Como Não Esquecer Essa Garota escrita por Eponine


Capítulo 14
Quando Nymphadora criou o Wendelin the Weird




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Boys Wanna Be Her – Peaches

Tudo começou quando Nymphadora começou seu quinto ano.

Totalmente adepta ao punk, ela decidiu que seria uma boa usar coturnos com o uniforme, mas aquilo era uma quebra grave as regras dos uniformes, o que sujou a ficha dela, mas não a impediu de usar os coturnos. Na cerimônia dos novos alunos, após o discurso de Dumbledore ela ergueu a mão, levantou-se, com os olhos contornados de preto, o cabelo curto arrepiado roxo escuro e os alfinetes nas orelhas:

— Por que as garotas têm que usar sapatilhas e os garotos podem usar sapatos fechados? Por que as garotas têm que usar meia-calças em pleno inverno e os garotos podem usar calças? Por que Hogwarts é tão sexista? — Meu coração quase abriu um buraco no peito e saiu pulando. Algumas meninas de todas as mesas se levantaram e bateram palmas, gritando algumas palavras de apoio, Franchesca estava quase subindo em cima da mesa quando a professora McGonagall conseguiu conter a bagunça que estava se tornando.

O diretor não respondeu Dora na frente de todos, mas conversou com ela depois e retirou de sua ficha a penalização por desobedecer às regras dos uniformes, mas não mudou absolutamente nada sobre as reivindicações dela. Enquanto isso ela se tornava simplesmente a pessoa mais legal de toda Hogwarts, não demorou muito para brotar punks em toda a escola. Ela era a garota que fumava no banheiro com um grupo de amigas, passeava um pouco com outro grupo, e outro grupo, ela tinha amigos para dar e vender. Eu não tinha notado isso até ser deixado de lado.

— Eu vou bater nele.

— Ah é, senhor posso-tudo? — debochou Franchesca.

— Sim, senhora posso-tudo. — Thomaz parecia desconfortável, sem olhá-la nos olhos.

— Ahhh, que nem aquela vez que Pete Winchester te deu uma surra? Sem varinha?

— Dá pra você ser insuportável em outro lugar?

— Vocês terminaram? — indagou Charlie.

— Não, nós não terminamos. Eu chutei esse perdedor. — Franchesca mascou o chiclete mais um pouco e cuspiu no gramado. — Ei, pirralho, te dou dois galeões se fizer minha lição.

Eu ficava impressionado com o fato dela chamar qualquer primeiranista de pirralho e os que ela conhecia por números.

— Eu...

— Menos cinco pontos para a Sonserina por ter cuspido no chão. E mais cinco por ter sido chiclete. — sorriu uma monitora da Lufa Lufa, aproximando-se. Thomaz começou a gargalhar e eu tentei intervir, assim como Audrey, também monitora.

— Ei, ela já ia pegar, pode retirar isso aí! — protestei. Franchesca Diggory levantou-se e apontou a varinha para ela, em segundos ela havia virado uma cobra.

— Wow! — gritou Audrey, subindo em cima do banco. — Frankie, Merlin, você vai ser expulsa!

— OLHA A COBRAAAA! — gritou Franchesca, gargalhando. Começamos a pular e correr, gargalhando. A cobra, que antes era a oriental lufana, parecia desesperada. — É MENTIRAAAAA!

Mais um aceno da varinha e ela voltou ao normal, suja e chorosa. Levantou-se em um pulo, trêmula.

— EU VOU CONTAR TUDO AO DIRETOR! — urrou, saindo correndo enquanto todos gargalhavam. A garota estava tão alucinada que empurrou Nymphadora enquanto corria. Ela olhou impressionada mas continuou seu caminho até nós. Ela estava carregando sua mochila com dificuldade, mas parecia orgulhosa.

Ficamos alguns minutos observando ela respirar cansada após jogar sua mochila no chão, diante de nós. Ela estava apenas com a camisa, saia e a meia calça descosturada de sempre e eu acabei reparando em suas pernas, me desconcentrando um pouco.

— Eu vou montar uma banda — sorriu ela, ofegante, abrindo os braços. — Apenas para meninas!

— Uma banda? — indagou Thomaz.

— Isso mesmo. Uma banda feminista. — olhei Nymphadora com seu metro e meio, olhos infantis e dentes tortos, com muita vontade de rir. Veja bem, eu respeitava as meninas, até porque eu andava com três garotas de personalidade forte, mas isso tudo parecia uma grande besteira. Hogwarts não era um lugar para revolução ou coisas do tipo, mas Nymphadora estava empenhada em conseguir suas reivindicações.

Além de sua banda, que ela ainda estava procurando integrantes, ela montou um clube, que começou com umas cinco garotas, elas faziam zines, cheia de fotos delas. Todo mês era uma diferente e eu fazia questão de comprar apenas pelas fotos: Normalmente eram bem ofensivas, mas incríveis. Nymphadora sempre aparecia na seção de “faça você mesma!” onde ela aparecia concertando coisas e ensinando a fazer coisas propriamente “masculinas”. Audrey sempre estava na seção de livros, sorridente nas fotos, e Franchesca gostava de tirar fotos provocativas, quase sempre seminua.

— Isso é insano. — sussurrava Charlie ao ver Nymphadora exibir suas pernas cabeludas com muito orgulho. — Eu amei.

Olhei para meu irmão, ofendido. Então olhei Louise, com vontade de rir. Nymphadora estava tão séria que eu preferi ficar quieto, mas você sabe como Grifinórios são naturalmente idiotas:

— Ok, eu acho isso um exagero. — opinei.

— Um exagero? — questionou Nymphadora.

— Sei lá, eu não acho que os homens sejam os monstros que vocês pintam. — Louise, Nymphadora, Audrey e Franchesca me olharam como se eu fosse o ser humano mais burro que já pisou na face da terra. Charlie escondeu o rosto assim como Joe desviou o olhar, fingindo estar muito concentrado no movimento do lago.

Franchesca virou-se para Louise:

— Seu namorado devia se matar. Você merece isso de presente.

No primeiro passeio para Hogsmeade, em um sarau proporcionado pelo Clube de Leitura, Nymphadora recitou um protesto, foi quase uma invasão já que ela entrou no Cabeça de Javali no meio do sarau com as meninas de seu clube e posicionou a varinha no pescoço após trocas umas palavras com a dona do clube. Eu estava ali apenas porque Louise fazia parte de clube e sempre recitava poemas, eu não fazia ideia de que Nymphadora ia se apresentar.

A questão era que estava acontecendo um levante feminino em todo o mundo, trouxa e bruxo, e Nymphadora Tonks foi o meu primeiro contato com o feminismo.

— EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças para que os garotos não olhem minha bunda enquanto eu subo as escadas! EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças porque eu não tenho que passar frio para me provar uma garota! EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças porque eu quero usar saia apenas quando eu quiser! EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças porque assim os meninos não vão me ignorar quando cumprimentarem um garoto ao meu lado! EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças porque minhas pernas não são objeto de masturbação! EU QUERO CALÇAS! Eu quero calças porque EU NÃO TENHO QUE TE EXPLICAR NADA! — Eu estava em choque. Aquele grupo de seis, sete garotas, extremamente intimidadoras e tremendamente lindas me deixavam assustado e excitado ao mesmo tempo.

No fim do ano, durante as férias de verão, eu recebi um convite para o primeiríssimo show da banda feminina Wendelin the Weird. Eram cinco galeões para garotos, quatro para garotos que fossem de vestido e dois galeões para garotas. Claro que eu achei aquilo um absurdo, fiquei revoltado, não entendi porque eu tinha que pagar mais que as meninas.

Quando Louise entrou para o grupo da zine, eu me senti um idiota.

Eu via as conversas do grupo e me sentia meio “Whhoooa o que está acontecendo aqui?”, mas não demorou muito para que algumas coisas fizessem sentido. Nymphadora era a imagem central, querendo ou não, ela parecia um evento, era impossível você ignorá-la. De fato os punks tinham uma vestimenta particular, mas ela era muito mais que isso. Era além de músicas e roupas, era atitude e palavras.

Aos poucos, eu notei coisas que eu jamais notaria sem prestar atenção nas palavras gritadas por Nymphadora, sempre com a varinha no pescoço, rodeada de poucas pessoas: O fato de eu não gostar quando Louise vestia coisas que mostravam demais o seu corpo, o fato de muitos amigos meus não cumprimentarem Audrey, Frankie, ou qualquer garota que estivesse em um grupo, eles cumprimentavam todos os garotos e ignoravam as garotas como se não fossem dignas o suficiente de sequer receberem um oi.

Senti vergonha.

O pub bruxo estava explodindo de garotas e garotos curiosos. Eram poucos os que estavam de roupas masculinas, grande maioria estava de vestido para pagar os malditos três galeões, inclusive eu e Charles. Era ali que jovens punks bruxos se reuniam e eu estava me perguntando como Dora conseguiu se apresentar naquele lugar.

Encontrei Franchesca e algumas meninas, bebemos algumas cervejas e esperamos a apresentação de Dora ansiosamente. O grupo era formado por Poly Styrene, da Grifinória, a guitarrista, e Allison Wolfe da Lufa Lufa, na bateria. E Nymphadora, naturalmente, no microfone. Quando finalmente chegou a vez delas, eu não conseguia acreditar que aquilo era real.

Double Dare Ya – Wendelin the Weird

— Boa noite. — apresentou-se Nymphadora. Ela estava com um tênis podre, um shorts todo rasgado e uma camiseta de Os Duendeiros. O local estava muito barulhento, mas ainda assim ela falava de forma educada. Ela estava sem maquiagem, mas seu cabelo estava sensacional. A parte debaixo era preta e a de cima era um rosa quase cintilante. — Na bateria Poly, na guitarra Allisson, e no microfone, eu, Tonks.

É o que? Só Tonks?

— SOMOS WENDELIN, THE WEIRD, E NÓS QUEREMOS REVOLUÇÃO! GAROTAS PARA A FRENTE AGORAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

O som começou na mesma hora e estava na cara que elas não sabiam tocar nada, pois diversas vezes haviam erros grotescos com a bateria e a guitarra, mas ainda assim era sensacional. Eu mal notei que estava pulando, me envolvendo no mosh que estava começando a acontecer ali perto do palco.

Eu nunca pensei que ia me divertir tanto em um show de meninas, com letras para meninas e espaço para meninas. Foi uma noite incrível, com recitação de poemas nos intervalos de bandas, muitas pessoas de tribos diferentes e com muito respeito mutuo. Mas também tinha umas pessoas doidas, tipo uma garota com um black power enorme que simplesmente mordeu meu braço e saiu dando estrelinhas, sendo que ela estava com uma camisa larga e sem sutiã.

Mais tarde eu descobri que seu nome era Bree Rookwood, e alguns meses mais tarde ela se tornou namorada de Franchesca, veja só você.

E ter uma amiga punk, feminista, dona de uma zine e também vocalista e criadora de uma banda era para poucos.

Na verdade, Nymphadora era para poucos.


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Notas finais do capítulo

Acho essa imagem perfeita para a Dora dessa época: http://4.bp.blogspot.com/-uRog2j3yTXY/TbxhsOVgPBI/AAAAAAAABH8/2vfdeqGdR1g/s1600/tonk.jpg


Eu já tinha escrito esse capítulo há tempos, é que eu desanimei um pouco, mas vamos voltar a programação normal!

Espero que gostem.



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