo e Bianca debatiam no quarto da garota. Ele não entendia como Lily e James tinham voltado à vida, mesmo tendo visto Bianca ressuscitar Daniel. O garoto “esteve morto” por poucas horas no máximo, enquanto os Potter o estiveram por quinze anos.

—Pensei que fosse gostar de Lily viva de novo – disse Bianca, sem entender as colocações do professor.

—É egoísta pensar assim, mas eu queria que fosse só ela. Por mim, James podia continuar onde estava. Agora eles estão lá embaixo, brincando de família feliz com o garotinho.

—Ah, Merlim. Escute, Sev. Lily fez suas escolhas antes de morrer e vai seguir com elas agora e você tem de respeitá-las, mas nada te impede de mostrar a ela que mudou, e talvez ela também mude de ideia.

Severo meneou a cabeça, Bianca tinha razão. E quando não tenho?, ela lhe disse através da Oclumência. Rindo, ele desaparatou.

—Finalmente – Fred saiu de baixo da cama da garota.

—O que você ouviu?

—Bem… tudo.

Bianca bateu o pé no soalho três vezes.

—Se contar ao Harry…

—Relaxa, isso é assunto seu com o Snape, não comigo.

Ela o encarou com um olhar torto. -O que quer?

—Conversar. Não conversamos como seres humanos desde o ano passado – a expressão dela não se atenuou, continuou dizendo “diga algo que me convença a te azarar ou algo pior”. - Preciso abrir o jogo. Antes que voltasse de Durmstrang, eu falei com Sirius e Remus sobre nos casarmos, antes mesmo que você terminasse Hogwarts, entenda, eu estava apavorado, com medo de te perder, e eles consentiam, desde que você dissesse “sim”, mas me alertaram quanto a possíveis comentários.

—O que os outros pensariam de mim se me casasse aos quinze anos? - ela conjecturou, completando o pensamento dele. - Isso não explica o chute por carta.

—Eu estava sendo idiota, okay? Podemos ficar com essa explicação? - o tom do garoto era de leve pânico.

—Podemos…

Antes que Bianca pudesse pensar na resposta que dera, Fred roubara-lhe um beijo. Instintivamente, Bianca deu-lhe um tapa na face esquerda, repelindo-o.

—Eu não posso ficar com você, não quando gosto de Jonay.

Contrafeito, o garoto desaparatou ali mesmo. Bianca se jogou em sua cama, quase chorando.

*********

Fred mal chegara ao alojamento da U.M e escreveu um bilhete para Bianca, dizendo coisas que não contara quando estiveram frente a frente. Desculpe, mas terei exames finais na semana de 6 de janeiro e não poderei viajar.

Ela respondeu de forma neutra, dizendo que ela e Harry dariam conta. E se não dermos, ele não tem nada a ver com isso, ela pensou irritada.

—Bianca, café – Sirius chamou do andar inferior.

—Meio cedo para tomar café da manhã – ela observou ao descer.

—Pensei em tomarmos um café da noite – ele riu, servindo a xícara da filha.

—Você quer é saber com quem eu falava.

—Espertinha – ele lhe piscou o olho.

—Sou filha e afilhada de três Marotos, camarada – ela replicou. - Falava com Fred.

—Vocês voltaram?

—Não, só falamos do que aconteceu quando terminamos. É verdade que ele quis casar comigo?

Sirius assentiu. - Dissemos que tudo bem, se você concordasse.

—Disso eu sei, só não entendi o que aconteceu depois.

—Terá de perguntar a ele.

—Eu perguntei, mas não obtive nada. Só consegui que ele me roubasse um beijo e saísse com a marca da minha mão no rosto.

—Essa é a minha garota – Remus pegou um biscoito.

Sirius revirou os olhos, divertindo-se, depois permitiu que ela voltasse para a cama, mas ela não adormeceu. Preferiu relatar o dia em seu diário.

Hoje os Potter – pais de Harry – voltaram à vida. Meus pais fizeram isso com a Pedra da Ressurreição. Severo ficou… posso dizer, neutro quanto à volta de Lily, sua antiga paixão de colégio, e enfrenta um conflito interno muito óbvio sobre seus interesses e o respeito por Lily.

Eu e Fred “conversamos” em meu quarto — se é que posso chamar de conversa um diálogo de palavras vazias, um beijo roubado e um tapa -, mas como sempre, não chegamos a lugar nenhum.

Harry está radiante por ter os pais de volta, eles ficaram conversando até tarde esta noite. Corta-me o coração conhecer os dois lados dessa moeda, os dois gumes dessa faca. De um lado, os Potter sendo a família que sempre quiseram, e de outro, o amor não-correspondido e de certa forma, puro, de Severo.

Prefiro me abster nessa conversa e cuidar da minha vida.

*********

Você conseguiu. No final das contas, é o melhor para ela, mais do que eu jamais fui. Só quero te pedir para cuidar bem dela. Ela não merece sofrer mais do que já sofreu por mim. Fred.

Jonay relia pela terceira vez o bilhete. Estava claro que “ela” se referia a Bianca. Fred estava oficialmente abrindo mão da morena, deixando o caminho livre para um possível futuro entre ela e Jonay.

Desculpe a “dureza”, mas peço que PARE DE TRATAR BIANCA COMO UMA MERCADORIA, SEU IMBECIL! Ela é uma garota, não uma vassoura, e se me quiser, vou adorar, se não, terei de seguir em frente. Inclusive, “seguir em frente” é algo que você podia tentar. Jonay.

O garoto quase se surpreendeu com suas palavras rudes. Quase.

*******

Este é o fim. Desculpe, mas as coisas entre nós esfriaram e você nem para me mandar uma carta. Sem que você mereça, Bianca te defende, mas daqui para frente, não darei ouvidos a ela quando te mencionar. Permita-me ser claro: este é o fim do nosso namoro.

Harry.