Como Não Esquecer Essa Garota escrita por Eponine


Capítulo 13
Quando Nymphadora escalou minha janela




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— Ok, vamos lá, recomendações. — Eu estava praticamente surdo. Era o último dia de férias para eu entrar no meu quinto ano e Thomas em seu sexto. Para comemorar o fim das férias, estavamos pela primeira vez em uma festa trouxa. E eles tinham estilo! Era no meio do nada, onde em vez de pistas diferentes eram containers diferentes. Sim. Containers de carga.

O local estava muito cheio e Franchesca passou as férias inteiras falando que aquela seria a festa do ano e teríamos histórias até a morte para contar. Ela estava com um coque mal feito no topo da cabeça e muito bonita com o batom vermelho, ao lado de Tomaz, segurando sua habitual escova de dentes.

— Primeiro, cuidado com a bebida trouxa, nos deixa quatro vezes mais bêbados, então não quero ninguém tanto pt. Segundo, drogas trouxas, tem um efeito ferrado em nós...

— O que acontece? — indagou Audrey, nervosa com o local. Ela estava muito arrumadinha, o que não combinava nem um pouco com o estilo da festa, mas o fato de estar ali fazia qualquer um descolado.

— Bem... — Franchesca e Thomaz riram. — Você faz magia descontroladamente. E também fica muito... Muito... — Ele aproximou seu rosto de Audrey. — Louco.

— Eu quero. — agitou Charlie.

— Calma, tem pra todo mundo! — ele tirou do bolso de sua calça um saquinho cheio de pílulas azuis e meu sorriso cresceu. Eu estava morrendo de medo, mas morto de curiosidade. Se eu morresse, morreria feliz. A única pessoa da roda que não tomou fora Audrey, então Thomaz tomou mais uma por ela.

Corremos para um container com rock pesado, animados e entramos na multidão pulante. O rock trouxa era muito mais pesado que o bruxo, mas eu sempre sentia falta de algo, instrumentos que os trouxas definitivamente não tinham. Thomaz apareceu com uma garrafa de vodka, uma bebida trouxa, e todos nós demos um bom gole, o gosto era terrível, mas bebemos como se fosse agua. Menos Audrey, que estava assustada e deslocada.

— Eu vou ao banheiro. — disse ela, saindo de perto de nós. Eu passeei um pouco pela festa, observando os trouxas, na verdade eu estava admirando. Eles eram muito diferentes dos bruxos, na verdade, completamente diferentes. Eles se divertiam de forma mais violenta e gráfica, e não gostavam nem um pouco de serem encarados.

Algumas horas de festa haviam se passado e eu estava me sentindo extremamente zonzo e confuso quando achei Franchesca fitando as luzes coloridas, com a boca aberta, completamente chapada, encostada na parede do container, sozinha.

— Bill! — sorriu ela, lenta.

— Eiiii, quanto tempo! — e eu sequer estava sendo irônico.

— Já aconteceu de você derrubar a bebida de alguém? Eu acabei de fazer isso... Trouxas são agressivos. — constatou ela, ainda devagar, mas eu estava começando a ficar agitado, assenti freneticamente.

— Já, várias vezes, e sempre é com Audrey, mas teve uma vez que eu derrubei um copo de suco de abóbora bem em Snape e eu pensei que ficaria sem minha cabeça, ele me olhou de um jeito assassino que nossa, Merlin, Snape, é... Snape.

— Quem é Snape?

— Nosso professor de Poções.

— Por que está falando dele?

— Você perguntou se eu já derrubei algo em alguém e eu estava contando que sim, em Snape.

— Eu falei isso?

— Sim! — eu estava chocado com o fato dela realmente estar falando sério. Fiquei alguns minutos tentando entender se eu não tinha inventado tudo quando Audrey nos achou. Ela estava com um cheiro estranho e um tique estranho, tocando seu ombro esquerdo ao ouvido quase compulsivamente.

— Graças a Merlin eu achei vocês, eu andei por tipo, todos esses containers e eu sentei em um banco para descansar e tinha um casal transando bem atrás de mim, e eles nem pararam quando me viram, então eu levantei e tudo, andei mais um pouco, nossa o DJ do container azul é simplesmente lindo, esses trouxas são... — Franchesca e eu nos entreolhamos, enquanto Charlie também se aproximava, com os olhos quase fechados de tão baixos. — Oh meu Merlin, Frankie, Thomas subiu no container vermelho e jogou uma garrafa bem na hora que um cara estava passando e pelo que eu vi...

— Audrey, tudo bem? — indaguei, preocupado.

Ah-a-aham. — ela coçou sua nuca, olhando para os lados desconfiada, com os olhos piscando de forma absurdamente estranha. — Eu só fumei um cigarro com umas meninas no banheiro... Um negocio... Eu... Nossa que calor, na verdade elas fumaram em um cachimbo, acho que eu estou muito louca... Mas meu Merlin, como está calor aqui!

Franchesca começou a rir lentamente, cobrindo o rosto. Até os movimentos das pessoas estavam devagar para mim. Charlie começou a estralar os dedos e mostrou para nós, feito uma criança descobrindo sua magia, o fogo raso que saia a cada estralo.

— Oh Merlin, Audrey... — riu Franchesca — Audrey, Audrey....

— O que? O que foi?

— Querida, você fumou crack. — Audrey parecia uma estátua de gelo enquanto Charlie gargalhava, mas eu tentava me lembrar da lista de drogas que Thomaz nos explicou, mas eu só conseguia me lembrar que ele nos mandou ficar longe de qualquer agulha.

— Eu... O quê? — a voz de Audrey era um fiapo.

— Está tudo bem, está tudo bem... — Franchesca se segurava para não rir. — Eu vou ser sua guia espiritual de crack.

— EU VOU MORRER! — Audrey começou a correr tão depressa que nem deu tempo de nós processarmos que ela estava fugindo muito louca de crack. Charlie foi mais rápido e saiu correndo atrás dela.

Franchesca e eu ficamos tenso com a ideia dela realmente morrer e saímos do container, encontrando Audrey batendo e chutando Charlie, gritando “você não vai me estuprar!”. Achamos Thomas desmaiado ao lado de uma árvore, com a escova de dentes quase caindo de sua boca, estavamos procurando Dora por todos os cantos e começamos a ficar muito preocupados quando não achamos.

Comecei a ficar enjoado e imaginar as piores coisas do mundo, desde que ela estava sendo abusada a que foi morta e leiloada no mercado negro. Ou pior, que estava fazendo magia na frente de todo mundo e o mundo bruxo seria descoberto por culpa dela... Audrey ainda estava nos efeitos do crack, sentada no chão, tentando parar de acariciar seu vestido e Charlie estava brincando com seus estralos de fogo, enquanto Franchesca e eu travávamos uma guerra:

— Isso é tudo culpa sua, você é uma péssima influência!

— Amor, eu não uso Imperius em ninguém, não é minha culpa que ela não saiba cuidar de si própria...

— Ela mal tem quinze anos!

— E? — Franchesca jogou seu cigarro longe, agressiva. — Ela não vai ter a mamãe pra sempre, sabia? Isso é típico de quem come cereal com leite todo dia. Estragou a noite.

— Agora a culpa dela?

— Não, a culpa é de todos vocês que não crescem, não evoluem...

— Você é tão narcisista. — disse Audrey, apontando para Franchesca. Ela estava com as pernas abertas mesmo de vestido, despenteada, parecendo uma drogada, e aquela era uma imagem clara de que Audrey não estava no seu normal. — De verdade, eu nunca conheci outra pessoa no mundo que fosse tão auto centrada, oh não, eu esqueci Nymphadora por um momento... Enfim. Você sabia que o mundo não gira ao seu redor, né? Eu prefiro borrar minhas calças todo santo dia do que ouvir você falando suas grandes experiências e conhecimentos de quinze anos de idade.

Todos nós demoramos um pouco para conseguir aderir que Audrey acabou com Franchesca.

— Você fumou crack, eu não vou levar nada que você fale em consideração.

— Não vai levar em consideração ou a verdade dói? — indaguei. Thomaz e Charlie se afastaram, tensos. Frankie parecia enojada.

— Oh meu Merlin, será que dá pra você calar a boca, William? Você é tão imbecil quanto Franchesca. Vocês nunca me levam a sério, vocês me tratam como se eu fosse um acessório, um chaveiro. Vocês brigaram por dez minutos e fingiram que eu nem estava aqui sendo que minha melhor amiga...

— “Minha melhor amiga, ela é minha melhor amiga”... — Franchesca fingiu que vomitava. — Você e essa sua mania filha da puta de querer ter poder sobre as pessoas. Ninguém pertence a você, Audrey, controla isso que você chama de amor, por favor.

— Eu planejei todo o aniversário dela...

— OH MEU MERLIN! — gritou Franchesca. — Você é uma aberração!

— Você que é uma aberração, você faz a merda e depois sai como se nada tivesse acontecido e então tudo cai em cima de quem foi trouxa o suficiente pra cair na sua conversa!

— Você é mentalmente perturbada por medo e paranoia e é muito corta brisa te ter por perto!

— Oh me desculpe se eu tenho uma doença real e cruel, ok? E você é uma pessoa muito, muito, muito má! — Audrey estava começando a chorar e Franchesca girou os olhos.

— Vê? Como se conversa com alguém que chora com qualquer besteira?

EU SOU DE PEIXES, SUA IDIOTA ESCROTA! — berrou Audrey, saindo correndo. Franchesca parecia frustrada, mas foi atrás de Audrey, porque ainda era sua guia espiritual de crack. Thomaz já tinha ido embora há tempos, ou voltou para festa, Charlie ficou confuso na hora de responder. Procuramos mais um pouco e decidimos ir embora. Por sorte o local era perto de nossa casa, então nós andamos por uns vinte minutos, nas estradas escurando em direção d’A Toca.

Charlie foi para seu quarto e eu tomei um banho antes de deitar, eu estava exausto e ainda estava vendo tudo lento demais. Fiquei uns trinta minutos me olhando no espelho, tentando associar meu cérebro ao meu rosto. Coisas estranhas que fazemos quando estamos chapados...

Eu caí no sono logo, mas eu acordei com um riso conhecido do lado de fora da casa.

Nirvana - Here She Comes Now

Pensei estar sonhando, mas eu estava de olhos abertos, então era impossível. Levantei-me e fui até a janela, dando de cara com Nymphadora rindo baixinho, pendurada no cano que contornava a casa, fazendo uma performance para as galinhas.

Nymphadora! — sussurrei, sem acreditar naquilo. Ela estava com uma regata que definitivamente não era dela e descalças. Sem contar o cabelo parecendo palha e a maquiagem extremamente borrada.

Ohhh, meu amor! — sorriu ela, dando sua mão em minha direção, como se eu fosse conseguir puxá-la. — Vim lhe visitar!

— Vai pra sua casa, o que você tá fazendo??? Você vai cair e vai acordar todo mundo!

— Vamos, Romeu, me ajude!

— Dora! — eu estava a ponta de ter um surto, mas tentei apoiar-me na janela para alcançar sua mão. Ela não estava muito longe, então não foi difícil. Ela subiu um pouco mais e agarrou-se a janela, entrando, barulhenta. — Silêncio!

Ela estava risonha e parecia ter acabado de sair de uma batalha contra Você-Sabe-Quem. Ela enfiou a mão em seu coturno, dando uma visão completa do meio de suas pernas por conta da saia bufante. Desviei o olhar, constrangido, assustado e definitivamente mais chapado do que quando eu fui dormir.

— Olha isso! — ela mostrou um doce amassado. — Eu trouxe para nós.

— Onde você estava, criança? Nós ficamos quase duas horas te procurando, Audrey e Franchesca quase saíram no tapa e... — ela nem estava prestando atenção, tirou seus coturnos e deitou-se imunda em minha cama. Abriu o doce e partiu no meio com suas mãos, sentando-se em seguida e dando em minha direção. — Você ouviu o que eu disse?

— Shhhh... — ela deu o doce em minha direção e eu acabei cedendo. Era molenga e desmanchava na boca de forma fascinante. — É o marshmellow deles. Estranho né?

— É gostoso.

— Muito. — ela lambeu seus dedos e cobriu-se, deitando. — Boa noite.

Eu até pensei em pestanejar, mas eu estava sonolento demais para falar qualquer coisa. Então deitei-me na cama de solteiro com ela, dormindo em segundos. Eu acordei na manhã seguinte com uma multidão de madeixas louro escuro e fiquei admirando por alguns minutos, até me acostumar com a claridão do quarto.

Já era 1 de Setembro.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é tudo apenas e unicamente pela briga entre Audrey e Franchesca hahahahahaha

***Essa ideia de drogas ativar 'poderes' foi xerocada de Misfits, aliás, assistam, melhor série.

Espero que tenham gostado...

Beijos!