Preciosa

Por Deusa Nariko

❝Porque nós temos você, Sarada❞.

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— Papai, você acredita que os seus sentimentos e coração estão conectados aos da mamãe?

Quando eu soube da sua existência, minha pequena, você não media mais do que alguns centímetros no ventre da sua mãe. Eu me lembro do misto de sentimentos que me acometeu: paz, felicidade, completude, medo por você e medo de não conseguir ser um bom pai, e ansiedade. Mas, acima de tudo, eu senti amor. Um amor tão grande, tão poderoso; eu não hesitaria em matar e morrer por você.

Eu te amei incondicionalmente desde o instante em que soube que você existia, Sarada.

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— Anata? — Ouvi Sakura me chamar, do outro lado da fogueira.

Nós estávamos na fronteira do país do Água, protegidos da chuva que caía lá fora e aquecidos pelas achas que estalavam na pequena fogueira que eu acendi com meu katon.

Eu a fitei, por cima das chamas: sua silhueta esbelta, encolhida na capa que usava. Seus olhos cândidos espelhavam as chamas dançantes, o mesmo fogo brando que corava suas faces e tingia sua pele alva de âmbar.

Sem mais, eu a vi se levantar e contornar a fogueira para se acomodar ao meu lado. Estendi meu único braço num convite silencioso que ela aceitou sem protestos. Enrolou-se ao redor do meu corpo, pousando a cabeça no meu peito.

Revelou uma mão delicada de dentro da capa e usou-a para me abraçar e me apertar contra si, suspirando. Descansei meu queixo no topo da sua cabeça e fechei os meus olhos, mas me desencontrei com o sono, que não vinha.

Quando senti Sakura se inclinar e pressionar os lábios contra o meu pescoço, cedi.

Naquela noite, fizemos amor à luz das chamas brandas, em cima da minha própria capa estendida sobre o chão da caverna. Naquela noite, ao término, abraçados e entrelaçados, nus e cansados como estávamos, Sakura sussurrou ao pé do meu ouvido que esperava nosso primeiro filho.

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— Mas como pode ter tanta certeza?

Sua mãe e eu... Nós temos a nossa história, ela nem sempre foi feliz e definitivamente não foi fácil, cheia de percalços como foi. Mas estamos aqui hoje, juntos, porque a sua mãe foi a única mulher a me amar por quem realmente eu sou; lutou para me salvar da minha dor e do meu passado e hoje posso afirmar que ela me libertou da solidão.

Deixe-me te segredar isso, Sarada, mas a sua mãe sempre se destacou aos meus olhos. Ela sempre foi bonita, mesmo que não acreditasse ou não enxergasse isso por ela mesma. Mas com o passar dos anos, Sakura se tornou linda. Uma beldade no mundo dos homens, temida e respeitada por suas habilidades. E eu... Eu a amei muito antes disso.

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Senti Sakura se mexer ao meu lado, despertando-me do cochilo que tirava.

Ela não pareceu perceber que eu me encontrava desperto, uma vez que continuou a se mover silenciosamente; o farfalhar das cobertas, caindo ao seu redor quando se sentou, limitou-se a pouco mais de um eco na quietude da madrugada.

Deixei que continuasse a pensar que eu ainda estava dormindo e abri um olho para espiá-la, curioso com o que o levara a despertar tão cedo, cuidando para manter o ritmo uniforme da minha respiração.

Fitei seu perfil sombreado pelas brasas da fogueira extinta e fitei sua mão deslizar de cima a baixo pela pequena protuberância no seu ventre, já visível sob o vestido. Dos seus lábios, sussurros quase ininteligíveis escapavam, promessas de amor, percebi.

Nosso bebê estava crescendo saudável, disso ela se certificava todos os dias. Era em momentos assim, vendo-a conversar com nossa criança, que eu mais me sentia afortunado. Como pude ter tomado o caminho errado tantas vezes e ainda assim ter encontrado Sakura ao final de tudo? Esperando-me tão pacientemente.

Um dos meus maiores arrependimentos foi o de ter fugido durante tantos anos desse amor, do que eu senti e ainda sinto.

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— Porque nós temos você, Sarada.

A primeira vez que te segurei junto a mim, ainda um pouco suja e enrolada numa manta por Karin... Eu jamais me esquecerei desse dia. Eu vi o seu rosto e algo dentro de mim se quebrantou em inúmeros pedaços. Você me quebrantou. Depois de tantos tropeços, a vida deu-me você, Sarada: o que possuo de mais valioso e precioso.

Não há nada que eu não faça por você, minha criança, para te manter segura, aquecida e amada. Eu abdiquei de muitas coisas para isso, não te acompanhei em alguns dos seus melhores anos e perdi várias etapas do seu crescimento. Isso dói em mim, não faz ideia.

Mas eu estava lá quando você disse a sua primeira palavra, te ajudei a dar o seu primeiro passo incerto na vida e te levantei quando tropeçou pela primeira vez. Sequei suas lágrimas quando chorou, fosse por dor, fome ou apenas capricho.

Nunca duvide do quando eu te amo, minha criança ingênua, porque a sua existência tornou-se o centro do meu universo no instante em que foi concebida. Tudo o que eu fiz por você, eu faria cem vezes de novo se fosse necessário porque eu aprendi que o amor é sacrifício e o amor é abnegado.

Quando nos encontramos naquela torre, naquele lastimável incidente, eu quero que saiba que eu sinto muito por tê-la assustado, por tê-la amedrontado daquela forma. Jamais tive a intenção e esse remorso me consome até hoje.

E tenha consciência disso, Sarada: você existe porque eu e sua mãe nos amamos. Muito. E foi a partir desse amor que nós te criamos; a sua existência, criança, prova isso. Se assim não o fosse, não teríamos você conosco.

Eu tenho muito orgulho de você, de tudo o que você está conquistando porque apesar de ter herdado a minha genialidade e o meu sangue Uchiha, você também trabalha duro e é inteligente e dedicada como a sua mãe.

Você tem os meus olhos, mas os punhos são inegavelmente de Sakura: o Sharingan te guiará através do seu caminho, mas serão os seus punhos que derrubarão cada obstáculo.

Algum dia, você será mais forte do que nós dois jamais fomos porque este é o curso natural: a nova geração sempre supera a anterior.

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— Eu quero me tornar Hokage — declarou uma noite enquanto jantávamos, a minha primeira noite de volta em Konoha depois de muito tempo.

Sua mãe e eu, certamente, jamais estivemos tão surpresos quanto naquele dia. Mas a sua convicção, a sua certeza de que alcançaria seu objetivo também nos deixou admirados.

— Por que decidiu isso, Sarada? — Sakura perguntou enquanto terminava de pôr a mesa.

— Eu só... — hesitou, olhando para as próprias mãos sobre a mesa e mordendo o lábio. — Eu só decidi que quero proteger e cuidar de todos da vila, independentemente de laços sanguíneos ou não. Quero ser como o Nanadaime que tem toda a vila como sua família. Mama... Papa... Eu... — Sua voz foi sumindo, alquebrando à medida que mais embaraçada você ficava. — Queria pedir desculpas pelo mal entendido com aquela mulher da foto. Desculpe por duvidar de você, Mama. E desculpe por ter gritado com você, Papa.

— Está tudo bem, meu amor — Sakura garantiu com um sorriso tranquilo enquanto eu me limitei a assentir e te olhar.

Quando você arrastou sua cadeira para trás e correu até sua mãe para abraçá-la forte, eu escondi um sorriso. Mas também me levantei e me aproximei de ambas, pousando minha mão na sua cabeça.

Nós somos uma família, Sarada, forjada a partir do amor.

Você, eu e sua mãe estamos conectados, ainda que haja mil milhas entre nós. Nunca mais duvide disso, criança.

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“O que está refletido neles é a coisa verdadeira: Amor”.

Hoje, tantos anos depois daquele dia, eu estou ainda mais orgulhoso de você por haver alcançado o seu sonho. Apesar da tenra idade e da imensa responsabilidade que te aguarda, confio em você.

E eu estarei aqui, Sarada, até o meu último dia na terra para te proteger e para orientar. Sua mãe também e você sabe disso. Sempre poderá contar conosco, mesmo quando tiver formado a sua própria família e tiver os seus próprios filhos para cuidar e aconselhar.

É difícil lidar com a imagem de mulher independente que você assumiu aos meus olhos. Ainda te vejo como a menina graciosa e, por vezes, resmungona que se recusava a deixar o meu colo.

Você se tornou uma Kunoichi formidável assim como eu sempre soube que se tornaria. E eu também sei que será uma Hokage excelente.

Uma vez, pensei que o clã Uchiha renasceria comigo, renasceria a partir de mim. Mas estava enganado. Ele renascerá com você, criança, a partir do fogo puro que queima a sua vontade.

Eu te amo, Sarada. Jamais se esqueça disso, jamais volte a duvidar disso. Minha preciosa.