Como Não Esquecer Essa Garota escrita por Eponine


Capítulo 4
Quando Nymphadora sequestrou o coelho da vizinha




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No meu aniversário de onze anos, Nymphadora explorou toda minha casa de, na época, apenas três andares. Ela foi até o jardim um milhão de vezes, abriu cada porta, tocou cada coisa que podia ser tocada.

— Você tem muitos irmãos. — observou ela.

— Eu sei disso, eu moro aqui, garota. — retruquei.

— Você gosta disso? De ter tantos irmãos? — Ela estava próxima, ela tinha o costume de falar muito perto das pessoas, quase como se fosse beijá-las. Então você primeiro fica assustado com suas sardas, seus dentes tortos e pequenos e suas sobrancelhas loucas, mas aos poucos, você começa a achar a confusão mais confortável que já viu.

— Não sei eu... Nunca parei para pensar sobre isso.

—Todos eles são iguais a você. — disse ela, olhando ao redor. — Isso é estranho.

Me senti ofendido, mas fiquei em silêncio. Eu não gostava muito que viessem a minha casa, eram muitas crianças, muita bagunça, muita gritaria. Em datas comemorativas então, mamãe dava um jeito de enfiar mais gente em um local que já era apertado. A crianças estavam no jardim, mas eu não estava muito animado.

Ter onze anos significa que eu estava próximo de Hogwarts e eu tinha medo de papai ter que pedir os fundos para os alunos necessitados. Eu sempre observava os pais das outras crianças e pensava no meu. Ele não era magro como os outros, ou aparentemente alegre ou divertido. E certamente não usava terno e maleta para ir ao trabalho.

Ele não tinha um grande talento, não era medibruxo, domador de dragões, mas as pessoas sempre tinham coisas boas para falar sobre ele, o que me deixava mal por compará-lo a outros pais.

Nymphadora estava incomodada com meu silêncio, então sua mente começou a planejar algo rapidamente para me distrair. Após alguns minutos, ela puxou minha mão e praticamente correu em direção do gramado de divisão do jardim. Não tive curiosidade em saber para onde estávamos indo enquanto desviávamos de sapos e galhos, mas chegamos no vizinho. Meu relógio interno de “problemas” apitou:

— Estamos invadindo a casa do vizinho, vamos! — cochichei, mas Dora estava apontando para um bolo branco.

— Olha lá. — disse. — É o coelho da Alice.

— Quê?! — arregalei os olhos, puxando seu braço, tentando desviar sua atenção. — Você ficou louca?

Ela focou seus extraordinários olhos castanhos em mim de uma forma que eu perdi até mesmo a noção de espaço. Ela estava falando muito sério.

— Bill, essa é nossa oportunidade! Eu vou te dar de aniversário uma passagem de ida e volta para o País das Maravilhas! — a garota correu pelo jardim em direção do coelho de forma tão rápida que o pobrezinho mal conseguiu raciocinar para proteger-se. Assim que agarrou o coelho ela deu um berro. — CORRE!

Saímos correndo pela mata, risonhos, sentindo o perigo. Subimos as escadas da casa com força, quase quebrando a madeira em dois e nos trancamos em meu quarto. Nymphadora sentou-se na cama e encarou o coelho, aparentemente procurando algo nele.

— Ele está sem relógio. — constatou ela.

— Acho que não é... — Nymphadora gargalhou.

— Você acreditou mesmo que era o coelho da Alice? — ela parecia debochada. — Isso é muito infantil.

Nymphadora ficou em absoluto silêncio acariciando o coelho e então eu notei que fui descaradamente manipulado. Ela só queria o coelho. Mas havia algo amais naquele silêncio devastador que invadiu meu quarto. Na época, eu não entendia direito nada que Nymphadora fizesse ou dissesse, acho que só fui entender anos depois. Ela olhou-me por alguns minutos e então voltou para o coelho.

— Muito infantil para quem já vai para Hogwarts.

Sentei-me em minha cama e a observei acariciar seu prisioneiro.

— Hogwarts é um lugar muito grande. — ela olhou-me de um jeito que me deixou desconfortável e com vontade de chamar minha mãe. — Você vai ficar sozinho.

— Invejosa. — retruquei, ofendido. Nos encaramos por um bom tempo, pelo que eu lembre. Completou-se um ano que ela havia se mudado, tomado conta do parquinho, perturbado a casa abandonada dos Nott, empurrado Charles em uma poça suja, escalado a árvore da senhora Potts e roubado metade da horta da senhora Rudith. Ela causou alvoroço em uma das vizinhanças mais calmas do mundo bruxo, isso era algo para ser dito.

E eu nunca tinha visto Nymphadora tão estranha.

— Não estou com inveja, eu vou ficar aqui com minha mãe e meu pai. E Audrey. E Charles. Mas você... — havia veneno em suas palavras. — Você vai ficar sozinho em um lugar cheio de adultos e crianças mais velhas que vão te maltratar e excluir.

— Mentirosa... — meus olhos estavam começando a me trair.

— Pode duvidar, mas é o que vai acontecer. — Ela levantou-se. — Ninguém vai gostar de você.

Na época eu não entendi que Nymphadora apenas fez o que ela fazia de melhor. Quando ela estava muito triste com alguém ou com medo, ela usava mais umas de suas infalíveis artimanhas psicológicas. Ela fez que eu a odiasse meses até Setembro, e ela sequer se despediu de mim antes que eu partisse. Pelas cartas de Charlie e Audrey, ela continuava a mesma após a minha partida, o que me fez detestá-la mais ainda.

Quando eu contei a minha mãe o que Nymphadora fez, no Natal, ela apenas ficou em silêncio e interrompeu seu tricô, olhando-me com uma espécie de condolência quase tocante. Ela apenas tocou meu ombro e disse:

— Cada um se protege da forma que pode, Bill.

Eu só entendi essa frase muito tempo depois.


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Notas finais do capítulo

Eles tão crescendo, mas é claro que eu vou estender a infância deles bastante em Hogwarts, ainda mais com mais personagens para interação