Uma risada grossa ressoou, e eles logo reconheceram o timbre grave de Fenrir Grayback. Fred puxou a noiva e empurrou-a escada abaixo aos trancos, enquanto azarações e feitiços atingiam suas costas. Estavam quase às portas do salão principal quando um bruxo atrás deles ordenou: Incarcerous!, fazendo com que Bianca ficasse presa por cordas pretas muito fortes.

Na tentativa de protegê-la, Fred tropeçou em seus pés e caiu de costas.

—Levem-no para Bellatrix – ordenou Grayback. Dois homens agarraram Fred pelos braços e o carregaram. - Você vem comigo.

*****

Bianca tossiu sangue. Mais uma e outra vez. Em seus pulsos e tornozelos haviam feridas, mordidas de lobisomem. Ela imaginava se tornaria-se uma licantrope, como Remus. Segundo o que Grayback lhe dissera, só tinham o intuito de machucá-la, prepará-la para a tortura de Bellatrix.

O momento em que chegara na antiga sala de Poções nos braços de Grayback estava bem lúcido em sua mente. Ele a recolhera do chão e a carregara até ali, enquanto descia as escadas, lambia seu rosto displicentemente, dizendo-lhe que era bonita e outros impropérios mais.

Bianca sentia nojo de si mesma, e achava que tinha sorte de ele não ter arrancado suas roupas e estuprado-a. Agora, encolhida e chorando, ela esperava que Bellatrix surgisse e matasse-a, destruísse com um único feitiço todos os seus planos. A faculdade, o casamento, o bebê… nada disso aconteceria, ou, se acontecesse, ela não estaria ali para ver.

Um suspiro suave e anasalado encheu a sala. Era Bellatrix, e parecia frustrada. Muito frustrada.

—Você sabia, não sabia? - a mulher indagou, empunhando a varinha.

Bianca lutou contra o impeto de perguntar de que ela falava, quando recebeu um Crucio. Foi como se fosse eletrocutada em potência máxima. Antes que Bianca se recuperasse, Bellatrix repetiu, a raiva estampada na voz.

—Você sabia que o elo se quebraria com a adaga, não é? Crucio!

Bianca chorou de dor. Sim, ela estava plenamente ciente que a adaga destruiria a ligação, e jamais esqueceria a felicidade de seus pais quando lhe presentearam com a faca.

—Sim – ela respondeu com despeito, tossindo. - Eu sabia. Alguém golpeou você – ergueu os olhos para a ferida de faca no ombro da mulher.

—Um amigo seu me acertou, sim. Mas ele não tinha adaga. Me esfaqueou com uma lâmina qualquer, isso me deu tempo para matá-lo. Quer saber quem ele era? O seu queridíssimo Jonay Sanchez. Vou te dar uma chance de unir-se a ele, agora que pode morrer. Fogomaldito!

O feitiço atingiu Bianca diretamente no peito, como uma bola. As chamas consumiram a sala enquanto a mulher aparatou. A garota começou a chorar, segurando o rosto entre as mãos. Ela ainda podia ouvir a voz de Fred dizendo: aguente firme, amor.

Bianca alucinava de tanta dor que o fogo causava, tocando nas feridas, lambendo-as, aprofundando-as. Em meio a sua tortura, ela viu Sirius se aproximar e ajoelhar-se ao lado dela.

—Minha filha, minha garotinha, mulher de coragem… ainda não acabou. Você precisa deixar sua alma ir, entregá-la novamente. Na floresta, ou na casa, ainda não era sua hora, mas agora, você já pode ir.

—Mas papai, a ligação… -ela começou, mas logo Remus a cortou, colocando um dedo em seus lábios.

—Tudo bem querida – disse-lhe, beijando seus cabelos. - Já passou, vá em paz.

Assentindo, Bianca fechou os olhos e sentiu a alma se desgrudar do corpo, flutuar em direção ao infinito. Logo estava de volta ao lugar vazio onde estivera com Severo nos últimos meses, mas ele não estava lá.

—Severo seguiu em frente, se está se perguntando sobre isso- Jonay abraçou a amiga.

—Ele merecia ser feliz – ela refletiu, com um sorriso.

—Você não devia estar aqui – Jonay exclamou, como se acabasse de perceber sua presença. - Eu apunhalei Bellatrix, mas o elo não foi destruído. Me diga que, pelo menos, você quebrou a conexão.

—Não, sinto muito. Eu queria continuar lutando, mas aí meus pais apareceram, me autorizaram a partir.

—Eu vi isso acontecer, mas eram apenas ilusões. Eram um ardil de Bellatrix para te convencer a se entregar para a morte. Pense bem, o fogo queimava você, mas não a eles. Isso faz sentido?

—Não… -disse a menina.

—Seu lugar não é aqui. Você tem de voltar. De novo.

******

—Onde ela se meteu? - perguntou Fred, irritado.

—Calma, cara – disse Harry, puxando a varinha. - Estamos no meio de uma guerra, ela deve estar escondida. Não precisa de tanto ódio.

Você não entende, pensou o ruivo, revirando os olhos. Se Draco estivesse grávido de um bebê seu, ficaria como eu. Harry, por um segundo, percebeu os sentimentos nos olhos do amigo, e disse:

—O desmaio de manhã… a Bianca não estava cansada demais, não é?

—Pois é – disse Fred, esgueirando a cabeça em um corredor.

—Então… parabéns, cara.

—Obrigado – disse o ruivo, ainda tenso.

—Quanto tempo tem?

—Segundo a madame Pomfrey, três meses.

—E você está com medo que eles estejam mortos?

—Ah, pode apostar.

Continuaram seguindo, entrando em salas e revistando-as. Fred torcia para que ela estivesse sempre na próxima, na seguinte, ou na próxima… mas não estava. Encontraram um pedaço da camisa que Bianca usava quando ela e Fred se viram pela última vez. O cheiro de cachorro molhado impregnara o ar, e isso os levava à sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Bianca estava deitada, encolhida entre mesas e cadeiras carbonizadas. Harry foi mais rápido e tomou-a nos braços, mas Fred se precipitou para recebê-la

—Pode deixar comigo – disse o moreno, fitando a garota. - Se receber mais drama hoje, você explode.

O jovem aceitou a frase do amigo e continuaram caminhando, procurando um lugar seguro para escondê-la, pelo menos até que Remus pudesse puxá-la de volta à realidade. Resolveram deixá-la na Sala Precisa.

—Eu volto logo – disse o ruivo, beijando a testa de Bianca.

—Vamos – exigiu Harry. - Ela ainda vai estar aqui, quando voltarmos.

Eles saíram correndo, em direção a qualquer lugar, mas assim que deram as costas para a sala, Bianca conseguiu respirar de novo, e olhando para a direita, encontrou Jonay em sua cadeira de rodas ao lado dela, como se nada anormal tivesse ocorrido.

—Bianca, Bellatrix está à sua espera – o rapaz sorriu, indicando a direção onde devia seguir.

Ela correu, a varinha empunhada, e a adaga guardada nas vestes. Enquanto prosseguia, só pensava em como perfuraria o peito da mulher com a faca, quebrando o elo para sempre. Mas onde essa cobra está se escondendo?, ela se perguntava. Uma risada aguda soou, seguida de um grito.

Bellatrix torturava alguém, que chorava. Bianca não acreditou no que viu. Quem chorava aos pés da Comensal era Teddy.