Os corredores estavam desertos. Duas figuras de capa seguiam por eles, como haviam feito há alguns meses, mas sem a alegria daquela época. Bianca seguia tensa ao lado de Severo. Ele tinha a mão pousada protetoramente no ombro dela. Chegaram a Sonserina e Bianca deu a senha da câmara à parede certa. Engolindo em seco, a dupla adentrou a câmara, e encontraram um rapaz jovem, de cabelos castanhos ajeitados, uniforme sonserino, olhos charmosos e um belo sorriso.

–Professor – cumprimentou Severo polidamente. - Bianca – disse com deleite. -Eu a chamei aqui porque preciso de sua ajuda.

–Para… - a menina instigou.

–Para voltar. Eu achei que quando vocês derrotassem o basilisco eu poderia sair desta clausura de volta para Hogwarts, mas assim que a fera caiu morta, a única saída que vi não era bem uma saída.

A porta falsa, Bianca se lembrou do que Dumbledore dissera no ano anterior.

–E porque precisa da minha ajuda para sair daqui? Não pode sair pela porta pela qual entramos?

–Essa saída não serve para mim… e apenas uma herdeira do sangue Black pode abrir a porta da qual preciso.

Bia, se ele está preso aqui, deve haver uma razão, disse Severo na mente dela. Vamos investigar.

Certo, preciso ganhar tempo e arranjar uma desculpa.

–E como sabe que apenas uma Black pode abrir isso para você? - ela perguntou.

–Tem uma profecia…

–E onde ela está escrita?

–Eu não a li… eu a ouvi.

Diga a ele que só vai ajudar quando puder ler ou ouvir a profecia, Severo aconselhou.

–Olha Tom, eu não sei do que você está falando e só vou te ajudar quando você me trouxer essa profecia escrita ou me contar o texto todo.

Tom corou e deu alguns passos atrás.

–Vejo que estou tomando seu tempo, é melhor você ir… juro que nada vai acontecer a ninguém.

Temerosos, professor e aluna deixaram a câmara. Severo insistiu em acompanhar Bianca até a torre da Grifinória.

–Chega a dar dó – Bianca comentou a certa altura.

–Sério mesmo? - ele perguntou, fazendo-se irônico. - Não senti nada além de raiva.

–É porque você só consegue amar a mim – Bianca fez Severo rir. -Sev, você já teve alguma namorada além de mim?

–Você não está namorando o Weasley? - ele ergueu uma sobrancelha.

–Mais ou menos…

–Vocês se beijaram – ele opinou.

–Não por isso – a menina resmungou.

E então, num gesto que Severo não esperava, ela se esticou e deu-lhe um beijo no canto dos lábios. Severo a pegou no colo e deu-lhe um beijo na bochecha por despedida, um pouco constrangido.

–Vá para a cama – mandou, e ela obedeceu.

**********

O que diabos deu em mim? Severo pensava, revoltado. Uma aluna! Bianca! Pelo amor de Merlim! Como eu pude?

–Porque não aceita logo que a ama? - perguntou alguém, encostado casualmente à parede. - Vai doer menos.

–Tom? - o pocionista exclamou confuso. - Como foi que você saiu?

–A questão, Severo, é que eu nunca estive preso. Voltando à minha pergunta, porque não assume seu amor por ela?

–Porque é errado. E como assim nunca esteve preso?

–Simples, nunca estando. E o certo e o errado são questões relativas, se você não quiser que seja errado amar Bianca, não será.

–Por favor, cale esta boca. E se você nunca esteve preso, porque raios precisa dela?

–Não me mandou ficar calado? - o garoto perguntou, rindo, mas Severo fechou a cara. - Não é que eu precise dela, mas a profecia é real e se eu conseguir fazer com que Bianca aja ao meu favor, terei muito a ganhar, entende?

–Entendo, mas não vou deixar que use uma menina – a minha menina, completou mentalmente – para seu benefício.

–E se eu for honesto com ela? Contar exatamente o que quero que ela faça?

Severo optou por dar um – não merecido – voto de confiança para Tom.

–Muito bem. Mas eu estarei nessa reunião, estamos entendidos?

–Estamos – disse Tom, ainda rindo. - Tenha uma boa noite, professor.

********

–Oi.

Bianca se levantou de salto, acendendo o abajur ao lado da cama. Surpreendeu-se ao ver Fred.

–O que está fazendo aqui? - ela sussurrou.

–Vim te contar as novas – ele falou tão baixo quanto ela. - Sabia que Severo passou quase duas horas falando com um garoto sobre você?

–Quê? - ela gritou, tapando a boca em seguida. - Conta essa história direito!

–Ele estava andando por aí, muito revoltado consigo mesmo, mas aí alguém o parou e disse “Porque não aceita logo que a ama?”, não consegui ouvir o resto da conversa, sei que o garoto disse que se ele não queria que fosse errado amar você, não seria.

–Com ciúmes, Ruivinho? - ela riu, tocando a bochecha vermelha dele.

–Claro! Já me bastava toda aquela história com Diggory, agora tem um professor na parada?

–Saiba Ruivinho, que meu coração não está aqui – ela tocou o próprio peito -, está aqui – ela tocou o peito dele.

As respirações estavam sincronizadas, e as testas coladas. As faces coradas foram se aproximando lentamente até os lábios se colarem.

********

Tom, Severo e Bianca se reuniram no corredor da Sonserina. Tom usava um cordão estranho, com uma ampulheta dourada pendendo.

–Bianca, a profecia cita uma menina Black, e além de você, há apenas mais três mulheres na família: Andrômeda, Narcisa e Bellatrix. Seria melhor se não fosse nenhuma delas, entende? - ela assentiu. - Não há como eu trazer a profecia até você, mas posso levá-la até ela.

Antes que se pudesse protestar, Tom girou a ampulheta e o mundo ao redor acompanhou o movimento. Muitas voltas depois, o corredor parecia o mesmo, mas Severo havia sumido.

Pessoas passavam por eles, alguns acenavam para Tom, enquanto outros apenas encaravam. Tom estendeu o braço para Bianca, que aceitou e andaram até o que seria nos tempos modernos a torre de Adivinhação. Batendo na porta, o rapaz entrou, dizendo:

–Professor?

Era um homem alto, careca e de olhos azuis. Como Tom esperava, o professor se curvou, seus olhos ficaram brancos e falou:

A joia preciosa

Por tantos cuidada

Por uma trouxa foi gerada

Assim como o Lorde

Igualmente forte

Ela e o sobrevivente

Salvarão nossa gente

Mas um dos dois

Será de mais valia

Pois leva coração e alma de menina

A menina amaldiçoada

Enquanto o homem se recuperava, a dupla saiu da torre e voltou para o corredor.

–A família Black não foi citada na profecia. Qualquer menina mestiça pode fazer isso…

–Não! Quero ser derrotado por alguém de sangue decente!

O sangue de Bianca ferveu. Queria estrangular Tom por agir feito um menino mimado e elitista. Como ele sabia que era o Lorde das Trevas? Acha mesmo que vou contar, Tom? Ela já ouvira essa frase várias vezes. Tom. Era ele. Sempre foi ele.

–Chega, quero voltar para o meu tempo.

Assentindo, Tom girou a ampulheta. Voltaram para o corredor do futuro, Fred caminhava na direção deles, então Tom puxou Bianca e a beijou.