–Acha? - Bianca indagou. - Seja direto comigo. Ou estamos juntos ou não.

Termine com ela, disse a consciência de Fred. Você sabe que Bianca é uma menina perigosa. Atraí toda sorte de problemas, e vai meter você neles se não se afastar dela a tempo.

–Sim. Eu estou terminando com você – e saiu do quarto.

Bianca era um misto de dúvidas, raiva, tristeza e mágoa. Queria saber porque Fred terminara com ela, mas ao mesmo tempo, não queria vê-lo nunca mais e nem ouvir suas justificativas e desculpas vazias.

Ele nunca me amou, a menina escreveu em seu diário, segurando a pena com fúria obstinada. Não sei o que representei para ele nesses meses que estivemos juntos – se é que representei alguma coisa —, mas Fred me dispensou da pior forma. Primeiro, ele disse que eu não era mais como antes. Quando nos conhecemos, eu tinha onze anos e nada demais havia acontecido na minha vida. Eu cresci muito nos últimos anos, percebo isso quando paro para pensar no que já fiz. Dito isso, Fred não pode esperar que eu me comporte da mesma forma. E depois de dizer isso, ele me chamou de egocêntrica, mesmo depois de eu ter dito que não queria que o mundo girasse ao meu redor. Eu nunca quis ser a Menina Amaldiçoada, nunca quis aquela profecia, nunca quis fazer parte do tribruxo.

Agora tenho certeza de que não passou de uma ilusão que eu criei. No início, eu achava que Fred e eu estaríamos lado a lado não importasse o que acontecesse, mas me enganei. Eu estou só. Sempre estive.

Mas apesar de tudo, mesmo que Fred não me ame, eu ainda o amo, e minha imagem de resistência ainda é vê-lo sendo torturado.

Mesmo que não queira, encontrei mais um ponto em comum com Bellatrix. Ela ama Tom de verdade, mesmo quando ele só a despreza. Hoje eu finalmente abri o diário dela e conforme li, ela amava o Lorde desde os dezessete anos, mas nunca foi correspondida. Eu achava que poderia usar disso contra ela, mas agora que Fred fez o que fez comigo, estamos em pé de igualdade.

Bianca ia continuar escrevendo, mas parou quando a pena tocou uma mancha de água na página. Duas lágrimas rolaram, por pouco não caíram sobre o texto. Fechou o diário e afundou o rosto no travesseiro, querendo dormir de novo mais do que tudo. Queria que seus sonhos a levassem daquela realidade dura e amarga, queria sonhar com algo bom, como o dia em que Remus e Sirius finalmente diriam ao mundo que se amavam. Eles admitiram um para o outro, isso é mais importante.

*************

–Isso é loucura Alvo!

–Só é loucura se Bianca disser que é – o homem deu de ombros.

–Guarde minhas palavras. Ela vai dizer.

–Duvido muito – o diretor riu. - Winky, tenha a bondade de chamar a senhorita Black a minha sala, sim?

A elfa assentiu e saiu.

–Por favor, não…

–Desculpe, Severo. Mas é a única maneira. Se ela quiser, poderá acompanhá-la, mas ela tem de ir.

Em minutos, Bianca chegou a sala e os cumprimentou.

–Desculpe incomodá-la a essa hora, senhorita, mas temos assuntos a tratar que são de extrema importância.

–Que seriam…

–Descobrimos recentemente uma maneira de ajudá-la a derrotar Voldemort, mas é muito arriscado.

–Diga, senhor. Farei o que for preciso.

–Precisa destruir as horcruxes de Voldemort.

–O que são horcruxes?

–Objetos que contém a alma corrompida de um bruxo e o tornam imortal. A única forma de matar um bruxo que possui horcruxes é destruir os objetos primeiro e em seguida, matá-lo.

–Entendi – a menina assentiu.

–Destruir as horcruxes de Voldemort implicará em uma viagem e o prof. Snape e eu iremos acompanhá-la.

Ela assentiu novamente e o diretor tirou de um armário três frascos de poção polissuco. Bianca bebeu seu cálice sem pensar duas vezes. A sensação de tomar poção polissuco era conhecida da menina, que começou a admirar seu novo rosto em um espelho. Seus cabelos ainda eram cacheados, mas agora eram ruivos e seus olhos eram do verde mais bonito que já vira. Bianca já vira esses traços, na foto da Ordem da Fênix original. Esse rosto era de Lily Potter. Quando olhou para o lado, viu um rapaz da sua idade, mas ela sabia que quando ele envelhecesse, se tornaria o Severo Snape que ela conhecia. Não podia negar que quando jovem, ele fora muito bonito.

–Está linda – ele sussurrou ao ouvido dela.

–Você também – ela sussurrou de volta.

Dumbledore se transformara em uma versão levemente do que era, talvez tivesse usado cabelos de algum parente.

–Partiremos agora – anunciou.

Aparataram, chegando a uma construção precária, a placa no portão dizia que aquele era o orfanato Wool.

–Que lugar é esse? - Bianca perguntou.

–O orfanato onde Tom cresceu – disse Dumbledore. - Vocês dois, levantem-se.

Só então Bianca notou que aparatara diretamente sobre o colo de Severo. Corada ao extremo, afastou-se. Severo não podia negar que apreciara tê-la em seus braços por alguns instantes. O trio adentrou o lugar, as varinhas acesas, Bianca e Severo praticamente de mãos dadas. Eu não sou Bianca, aluna de Severo. Sou Bianca, uma amiga de Severo, a menina disse a si mesma. Severo disse a mesma coisa mentalmente e pegou com mais firmeza a mão da jovem. Dumbledore guiou-os até um quarto do segundo andar, onde havia uma cama sem colchão, um armário caindo aos pedaços e uma escrivaninha quebrada.

–Este foi o quarto de Tom Riddle. Bianca, naquele armário há uma caixa. Pegue-a.

A menina obedeceu e dentro da caixa, encontrou um diário simples, que guardou na bolsa com muito cuidado. Severo não pôde conter a curiosidade e abriu uma gaveta da escrivaninha, onde encontrou um pedaço de pele de cobra.

–Que nojo! - ele exclamou, ao fechar a gaveta com força.

–O que tinha lá? - perguntou Bianca.

–Pele de cobra. Podemos ir agora? - ele pediu a Dumbledore.

O homem assentiu e eles deixaram o lugar, Bianca e Severo ainda de mãos dadas.

*******

Naquela noite, o trio dormiu em um hotel próximo, mas só havia um quarto com duas camas. Dumbledore ficou com uma, e Severo e Bianca concordaram em dividir a outra.

–Acho que nunca mais conseguirei te dar uma aula em paz – Severo sussurrou para ela.

–Se não conseguirmos terminar o que temos de fazer aqui, talvez nunca mais dê aulas na vida.

O moreno assentiu e deixou que a garota aninhasse a cabeça em seu peito.

–Eu sei que tudo isso é apenas aparência – Severo gesticulou para o próprio rosto -, e não vai mudar o fato de que sou praticamente vinte anos mais velho que você e sou seu professor, ninguém jamais nos aprovaria…

–Entendi o que quis dizer – a garota cortou para alívio dele. - Tenha em mente que ninguém nos conhece e sinceramente, Dumbledore não está nem aí, só quer que você seja feliz. E eu também.

Ele sorriu. Aquilo era um sim. Bianca estava topando. Fred terminou comigo de uma maneira bem insensível, a garota refletiu. É, acho que eu me importava demais com tudo. Bellatrix pode me matar a qualquer momento e Voldemort também. Preciso aproveitar a minha vida curta.

–Bia… - Severo chamou de novo. - O que nós somos? Amigos, namorados?

Porque todo cara que eu conheço me faz essa pergunta?, Bianca suspirou antes de responder:

–Namorados. Se quiser, é claro.

Severo apertou o abraço.

–É claro que eu quero.

Quem não ia te querer?, completou mentalmente.

Fred Weasley, a menina respondeu da mesma forma. Ele não me quis.

Como assim? Vocês pareciam tão felizes!

E éramos, mas aparentemente, sou egocêntrica demais para que ele me suporte.

Ele é um idiota e não soube reconhecer a joia que você é. Mas eu cuidarei de você, Bianca, nunca te darei motivos para duvidar de minha lealdade.

Aqui é que está. Eu não quero soldados, como Frederich pensava. Eu só quero pessoas que estejam ao meu lado porque gostam de mim, não porque têm algum dever para comigo.

Entendi. Serei o que precisar que seja então.

Obrigada. É tudo o que quero.