O Clã Traven escrita por M Schinder


Capítulo 5
Derramar IV: Irmãos - Parte III


Notas iniciais do capítulo

Voltei! /dancinha feliz/

É, eu sei que demorei e tals, mas estava sem vontade de escrever e ocupada com namoro e livros que eu tinha para ler :3. Mas cá estou de volta com um capítulo comprido, fresquinho e cheio de mistérios e revelações! Por isso, espero que possam perdoar essa demora :3

Muito bem, não enrolarei mais!
Boa leitura! ooo/



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Hinata estava devastada.

Aquele deveria ser um de seus melhores dias naquela casa, mas acabara por tornar-se o pior. Hinata queria uma vida normal. Era pedir muito? Pelo jeito, sim. Respondeu para si mesma. Olhou para cima e encontrou os olhos castanho-avermelhados de Kurenai cheios de expectativas. Ela esperava por uma resposta. Por que esperar por isso? A decisão já foi feita. Concluiu chateada.

— E então – perguntou por fim. – O que acha, querida?

Encarando Kurenai, Hinata começou a lembrar-se das coisas que aconteceram desde o momento atual. O que eu acho?!

*** Algumas horas antes ***

Naquela manhã, a garota acordara animada. Seria seu primeiro dia de aula, mas o que mais deixava-a feliz era o fato de ser uma escola católica só para garotas. Ficaria longe dos irmãos e se desse muita sorte não os veria nunca! Pulou da cama e correu para seu banheiro, queria ficar pronta o mais rápido possível.

O Sol estava fortíssimo naquela manhã. Brilhava como ha muito não fazia. Hinata colocou uma saia que ia até seus joelhos e uma camisa social. Estudara a vida toda em escola daquele tipo e sabia o que usar. Pegou sua escova e estava pronta para amarrar o cabelo quando ouviu batidas insistentes na porta. Olhou para o relógio, ainda faltava meia hora para Kurenai fosse lhe chamar. Olhou para as janelas e suspirou. Estarei segura enquanto elas estiverem abertas. Concluiu um pouco mais confiante e avançou até a passagem.

Quando abriu a porta, surpreendeu-se por encontrar Kakashi. Não o via há alguns dias. Recebeu um olhar curioso e sentiu o sorriso murchar de seu rosto.

— O que aconteceu, Kakashi?

***De volta ***

Eu deveria ter fingido não ouvir as batidas! Recriminou-se chateada. Desviou o olhar de Kurenai e começou a murmurar para si mesma. Sabia que a mulher não tinha culpa daquilo. O culpado é o estúpido do meu padrinho que nem me conhece! Gemeu em pensamento.

— Querida? – chamou Kurenai voltando a ser encarada pelos olhos perolados. A governanta sempre se lembrava daquela mulher quando Hinata estava estressada ou sendo contrariada. – Você está bem?

— Por que eu vou ter que fazer isso, Kurenai? Não é justo! – reclamou surpreendendo-a. – Vocês não queriam que eu tivesse uma vida normal?

— Minha querida, acalma-se– pediu bondosa. – Eu preferia que você continuasse de manhã, mas o senhor Traven achou melhor mantê-la perto dos garotos. Eles ficaram muito preocupados nessa semana que passou presa dentro de seu quarto.

Hinata abaixou a cabeça e escondeu o rosto entre as mãos. Respirou o mais fundo que podia e prendeu o gritou que queria escapar. Ao lembrar-se do outro motivo de ter que sofrer aquilo, a vontade de gritar surgiu mais uma vez.

***Na semana em que Hinata ficara trancada em seu quarto***

Depois de passar horas da madrugada lendo o diário, no dia que o encontrara, Hinata deitou-se, naquela quase manhã, com a cabeça cheia e não conseguiu descansar nenhum momento. Essa fora sua rotina durante três dias. Ler e passar noites em claro tentando desvendar aquele mistério. Saia apenas para comer. O que, depois que percebera o que estava fazendo, achou uma ótima coisa, já que não encontrava com nenhum dos irmãos e sua vida estava enganosamente em paz.

Entretanto, ela não percebera que todos os integrantes da casa sentiram sua falta. Principalmente os empregados, esses ficaram super preocupados com sua reclusão repentina. Mas não foram os empregados que ligaram, em uma das noites, para o senhor Traven. O culpado disso fora Itachi, que achara uma boa ideia transformar a vida daquela garota atrevida em um inferno.

Claro que ele informara a todos os irmãos e claro que quase todos concordaram. Apenas os gêmeos foram contra e, mesmo sendo os mais controlados, foram ignorados. Minato ficara encantado com a aparente preocupação de seus garotos com Hinata e aceitou imediatamente a mudança de horário.

***

A garota queria matar todos aqueles garotos. Quando Kurenai contara-lhe aquilo, ela ficou tão furiosa que quase arrebentou todos os vidros, que impediam a claridade de entrar, da casa. Queria que eles sofressem, pelo menos, o mínimo do que sofreria, mas a governanta impedira-a dizendo que seu padrinho não ficaria nem um pouco satisfeito com aquilo.

— E então?

— Por que continua me perguntando? Sabe que não quero ficar perto deles! Mas eu não tenho escolha, tenho? – rebateu finalmente perdendo a cabeça.

— Minha querida...

— Não. Eu não estou feliz – anunciou surpreendendo a governanta. Kurenai nunca esperaria que a garota se rebelasse daquela maneira. – Farei isso, mas, por favor, mantenha esses garotos longe de mim!

Séria, Hinata levantou-se e saiu da sala, deixando uma governanta atônita e sem saber o que fazer. Kakashi, que observava a tudo da cozinha, aproximou-se da colega de trabalho.

— Acho que agora é a melhor hora para você ligara para o senhor Traven.

***

Todos estavam reunidos na sala de jantar. Era hora do almoço, mas faltava um integrante da família. Kurenai suspirou ao ver que Hinata ainda recusava-se a descer e ficar perto dos garotos. Nenhum deles parecia incomodado com aquilo, bem, quase nenhum. Sasori ficava observando a porta, esperando que a garota passasse.

Gaara já estava começando a ficar irritado com o irmão gêmeo. Por mais que ele negasse, sabia que Sasori estava mais que apenas curioso sobre aquela garota humana. Ele não pode quebrar as regras... Pensou encarando o irmão. Normalmente não se meteria na vida alheia, mas aquilo podia acabar muito mal para toda sua família. Estava decidido a ir falar com o irmão, mas Nagato ergueu seu copo.

— Pelo menos um pouco de paz – comentou tirando risadinhas dos outros. – Mas precisamos decidir algumas coisas...

— Ainda não conseguiu descobrir nada sobre ela? – questionou Itachi sério.

— Nada. Parece que ela não existe em nosso mundo – respondeu suspirando.

— Talvez você só não esteja procurando certo. Hahahaha – riu Naruto recebendo um olhar irritado do irmão mais velho. – Por que não perguntar para ela?

— Para de ser idiota, Naruto – rosnou Nagato fazendo todos se calarem. – Já mandamos o Sasuke lá e não deu muito certo, lembra?

O mais jovem escorregou em sua cadeira e suspirou. Não conseguia mais olhar para nenhum de seus irmãos ou para a garota sem lembrar-se de seu enorme deslize. O telefone raro que recebera de seu pai ainda ecoava em sua mente. Controle-se, ele dissera. Você tem que representar sua família, ele afirmara.

— Mas ela não confiava nele – retrucou o loiro olhando para cima como se estivesse falando com outra pessoa. – Ela só vai contar mais coisas para alguém em quem confie e, com certeza, ela não confia em nenhum de nós.

O silêncio caiu sobre os irmãos. Os gêmeos encaravam Naruto com surpresa disfarçada. Os outros não conseguiram disfarçar. Todos sabiam que Naruto, o segundo mais novo deles, era maluco. Falava sozinho, possuía um amigo imaginário chamado Kurama e nunca parecia ligar para nada a não ser seu próprio mundinho. Entretanto, em raras ocasiões, ele parecia fazer sentido e dizia coisas que nenhum dos outros haviam pensado. Vai ver ele não é tão maluco assim. Pensou Sasuke pasmo.

— E como você acha que devemos resolver, então? – questionou Itachi ainda com as sobrancelhas arqueadas.

Rindo, Naruto rolou de um lado para o outro na cadeira: - Como é que eu vou saber?

***

Cumprindo sua promessa. Hinata apenas abria a porta do quarto para Kakashi e Kurenai quando vinham trazer-lhe comida. Não tinha vontade de morrer de fome, de qualquer maneira. Depois de passar quase duas horas trancada e ver que cada vez mais o horário de ir para sua nova escola aproximava-se, o tédio e a angústia começavam a dominá-la. Irritada, levantou-se e pegou a única coisa que tinha para entreter-se: o diário de T.

Abriu na primeira página. A única coisa que sempre estava escrita em cada uma das páginas era a data em que foram registradas. A primeira era de 21 de dezembro de 19XX. A letra sofisticada ainda chamava minha atenção como fizera da primeira vez. E naquela primeiríssima página T contava como conhecera seu grande amor, H. Para o grande azar de Hinata, T não parecia gostar de escrever nomes. Facilitaria muito a minha vida. Pensou focando-se na página.

“21 de dezembro de 19XX.

O nascer do Sol estava lindo, como sempre. Foi o que me disseram naquela manhã. Era o que me diziam em todas as manhãs. Mas eu não posso vê-lo, então, para mim, é insignificante.

Como sempre, meu dia começava quando o Sol estava completamente posto. Já estava no final de mais um ano de faculdade. Mais um maldito ano. A eternidade podia deixar qualquer um louco e nos era aconselhado a sempre mantermos nossas mentes sãs e ativas. E era isto que fui fazer hoje, mas não foi o que aconteceu...

Muitos poetas, desde que eu nasci, tentam descrever sentimentos que a mente humana nunca chegará a compreender. Amor era o principal tema; Loucura, o segundo. E foi justamente o segundo que quase me dominou quando eu o vi. Alto. Másculo. Educado. Humano...

Todos sabem que raças não devem ser misturadas. E não estou referindo-me a negros, brancos, amarelos, mestiços ou a tudo que os humanos, em toda a sua história, insistiram em chamar de raça. Esses todos são da mesma raça, humanos; diferente de mim, um vampiro.

Não me entenda mal, eu não penso do mesmo jeito que aqueles velhos do Conselho, não tenho nada contra humanos. O problema são os problemas que o relacionamento, qualquer que seja, pode trazer. Traições, subornos, inquisição (sim, não eram bruxas, eram vampiros).

Então, quando meus instintos reagiram daquela maneira, eu tive vontade de sair correndo. Eu nunca deveria ter feito o que fiz, mas eu fiz. Eu fui e falei com ele.”

Era curto, como qualquer diário. E, por algum motivo que não entendia, Hinata sentiu que poderia, algum dia, compreender pelo que T estava passando. E, por algum outro motivo maluco e incompreensível, ela queria conhecer T e conversar com ela. Diferente dos outros, ela parecia ser alguém normal e não arrogante, como os irmãos, e misteriosa, como seu padrinho. Pensativa, virou a página.

“13 de janeiro de 19XX.

Depois de quase quinhentos anos, pela primeira vez demorei a dar notícias, não é? Não tive como evitar. Você deve ser o meu quadragésimo diário, desde que comecei com isso, e foi a primeiro a ver-me demorar. Acho que deve considerar isso uma honra. De qualquer maneira...

Eu fiz besteira, sabe? Eu me aproximei dele. Conversei com ele. Sabe qual é o pior de tudo? Eu gostei, mesmo sabendo que não é certo. Esses últimos dias em que sumi? Estava com ele. Tornamo-nos bons amigos. Sua pose séria e jeito educado não passam de fachada para uma personalidade gentil e cuidadosa.

Estou indo por um caminho sinuoso. Aproximei-me de um humano. Descumprir a lei é perigoso, ainda mais para alguém como eu, de uma das linhagens mais antigas que já existiram. Mas, depois de quinhentos anos de bom comportamento, pergunto-me se não seria possível, e perdoável, que eu não as seguisse? Não sei.

O que eu sei: ele é o único amigo que já tive. Em toda essa longa eternidade que me foi dada sem minha permissão. Não pensou em afastar-me, mas também nunca faria nada que pudesse sujar a reputação de minha família. Entretanto, novamente pergunto-me: não vale a pena?

O coração da garota estava na garganta e batia como nunca tinha batido antes. Por que estava tão ansiosa? T parecia estar mais perdido do seria normal. Por quê? Era a pergunta que não desaparecia de sua mente. Entendia que todas essas situações poderiam ser horríveis, mas parecia haver algo ainda mais obscuro e tenso. Algo que ela sabia que não compreenderia a não ser que conhecesse T. Estava pronta para começar o terceiro dia do quadragésimo diário quando ouviu batidas breves na porta.

Suspirando, levantou-se e escondeu o diário embaixo de seu travesseiro, para depois arrastar-se até a passagem e destrancá-la. Kakashi estava parado com o quepe em mãos e sorria um pouco pesaroso. Respirando o mais fundo que conseguia, em busca de paz e tranquilidade, Hinata deu-lhe as costas e foi buscar sua mochila.

— Acho que vou ter que ir de qualquer maneira...

***

— Acalme-se, Kurenai – pediu exausto.

Desde que trouxera sua protegida para sua casa, seu telefone particular não parava de tocar. Minato não esperava que a chegada de Hinata inflamasse tanto assim as coisas, mas também não esperava cair na falsa preocupação de seus filhos. Passou as mãos pelos cabelos loiros de forma brusca e olhou para o relógio. Quase nove horas...

— Chefe...

— Kurenai, escute – falou interrompendo-a. – Agora já está feito. Não posso voltar atrás com ela no meio do começo do ano letivo. Hinata terá que se adaptar e não fomos nós que decidimos que ela faria bem para os garotos?

— Na verdade, senhor, foi você quem decidiu que ela faria bem para os garotos – retrucou amarga. – E se eles tentarem fazer alguma coisa?

— Eles não vão – garantiu cansado. – Ninguém quer ficar de castigo como o Sasuke ficou – explicou. Mesmo sabendo que ele tinha razão, ela deixou escapar um suspiro preocupado. – Kurenai, escute-me. Pelo que me foi avisado... Não. Pelo que a mãe de Hinata contou-me, ela será muito importante para algum de meus meninos. E, sinceramente, eu quero que algum deles tenha uma vida um pouco normal.

Ao lembrar-se de sua conversa com aquela mulher, sentiu o coração apertar. Nunca gostara muito dela, ainda mais quando ela abandonou seu melhor amigo e filha para sobreviverem da própria sorte e correndo o risco de serem encontrados pelo Conselho. Mas não podia negar que ela sabia das coisas e que não mentira. Sabia que Hinata faria a diferença em algo, mas ainda não conseguia prever no quê.

— Apenas confie em mim, tudo bem? Tudo vai dar certo.

***

Nada estava dando certo.

Desde que saíra do carro, Hinata fazia o máximo que podia para continuar longe dos irmãos. Passara quase quinze minutos com eles, confinada no mesmo espaço, e só pensava em como poderia saltar pela janela do automóvel. Sasori não parava de falar, Naruto ria sozinho, Sasuke não olhava para sua direção (o que era, na verdade, um alívio) e Gaara encarava-a de maneira irritada.

A única sorte que acreditava estar tendo, depois que aquela loucura toda começara, era o fato de estar em uma sala diferente de todos os irmãos. O que não foi uma grande surpresa, já que o único que tinha a mesma idade que si era Naruto. Manteve-se dentro de sua sala todo o horário da aula, mas foi obrigada a sair quando o sinal do intervalo tocou.

Em sua fuga desesperada, caminhou pelos corredores ansiosa. A escola era enorme e estava cheia de alunos. Para uma escola noturna, estava realmente muito cheia. Todos que passavam por seu lado olhavam em sua direção com diversos tipos de emoções. Diversão, curiosidade, desprezo, ódio e coisas que não conseguia identificar. Cansada de ser o centro das atenções, caminhou para os jardins, lugar em que os alunos lanchavam, e jogou-se em um dos banquinhos.

Queria voltar para o orfanato. Queria sua vida de nada de volta. Até mesmo virar freira não parecia uma ideia tão ruim quanto permanecer naquela casa; com aqueles garotos. Estava tão afundada em pensamentos que quase pulou, como um gato assustado, para fora do banco ao ouvir aquela risada maníaca. Hesitante, virou-se e encontrou Naruto sentado e rindo. Rindo e falando com o nada.

Não, ela sabia que não queria meter-se com eles, mas aquela cena deixou-a preocupada. Quando estava no orfanato sempre ajudava as irmãs com crianças que possuíam problemas como aquele e sabia, por experiência própria, que era necessário que um trauma muito grande atingisse alguém para que ela ficasse assim... Ou ele pode ter nascido dessa maneira. Pensou indo até onde ele estava.

Naruto parou de falar e olhou para cima, ainda rindo. Os olhos perolados o encaravam com curiosidade e preocupação e aquilo quase conseguiu deixá-lo surpreso. Quase. Ele apontou para seu lado e, quando ela sentou, caiu na gargalhada. O olhar assustado e surpreso dela ainda fez com que risse mais.

— Você viu, Kurama? – perguntou olhando para cima. – Ela não tem tanto medo assim!

— Com quem está falando? – questionou sentindo-se um pouco estranha. – Quem é Kurama?

— É meu amigo – respondeu rindo. – A única pessoa que me aguenta. Já que sou doido e psicótico.

Por aquilo ela não esperava. Nem um doido e psicótico – como ele mesmo dissera – admitiria que era isso. Nunca. Encarando-o sem saber o que dizer, Hinata abriu e fechou a boca algumas vezes. Percebendo que ele voltara a falar sozinho e murmurava coisas relacionadas aos irmãos, resolveu que mesmo podendo prestar atenção era melhor sair.

— Com licença...

— Já vai? – questionou fazendo com que ela parasse no meio do movimento. – Eu comecei a falar porque pensei que estivesse curiosa a respeito. Não está?

— O quê?

— Pensei que quisesse saber... – repetiu rindo. Sem saber o que era aquilo, Hinata percebeu que ele não era tão louco assim. – Não quer saber mais coisas sobre eles?

— Você não teria motivos para fazer isso, a não ser que quisesse alguma coisa – rebateu séria. Decidiu que, se teria que lidar com ele, lidaria como se ele fosse completamente normal. – Não faz sentido você entregar qualquer coisa sobre eles. São seus irmãos.

— Eu não gosto deles – respondeu gargalhando. Riu tanto que quase rolou pela grama. – E gosto de ver outras pessoas sofrendo. – Explicou ainda rindo. – Sabe, quanto mais você souber sobre eles e menos eles, sobre você... Bem, as coisas serão mais interessantes.

Ele não era louco. Ela conseguira ter certeza daquilo naquele momento. Mesmo rindo, rolando pela grama e falando sozinho, ele sabia muito bem o que estava fazendo e o que queria. Um arrepio desceu por sua espinha e ela terminou de colocar-se em pé.

— Desculpe, mas não quero sua ajuda! – falou virando-se e apressando-se para longe dali.

— Ok! Estarei esperando para quando quiser! – gritou acenando feliz.

***

Ficou, durante todo o que faltava do horário de aulas, pensando no que o loiro lhe oferecera. Era tentador descobrir coisas sobre os irmãos que pudesse mantê-los afastados de si, mas ao mesmo tempo, era assustador até mesmo pensar em fazer acordos com um deles. Não vale a pena. Pensava ansiosa.

O sinal de saída bateu. Sem realmente querer olhar para nenhum deles, ficou enrolando o máximo que pode. Sabia que não podia passar a noite na escola, mas, pelo menos, diminuiria o tempo que tinha que passar ao lado deles. Depois de quase uma hora, levantou-se e caminhou até os portões da escola. Tudo já estava praticamente vazio, mas alguém lhe esperava encostado no carro.

Kakashi, que estava ao lado do garoto, acenou alegremente. Parecia aliviado por ela estar viva. Ao seu lado, estava o único dos irmãos que nunca lhe direcionara nenhuma palavra, Gaara. Ela a encarava com algo perto do ódio e não aparentava estar nem um pouco feliz. Irritada, por nada, aparentemente, ela parou em frente aos dois.

— Boa noite, senhorita Hinata – cumprimentou Kakashi.

— Boa noite. Onde estão os outros? – perguntou de expressão fechada.

— Como tive que esperar pela senhorita, eles foram à frente – explicou abrindo a porta. – Gaara ficou para me fazer companhia. Vamos?

Concordando, ela entrou no carro. Gaara, ainda calado, seguiu-a para dentro e Kakashi fechou a porta e apressou-se até seu lugar no motorista. Enquanto ele dava a volta, Gaara fechou a janelinha que permitia que ele ouvisse o que acontecia atrás e encarou a garota de maneira hostil. Estava pronto para mandar que ela se mantivesse longe de seu irmão quando ela encarou-o de volta.

— Escute aqui – começou fazendo com que ele calasse a boca imediatamente. – Eu não queria estar aqui. Só queria conversar com o senhor Minato para saber mais sobre meu pai. Eu não pretendia me meter nas coisas de vocês e estou cansada de todas as ameaças desnecessárias! Pelo amor de Deus, eu não sei nada sobre vocês e não queria atrapalhar a vida de playboys mimados que levam, então, por favor, fique longe de mim.

Ela terminou de falar ofegante. Parecia estar acuada e com muita raiva. Gaara estava com os olhos levemente arregalados por dois motivos: 1) Não esperava que ela fosse descontar toda sua irritação em si e 2) Não esperava acreditar em cada uma das palavras que dissera.

— Sinto muito – pediu surpreendendo-a. – Eu não fazia ideia dessas coisas. Normalmente as mulheres que se aproximam de nossa família o fazem por dinheiro e poder. É isso que eu e meus irmãos pensávamos, mas te ouvindo falar percebi que estávamos errados e... O que foi? – perguntou curioso.

Hinata parecia estar vendo um bicho completamente diferente de todos os que já encontrara em sua vida. Gaara a pegara em um momento, raro, de raiva, ouvira tudo que tinha a dizer e conseguira fazer com que sentisse culpa em dois segundos. Com vergonha, abaixou a cabeça.

— Nada. É que não fui muito justa e descontei minha raiva sendo que nem sabia o que, e se, iria dizer – explicou balançando a cabeça levemente. – Desculpe...

Ele riu baixo, o que fez com que ela levanta-se a cabeça para olhá-lo, incrédula. Gaara parecia outra pessoa quando estava rindo. Não que Hinata achasse que ele fosse feio. Como todos seus irmãos, ele era estranho; assustador; misterioso. E extremamente belo. Mas vivia com a expressão séria e distante.

— Do que está rindo? – questionou chocada.

— Nada de mais. Apenas achei engraçadas suas desculpas – explicou com um dar de ombros. – Pessoas que estão certas não pedem desculpas.

Com as bochechas ainda mais vermelhas, Hinata cruzou os braços confusa e virou o rosto para a janela. Odiou o fato de ter achado aquele sorriso tão lindo. Igual o do irmão. Concluiu irritada ao lembrar-se de Sasori.

A viagem passou rápida e silenciosamente. Gaara recostou sua cabeça no descanso e fechou os olhos, cochilando rapidamente. Ela ficou sozinha, ou o máximo que poderia estar com alguém que estava dormindo a seu lado, e ficou imaginando se deveria ficar preocupada com as coisas que estava descobrindo. Estava tão imersa em pensamentos que só reparou que haviam chego a casa quando Gaara tocou levemente em seu braço. Com um salto, afastou-se assustada.

— O que houve?

— Chegamos em casa – avisou com sua típica expressão. Ela estava com a mão na maçaneta quando o sentiu segurar a barra de sua camisa. Virou-se com suspeita. – Se precisar de qualquer coisa, pode chamar. Não sou como meus irmãos.

Sem dizer nada, ela saiu do carro e o deixou ali. Gaara não parecia querer seu mal, do mesmo modo que Sasori parecia não querer a mesma coisa. Eram tão diferentes e, mesmo assim, passavam a mesma impressão quando falavam. Não estava confortável ou segura o suficiente para confiar em nenhum dos irmãos. Sorriu para Kakashi, que lhe esperava ao lado da porta e correu para dentro. Queria trancar-se em seu quarto e ficar lá até a manhã seguinte.

***

Jantou trancada no quarto. Sua noite fora cansativa o suficiente para ter uma desculpa convincente que fizesse com que Kurenai não lhe forçasse a ficar com os garotos. Ninguém pediu explicações. Ninguém se importou. Estava tão feliz em poder ficar sozinha, como há muito não fazia, que quase devorou toda a comida que a governanta deixara-lhe mais cedo e correu para continuar sua leitura. Precisa encontrar qualquer resposta para suas várias perguntas. Pelo menos alguma luz em toda essa bagunça.

O diário estava em suas mãos, a página amarelada brilhava ao refletir a luz da lâmpada quando barulhos de passos ficaram audíveis para si. Abaixando o caderno, Hinata encarou a porta e ficou imaginando o que poderia estar acontecendo. Parecia haver alguma comoção entre os irmãos. Sentiu a curiosidade subir por seu pescoço até sua garganta, mas impediu-se de levantar. Aquilo não era problema seu. O barulho terminou rápido e, por um momento, acreditou poder voltar sua atenção para a leitura. Entretanto, mais passos seguiram, agora leves e silenciosos. Quase arrastados. Os irmãos não andam assim. Pensou encarando a passagem fechada com ainda mais desconfiança.

Aquelas outras pessoas caminhavam com hesitação e medo, e os irmãos nunca agiriam daquela maneira. Olhou novamente para a página do diário. Queria lê-la. Queria tanto descobrir quem era T e qual era todo o segredo em volta daquele caderninho. Pelo menos aquela respostava sabia que encontraria. Não havia nada nas últimas páginas, mas quem escrevia podia ter deixado escapar algo. Os passos começavam a ficar distantes e baixos. Ela podia ficar ali, tranquila... Decidida, esticou a mão de volta para o diário.

***

Como sempre, a sala estava escura. O cheiro de desinfetante contaminava o ar. Por ser sempre limpo, o lugar possuía uma aura impessoal e desconfortável. Cada um assumiu seu assento de costume. Graças a razões desconhecidas para todos eles, o jantar daquela semana fora adiantado.

Kurenai, que ajeitava cada uma das garotas, olhou para os lados e encarou Gaara com as sobrancelhas arqueadas. Nenhum deles realmente se importava, mas ninguém sabia onde Sasori estava. O ruivo deu com os ombros e voltou sua atenção para a garota que estava parada a sua frente. Eles sempre esperavam que a governanta saísse para que começassem, mas ela não parecia que faria aquilo tão cedo. Sentindo a língua coçar e os dentes arranharem sua jovem boca, Sasuke olhou para a mulher sério.

— Kurenai, por que ainda está aqui?

Nenhum dos outros, com a exceção, talvez, de Itachi, teria coragem de fazer aquela pergunta para ela, mas todos podiam entender. Para os irmãos, e até mesmo para Kurenai, Sasuke ainda era uma criança que não tinha controle sobre os próprios instintos e tendia a deixar-se levar por ele. Percebendo que não adiantava enrolar mais, porque Sasori não apareceria, virou-se para a porta e colocou a mão na maçaneta.

— Tem uma garota a mais, não sejam cruéis – pediu percebendo que não poderia evitar uma briga entre eles para quem comeria mais. – Comportem-se e não a façam sofrer.

E saiu. As garotas pareciam relaxadas, mas o cheiro de medo preenchia o quarto e chegava até as narinas deles. Ninguém, nunca, estava preparada para a morte certa, mas eles não ligavam, afinal, elas quem escolheram estar ali e passar por aquilo. A cerimônia do sangue era um dia sagrado que possuía regras que deveriam ser seguidas, mas para os irmãos não eram mais do que lixo.

Com pressa, Naruto pulou sobre sua vítima. Ela gritou apavorada e tentou afastar-se, mas o aperto de suas mãos era forte demais para que pudesse fugir. Aquilo podia ser fácil e rápido, mas Naruto não queria que fosse fácil e rápido; por ter escolhido aquilo, aquela garota precisava sofrer. Sofrer muito.

Prendendo os braços dela nas costas, ele forçou a cabeça dela para trás. Por preferência, ele preferia ir direto para a Aorta. Causava muita dor e a quantidade de sangue que saía era muito maior que em qualquer outro lugar. Seus caninos, que estavam longos e afiados, cravaram-se exatamente em cima da artéria. A mulher gritou mais uma vez e, aos poucos, sua voz foi morrendo. As outras se afastaram assustadas e encararam os outros vampiros com temor.

Irritado e apressado, Sasuke não esperou que Naruto terminasse, como as tradições diziam, e esticou sua mão na direção da garota que lhe fora entregue. A moça parecia prestes a chorar, mas não tentou afastar-se. Alguma coisa impedia-lhe. Alguma coisa em seus olhos.

Um a um, depois do mais novo, os irmãos aproximaram-se de suas presas. Sem qualquer consideração, eles seguravam-nas como queriam e mordiam onde lhes era melhor. Uma a uma, as garotas desfaleciam-se nas posições em que foram colocadas. A única que sobrara levantou-se, apavorada e correu para a porta, que, para sua surpresa, estava aberta. Sem hesitar, abriu a porta e saiu correndo pelos corredores antes que qualquer um deles pudesse fazer algo.

***

Kurenai dirigiu-se para a cozinha. Pretendia ficar lá até que os garotos acabassem e pudesse mandar os empregados limparem o lugar ou até que Sasori aparecesse com um bom motivo para ter faltado ao jantar pela segunda vez naquele mês.

Encontrou a cozinheira, Anastásia, preparando o jantar para Hinata e todos os outros empregados mortais da casa. Cumprimentou-a e parou ao lado de uma das cadeiras. Em cima da mesa, que ficava na cozinha e onde os subordinados faziam suas refeições, estavam depositados uma xícara de chá e um quepe de motorista. Olhou para os lados esperam que Kakashi surgisse a qualquer momento, mas nada. Dando de ombros, afastou outra cadeira e agradeceu Anastásia que lhe servira uma xícara nova de chá.

Estava confortavelmente bebericando sua bebida quando ouviu a porta principal abrir e fechar-se com um estrondo. Confusa, apressou-se para o salão de entrada e parou no meio do caminho.

Kakashi encarava-a como se tivesse acabado de avistar um fantasma e Sasori, que estava alguns passos atrás dos dois homens, era arrastado pela gola da camisa e não parecia nem um pouco com o adolescente indolente e folgado que normalmente era. E a governanta podia entender o porquê daquilo.

Minato Traven era um homem muito assustador quando estava irritado.

***

16 de Maio de 19XX.

Olá, novamente. Estou tentando normalizar minhas vindas aqui, mas ainda está difícil. Acho que a partir de hoje eu consigo. Por quê? Porque minha mãe, pela primeira vez em minha existência, colocou-me de castigo. Tenho mais de seiscentos anos e ainda preciso passar por isso... É realmente algo incompreensível, para mim.

Enfim, acho melhor eu contar, de uma vez, o que aconteceu. Era para ser uma noite na faculdade normal, saí depois que o Sol se pôs e fui direto para a aula. Todos estavam em suas cadeiras e permaneciam como sempre. Quando comecei a recolher minhas coisas para ir embora, ele apareceu com os olhos inchados e aparentando estar muito abalado. Como pode ter percebido, cursamos coisas diferentes, mas isso não importa.

Ele perguntou se eu tinha algum tempo livre para ir ao bar e conversar. Eu sempre tive horário para chegar a casa, graças a minha mãe neurótica – ela sempre acreditou que se eu passasse muito tempo no mundo humano acabaria cedendo a suas tentações e revelaria nosso segredo. Por isso, hesitei. Entretanto, seu desespero e sua tristeza entravam por minhas narinas e envolviam todo meu cérebro; o que acabou fazendo-me aceitar seu convite.

Ficamos quase quatro horas no bar. Comidas e bebidas humanas não faziam nenhuma diferença para meu estômago, forcei-me a beber alguns goles discretos de água e a ouvir o que meu amigo, já bêbado, dizia sobre sua ex-namorada. Admito para você que foi doloroso, ouvi-lo falar sobre outra, mas não consegui deixá-lo sozinho e continuei ali, sofrendo e dando meu ombro para que ele pudesse desabafar e recompor-se.

Era uma sexta-feira. Quando cheguei em casa, umas duas horas antes do amanhecer, minha mãe esperava-me no corredor de entrada. Sua expressão era a pior que eu já vira em minha vida. Decepção, raiva, surpresa e outras coisas nada agradáveis passavam por sua face direcionadas a mim. Nenhuma explicação boa suficiente surgiu em minha mente e fui obrigada escutar, a tudo que ela dizia, calado.

Agora, estou aqui. Trancado em casa há dois dias. Não sei o que aconteceu com ele, nem o que pode acontecer se minha mãe descobrir quem ele é. Tenho que confessar, se alguém descobrir sobre ele estou perdido.

Hinata abaixou o caderninho e suspirou. Pôs-se a imaginar as coisas que T havia vivido e o quão forte poderia ser o sentimento que ela nutria por aquele rapaz. O silêncio reinava pela casa e fazia com que a narração escrita no diário ficasse ainda mais intensa e misteriosa. Ansiosa para ler mais, ela levantou-o de seu estômago e virou a página. A data que estava lá era de dezoito de Maio, a recepção calorosa a página velha era a mesma, mas ela tinha certeza de que outro relato cheio de sentimentos fora contado nas linhas seguintes.

Estava pronta para mergulhar em mais algumas horas de leitura quando ouviu o choro de uma mulher e gritos desesperados. Por um segundo, tudo voltou a ficar em silêncio, mas aquilo durou pouco, já que a maçaneta de sua porta começou a ser forçada e batidas fortes eram acompanhadas por mais gritos. Assustada, Hinata levantou-se e correu para seu armário e escondeu-o entre as pilhas de roupas novas e não usadas.

Sem saber o que fazer, ela recostou-se contra o móvel e ficou esperando que a gritaria acabasse. Mais outro momento de silêncio, daquela vez mais extenso e preocupante. Com passos rápidos, aproximou-se da porta e girou a chave. Abruptamente, a porta abriu-se em sua direção e lançou-a longe. Sua cabeça girava graças a pancada que recebera e não conseguiu enxergar nada por alguns segundos; enquanto isso pode ouvir sua porta bater e o trinco voltar a fechar-se.

Olhou para cima, ainda zonza, e deparou-se com uma garota de curtos cabelos verdes e olhos extremamente assustados. Sua primeira reação foi questionar o que ela estava fazendo ali, mas sua boca foi tampada por uma mão tremula. Pensou em debater-se para longe, entretanto, as lágrimas que começaram a escorrer pelos olhos dela, assim que as vozes dos irmãos passaram por aquele corredor, foram o suficiente para que continuasse calada.

— Por favor, me ajude – implorou a garota que, pela voz, não devia ter mais que quinze anos.

***

Sasori olhou para o pai e afastou-se apressado e preocupado. Quando fora encontrado no jardim evitando o horário do jantar por um motivo que nem sabia qual era e estava tentando entender, o pai arrastara-o para dentro prometendo que conversariam.

Kurenai correu para perto do chefe e pegou seu casaco, que estava pendurado no braço direito, e o chapéu que ele lhe entregara. Minato olhou em volta. Sua mansão estava do mesmo jeito que há deixara alguns meses antes, o que provava a competência de sua governanta e da equipe que cuidava da casa.

— Muito bem, onde estão os garotos? E Hinata? – perguntou fazendo com que sua voz reverbera-se pelo salão. – Quero vê-los em dez minutos. Sasori, vamos até a sala de jantar, ainda não terminamos de...

Sua frase foi interrompida por passos apressados vindos dos dois lados da casa. Itachi irrompeu pela porta da cozinha, caminho que Kurenai fizera minutos antes, e Nagato surgiu do outro lado da sala, pela porta dos quartos do primeiro andar. Gaara apareceu seguido por Sasuke, no topo da escadaria. Os quatro estavam ofegantes e assim que colocaram os olhos no homem loiro, que possuía uma de suas mãos no ombro do outro ruivo e uma sobrancelha arqueada, pararam no mesmo lugar em que estavam. O fantasma parecia ter vindo para assombrar a todos.

— Papai? – esganiçou Sasuke, o único que tivera coragem de falar algo.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? E da nova capa, gostaram?
Espero por seus reviews e opiniões! :33



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