O Clã Traven escrita por M Schinder


Capítulo 4
Derramar III: Irmãos - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Depois de algum tempo e de dar uma adiantada no próximo, cá está mais um capítulo!
Espero que gostem e aproveitem! :3



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Era uma segunda-feira. Hinata já estava na casa há quase uma semana e ainda evitava todos seus irmãos. Graças aos hábitos noturnos deles, ela conseguia ficar tranquila e sozinha na maior parte do tempo. Kurenai tentara explicar-lhe o máximo que podia sobre a família Traven, mas Hinata sabia que ela tinha evitado algumas partes mais profundas da história e isso fizera a adolescente desconfiar ainda mais de tudo aquilo. Depois do incidente, Sasuke vinha lhe evitando e Sasori parecia ter esquecido que a ajudara e aproveitava toda oportunidade que tinha, e quando a encontrava, para provocá-la. O único em que confiava, sem ter medo, era Kakashi. O motorista vinha sendo o melhor amigo, que poderia ser para uma garota de dezesseis anos, e fazia-lhe companhia sempre que podia.

Hinata abriu a janela de seu quarto e deixou-se cair em sua cama. O Sol da manhã, mesmo que incomodasse um pouco seus olhos perolados, era extremamente agradável à sua pele e deixava-a com uma sensação de tranquilidade ótima. Ela sabia que eles nunca ousariam pisar em seu quarto com a janela aberta daquele jeito. Estava quase cochilando, uma forma de aproveitar seus últimos dias de férias, quando ouviu batidas rápidas e firmes em sua porta. Receosa, levantou-se e encaminhou-se até o portal. Ao segurar a maçaneta, teve certeza que era um dos irmãos que estava ali e, com cuidado, abriu apenas uma fresta da porta. Podia não gostar deles, mas não desejava machucar ninguém.

Deparou-se com Itachi, o segundo mais velho, parado em frente à porta com a postura extremamente ereta e a expressão séria. Ele encarava-a com as sobrancelhas arqueadas e um brilho de curiosidade passou por seu olhar.

– Posso ajudá-lo? – questionou pela fresta. Notando que ele estava distraído, tentou mais uma vez: - Itachi?

– Claro, senhorita Hinata, mas eu poderia entrar? Preciso discutir algumas coisas sérias com você – respondeu direcionando-lhe um sorriso gentil.

O sorriso não poderia estar mais distante de passar qualquer tipo de sentimento reconfortante que ele pretendia e Hinata percebeu aquilo rapidamente. Hesitante, ela pediu um minuto e fechou a porta. Seu cérebro gritava para que se mantivesse trancada no quarto e escondida na luz do Sol, mas a curiosidade levou a melhor e ela correu para fechar as janelas.

Os panos pretos, que pedira para Kakashi colocar, por algum motivo que nem ela mesma entendia, vedaram e impediram que a luz entrasse e permitiram que ela voltasse mais tranquila para a porta. Dessa vez, abriu-a por inteiro e encarou o Traven. Itachi, como todos seus irmãos, era alto e, diferente de quase todos, possuía os cabelos muito negros.

– Pode entrar, por favor.

Com passadas sérias e firmes, ele cruzou o quarto até a cadeira da escrivaninha. Sem ser convidado e com as manias de um garoto mimado, ele ocupou-a e encarou a garota com o mesmo sorriso vazio que deveria ser gentil. Ele nem tenta disfarçar. Pensou jogando-se em sua cama. Hinata esperou que ele quebrasse o silêncio que deixara instalar-se, não tomaria a frente. Ele quem veio me procurar, ele quem comece a falar. Concluiu séria.

– Muito bem, senhorita Hinata – começou Itachi todo pomposo e com aquele sorriso falso ainda estampado em seu rosto. – Existem algumas coisas que preciso discutir com você. E gostaria de iniciar perguntando qual a sua real relação com meu pai.

– Sinto decepcionar-lhe, mas eu não tenho nada a dizer sobre isso, além do que já disse –respondeu irritada. – Eu não sou nenhum tipo de mentirosa, Itachi.

– Tudo bem. Dar-lhe-ei o benefício da dúvida – retrucou ainda sorrindo. Hinata não sabia que poderia ficar tão furiosa tão rápido, mas aquele homem estava tirando-a do sério e eles mal tinham começado a conversar. – Enfim, gostaria de pedir, também, que tomasse cuidado com meus irmãos. Eu e Yahiko não faremos nada, mas não posso garantir que eles obedecerão meu pai.

A mudança que o olhar dele sofrera foi o suficiente para que ela engolisse em seco. Não sentiu nenhuma hesitação dele e soube que era verdade. Respirou muito fundo, mas acenou positivamente, mostrando que entendera. Satisfeito, Itachi cruzou suas pernas e voltou a sorrir.

– Ótimo. Tente não envolver-se com nenhum deles, está bem? – pediu fazendo-a olhá-lo com espanto. – Nenhum de nós leva a sério relacionamentos românticos e nem estamos interessados nisso.

– Quem você pensa que eu...

– Eu penso, senhorita Hinata, que você é alguém sobre quem nenhum de nós nunca ouviu falar e que surgiu em nossa casado dia para a noite – respondeu ríspido. Aos poucos, Itachi parecia estar demonstrando quem realmente era. – Somos uma raça muito desconfiada e não gostamos de intrusos. Espero que entenda isso.

Se ela estivesse mais chocada, não conseguiria continuar encarando. Sem ter tempo para responder, ele ergueu-se da cadeira e encaminhou-se até a porta. Abriu-a calmamente e voltou a olhar para ela, sorrindo novamente.

– Quase esqueci. Aproveite enquanto pode, senhorita Hinata, e aprenda a defender-se. Como disse antes, meus irmãozinhos não ficarão quietos por muito tempo – e saiu, sem explicar ou dizer qualquer coisa mais.

***

Durante a tarde, Hinata saíra para dar uma volta pelo jardim e tomar um ar fresco. A conversa com Itachi não saía de sua cabeça, mas nada podia fazer sobre aquilo a não ser imaginar situações e mais situações. A maior pergunta, que rondava sua mente, era: por que iria envolver-se com algum deles? Sasori era irritante e Sasuke era mais novo que si. Com certeza não chegaria perto de Itachi, o arrogante, e não sabia nada sobre os outros. Suspirou e largou-se na grama.

– Por que tudo isso está acontecendo comigo? – perguntou para o nada. Ainda queria falar com Minato, ainda queria descobrir quem eram seus pais, mas será que tudo aquilo valia a pena? – Talvez não...

– O que é “talvez não”?

Pulou e encarou Sasori assustada. Observou-o calada, esperando que derretesse ou qualquer coisa do tipo por causa do Sol, mas nada aconteceu. Ele carregava uma sombrinha completamente negra, como suas roupas, e sorria como se soubesse o que se passava por sua mente.

– O gato comeu sua língua? – perguntou esticando sua mão para ela.

Hesitante, ela aceitou apenas porque lembrou-se da cartinha de Kurenai.

– Não, apenas não quero falar sobre isso – explicou tentando afastar-se.

Firme, ele puxou-a para baixo da sombrinha e Hinata pode entender o porque dele conseguir andar pelo Sol fraco. A luz era completamente bloqueada pelo pano do objeto e protegia o rosto, única parte de seu corpo que estava visível, e impedia que lhe causasse qualquer dano. Creio que se o Sol estivesse mais forte isso não seria útil. Concluiu voltando-se para ele.

– Para onde está levando-me?

– Irei apresentar-lhe os jardins, você parece ter gostado muito daqui – comentou chamando sua atenção. Ele sorriu e começou a guiar-lhe para um arqueado com flores. – Sempre observo-a sentar naquele mesmo lugar em que estava e ficar apreciando a paisagem.

Aquilo era assustador. Saber que havia alguém que passava seu tempo a observar-lhe chegava a ser insano, mas Hinata apenas pode suspirar. Pelo menos ele não está tentando me matar. Pensou olhando em volta. Aquela parte do jardim era realmente maravilhosa. Ela arregalou os olhos ao encontrar um pequeno laguinho nos fundos da propriedade.

Sasori observava-a comextrema curiosidade. A garota parecia ter esquecido que estava rodeada por vampiros que não queriam saber se sua vida valia a pena ou não. Estava tão maravilhada que se esquecera de sua companhia. Ela escorregou para fora do guarda-chuva e Sasori soltou-a. Era óbvio o quão diferente eram, mas não passou despercebido a seus olhos como ela parecia incomodada com a luz. Talvez não seja tão diferente assim. Concluiu curioso.

– Vamos voltar, Hinata?

Ela olhou-o um pouco chateada, mas concordou. Ele esticou a mão novamente e novamente ela hesitou, mas segurou-a e deixou que ele a guiasse pelo caminho que fizeram. Quando chegaram a casa, Hinata agradeceu pela companhia e correu para longe dele. Sasori guardou a sombrinha e olhou para o relógio: estava quase na hora de irem para a escola.

– Que bonitinho hahaha. Sasori apaixonado hahaha.

O garoto olhou para o irmão mais novo e maníaco e suspirou. Não estava com paciência para lidar com ele naquele momento: - Naruto, ela é humana. É comida. Não algo por quem deva apegar-me.

– Hahaha! Não parece que você sabe disso! Haha.

Sasori lançou-lhe um olhar irritado e Naruto riu ainda mais. Sasuke, que estava atrás do irmão que ria, observava o mais novo dos ruivos com curiosidade. Ele, logo ele, poderia apaixonar-se por uma humana? Pela comida, como ele mesmo dissera?

– Melhor manter-se longe dessa garota.

Os três assustaram-se com a chegada do outro ruivo. Gaara encarava o irmão de maneira séria. Sabia que algo estava passando-se pela cabeça dele, mas ainda não conseguira descobrir o quê. Sasori rosnou para os três.

– Por que não me fazem um favor e parem de se meter em minha vida? – perguntou irritado. – Eu nunca ficaria interessado por uma reles humana. Apenas uma vampiro pode ser minha parceira.

Rindo, Naruto saiu da sala e sumiu pelos corredores; Sasuke ainda lançou um último olhar para o irmão antes de sair atrás do outro. Gaara e Sasori encararam-se. Os dois eram os mais controlados, mas também eram os mais impulsivos e intemperados de todos.

– Algum problema, irmão?

– Será que vale a pena ser exilado por alguém assim? – questionou Gaara surpreendendo o outro.

Sasori murmurou algo como “Claro que não!” e deu-lhe as costas, saindo da sala. O mais velho sabia que não deveria forçar a barra com o gêmeo, já que ele poderia ser muito imprevisível, e encaminhou-se para o mesmo caminho que todos os outros seguiram. Todos tinham aula, sem exceção.

***

– Estão entregues! – exclamou Kakashi entrando na cozinha.

O motorista sorriu para a governanta e para a nova integrante da família. Hinata e Kurenai conversavam sobre a escola que ela frequentaria e a menina estava extasiada por não estar indo para o mesmo lugar que os garotos. Elas sorriram para o recém-chegado.

– Como está, Kakashi? – perguntou a menina de forma gentil.

– Estou ótimo, senhorita Hinata! E você?

– Muito bem!

Ela realmente parecia mais animada que antes e isso deixou os dois responsáveis mais calmos. Kurenai, que se levantara, deixou um pote cheio de biscoitos de chocolate e cookies de baunilha.

– Só dessa vez, já que é seu último dia de férias – explicou a mulher sorrindo gentil.

– Aí! Muito obrigada, Kurenai! – exclamou feliz. – Posso ficar aqui com vocês?

A governanta concordou e voltou a seus afazeres. Kakashi sentou-se ao lado da garota e ficou observando-a comer. Hinata contara-lhe sobre a visita ao jardim guiada por Sasori e a estranha conversa que tivera com Itachi. O motorista não podia compreender menos o que passava pela mente dos garotos, mas sabia que todos seguiriam a regra do pai. Pelo menos era o que ele esperava...

– Que irá fazer hoje, Hinata? – questionou com um sorriso.

– Lerei um pouco mais, jantarei e irei dormir. Quero estar muito bem disposta amanhã – explicou levantando-se. – Pode chamar-me na hora do jantar?

– Claro!

Ela agradeceu e correu para fora do lugar. Rindo, o motorista olhou para a governanta que olhava preocupada para a porta. Kakashi fechou sua expressão e suspirou.

– O que está deixando-a preocupada?

– Não sei, na verdade.

***

Hinata parou em frente sua porta e olhou para os lados. Já faziam algumas horas desde sua conversa com Itachi, suas aulas começariam na manhã seguinte e ela sabia que não teria outras oportunidades como aquela. Olhou para os lados, indecisa, mas ainda estava bastante revoltada com as coisas que ouvira de Itachi e ainda queria saber mais sobre toda aquela família, seu passado e Minato Traven.

Convencida do que precisava fazer, largou a maçaneta e caminhou em direção aos outros quartos. Todos estavam trancados, como ela esperava, mas não era isso que procurava. Encontrou a escada para o terceiro andar no final do corredor e apressou-se, para sua surpresa, ao lado dela havia outra escada, mas que levava para baixo. O térreo? Perguntou-se curiosa. Vamos ver em cima primeiro, depois eu desço. Decidiu começando seu caminho.

Ela, normalmente, não gostaria de andar por aquela parte da casa, mas a necessidade por respostas era maior do que seu senso de proteção próprio. O segundo andar parecia ainda mais escuro que o primeiro e possuía ainda mais salas. Hinata parou em frente a primeira porta e girou a maçaneta. Para sua surpresa ela estava aberta, mas a sala estava com os móveis cobertos por lençóis e panos brancos. Levantou alguns, mas não encontrou nada de mais. Saiu e entrou na maioria dos outros quartos. Todos estavam iguais ao primeiro. Frustrada, encaminhou-se a penúltima porta e abriu-a. Como as outras, aquela possuía seus móveis cobertos por panos brancos e muito empoeirados.

Suspirando, ela jogou-se em uma poltrona. Como uma casa enorme como essa não tem uma pista se quer? Perguntou-se olhando em volta. Tudo parecia igual. Nada de anormal, pelo menos sem contar toda a situação em que se encontrava. Havia um pequeno armário bem a sua frente e ele estava ao lado de uma janela. Jogou a cabeça para trás e apoiou-a no encosto. Por que estariam escondendo tudo de mim? Não tem nada mais esquisito do que vampiros... Pensou tentando encontrar alguma razão para tantos segredos. Estava concentrada e frustrada, mas não deixou de sentir uma leve brisa entrar pela janela do quarto. Olhou para os lados curiosa e percebeu que o pano preto que tampava a janela ao lado do armário balançava levemente. A porta do armário rangeu e abriu, graças a leve brisa. Hesitante, levantou-se e foi até o objeto.

Não tentara mexer nas coisas das outras salas e sabia que aquilo fora burrice. Se quero descobrir alguma coisa, preciso bisbilhotar. Ponderou séria. Abriu a porta decidida e empurrou os casacos que havia para um lado, tentando encontrar alguma coisa. Quando colocou em sua própria cabeça que iria revirar cada um dos cômodos, em seu tempo livre, encontrou uma gaveta que estava trancada. Sorrindo, abaixou-se e forçou a fechadura. Depois de um pouquinho de resistência, conseguiu abri-la e achou uma caixinha de música, que também estava fechada. Um pouco satisfeita pelo que encontrou, pegou a caixa e saiu do quarto. Cuidadosa e sem fazer barulho, desceu as escadas. Completamente esquecida do outro caminho, foi para seu quarto tentar encontrar um jeito de abrir sua mais recente descoberta.

***

Apressada, Kurenai subiu as escadas e bateu na porta. O que poderia ter acontecido com Hinata? A menina sabia o horário da janta e estava mais que atrasada para descer. Sem receber resposta e ficando um pouco mais agitada, Kurenai levantou a mão para bater.

– Kurenai. – Ela virou-se assustada, mas respirou aliviada por encontrar apenas Yahiko ali. – O que está fazendo?

– Vim chamar a senhorita Hinata para jantar – explicou voltando a sua postura séria. – Posso ajudar-lhe em algo?

– Sim. Desça e coloque mais um lugar a mesa. Irei comer com a jovem – respondeu encaminhando-se a seu quarto. Viu-a hesitar e encarou-a com seriedade. – Pode ir. Dentro de dez minutos estaremos descendo.

Suspirando, ela concordou e retirou-se. Yahiko abriu a porta de seu quarto e entrou calmamente. Estava cansado de todo o trabalho que tivera que fazer para o pai e, principalmente, de ter tido que aguentar Itachi. Se não fosse por aquilo... Recordou-se determinado. Os irmãos mais velhos tinham apenas um objetivo em mente: o lugar de seu pai no Conselho de Sangue e por isso viviam discutindo e competindo entre si. O vampiro retirou sua gravata e adiantou-se até seu armário, precisava escolher roupas confortáveis para seu “jantar”.

Hinata, que estava completamente distraída com a caixa que encontrara, assustou-se com as batidas altas e constantes na porta. Olhou para o relógio e agitou-se ainda mais: era hora do jantar. Apressada, ela correu até a entrada pensando em mil e uma maneiras de desculpar-se com uma Kurenari furiosa e, ao abri-la, deparou-se com um Traven sorridente e parecendo extremamente tranquilo e relaxado.

– Posso ajudá-lo? – questionou confusa.

– Cheguei cedo de meu trabalho e pensei que seria ideal acompanhar-lhe durante o jantar– explicou sorrindo. Yahiko, depois de tomar um banho e trocar-se, sentia-se novo em folha e o fato de saber que Itachi ainda estava na empresa deixava-o ainda mais satisfeito. – Vamos? Kurenai está a nossa espera.

Sem saber realmente o que fazer, Hinata seguiu-o, depois de fechar a porta, para o andar de baixo. A mesa já estava posta e Kurenai esperava-os em pé, ao lado da cadeira de Yahiko.

– Senhor Traven, senhorita Hinata.

A garota sorriu para a governanta, mas o outro nem se dignou a olhá-la. Kurenai curvou-se e saiu da sala, avisando que a entrada seria servida. Hinata distraiu-se com sua comida e, por um momento, esqueceu que estava acompanhada. Yahiko observava-a com seu cálice em frente aos lábios. Ela parecia muito distante de si, mas não poderia ser alguém normal... Se fosse, não estaria aqui. Pensou tomando um gole de sua bebida.

– O que está achando de sua nova casa, senhorita Hinata?

Quase engasgando, ela lembrou-se dele e encarou-o confusa por um instante, mas digeriu o que ele perguntava e respirou fundo, controlando-se. O mais velho dos irmãos esperava, calmo, que ela se recuperasse.

– Bem, creio que estar gostando – respondeu pensando em cada palavra que saia de sua boca. – Aqui é muito interessante...

–Entendo. Meus irmãos estão sendo educados? – Yahiko achou engraçado ela ter parado para pensar na resposta, como se estivesse tentando não ofendê-lo de alguma maneira. – Não se preocupe com o que vai dizer-me, senhorita Hinata. Pode contar-me o que eles estão fazendo.

– Tirando o incidente com Sasuke – começou murmurando. Yahiko dirigiu-lhe um sorriso encorajador. – Não aconteceu mais nada, na verdade. A não ser...

– O quê? – insistiu curioso.

Hinata encarou-o e colocou uma garfada discreta em sua boca, alguma coisa dizia-lhe que não deveria falar sobre sua conversa com Itachi com ele. Engoliu e direcionou-lhe um sorriso amistoso.

– Nada. Não aconteceu nada.

Ela esquivara da pergunta e Yahiko percebera que encontrara uma “inimiga” a altura de sua inteligência. Aceitando sua resposta, voltou a beber o que havia no copo e deixou que o jantar terminasse em silêncio. Kurenai estava recolhendo o aparelho de jantar finíssimo que fazia parte da herança dos Traven, quando os outros irmãos chegaram da escola. Hinata ficou chocada ao vê-los conversando entre si. E eu achando que eles eram hostis até entre eles.

– Kurenai, tem janta? – perguntou Naruto rindo.

Todos os outros irmãos, que haviam notado a presença da garota, lançaram-lhe olhares irritados. O loiro apenas ignorou-os e riu ainda mais, como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo. Hinata olhou para os lados confusa, não conseguia entender o porquê da pergunta dele ser tão ruim. Kurenai parou a seu lado.

– Senhorita Hyuuga, acho que está na hora de deitar-se, amanhã terá que acordar cedo – pronunciou-se chamando a atenção de todos. – Vamos? E, garotos, esperem aqui que logo tudo será servido.

Hinata, ao levantar-se, reparou que estava sendo observada por todos e entendeu que o fato de alguém estar conversando com Yahiko deveria ter sido uma surpresa para os outros irmãos. Sorrindo amarelo para todos aqueles olhares inquisidores, saiu correndo da sala.

***

Dentro de seu quarto, a menina sentia-se mil vezes mais segura, mesmo sabendo que qualquer um deles poderia invadir o lugar quando quisesse. Era uma pessoa extremamente curiosa, mas não tinha verdadeira vontade em saber o quê seria posto para o jantar deles... tremeu ao pensar naquilo.

Sacudindo-se para esquecer daqueles garotos loucos, jogou-se em sua cama e começou a trocar suas roupas. Desde que começara a morar na mansão Traven sua vida toda mudara e nisso estava incluso suas roupas. Seu novo pijama era roxo-bebê e do mais fino algodão, ela nunca possuíra nada como aquilo quando morava no orfanato. Suspirou ao lembrar-se das irmãs e das outras garotas, sentia falta delas.

Levantou-se, foi até sua mesa de estudos e ligou seu abajur. Sem fazer barulho, apagou a luz do quarto e pegou a caixinha de música que encontrara mais cedo. Ela estava enferrujada nas dobraduras e cheia de pó, mas não parecia quebrada e Hinata tinha quase certeza que ela ainda podia tocar sua música. Só preciso arranjar um jeito de abri-la. Pensou animada.

O pequeno cadeado que prendia a tampa a parte de baixo também estava enferrujado, como as dobraduras. Ele possuía o formato de um coração delicado e cheio de voltas e enfeites. Não gostaria de quebrá-lo, mas não conseguia abri-lo de jeito nenhum e não via outra maneira de fazê-lo. Rodeou o quarto a procura de algo que pudesse ajudá-la a quebrá-lo, mas nada parecia útil. Uma ideia que não parecia nada útil surgiu em sua mente e, hesitante, foi procurar por uma caneta.

***

Kurenai encarou cada um dos garotos que estavam na sala. Os gêmeos estavam sentados bem separados um do outro. Por mais que fossem quase uma extensão do outro, evitavam permanecer muito tempo no mesmo lugar. Não gostavam do fato de terem essa ligação tão forte. Além de sempre preferirem estar sozinhos. Naruto estava deitado em um dos sofás e Sasuke distraía-se com um livro. Os únicos que pareciam estar em uma batalha de tão tensos que estavam eram Yahiko e Itachi. São mais crianças que os irmãos mais novos. Pensou recordando-se da rixa que havia entre os dois.

– Está demorando demais, Kurenai! – reclamou Naruto rindo. – Será que dá para apressar?

– Acalme-se, Naruto – pediu cruzando com passos rápidos o cômodo. – As garotas estarão prontas dentro de alguns minutos.

– Ande logo – exigiu Itachi. – Não temos todo tempo do mundo.

– Vocês conhecem as regras, as meninas precisam estar de acordo com isso – repetiu a mesma frase de todas as noites. – Afinal, é a vida delas que nunca mais será...

– Eu realmente não me importo com isso – retrucou Itachi surpreendendo a governanta. – Elas vieram para cá sabendo o que iria acontecer. Então que andem logo.

Irritada com a atitude do garoto, Kurenai murmurou que tudo seria preparado em seu devido tempo e saiu da sala. Naruto caiu na gargalhada e um sorriso satisfeito surgiu nos lábios de Yahiko, que relaxou visivelmente em sua cadeira.

– Acho que alguém vai ficar sem jantar! – comentou o loiro rolando de um lado para o outro no sofá.

Todos os irmãos encararam o moreno, que rosnou irritado e cruzou os braços como uma criança que faz birra. Todos os descendentes Traven sabiam quem era Kurenai e sabiam que não deveriam meter-se com ela. Ela era, sem sombra de dúvidas, a mulher mais perigosa que conheciam.

***

Com muita pena, Hinata posicionou a caneta na abertura do cadeado e começou a forçar. Por mais que tivesse enferrujado, ele ainda era suficientemente firme para que não cedesse facilmente. Tentava com todas as suas forças, mas nada parecia dar certo. Parou, respirou fundo, arrumou a caneta para que parecesse uma alavanca e empurrou novamente. Por um momento, nada parecia que tinha acontecido. Entretanto, foi uma questão de segundos para que a situação mudasse.

Graças a toda força que estava fazendo, Hinata quase escorregou para o chão. O cadeado começou a soltar e, de repente, arrebentou. Uma das partes, a que ficava a tranca, saiu voando e a parte em que se encaixava a chave caiu na mesa. A garota saltou da cadeira, ansiosa, e correu até a porta. Abriu-a devagar e suspirou aliviada por ninguém ter ouvido e vindo verificar. Fechou e virou a fechadura. Apressou-se até sua mesa e encarou a caixa de maneira animada.

Estava mais que ansiosa para abri-la, mas hesitou. Sentia como se fosse uma ladra, uma bisbilhoteira. Sua mão pairava sobre a tampa. Começou a travar uma batalha interna consigo mesma, mas antes que passasse a surtar, balançou a cabeça e olhou para o objeto determinada. Eles sabem muito mais sobre mim do que eu sobre eles. Eu tenho esse direito! Concluiu abrindo a caixa.

Dentro havia um pequeno caderno velho. Hinata pegou-o. A capa era de couro e estava bastante velha. Algumas partes da brochura começavam a descascar. Abriu em uma página qualquer. A letra da pessoa que escrevera era extremamente trabalhada e nítida. Ela podia entender cada palavra que estava no papel – não que ela soubesse o contexto, claro.

Um dos trechos que mais chamou sua atenção, naquela página, dizia assim: “... ele tornara-se tudo. Dentro de um curtíssimo espaço de tempo, verdade, mas tornara-se. Agora, estou com medo. Medo desse sentimento maluco e instável. E irritado. Irritado porque ele escolheu ela... Mas isso é culpa minha, afinal, fui eu quem não tive coragem de dizer nada.”

Aquilo era muito profundo e foi como se Hinata pudesse sentir a tristeza em cada uma daquelas palavras. Abriu na primeira página a procura de um nome, mas apenas a letra T, bordada com muitos floreios, estava ali. Ficou observando aquele detalhe e absorvendo o que lera até que a verdadeira perguntasurgiu. Quem era a mulher que escrevera aquilo? E por que não conhecera aquela integrante da família Traven?

***

A sala estava escura, como sempre. Sasori olhou de esguelha para os irmãos e como era esperado, nenhum deles expressava mais que tédio e irritação. Havia uma regra que fazia com que os mais pervertidos e cruéis ficassem calados. Ninguém podia relacionar-se com humanos. Em nenhum tipo de relacionamento. Eles eram apenas alimento.

E era para isso que a fila de garotas entrava no quarto naquele momento. Normalmente, vampiros não faziam distinção de sexos quando iam alimentar-se, mas aqueles eram os descendentes da grande família Traven. Eles podiam escolher. E de semana em semana recebiam as melhores espécimes que seus servos podiam encontrar. Cada uma delas sentou em frente ao irmão a quem teriam se entregar. Aquelas mulheres ligavam para suas vidas? Não.

Sasori viu o olhar de ansiedade nos rostos dos outros e revirou os olhos. Eles não sabem se controlar. Pensou sorrindo gentil para a garota parada a sua frente. Não estava com fome. Na verdade, desde que experimentara o sangue de sua nova “irmã” não estava com vontade de fazer suas refeições semanais. Mas ainda é necessário. Recordou-se.

O ritual de alimento era simples. Primeiro, as mulheres, que usavam apenas um vestido (roupa que dava acesso a qualquer lugar que o vampiro preferisse morder), sentavam-se em frente ao vampiro; depois, do mais velho até o mais novo, cada um dos garotos deveriam escolher quem seria a escolhida. Entretanto, naquela família o ritual não era respeitado. Os garotos Traven eram muito irresponsáveis e não sabiam esperar. Então, para resolver aquilo, Kurenai tinha que procurar garotas que se encaixassem nos gostos pessoais de cada um.

Elas eram atraentes e silenciosas e tinham cheiros deliciosos, mas aquilo não estava agradando a Sasori. Deixou que todos se servissem e ficou observando a mulher cheia de expectativas parada a sua frente. Quando viu o mais novo acabar, virou-se sorrindo.

– Pode pegar, Naruto, não estou com fome.

Gaara lhe lançou um olhar irritado. Seu irmão gêmeo sabia de quase tudo que se passava por sua cabeça e não estava satisfeito com aquela atitude. Sasori sorriu para o mais velho, como se dissesse para ele não se preocupar, mas o olhar de irritação não diminuiu nem um pouco.

O loiro, que acabara de matar sua vítima, pulou sobre a outra garota sem hesitar. Ela gritou, assustada, mas logo nada mais podia ser ouvido vindo dela. Todos observaram enquanto a comida de Sasori era devorada pelo mais novo. Nenhum deles se importou, não era uma coisa incomum que ele rejeitasse alguma garota que arranjavam para ele. Mas Gaara sabia que não era só isso. Não... Com seu irmão gêmeo nunca era só isso.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Deixem seus reviews para eu saber! o/



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