A Guardian's Diary 4 - Of Dark and Cold escrita por Lino Linadoon


Capítulo 3
Capítulo 2 - Relâmpagos obscuros


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO SOBRE SPOILERS SOBRE O BREU! SPOILERS DO TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE DOS GUARDIÕES!
Ola de novo gente! Desculpe a demora...
Fim de ano... Semana de prova... Provas finais...
Coisas do tipo...
Mas estou de volta...
Espero que gostem desse capítulo.



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Era uma garota, Domenicha conseguia ver muito bem. Era bastante alta e magra, usava um vestido negro que quase se mesclava com a escuridão do jardim; e mesmo para os olhos treinados de Domenicha, era difícil ver seu rosto, mas o que mais transparecia nas sombras que envolviam aquela entidade era os seus olhos grandes de um dourado levemente prateado e um sorriso de dentes brancos.

Um ar estranho emanava daquela desconhecida, algo que fazia os cabelos na nuca de Domenicha se arrepiarem e a fazendo curvar as orelhas para trás, como se estivesse sendo ameaçada.

“Quem é você?” A Pooka rapidamente perguntou.

“Oh, mas é claro, eu nem me apresentei...” A criatura sombria murmurou em um tom suave, quase embaraçado. “Meu nome é Demetria, Demetria Tenebris...” E sorriu, mostrando mais ainda de seus dentes claros como pérolas, algo que fez Domenicha se empertigar ao enfim notar que dava alguns passos silenciosos para trás. “Desculpe, eu sei que isso é estranho...” Demetria murmurou sem jeito, balançando em seus calcanhares. “Eu estava observando você com seus amigos...”

“Foi o que pensei...” Foi só o que a Pooka conseguiu murmurar, o pelo de suas orelhas levemente arrepiado.

Um silêncio tenso pairou na noite escura entre as duas garotas, uma encarando a outra com aparentemente a mesma expressão perdida. Mas em pouco tempo Domenicha não conseguiu mais aguentar aquilo.

“E por quê?” Ela enfim perguntou, sem poder segurar sua curiosidade; ela tinha certeza que um dia ou outro aquilo ainda iria ferrar bonito com ela – como aconteceu algumas vezes quando era mais nova – afinal, já dizia o ditado: A curiosidade matou o gato.

“Eu estava a procurando.” Demetria disse com o mesmo tom quase silencioso. Ela devia de ser bem tímida. “Você é difícil de rastrear...”

“Sinto muito.” Domenicha não pôde se impedir de fazer uma piada. “Mas eu não sou uma típica adolescente, não é mesmo? Celulares não são a minha área.”

Demetria pareceu demorar em processar aquelas palavras, embora Domenicha não entendesse o porquê; seus olhos prateados se abriram um pouquinho mais e de repente ela riu.

Aquele som tomou a Pooka de surpresa e, por algum motivo, ela sentiu seu corpo relaxar um pouco; as orelhas, uma vez coladas contra sua cabeça se levantaram rapidamente para captar melhor aquele som. Por um minuto, foi como se as duas não estivessem envoltas na escuridão da noite, com relâmpagos e trovões vez ou outra iluminando o lugar.

Aliás, com uma desses clarões repentinos, Domenicha pôde enfim ver melhor os contornos de Demetria, e distinguir o que era vestido negro de cabelo escuro e longo, chegando até a cintura dessa e balançando no vento da tempestade que se aproximava. A pele da garota era escura, quase prateada ao ser tocada pela luz do relâmpago.

“E porque me procurava?” Domenicha perguntou, se lembrando das palavras da outra.

“Eu estava curiosa...” Demetria disse timidamente. “Você é a filha do Coelho da Páscoa e de Jack Frost, o Espírito do Inverno não?” E ergueu os olhos que brilhavam com um tom curioso que por algum motivo fez a Pooka corar levemente. “Você é uma guardiã?”

Domenicha deu um passo atrás tão logo Demetria deu um passo em sua direção.

“Na verdade não...” Murmurou quase sem jeito e sorriu torto como sempre, enfiando as mãos nos bolsos do calção. “Digamos que sou uma ‘guardiã não oficial’, ou alguma porcaria do tipo.”

Demetria novamente pareceu demorar em compreender o que a outra dizia, antes de dar mais uma risadinha.

“Eu tinha de saber...” A garota obscura disse inquietamente. “Eu tinha de saber se você era mesmo a filha daqueles que aprisionaram meus pais.”

No mesmo instante que ouviu aquilo, Domenicha sentiu seu pelo e até mesmo seu cabelo se arrepiando. Demetria só podia estar falando de duas pessoas! Rapidamente a garota pulou para trás, tomando sua forma de Pooka, ignorando o desconforto que a camisa colorida fazia em seu corpo muito felpudo, e se colocou em uma pose que algumas vezes já vira seu pai fazendo, as garras à mostra.

Seus pais?” Ela sibilou, cada músculo de seu corpo tenso e seus olhos, ouvidos e focinho completamente alertas. “Ora, não me diga, seus pais são Breu e Sheila, não é mesmo?”

Demetria não se moveu, apenas fitou a Pooka com uma expressão que só poderia ser aceita como de culpa.

“Sim, eles mesmos...” Murmurou, sendo quase interrompida por um trovão.

Domenicha permaneceu na mesma posição, alerta para qualquer coisa que pudesse acontecer nos próximos instantes.

“Ora, então como eles estão momentaneamente ocupados com outros afazeres, eles mandaram a filha para cuidar do trabalho, não é mesmo?” Ela perdeu toda a fachada amigável de momentos atrás, deixando de lado as brincadeiras típicas de Jack e agora mostrando a mesma seriedade e dureza de Coelhão.

Mais um silêncio pesado se fez entre as duas garotas, sendo apenas cortada pelos trovões cada vez mais altos e mais próximos.

“Não...” Foi só o que Demetria murmurou.

Domenicha não se moveu nem um centímetro, mas ergueu um pouco uma orelha, esperando mais alguma coisa que ela mesma não sabia o que era.

“Eu sinto muito. Mas eu devia esperar isso.” Demetria continuou em um monólogo, falando mais para si mesma do que para a outra. “As pessoas são prisioneiras de seu passado, não importa se nesse passado elas não estivessem presentes.” Ignorou o olhar confuso da Pooka. “Mas, sabe...” Ela levantou os olhos, finalmente voltando suas palavras para Domenicha. “Muito dos atos de seus pais não definem quem você é, nem o que você faz.”

“Mas definem o seu caráter!” Domenicha teve de contradizer quase instintivamente.

A garota obscura se balançou em seus calcanhares novamente.

“Talvez sim... Talvez não...” Ela ergueu os olhos quando outro trovão estourou ao longe. “Eu aposto que você não confia em mim e que não vai acreditar em nada do que digo.”

“Qual foi a primeira pista?” Domenicha deu um sorriso cínico.

“Mas não estou aqui pra fazer nada de mal.” Demetria murmurou suavemente, tão suave que a Pooka quase deslizou, abrindo uma brecha mínima em sua defesa instintiva. “Eu vim atrás de você para isso.” Mas um passo da garota obscura e Domenicha voltou a se afastar, seu corpo tenso novamente. “Se houver um modo de eu falar com os guardiões...”

“Para quê?” A Pooka falou, sem segurar sua língua novamente. “Pra você atacar todo mundo como seus pais fariam?”

Nesse instante algo pareceu explodir dentro de Demetria.

“Eu não sou os meus pais!” Ela exclamou com o tom mais forte e alto que conseguia atingir, em contraste com a suavidade de alguns segundos atrás, sendo ritmadamente seguida por outro trovão e um relâmpago tão forte que fez Domenicha tremer um pouco.

Um silêncio pairou sobre as duas enquanto o som da tempestade ficava mais perto, as orelhas potentes de Domenicha podiam captar a chuva caindo muito ao longe, mas se aproximando rapidamente.

“Eu não quero fazer nada do que eles fizeram, nunca.” Demetria murmurou com o mesmo tom solitário de antes, voltando a falar mais para si mesmo do que para a outra. “Eu vi o que eles são capazes de fazer e quero ficar o mais longe possível disso.” E riu suavemente. “É claro que você não vai acreditar nas palavras da filha do grande nêmese de seus pais.” Passou a mão pelos cabelos lisos e escuros. “Quem acreditaria? Até minha própria meia-irmã, por assim dizer, me mandou para longe. Que posso eu fazer?”

Domenicha ergueu uma sobrancelha, surpresa pelo “meia-irmã”, por acaso Breu ou então Sheila tinham alguma outra filha?

“É uma pena que nosso encontro não tenha sido tão bom e calmo quanto eu pensava. Principalmente depois de tanto tempo.” Demetria voltou a se dirigir à Pooka, sorrindo levemente. “Mas nós vamos nos encontrar novamente.”

“Oh, vamos?” Domenicha se ajeitou um pouco no lugar, erguendo um pouco as costas curvadas em posição de defesa.

Demetria riu novamente, sem notar que aquilo por algum motivo fez a Pooka se arrepiar suavemente.

“É claro.” Disse com um sorriso. “Em um momento mais oportuno.” E começou a se afastar de volta para a escuridão. “E quando o tempo estiver melhor.”

E, quase como a comando das palavras dela, uma torrente de água caiu na cabeça de Domenicha quase como uma parede de tijolos, arrancando um grito alto e exasperado da Pooka.

– G –

“Está tarde...”

Jack suspirou ao ouvir Coelhão falar aquela frase pela terceira vez.

“Não diga, Coelhão.” O espírito murmurou, se espreguiçando de olhos fechados na grama e estendendo os braços para o Pooka como se quisesse ser pego no colo ou algo assim. “E qual foi a primeira pista? Que está escuro?”

“Se fosse prestasse atenção, notaria que está claro, moleque.” Coelhão sibilou, erguendo os olhos para o céu falso da Toca. “Já são quase nove horas e Domenicha ainda não voltou.”

“Hm, você disse para ela não ficar até depois da madrugada...” Jack murmurou, deitando de barriga pra baixo e finalmente abrindo os olhos. “Ela está em Londres então vamos fazer as contas...” Ele ergueu os dedos e lentamente contou, exatamente como uma criança faria, se demorando nos números. “Que horas são por lá agora então?”

Coelhão revirou os olhos.

“Dez, onze horas talvez...” Murmurou mesmo assim.

“Vish! Então ela está muito longe da hora de recolher.” Jack riu, puxando um fiapo de pelo da perna de Coelhão o ouvindo reclamar antes de rola-lo para longe com um movimento rápido de sua pata. “Woah!” Antes mesmo que o garoto pudesse falar alguma coisa, um buraco de repente se abriu ao lado dele e uma Pooka incrivelmente molhada da cabeça às patas pulou para fora. “Domenicha!”

“Eh? Ah, oi, e aí? Mãe, pai...” Domenicha murmurou ao levantar os olhos, tendo de afastar a franja branca que caia na frente deles.

“Pegou uma chuva daquelas, hein?” Jack riu levemente, se levantando e ajudando a filha a arrancar a camisa. “Deus, você está ensopada! Ei!” Ele reclamou quando a Pooka repentinamente se balançou, lançando água para todos os lados e principalmente em cima dele.

“Pode pegar um resfriado desse jeito.” Coelhão murmurou seriamente, cruzando os braços.

“Nah, de boa, pai.” Domenicha sorriu enquanto voltava para sua forma humana, espremendo os cabelos que, mesmo curtos, absorveram mais água do que o esperado – ela apertou suas orelhas no processo, sibilando levemente por usar força demais sem notar. “Só um banho quente, eu me seco e tudo de boa.”

“Mas pelo menos o clubinho se reuniu?” Jack perguntou, também torcendo a camiseta que mais parecia um pano de prato recém-usado.

“Sim...” Domenicha se calou por um segundo, pensando enquanto tirava um pouco do excesso de água de chuva em sua cauda diminuta. “É que tem uns lances estranhos acontecendo desde que a gente viu aquelas nuvens no Polo Norte...”

Ela prosseguiu em contar para seus pais sobre o que tinha conversado com seus amigos e como Norte e Tooth já deviam de saber sobre aquilo se os gêmeos São Norte haviam contado. A expressão de surpresa dos dois Guardiões e a seriedade que tomou conta da Toca no mesmo instante era algo que a garota estava esperando, então nada de novo.

Domenicha não ousou falar sobre seu encontro com Demetria, mas mesmo assim ela tinha que saber algo que a intrigara desde que ela se encontrou com aquela entidade sombria – se bem que ela não parecia ser tão sombria assim... Sua cabeça ficou remoendo aqueles pensamentos enquanto ela tomava um banho quente.

“Mãe, pai...” Ela disse de repente, após ter se secado completamente e colocado roupas secas e quentes. “Por acaso Breu tem um filho, ou uma filha?”

Os dois guardiões pareceram surpresos pela pergunta repentina; Jack se voltou para Coelhão já que também não tinha resposta para isso.

“Bem, sim.” O Guardião da Esperança disse simplesmente, dando de ombros. “Emily.”

“Emily?” Ambos, Jack e Domenicha falaram ao mesmo tempo, ambos surpresos. “A Mãe Natureza?” A garota completou.

“Essa mesmo.” Coelhão disse sem fazer muito caso, se apoiando contra a parede de pedra de braços cruzados.

O espírito do inverno fitou o Pooka silenciosamente, facilmente notando pela postura deste que ele não tinha intenção de falar mais nada sobre o assunto, então era melhor não pressionar.

“Mas porque você quer saber?” Ele se virou para a filha que havia se jogado no sofá.

“Nada.” Domenicha deu de ombros, notando um pouco de suspeita na voz de sua mãe – afinal, depois do que ela fez quando mais nova, com todas aquelas perguntas aleatórias, é claro que eles iriam ficar de olho. “Eu só tava pensando que louco seria se ele tivesse um filho ou filha que quisesse, tipo, fazer vingança por ele ou algo assim.”

“Seria uma droga, com certeza.” Jack riu levemente, se sentando ao lado da filha e deixando que ela desancasse a cabeça em seu ombro – Domenicha era igual um coelhinho fofinho, o que ela mais gostava era de carinho e conforto. “Por que aí ia ficar mais pessoal ainda. Como se não tivesse bastado aquela vadia...”

“Jack!” Coelhão interrompeu tão logo ouviu aquela palavra, recebendo um revirar de olhos do Guardião da diversão.

Domenicha riu com o exclamar repentino de seu pai – ele aparentemente não gostava que sua filha ouvisse palavras parecidas, ou do mesmo calão de “vadia”, porém de nada adiantava suas reprovações, ela já ouvia aquilo em tudo quanto é lugar.

Com a cabeça no ombro gelado de sua mãe Domenicha pensou sobre o estranho incidente momentos antes, ainda em Londres, e da estranha pessoa que ela acabara de conhecer.

Breu tinha mais uma filha, não só a Emily. Bem, Demetria disse que ela tinha uma meia-irmã, o que queria dizer que elas não tinham a mesma mãe; ora, ela era filha de Sheila possivelmente, mas Domenicha não tinha como provar, nunca havia visto aquela mulher antes.

Demetria havia dito que elas iriam se encontrar. Mas quando? Pelo jeito o melhor a fazer é ficar de olhos bem abertos; qualquer canto escuro podia ser uma armadilha, não?

“Domenicha, você está bem?” Coelhão perguntou de repente, tirando sua filha de seus pensamentos silenciosos.

“Sim, porque não estaria?” Ela moveu os ombros, dando espaço para seu pai sentar à seu lado. “Eu só--“ E no meio de sua frase um espirro alto escapou, a surpreendendo.

“Só pegou um resfriado.” Coelhão suspirou com aquilo, puxando a garota para mais perto, afinal, era melhor ela ficar quente do que fria.

“Aw, que pena.” Jack falou com um pequeno sorriso, se lembrando da primeira vez que sua filha havia acabado resfriada enquanto via a expressão dela. “Bem agora que eu ia sugerir da gente dar uma passada na Patagônia...”

“Droga...” Domenicha reclamou com a cabeça agora descansando no peito felpudo de seu pai, tentando ignorar a risada do espírito à seu lado enquanto esse afagava seus cabelos brancos.


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Notas finais do capítulo

Eu queria colocar um pouco mais de interação pais e filha nesse capítulo, me deixe!



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