Harry se arrastou até os banheiros suando frio. Fred e Bianca já haviam conseguido os bilhetes e Draco já tinha a pipoca. Só faltava Harry voltar.

–Vamos perder o filme se ele demorar mais – Bianca reclamou.

–Eu vou buscá-lo – Fred propôs.

No momento em que Fred proferiu aquelas palavras, Harry retornou, parecendo completamente recomposto.

–Podemos entrar – disse Draco, apressando-os.

Assistiram ao filme e depois da sessão, cada um voltou para sua casa. No dia seguinte, Draco teve um ataque de lágrimas no travesseiro. Talvez não seja para ser. Talvez o destino não nos queira juntos. Por que só eu não posso ser feliz? Depois que a fronha já estava úmida, ele se rendeu aos soluços.

–Draco? - sua mãe o chamou. - Aconteceu alguma coisa?

–Nada mãe… mas eu quero ficar sozinho, se não se importa.

Narcisa refletiu. Quando criança, Draco contava tudo para ela, mas agora ele era um adolescente com segredos que não podia revelar aos pais. Talvez um amigo pudesse ajudá-lo.

–Tudo bem se eu chamar a filha de Sirius para conversar com você? Pode ser que ela te anime.

A possibilidade de conversar com Bianca gerou esperança no peito do rapaz. Ela conhecia Harry como ninguém, conseguiria consolá-lo.

Em dez minutos, Bianca chegou ao quarto do amigo, e sentou-se ao lado dele com um sorriso solidário.

–O que foi?

–Eu finalmente tomei coragem para pedir Harry em namoro – Bianca abriu um sorrisinho. Ela havia torcido tanto para isso —, mas não o fiz porque antes que eu pudesse, ele foi ao banheiro.

–E o clima foi pro espaço – ela adivinhou, acariciando os cabelos do rapaz, que assentiu. - Em casa, ele agiu como se você não tivesse nem insinuado nada. Mas eu conheço meu irmão, e ele gosta de você.

–Então por que…

–Pensando bem, ele agiu como se nem me conhecesse. Tenho de descobrir o que deu nele.

Um estalo ocorreu a Draco. E se…? Interrompeu o pensamento antes que pudesse colocá-lo para fora. Não, aquilo não podia ter acontecido.

–Hey, Drac – Bianca o chamou. - O que aconteceu?

–Nada Bia.

A Marca Negra ardeu no braço do loiro. Justo agora?, o rapaz pensou, ignorando a sensação, mas ela só aumentava, e ele começou a suar frio.

–Draco, está tudo bem? - Bianca questionou. - Vou chamar a sua mãe, tá? SRA. MALFOY! - gritou da porta.

Narcisa surgiu num átimo, e empurrando Bianca com força, se debruçou na cama e acalentou o filho. A garota se despediu dos Malfoy e aparatou. Agora tinha uma nova preocupação além de Harry, Draco. Enquanto pensava nisso, uma hipótese maldosa serpenteou seus pensamentos. Lucius e Narcisa eram Comensais. Draco seria um deles também? Severo saberia se fosse, mas ele diria a Bianca, se ela perguntasse? Ela tinha de tentar.

Escrever não adiantaria. Ele poderia mentir ou não responder. Tinha de ser pessoalmente, assim ela poderia pressioná-lo, se preciso fosse. Só precisava do endereço dele. Lembrava-se vagamente de ter lido essas informações, em uma carta que Severo lhe mandara três anos antes. Ela queria mais do que tudo encontrar essa carta.

–Procurando isso? - disse Harry, ao lado dela, com a carta em mãos.

–Estou – ela esticou o braço para pegá-la, mas Harry ergueu o dele, impedindo-a de alcançar o papel.

–Me dá isso, Harry!

–Porque deveria?

–Por que é minha e eu preciso dela.

–Para…

–Não é da sua conta, agora me devolva!

–Não estou com vontade.

O rapaz foi para seu quarto. Ela correu para alcançá-lo, mas encontrou a porta trancada. Encostou o ouvido na madeira, rezando para que não tivesse sido imperturbada, mas infelizmente, ela não pôde ouvir o que se passava lá dentro.

–Perdeu alguma coisa? - Harry perguntou com acidez ao sair do aposento.

–Perdi – ela rebateu. - O meu irmão, Harry Potter. Você o viu por aí?

Ele deu de ombros e em seguida, virou as costas, enquanto ela murmurava:

–Draco é bom demais para ele. No fim das contas, foi bom que ele não tenha terminado a frase.

***********

Durante a noite, pedrinhas voaram contra a janela de Bianca, assustando-a.

–Fred? - ela sussurrou, abrindo uma fresta na janela. - É você?

–Não. Sou eu, Severo – respondeu no mesmo tom. - Pode descer aqui, por favor?

Ela trajou seu roupão e desceu pelas heras como sempre fez. Quando chegou ao jardim, cruzou os braços frente ao peito e questionou:

–Aconteceu alguma coisa?

–Não, não… eu só vim lhe prevenir. Este ano, não confie em ninguém. Apenas em mim e nos seus pais, fui claro?

–Foi, mas… por quê?

–Eu não posso dizer agora, mesmo que minha prioridade seja impedir que coisas ruins te aconteçam, mas custaria a minha vida. Boa noite.

–Boa noite – ela respondeu para o vazio.

Saldo do dia de hoje, escreveu em seu diário. Draco quase teve um ataque de convulsões na minha frente, briguei com Harry e Severo me disse para não confiar em ninguém. Estou sentindo que esse ano vai ser uma barra.

–Posso entrar? - Harry pediu à soleira da porta.

–O que você quer, Potter? - a menina foi grossa.

–Pedir desculpas – ele sorriu sedutoramente.

–Quer parar com esse joguinho? Eu não sei o que está planejando, mas não vai funcionar.

–Não quer falar comigo? Tudo bem, mas vim te dar isso – ele colocou a carta aos pés dela.

Bianca desferiu três socos no travesseiro e pegou a carta. Tinha o endereço de Severo em mãos agora. Rua das Fiações, número seis. Sem pensar uma segunda vez, aparatou diretamente na porta da casa.

–O que faz aqui? - Severo abriu a porta antes que ela batesse.

–Preciso fazer algumas perguntas.

Ele a puxou para dentro com certa brutalidade. - Ficou louca? Já pensou se alguém te vê aqui?

–Não vejo nenhum problema nisso – ela deu de ombros. - Draco Malfoy é um Comensal?

–Ah, mas que menina chata! - ele exclamou dramaticamente. - Escute bem, se continuar fazendo perguntas sobre os Comensais, terei de torná-la uma de nós, para impedir que Voldemort te mate. E não me venha com essa de “Por Merlim, Sev. Ele me ama”. Ele preza mais seus ideais do que seus poucos sentimentos.

–Então me torne uma de vocês. Marque meu braço. Qualquer coisa para você responder às minhas perguntas.

–Controle esse desespero. Se entrar, nunca mais poderá sair.

–Eu posso ser como você! Fazer serviço duplo.

–Não vou permitir isso – ele foi inflexível.

–Por favor, eu só tenho uma pergunta.

–Diga… - ele suspirou.

–Draco se tornou um Comensal?

O homem moveu a cabeça positivamente. - Tinha doze ou treze anos, não me lembro.

A dor que ele sentiu, poderia ter sido a Marca Negra?, ela se perguntou. Abriu a boca para falar, mas Severo logo a cortou:

–Você disse que tinha só uma pergunta. Sinto muito, mas tem de ir embora, não podemos arriscar que algum Comensal aparate aqui e nos veja juntos. Vá para casa, por favor.

Sem alternativas, Bianca desaparatou de volta para o quarto. Draco é um Comensal. Severo tinha razão. Não posso confiar em ninguém.