Como Não Esquecer Essa Garota escrita por Eponine


Capítulo 16
Quando Nymphadora surtou (assim como todo mundo)




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No pequeno recesso do meu último ano em Hogwarts, Audrey planejou uma viagem.

Na verdade, já fazia cinco meses que ela estava planejando tudo, então tudo que podíamos dizer era sim ou não. A essa altura você já deve ter notado o quão organizada e possessiva Audrey é, então tudo deveria seguir o roteiro feito por ela. Ninguém poderia levar seus respectivos companheiros, ah, sim, esqueci-me de mencionar: Charlie estava namorando!

Não era bem um namoro, mas ele tinha conseguido ficar mais que duas semanas com a mesma garota, então aquilo era um avanço magnifico para o padrão de Charles. O nome dela era Lola Kirke, e por algum motivo nada desconhecido, Audrey a detestava. Então, para não ficar óbvio o que já era óbvio, ela determinou essa única regra com a desculpa esfarrapada:

— Para que nossa amizade seja tão forte quanto era há oito anos atrás! — de inicio, a ideia me parecia ótima, confesso. Eu conseguiria sobreviver um fim de semana sem Louise, fato, e eu também queria passar mais tempo com meus melhores amigos. Fazia muito tempo que não ficávamos reunidos sem a presença de outras pessoas.

Charlie, Nymphadora, Franchesca tivemos que pegar um ônibus até o Chalé porque: Charles vomita sempre que aparata, a lareira desse Chalé está quebrada e o Ministério simplesmente não aprovou nossa Chave de Portal. Dora não conseguiu adaptar muito bem seu estilo punk a praia, mas até que estava se saindo bem com suas botas. Frankie conseguiu fazer amizade com o ônibus inteiro enquanto eu oscilava em cochilar e acordar com Charlie resmungando de fome. A paisagem foi mudando aos poucos com o ar. O cheiro do mar invadiu minhas narinas assim como a vista azul e bege da areia quase branca. O lugar era perfeito.

— Minha bunda dói. — reclamou Charles enquanto descíamos do ônibus, não se incomodando em retribuir o abraço de Audrey, que parecia extremamente animada.

— Eu só estou aqui há três minutos e minha pele parece que vai se desfazer e criar outra no lugar! — comentou Dora, largando suas malas no chão. — Aqui é tão quente!

— É verão, Dora! — sorriu Audrey. — E estamos juntos! Como nos velhos tempos!

Foi excitante, a caminhada até o Chalé foi divertida pela listagem de possibilidade de coisas que poderíamos fazer ali. Todos dormiriam no chão da sala, relembrando velhas histórias, um estoque de comida na geladeira, uma piscina nos fundos do Chalé, acesso fácil ao telhado para tirar fotos e beber enquanto escutávamos música, o plano de Audrey era perfeito.

Assim que chegamos, colocamos nossas roupas de banho e pulamos na piscina. Quase morri afogado três vezes em vinte minutos por conta do peso de Nymphadora contra minhas costas. Toda a tensão, todas as conversas estranhas e momentos desconfortáveis que estavam acontecendo entre nós todos nos últimos meses simplesmente sumiu.

— Eu estou tão, tão, tão feliz que todo mundo está aqui. — comentou Audrey, descascando as cenouras. Os outros resolveram ir até a praia, mas eu fiquei para ajudá-la com o almoço. Peguei minha taça de vinho e tomei mais um gole, me sentindo um adulto completo e vivido.

— Eu também estou feliz por isso, acho que fortalece tanto a conexão entre todos. Me senti um pouco Franchesca agora. — coloquei as acelgas de molho.

— Olha, para ser sincera, eu não queria convidar Franchesca para esse fim de semana, eu estou falando isso porque confio em você e... Sinceramente, eu estou surpresa que ela não trouxe uma mala de roupas e outra de drogas.

— Ela está mudada desde o término com Thomaz.

— Não, ela está pirando. — Audrey abaixou o tom de voz como se fosse contar um segredo. — Lembra no mês passado quando ela pegou aquela infecção de urina e teve que ficar na Ala Hospitalar e tal? Dora e eu fomos visita-la no domingo, após uns dias sem vê-la, e foi super legal, conversamos, comemos juntas, foi lindo, até a hora de ir embora. — Audrey tomou um longo gole de vinho. — Ela começou a chorar. Franchesca começou a chorar. E implorar para que não fossemos embora. E eu estava tipo, “ei, eu preciso estudar para as provas”, foi muito triste.

Olhei Audrey, não acreditando no relato. Eu só a visitei uma vez quando ela foi para a Ala Hospitalar e ela parecia muito bem.

— Isso é estranho.

— Bill, as vezes parece que você está aqui a passeio. — Audrey girou os olhos, mexendo no molho no fogão. — Será que você nunca notou que Franchesca é super dependente? Você já foi na casa dela?

— Não.

— Parece um lixão. Mora ela, o pai maluco dela e a quarta madastra.

— Quarta?

— Pois é.

— Uau. — ela contou mais coisas das quais não me recordo, mas me fez ver Franchesca com outros olhos. Conseguimos acabar com duas garrafas de vinho até o almoço ficar pronto, então quando todos voltaram da praia, surpresa:

— Nós estávamos dividindo um sorvete enquanto Frankie falava da conexão dos cosmos que tudo que o universo podia nos proporcionar e bam, lá estavam eles! — explicou Nymphadora, rindo. Aquela era a história sem pé nem cabeça que ela e Charles queriam que nós acreditássemos, agora nós tínhamos Ian, Lola, Joe e mais dois caras amigos de Ian para ficar conosco e eu nem precisei olhar para Audrey para presumir que ela ia surtar.

Seu olho esquerdo deu um tremelique antes dela prender o ar, forçando um sorriso que parecia estar machucando o rosto dela. Senti que estava andando ao lado de uma bomba até voltarmos para casa, preocupado com Audrey, mas a animação dos outros me parecia mil vezes mais atraente.

Na sala de estar entramos em um bate papo profundo e muito divertido com todos juntos, todos se divertindo e a presença de Audrey parecia uma ameaça terrorista invisível. Todos corriam da piscina para vários cômodos da sala, entre conversas e brincadeiras, por exemplo, Ian e eu ficamos quase quatro horas conversando sobre o sistema separatório de Hogwarts.

— Tipo, eles incitam nossa rivalidade. — filosofou ele, gesticulando. — Isso não é saudável.

— Eu super concordo com você.

— É tão ridículo. Por que eu tenho que disputar pontos? Por que não pode ser algo distribuído igualitariamente? — Assenti freneticamente, quase batendo palmas, sentindo meu cérebro explodir. A cara feia de Audrey começou a me irritar após umas horas de convivência com os novos convidados, para falar a verdade, estava bem melhor do que quando estava só a gente. Audrey é tão infantil, não? Digo, já tínhamos dezessete anos, adultos formados!

No jantar, Joe olhou para seu próprio prato, confuso.

— Sério? Só essa miserinha? — a mesa gargalhou, mas Audrey continuou séria.

— Bem, se você não gostou, pode ir comer em outro lugar.

— Uau. — riu Nymphadora. — Não precisa ser estúpida.

— Eu não fui estúpida, deu só dei uma resposta.

— Uma resposta mal educada. — disse Charlie, cuidadoso.

— Ok, então eu sou estúpida e mal educada.

— Verdade. — murmurou alguém, fazendo a mesa gargalhar, mas Audrey irritou-se e levantou da mesa, voltando para a sala. Nymphadora levantou-se, assim como Charlie e Franchesca. Enfiei um pedaço de carne na boca antes de levantar para assistir o mundo explodir.

— Por que você está sendo tão dramática? — questionou Nymphadora.

— Dramática? Eu levei seis meses para planejar essa viagem só para nós, tudo perfeito para nós e de repente, por ironia do destino, seu namorado simplesmente brota aqui!

— Merlin, é só o Ian!

— Não me interessa se é o Ian ou Dumbledore, isso era para nós!

— Audrey, você está tendo outro ataque de “quero controlar todos como se fosse Deus”. — interviu Franchesca, calma.

Vai se foder! — ordenou Audrey, virando-se para Franky. A garota loura arregalou os olhos, cobrindo a boca.

— Por que estamos brigando se era para termos um fim de semana de “eiii, somos melhores amigos há oito anos”? — indagou Charlie, sentado no sofá. Audrey virou-se para ele, trêmula.

— Talvez estejamos tendo essa briga porque você trouxe mais uma das suas “namoradinhas” — ela fez aspas violentamente no ar — e está nos obrigando a ficar perto dela sendo que sabemos que ela vai ser trocada em breve como TODAS AS OUTRAS!

Nymphadora soltou um longo suspiro, olhando a amiga com ironia.

— Eu realmente não entendo o por que de Ian te incomodar tanto, eu não tenho culpa se meu relacionamento é um sucesso. — disse Tonks, cruzando os braços.

Todos se entreolharam, confusos.

— Por que você tem que fazer tudo ser sobre você? — indaguei, assustado com o nível de narcisismo de Nymphadora.

— Porque ela é o ser humano mais egoísta que já pisou na face da terra e nós apenas habitamos o planeta dela! — retrucou Audrey.

— Quer saber, isso foi um erro. A última vez que nos divertimos juntos foi em que? Oito anos? — disse Franchesca, deitando-se no colo de Charlie.

— Eu planejei esta porra dessa viagem justamente para ser um momento divertido! — gritou Audrey, alterando-se mais ainda. Ela estava tão irritada que ela viraria o Hulk se fosse possível.

— Meu Merlin, será que você tem noção de que não somos suas barbies e temos que fazer tudo que você acha que devamos fazer? — estourou Charlie, cansado.

Audrey pareceu magoada.

— Ok, fodam-se todos vocês, não sei porque me dou o trabalho.

— Isso foi maldoso, Charlie. — disse Nymphadora.

— Maldoso? Maldoso é termos que ouvir você falar sobre si mesma vinte e quatro horas. — Charlie gargalhou.

— Charlie é um bêbado malvado.

— Todos vocês são malvados e às vezes é horrível tê-los por perto. — disse Nymphadora, cruzando os braços novamente.

— Não, é terrível ter você por perto. — retruquei, agonizando com a vontade quase psicótica que ela tinha de querer atenção. Ela virou-se para mim, apontando o dedo.

— Você tem um atraso mental tão exaustivo que às vezes fingimos ter esquecido o que tínhamos falado só para você calar a boca e parar de perguntar “Quê? Não entendi!” — minha boca abriu-se de choque.

— Quando eu terminei com o Thomaz, eu perdi quatorze quilos, eu não conseguia falar nem andar, MAS, isso é bom para autodescobrimento e...

— Será que dá para NÃO entrarmos em mais uma “Franchesca Diggory quer compartilhar seus dezesseis anos de vida” novamente? — irritou-se Audrey.

— Vocês são péssimos amigos. — simplesmente disse Charlie, terminando sua taça. — Por que eu ando com vocês?

— É uma obrigação social, nos conhecemos desde pequenos e achamos e compartilhamos algo especial, mas agora está provado que não compartilhamos nada e isso tudo foi uma grande perca de tempo! — disse Nymphadora. — E eu vou voltar para meu namorado que realmente me ama e me aceita do jeito que sou!

Ela virou-se como uma criança contrariada e marchou para a sala de jantar, nos deixando na sala, em um silêncio constrangedor. Me neguei a falar com meus “melhores” amigos até a hora que desmaiei na cama, sem sequer trocar a roupa. Eu estava tão enjoado e irritado com a personalidade daqueles que tanto amei e venerei por tantos anos que distância era tudo que eu precisava. Eu me perguntava quando voltaria aquela deliciosa sensação renovada, de sempre uma novidade entre nós, uma nova aventura, alguma piada interna...

Mas não, eram apenas as mesmas coisas, piadas que foram batidas e batidas até a memória se desfragmentar e virar apenas um vestígio, algo que distorcemos com o tempo, que dava uma sensação deliciosa de nostalgia e proximidade. Tudo que sustentava aquela amizade era a memória.

Na manhã seguinte, quando desci para o café, Audrey já estava de pé, ordenando sua varinha para que a louça começasse a se lavar enquanto ela passava o chá, com Nymphadora fazendo torradas, Franchesca descascando algumas frutas, e Charles, que estava começando a organizar a mesa.

Aquilo era um casamento.

Um grupo de pessoas que se conhecem a tempo demais para escovar os dentes antes de se falarem, ou que perderam o pudor em arrancar os pelos ao redor do seio, como Franchesca dedicou a manhã inteira para fazer, na frente de todos. Já era um amor tão batido e antigo, tão remoído, que o que nos unia era a memória e a sensação de que ninguém nos entenderia melhor do que nós mesmos.

Sabe, aquele seu amigo que você se pergunta o porquê? O que une vocês?

Sinceramente, eu não encontrei amigos depois de Hogwarts, eu mantive esses por perto. Alguns, o tempo tirou de mim, como Franchesca e Charles. Outros, a morte simplesmente nos separou, como Nymphadora. Veja, eu estou aqui, com meus cinquenta anos, olhando essa foto com uma Audrey emburrada por Nymphadora ter enfiado um bando de desconhecidos em seu Chalé, destruindo seus planos, com uma Frankie bêbada e descolada sem o menor esforço, um Charlie com mais uma de suas zilhões de namoradas (que saíram em TODOS as nossas fotos de vários anos, e quando olhamos, sequer sabemos o nome daquela criatura que só ficou três semanas com Charles!), e Merlin...

Até mesmo nossas brigas valiam a pena, eu posso te jurar! Na verdade, eram quase a melhor parte!

Porque a melhor parte desse casamento maluco, era rir de algo, sozinho, em uma piada que somente eles entenderiam. Era saber detalhes sórdidos sobre alguém, por exemplo, Nymphadora teve hemorroida por três anos (!!!), ou uma sensação incrível de vitória quando alguém consegue algo que sequer te inclui ou tem a ver com você, como por exemplo, Audrey conseguir ser a Oradora de sua formatura.

Eu sei que você está pensando: Mas vocês sequer se veem agora!

Bem, isso é verdade. E também vai acontecer com você. Nada disso dura. Nada disso é para sempre, e eu tive a infelicidade de não entender isso, apenas ser imbecil de pensar que entendi. Audrey ir morar em um Chalé no meio do nada para mim era só mais uma de suas manias e nós com toda certeza continuaríamos nos encontrando sempre.

Charles está em quase outro planeta, eu sei, mas nada impede de trocarmos cartas, algumas reuniões anuais... Franchesca desapareceu, mas ela prometeu que apareceria de quando em quando. E Dora... Dora estava aqui. Ela ficou. Todos sumiram, mas ela ficou.

Eu não esperava que ela seria a única que eu teria que me despedir de verdade.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Ufa, escrevi esse capítulo

*Adendo que é baseado no episódio Beach House de Girls.

E o epílogo ENTÃO SIM, EU CONSEGUI TERMINAR A FANFIC! *fogos de artificio*

Espero que ainda estejam ai...

Beijos!!!



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