Fred alternava o olhar entre Nico e Bianca. Rápido, ele retirou o punhal do peito da garota e tentou reanimá-la, mas logo, Nico disse:

—Não adianta. A alma dela já foi recebida no outro mundo, eu posso sentir isso.

—Por quê? - Fred perguntou, os olhos cheios de lágrimas – Ela largou a busca mais importante do mundo para te ajudar!

—Eu sei e por isso a ajudei a ajudar a si mesma – Fred não entendeu. - O pagamento pela alma de Elis nunca foi Marvolo, já que ele nem chega a ser uma pessoa para estar vivo, já Bianca… ela tem se safado da morte há anos.

“Quando ela e Elis sofreram o acidente, ela tinha de ter morrido, mas os paramédicos a mantiveram consciente tempo o suficiente para Sirius intervir. O basilisco devia tê-la matado, mas Remus disse a ela o que fazer. Era para um raio atingir sua cabeça em Barcelona, mas Jonay a ajudou. Ela não devia ter sobrevivido ao tribruxo, mas Severo cuidou dela. Bellatrix devia ter torturado-a até a morte, mas os aurores impediram.

“A vassoura dela foi azarada para que ela caísse ao voar para Little Hangleton, mas os Comensais a fizeram mudar o caminho. O navio devia ter afundado quando ela voltava de Durmstrang, mas Karkaroff segurou o leme outra vez. Ela devia ter morrido quando caiu da vassoura depois do quadribol, mas Pomfrey foi eficiente demais. E por fim, ela deveria ter se suicidado, mas você e suas palavras melosas a impediram.

“Como vê – ele saboreou a expressão perturbada do ruivo -, ela está brincando com a morte, e a Ordem Natural não permite isso. E nem pense que a Horcrux no diário vai salvá-la. Não foi Bianca a matar Daniel, e sim Bellatrix, e ele não 'ficou morto', por assim dizer. Apenas teve a memória reiniciada.

“Antes de ir, quero dizer mais duas coisas. Primeira: o anel não funciona mais, há muito tempo. Como um presságio de que eu estava chegando, acredito que vocês tenham ignorado e ficado onde estavam. Segunda: nunca foi ela, sempre foi você. Apenas para acalmar o seu ciúme – mandou um beijo indiscreto e desapareceu.”

Começou a chover naquele instante Fred conjurou uma cobertura de folhas e colocou-a sobre o corpo de sua recém-falecida namorada, limpando o sangue. Revistou os bolsos dela, na esperança de que ela tivesse pego a Pedra da Ressurreição quando foram ao largo, mas encontrou apenas um pequeno embrulho de papel. Desamassou-o e viu que era um bilhete com uma pedrinha dentro.

Pensei que estivesse atrás disso. Com amor, papai.

Era a Pedra da Ressurreição. Fred girou-a três vezes na palma da mão, lembrando-se de todos os momentos que passara ao lado de Bianca, as brigas, as risadas, os beijos… não funcionou. Também não conseguimos trazer Severo de volta, talvez porque Nico disse que “estava na hora dele”. Bianca já escapou à morte várias vezes. Se nem a Horcrux pode salvá-la, essa pedra estúpida não vai mudar nada, pensou, derrotado.

—Pode deixar pequena – ele murmurou para o túmulo improvisado -, eu vou terminar nossa missão.

Conjurou uma mortalha e escreveu uma epígrafe: Sem você, o que fazer? No que acreditar? Se o que é real só vai existir se você ainda estiver lá? Te amo, te amo. Mais que nunca, eu te amo.

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Ele se perguntava o que diria a Sirius e Remus quando os encontrasse, não fazia ideia de quais palavras usar, mas sabia que quanto mais demorasse, mais perto o corpo ficaria de decompor-se.

Pediu a eles para conversar no largo, já que queria falar com seus sogros, e não com seus chefes. Não faça rodeios, aconselhou-se. Vá direto ao ponto.

—Ela está morta – disse assim que se sentaram. - Eu tentei trazê-la de volta mas não consegui.

—E a Horcrux? - perguntou Sirius, a voz quebrada.

—O diário? - Sirius assentiu. - Nunca houve uma Horcrux lá. A responsável pelo assassinato foi Bellatrix e não Bianca e Daniel voltou à consciência, portanto, não conta.

—Podemos preservá-la -sugeriu Remus. - Você a enterrou?

—Fiz uma mortalha.

—Perfeito. Por favor, pegue… o corpo – havia peso nas palavras do homem. Estava claro que ele não queria chamar a filha de “corpo”apenas. Ainda era muito cedo para que ela deixasse de ser uma pessoa e se tornasse algo inerte – e traga para cá.

Antes que Sirius pudesse perguntar qual era a estratégia de Remus, Fred aparatou e desaparatou, já com Bianca nos braços. O lobisomem fez com que os dois o acompanhassem para um quarto vazio no quarto andar, perto do jardim. Ali, conjurou um caixão e disse a Fred para deixá-la ali. Fez mais alguns feitiços para proteger o caixão.

—Ela vai ficar segura até descobrirmos como acordá-la – disse ele.

Fred assentiu e partiu. Remus e Sirius permaneceram no quarto, abraçados, com os olhos lacrimosos, observando a filha, que parecia dormir e sonhar tranquilamente. Dizem que alguns anjos têm missões curtas, pensaram fitando seus olhos fechados e rosto sereno.

******

Aquilo não se parecia com a ideia que Bianca fazia da morte. Imaginava que chegaria a um tribunal imenso e teria o seu destino eterno definido, mas se encontrava em um lugar vazio e frio, como se tivesse sido condenada a passar a eternidade sozinha.

—Bianca? - alguém chamou. Ela logo reconheceu a voz. Severo. - Como chegou aqui?

—Nico me apunhalou – ela explicou.

O homem torceu o nariz e afagou os cabelos rebeldes dela. - Sinto muito.

—Nem doeu – ela riu -, estou preocupada com Fred. Ele ficou sozinho com meu corpo na floresta, e também tem de contar aos meus pais que eu…

—Posso assegurar que ele lidou com isso melhor do que esperávamos.

—O que ele fez?

—Levou seu corpo para o largo e Remus cuidou de preservá-lo. Graças a isso, você não pode sair deste lugar, porque não está morta, está apenas aguardando que eles te levem de volta ao mundo dos vivos ou que te deixem partir, mas você sabe que eles nunca, jamais desistirão de te ter de volta.

Caminharam mais alguns metros. Severo queria saber mais sobre a morte dela, e ela queria saber sobre a Horcrux.

—Sou eu – disse Severo.

—O quê?

—O Príncipe Mestiço. Aquele que escreveu o grimório. Fui eu.

—Permitiu que Voldemort colocasse a alma em seu livro? - ele assentiu. - A troco de quê?

—De você ficar viva – Bianca se espantou, mas Severo não se alterou. - Ele disse que se eu não permitisse que a Horcrux fosse instalada no livro, roubaria a Pedra da Ressurreição, mataria seu Fiel, queimaria seu diário e te mataria durante o sono. Na época, você acabara de entrar para o quadribol e estava feliz. Eu não queria tirar isso de você,

—Obrigada – ela suspirou. - Eu não sei o que fazer, Sev. Todos contam comigo para impedir Voldemort de dominar o mundo, mas eu não sou capaz de detê-lo. Ele é o maior bruxo das trevas que já existiu.

—Lembra quando explicou a Potter por que chamava Voldemort de Tom?

—Queria mostrar que ele não era tão poderoso quanto dizia – ela refletiu.

—Isso mesmo. Ele um dia foi muito poderoso, antes do ataque aos Potter e aos Sanchez, mas agora que Bianca Lupin-Black anda pela Terra, ele não é mais tão forte. Todos têm uma fraqueza e você é a dele.

Bianca pôs-se a pensar. Alguns acontecimentos nos anos anteriores eram provas de que Voldemort tinha alguma atração por ela, e se esse “amor” fosse verdadeiro, ela estaria salva, mas se ele ameaçara Severo, chantageara-o usando Bianca como isca… parecia que queria apenas usá-la e a mataria se fosse mais conveniente do que mantê-la viva.

Ele sabe que gosto muito mais de Severo do que dele e que Severo se importa comigo. Também conhece a profecia, sabe que devia enfrentá-lo. Me matar quando não pude me defender foi uma boa forma de vencer.

—Podemos ver os vivos daqui? - ela perguntou.

—Só se seguirmos em frente, enquanto estivermos aqui, não.

—Nico me disse que você seguiu em frente. Entrou em contato com alguém depois disso?

—Lily. Deixei um lírio na janela dela na manhã seguinte a minha morte, e dei uma rosa para você.

Bianca bem se lembrava do dia após a morte do professor. Fred tivera que pegá-la no colo para que tomasse banho, e quando ela voltara, havia uma perfeita rosa vermelha de aroma intenso em seu travesseiro. Estava claro que era um presente de Severo.

—Quero mandar algo para Fred. Algo que o anime.

Severo tirou do bolso pena e papel, entregou-os a ela e esperou enquanto ela escrevia uma simples frase.

Estou esperando.