–Bianca? - Harry a chamou pela primeira vez na semana. -Você e Draco estão namorando?

–Não – ela respondeu tentando esconder a irritação pela rapidez dos boatos plantados por Pansy. - Isso é fofoca da Cara de Buldogue, sacou?

Harry esfregou o queixo. Bianca tinha um nome forte, como o dele, mas era menina, então parecia óbvio que outras meninas quisessem derrubá-la, tirar o brilho e o poder daquela princesa sem reino, mas que tinha uma coroa.

–E porque vocês tem andado tão colados desde o fim de semana passado? - ele perguntou.

–Vem, eu vou te mostrar.

Ela o levou até um corredor do segundo andar, cuja parede tinha a árvore genealógica da família Black em uma tapeçaria, intacta apesar do tempo, mas com duas queimaduras de cigarro, que visavam esconder que um dia Sirius e sua prima Andrômeda tinham feito parte daquela família, mas seus nomes ainda eram legíveis sob as queimaduras. Bianca pegou um atiçador – certificando-se de que estava apagado antes de encostá-lo na parede – e apontou o nome de Sirius.

–Ele é primo delas – indicou Narcisa e Bellatrix -, duas nojentas que querem a todo custo descobrir se minha mãe era bruxa ou trouxa. Papai e eu não ligamos para isso mas…

–E porque não contam logo?

–Elas iam exigir provas de qualquer forma, e já que elas tomaram nossas amostras de sangue à força, preferimos economizar a saliva.

Harry assentiu. Bianca tinha mesmo pose de princesa – certamente adquirida na semana anterior -, e como tal, estava tentando manter seu reino - ou sua família – segura. Ele sabia que os Malfoy eram Comensais e seria melhor que e ele e a família de Draco não se encontrassem. Se a princesa Black ia garantir que esse equilíbrio fosse respeitado, ele ia ajudá-la, depositando suas esperanças nela.

Durante o almoço, a coruja dos Black trouxe duas cartas para Bianca, uma de Fred e outra de Severo. Abriu primeiro a do pocionista, parecia mais urgente.

Bianca,

Esta manhã, Bellatrix Lestrange mandou-me duas amostras de sangue, dizendo que eram sua e de seu pai, e que precisava saber se seu sangue foi “manchado” pela união com uma trouxa. Eu sei que Elis é trouxa, então pensei que talvez você quisesse que eu altere o resultado. Escreva logo.

No verso, a menina respondeu:

Severo,

Eu e meu pai chegamos ao consenso de que a opinião da comunidade bruxa sobre o sangue-puro da família Black remanescente no século XXI não nos importa, então é melhor que Bellatrix e Narcisa saibam logo a verdade. De qualquer forma, obrigada por se importar.

Abriu a carta do ruivo, que dizia:

O que deu em você? Do nada passou a agir como uma sangue-puro metida – coisa que você não é – e o Draco também mudou. Sério, alguma coisa aconteceu com vocês? Sem falar naquele beijo depois da reunião da Armada. Vocês estão namorando escondido? É meio nojento ver você e seu primo em segundo grau se beijando, sabia?

Meio revoltada, ela respondeu:

Você não sabe o que aconteceu para agirmos daquela forma. Eu quero explicar, mas é meio estranho escrever, é mais fácil falar. Na segunda eu te conto, tá? E não, eu e Draco não estamos namorando escondidos, realmente, é nojento.

*********

Eu nem sei mais o que sou. Aos dez anos, era apenas uma trouxa, aos onze, me tronei bruxa e agente da Ordem, agora, com treze anos, descobri que sou quase uma princesa, cargo que divido com Draco. Dentro do MBWP, ele foi o único que me restou, porque me entende.

Pansy Parkinson quer espalhar boatos maldosos sobre nós dois, mas não sabe que estamos protegidos pela opinião e língua de ferro de Narcisa Malfoy. A mãe de Draco tem grande influência na comunidade bruxa em geral – me surpreende que ela ainda não tenha comprado O Profeta Diário – e pode convencer qualquer um de qualquer coisa. É uma verdadeira cobra se estiver contra você, mas também pode ser uma grande aliada. É uma pena que seu objetivo atual seja expor meus traços de sangue trouxa. Já estou até vendo a manchete no Profeta:

SANGUE BLACK É MANCHADO!

O solteirão convicto Sirius Black – na opinião de alguns uma vergonha para a família – não concordava com o pensamento de seus pais sobre a superioridade dos sangues-puros, e demonstrou isso de maneira bem chocante: tendo um caso com uma trouxa.

Tal relacionamento gerou Bianca Black, criada como trouxa até os dez anos de idade, quando recebeu a carta de Hogwarts e foi morar com o pai. A menina Black - hoje com treze anos - foi bem discreta nos últimos dois anos, não chamava atenção e poucos a conheciam, mas após um jantar de reconciliação entre Narcisa Malfoy e Sirius Black, conhecemos a verdadeira Bianca Black. Sempre acompanhada do primo em segundo grau Draco Malfoy, a jovem se porta como elitista, como se o fato de carregar o nome Black a fizesse melhor do que os outros – certamente faria, se ela não fosse mestiça.

Merlim! Qual é o meu problema? Nada aconteceu e eu inventei uma manchete de jornal me condenando! Só uma pessoa muito doente faria isso. E pensar que a família Black/Malfoy é o menor dos meus problemas.

Dumbledore pode ser demitido de Hogwarts e ainda por cima substituído pela Sapa Velha, e eu aqui, preocupada com o que vão pensar de mim quando for oficializado que a família Black saiu do “hall das 28 famílias da sangue-puro” - agora 27, mas quem liga?

Bianca observou o texto que escrevera com tanta fúria por alguns minutos, até que pedrinhas foram atiradas em sua janela. Desconfiada, abriu o vidro e olhando para baixo, deu de cara com um ruivo, usando gorro de lã e casaco grosso laranjas.

–Fred Weasley, o que está fazendo aqui no meio de uma nevasca e durante a madrugada?

–Pode descer? Temos de conversar.

Sem mais, Bianca colocou um moletom de capuz vermelho, calçou suas botas favoritas e desceu.

–Não quer entrar? - ela ofereceu, a porta da frente entreaberta.

–Com seu pai, padrasto, irmão e elfo aí dentro? Não, valeu. Senhorita?

Ele ofereceu o braço a ela, que aceitou, e começaram a descer o largo, deserto àquela hora da madrugada. Caminharam em silêncio até chegarem a uma praça, onde se sentaram e Fred, tomando fôlego e coragem, perguntou:

–Você me mandou uma carta dizendo que ia explicar tudo segunda-feira, mas eu não podia esperar. O que realmente aconteceu?

–Semana passada, eu e Sirius jantamos na casa dos Malfoy, e Narcisa ficou encantada comigo, a nova menina da família, e quis que eu e Draco andássemos juntos em Hogwarts. Ela não sabe sobre o MBWP, acredito, mas… de qualquer forma, não sei porque, Draco me puxou e me beijou depois da reunião da Armada. Nós não estamos namorando. Acho que ele queria fazer ciúmes para alguém.

–Sei de alguém que ficou bem enciumado depois desse beijo – o garoto riu.

–Ah é? Quem era?

–Eu.

Bianca riu enquanto seu ruivinho a puxava para um beijo doce, porém gelado, pela fina camada de gelo que cobria os lábios de ambos. Nenhum deles ligava. O afastamento de uma semana machucara-os muito e agora eles só queriam estar nos braços um do outro. Para sempre.